No Jardim Das Rosas - Capítulo 12
A monótona lápide estava cercada por flores que nunca haviam estado ali antes de sua concepção. O homem visitava-a ocasionalmente e sempre tentava dizer algo para acalmar sua própria alma, mas acabava permanecendo em silêncio, até que simplesmente se virava e ia embora.
Ele não queria que o outro morresse daquele jeito. Em sua mente, era o suficiente torná-lo dependente dele: torná-lo tão frágil quanto papel e mantê-lo ao seu lado para que ele pudesse permanecer ali para sempre. No entanto, quando percebeu o que havia feito, já era tarde demais e compreendeu que aquela realmente era a última vez. Que ele havia cometido algo infeliz e que, talvez, terminar assim fosse o castigo que deveria receber por ser tão infeliz. Teria ele vivido mais se não tivesse filhos? Ele não tinha como saber. Em primeiro lugar, porque seu castigo precisava de diversas gestações para ser perfeito. Ele pensou em tirar tudo do homem, e conseguiu, mas às vezes isso parecia seu carma.
Para começar, seus últimos filhos nasceram com sintomas de abstinência devido aos remédios que sua mãe estava tomando. Eles eram irritadiços e ficavam doentes o tempo todo. Eles também tinham autismo e, dependendo do clima, era difícil para eles respirar, especialmente o último gêmeo. Eles choravam incessantemente e sempre pareciam zangados. Eles gritavam a noite toda, ficavam atordoados entre suas birras e tinham colapsos que os faziam rolar no chão até que suas pernas cedessem. Ele, então, os abraçava e os carregava pela mansão para acalmá-los. Como resposta, eles o batiam e o empurravam. Às vezes se jogavam contra a parede a ponto de se machucarem. Ainda assim, agarravam-se a ele com as mãozinhas, chorando sem fôlego e tentando conversar com o papai sobre o que precisavam, mesmo que parecesse impossível.
Levaria muito tempo para essas crianças ficarem sozinhas. Talvez, nunca conseguiriam. Precisando cuidá-los o dia inteiro, não havia tempo para se sentir miserável ou solitário, e, no entanto, depois que se tornarem adultos, saíram um a um em busca de suas pessoas amadas e mudaram de casa para atender as necessidades que o pai não podia atender. Quando os sons de risos e choros que enchiam a grande mansão foram desaparecendo, o homem olhava pela janela, com seu corpo gasto pelos anos, e sabia que isso era o que ele merecia. Mesmo que ele não quisesse.
Pela vidraça da grande janela da sacada, via-se um esplêndido jardim de rosas, como jóias de cinco cores espalhadas sobre um tapete verde, e ali, um pouco mais longe, uma casinha escondida entre as paredes formadas pelos cedros. Era um local escuro e abandonado, como se tivesse sido consumido pelos pecados que ele havia cometido. Então, talvez um pouco assustado, decidiu que quanto mais longe estivesse dali, melhor.
E como previu, os anos passaram sem preocupação: o homem sentava-se sempre na mesma cadeira, juntava as mãos e olhava para a cabana como se fosse a única coisa que pudesse fazer. Mas, em uma noite escura de nevasca, Klopp, que estava olhando para fora sem se mover, pulou de seu assento e correu como um louco em direção à porta da frente. Lá, ele podia ver uma luz fraca vinda das janelas. Como se alguém tivesse ligado o fogão para fazer sopa. Ele soltou o casaco e saiu correndo sem nem pensar em vesti-lo. Por pouco não caiu várias vezes na neve, mas seu olhar estava fixo na cabana, então ele nem se importou com a escuridão. Sob seu cabelo, que uma vez havia sido de um castanho profundo, agora se amontoava mechas grisalhas. Sua ânsia foi tão grande que ele não se importou que as suas roupas e sapatos finos estivessem ensopados de neve.
Mas quando ele chegou à cabana e abriu a porta, o lugar estava empoeirado e solitário: claramente não havia luz. Mas eu a vi! Uma luz que não se apagava nem no meio de uma nevasca e que continuava fraca, mas persistente, como quando ele estava vivo. No entanto, a cabana estava abandonada. Havia teias de aranha, poeira, lixo, ratos e uma cama caindo aos pedaços. Ele não podia acreditar. Gritou o nome que havia repetido várias vezes em sua cabeça e esperou até ouvir a voz dele. Mas nada além do rugido da nevasca congelante quebrou o silêncio.
O homem, que saiu correndo, olhou a lápide fria, que estava enterrada na neve, e a limpou até aparecer o nome. Talvez, esperando que não estivesse nada escrito ali e que tudo não passasse de uma fantasia. Passou a mão impaciente pelos cabelos, e observou o mármore até que ele estivesse novamente submerso na neve, e então começou a rir sem saber exatamente o que achava tão engraçado.
Essa foi a primeira loucura desse homem.
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O conde Taywind era um aristocrata de alto escalão conhecido por sua enorme riqueza e uma longa tradição comparável à da família real mais requintada do país. Agora que o mundo estava mudando, os novos-ricos estavam crescendo e o classismo parecia entrar em colapso lentamente a ponto de até mesmo aqueles que gritavam “Por que temos que nos reunir com os pobres?” agora se silenciaram.
Taywind não era apenas um nobre orgulhoso, ele era verdadeiramente um “gentleman” que cumpria seus deveres sociais em todas as partes do país. Mesmo agora, quando não tinham funções diretas, tomava a iniciativa de ajudar os mais necessitados do território e dava oportunidade ao maior número de jovens possíveis para dinamizar um pouco sua economia.
Essa foi a razão pela qual Klopp veio à casa do homem, para começar. O duque convidou jovens promissores, que não tinham título ou propriedade para herdar, e os conectou com patronos de ponta. A chamada “Festa do Chá no Jardim das Rosas” estava repleta de aristocratas que queriam se dedicar ao nobre hobby de nutrir de recursos humanos jovens determinados a ter sucesso – talvez, confiando em seus próprios instintos. Ao mesmo tempo, esse tipo de evento também atendia a um certo grupo de pais assombrosos que, sem surpresa nenhuma, escolhiam jovens alfas como se estivessem comprando luminárias ou mesas em um mercado de pulgas, visando dá-los em casamento para um bom ômega.
Klopp, que se formou em direito e economia na National Capital University e se formou com louvor em seu curso, foi obviamente convidado. Ele era o segundo filho do Barão Bendyke, mas como seu irmão mais velho também era alfa, ele não poderia herdar a linhagem familiar. Além disso, sua casa estava localizada em uma cidade serrana onde poucas pessoas conheciam a família e, embora não fosse pobre, não tinha dinheiro suficiente para se considerar rico. Tudo o que podia fazer era pagar as taxas escolares, e só isso não era suficiente para cobrir o custo de vida no exterior. Felizmente, Klopp era brilhante. Suas notas se destacaram tanto que ele se tornou bolsista do governo por recomendação de um professor, além de receber autorização para obter um dormitório com a condição de ajudar depois das aulas com algumas monitorias.
Mas, embora sua vida escolar não fosse a de alguém extremamente pobre, ele não pretendia viver assim para sempre: tentou se tornar um “advogado economista” ou “especialista em investimentos internacionais”, mas ainda não tinha reputação ou conexões pessoais ou ganhos imediatos com os quais um caminho pudesse ser feito. Por isso, hoje, aquela festa era muito importante para o seu futuro e ele pensou em fazer o possível para causar uma boa impressão.
Lavou-se na água que a empregada lhe trouxe e vestiu um terno novo feito sob medida que comprou com sua pequena economia. Ele estava usando as abotoaduras herdadas de seu pai, que ele mal vira durante seus dias de estudo no exterior, e finalmente puxou o cabelo completamente para trás. O traje era monótono e um tanto rústico, mas a luz dos anos acrescentava uma dignidade um tanto excessiva ao jovem. Por fim, diante do espelho, deu um nó na gravata e alisou a franja:
— Não está tão ruim…
Ele nunca se considerou bonito, mas também não achava que lhe faltava charme. Na verdade, ele teve muitas namoradas ômegas desde a faculdade e não conseguia se lembrar de um único ano em que estivesse sozinho. Agora não tinha ninguém para namorar e nem procurava um ômega. Sua família queria vendê-lo para uma família de “novos-ricos” ou entregá-lo à filha perfeita de um artista internacional que precisava de um marido trabalhador. No entanto, como Klopp não era uma personalidade de alto nível, então sempre foi ignorado.
Mas, o que ele realmente desejava não era um relacionamento pensando em vínculos e feromônios, mas uma comunhão com uma pessoa que reconhecesse tudo o que ele era capaz de dar. E ele estava confiante o suficiente para dizer em voz alta que isso seria “fácil”.
A festa beneficente que abrangeu o enorme jardim de rosas parecia mais um banquete do que um chá. Inicialmente, a bebida e os petiscos eram servidos sem álcool, sendo nada mais do que um jantar amigável. Mas antes mesmo de começarem com a orquestra, o colorido jardim de flores, que contava a lenda que foi construído pelo duque para seu amado marido antes de morrer, estava cheio de jovens que não paravam de andar por toda parte. Eles abriam suas asas: pegavam seus leques e lenços e os esvoaçaram, como pavões pelos jardins. E mesmo não chegando cedo, não pôde deixar de se surpreender com o grande número de pessoas que já haviam se reunido ao seu redor. Inicialmente, ele achou maravilhoso ver o quão desavergonhados eram os alfas, erguendo suas cabeças com arrogância. Depois, assim que ele entrou no espaço que poderia ser chamado de “centro do roseiral”, ele foi surpreendido pelos olhares hostis dos nobres e as expressões intensamente interessadas dos ômegas. A cena lhe deu arrepios por todo o corpo. Aquilo não era apenas uma reunião social, mas um mercado ao ar livre. Maldição! Ele nem teve chance de olhar em volta e, assim que encontrou um grupo de senhores com suas esposas, que conversavam sobre investimentos e assuntos políticos, um grupo de ômegas correu em sua direção para tentar chamar sua atenção.
Não havia escolha a não se virar e correr. Caso contrário, havia o medo de que ele fosse hipnotizado por seus feromônios e que perdesse a cabeça o suficiente para dormir com cada um deles até a manhã seguinte. Então, ele pensou que, logicamente, a primeira coisa a se fazer agora era se afastar o máximo possível do grupo, sem olhar para trás. No entanto, como cães perseguindo a raposa, as vozes dos ômegas podiam ser ouvidas aqui e ali, procurando por ele. Ele admirou a persistência do grupo, mas também teve medo do que poderia acontecer e acabou escorregando por entre as impressionantes árvores altas que habitavam aquele jardim.
Após andar uma longa distância, quando o som da perseguição havia desaparecido completamente, Klopp enxugou o suor da testa e tentou respirar um pouco mais leve. Foi um erro de cálculo. Seu mentor disse que haveria muitas oportunidades, mas ele confundiu isso com diversidade na conversa. Não imaginava que encontraria um cardápio repleto de potenciais namoradas. Ele se sentia um idiota! Suas expectativas já haviam caído, mas ele não queria voltar para o jardim de rosas depois do que acabara de acontecer. Decidiu, então, voltar para o quarto e dormir um pouco mais. Seria mais proveitoso do que ficar com aquele grupo. Decidiu, também, que iria fazer as malas. Percebeu que não teria escolha a não ser voltar para casa. Seus planos foram um fracasso e não havia mais chance de sucesso. Ele sabia disso perfeitamente e por isso mesmo estalou a língua e se dirigiu para a mansão.
A casa era visível de todas as direções, mas esse jardim era complicado. A sensação era de que ele se afastava da residência quanto mais perto chegava. O mau-humor também estava cobrando seu preço e não demorou muito para que ele se sentisse sinceramente irritado com tudo. Se um vento fresco não tivesse soprado e esfriado o fogo que crescia dentro dele, todas essas malditas árvores teriam sido cortadas através da força bruta ou chutadas até que ele descontasse toda sua frustração na madeira. Mostrar seu real temperamento em um lugar que não o pertencia seria causar seu próprio fracasso e perceber isso antes que tudo acabasse em desgraça também o ajudou a ponderar sobre a situação. Ele poderia pedir informação sobre o caminho para alguém que estivesse passando e esquecer sobre esse assunto aterrador.
No entanto, ele só viu formigas. Todos estavam circulando pelo Jardim de Rosas porque sabiam se comunicar! Perfeito…
Ele suspirou e pensou que seria melhor dar uma volta pelo caminho de cedros ali e reconsiderar a situação com mais calma. E enquanto ele caminhava, passando pelas enormes árvores que se elevavam aos céus, sua irritação começou a diminuir até que, milagrosamente, se sentiu em paz. Seria devido ao cansaço? Talvez fosse apenas isso. Ou talvez fosse porque as árvores o lembravam de sua cidade natal e de suas jornadas na densa floresta do norte. Depois que veio estudar no exterior, raramente pôde visitar sua casa e até parecia ter se esquecido de como era se perder no mato. Respirou fundo, apagando qualquer irritação remanescente em sua mente. Sentiu que estava pronto para continuar a buscar seu caminho.
Mas enquanto ele caminhava por um pequeno caminho de pedra, com uma expressão completamente vazia no rosto, alguém apareceu do outro lado, o encarando.
Era um homem um pouco mais baixo do que ele, com linhas muito delicadas no rosto. Parecia um alfa, mas também poderia ser um beta. Seu andar refinado e gracioso e sua bela aparência combinavam muito bem com sua persona e, mesmo a uma distância considerável, podia notar um pequeno tremor em suas pupilas azuis.
Ele não sabia por que estava tão surpreso ao vê-lo e ficou tentado a perguntar se o rapaz tinha visto um fantasma. Naquele momento, o vento agitou seus cabelos e os levantou, fazendo-o franzir a testa e acenar com as mãos para segurar o cabelo com medo de que isso bagunçasse. Mas, quando voltou a encarar seu companheiro, percebeu ser como se aquele à sua frente fosse uma pessoa completamente diferente daquela de segundos atrás: a surpresa de segundos atrás desapareceu, e agora ele apresentava o sorriso fino típico dos aristocratas. Caminhava com passos graciosos e leves, como que levados pelo ar, e falava com uma voz que revelava a educação que recebera em casa:
— Senhor, o Jardim de Rosas é por ali.
Ele começou a falar, embora nem mesmo tenha sido solicitado. Era um pouco arrogante e muito rude, mas tão natural que Klopp não foi capaz de argumentar. A verdade é que ele queria fugir do roseiral, mas de alguma forma não conseguia dizer “não” para todos aqueles pretendentes e acabava balançando a cabeça o tempo todo como se quisesse esclarecer que “estava tudo bem” para onde queria levá-lo. Então, fez uma pequena reverência e seguiu o loiro, caminhando atrás dele para evitar se perder.
O homem na frente manteve a cabeça erguida todo o tempo e andou em um ritmo que não era nem muito lento, nem muito rápido. Na verdade, ele não era particularmente musculoso ou cativante, mas seus ombros eram retos e sua postura era tão perfeita que não parecia nada pequeno. Ocasionalmente, a luz que vinha dos cedros batia em seus cabelos loiros brilhantes, tornando mais aparente seus ternos sofisticados, feitos sob medida para seu corpo. Pareciam ter nascido vestindo-os pela primeira vez. Seus olhos se fixaram nas costas dele, moveram-se para suas linhas graciosas e pararam em sua pequena cintura. No entanto, Klopp, ao chegar a esse ponto, percebeu no que estava pensando e desviou o olhar enquanto se repreendia por ser assim.
— Eu…
E embora ainda estivesse um pouco irritado com seu comportamento, desde que percebeu que o homem não tinha outro objetivo além de ajudá-lo, não achava que estava na posição correta para começar a agir sem cortesia. Ele engoliu os insultos internos e começou com algo pequeno:
— Meu nome é Klopp Bendyke.
Ele estendeu a mão para o outro, que o encarou de novo. O loiro soltou uma expressão atordoada, como se estivesse um pouco triste com o que estava para acontecer, mas um sorriso suave logo voltou ao seu lindo rosto. Ele estendeu a mão, tão branca quanto o resto de seu corpo, e tocou na sua, enquanto respondia com um:
— Arok Taywind.
Claro que alguém como ele tinha que ser um conde.
— Obrigado por me dar instruções de como voltar para a festa. A verdade é que eu ainda estaria perdido sem você.
O conde soube perfeitamente responder:
— Foi uma honra.
E sorriu de forma surpreendentemente inocente.
De repente, seu estômago se apertou. Vendo aquele sorriso brilhante e perfeito, na verdade… Fez com que Klopp sentisse muita dor. Como se as estranhas sensações que ele experimentou em seus frequentes pesadelos envolvessem todo o seu corpo até que ele se lembrasse de como eram estar juntos. Ele franziu a testa e olhou para o rosto do conde. De repente, não sabia por que, mas vê-lo fazer isso o deixou com raiva a ponto de começar a engasgar com o ar. O que está acontecendo? O que há de tão especial nesse homem ao ponto de causar dor? Seria isso inveja? Não, na verdade, não. Ele não queria se parecer com o homem ou falar como ele. Ele desejava fazer algo com o homem parado de frente ao seu corpo, mas era difícil dizer exatamente o que ele queria. Era um desejo incompreensível, uma sensação de déjà-vu que gritava para ele que cometesse a pior burrice de sua vida.
Eu não posso vê-lo novamente.
O problema é que essa era apenas a primeira vez que se encontravam.
— Uh…
Os dois homens soltaram as mãos com um pequeno pigarro antes que o aperto durasse mais do que o absolutamente necessário. Klopp respirou fundo, ajeitou a camisa e preparou-se para parecer tão sereno como se estivesse entre seus melhores amigos. Não podia escapar do conde que o havia conduzido até ali após se perder. Ele ergueu os dedos como se dissesse “Primeiro os cavalheiros” e quando os dois entraram novamente no coração da festa, as pessoas, que já haviam se reunido para beber uma nova rodada de chá e conversar sobre assuntos diferentes há pouco, se entreolharam como se tivessem sentido o cheiro de carne fresca. Para ser exato, não olharam para Klopp, mas para Arok Taywind. O homem que fez até a mulher mais refinada do mundo correr em sua direção como se ela estivesse sedenta. Parecia que o alto status e a riqueza do jovem não eram tudo neste mundo, mas complementos por um rosto encantador e um corpo perfeitamente talhado. Era como se um enxame de formigas, sedentas por doce, encontrasse um maravilhoso favo de mel. Um alfa único e tão atraente que até os alfas olhavam para ele como se quisesse despi-lo.
Klopp imediatamente desviou o olhar, mas percebeu que os outros alfas não o fizeram. Ele não conseguia entender o porquê, mas teve raiva quando os viu se aproximarem de Arok casualmente por trás para agarrá-lo pelas costas. Mordomos e criadas apareceram e ofereceram chá-preto de primeira qualidade à multidão. Chás que estimulam o olfato e o paladar, doces que saciavam até os olhos e chocolates que com certeza continham algum tipo de droga escondida na massa faziam parte do banquete.
A maioria das classes altas urbanas bebia chá com creme o tempo todo e era raro fazê-lo apenas com açúcar. Mas, ao contrário de todos eles, Klopp precisava apenas de uma colher de açúcar para deixar sua xícara de chá perfeita. Ele realmente não gostava muito do sabor doce e poderia até dizer que bebia chá-preto porque era como um forte substituto do café.
Ele bebeu um copo, depois outro, outro e outro. Enquanto isso, Arok continuou a falar com as pessoas com um leve sorriso e movimentos de mão bastante exagerados. O chá entre seus dedos mal havia sido tocado. Seu cabelo estava tão arrumado quanto no início da noite, e, algo que ele notou, embora aqueles que estavam bem à frente do jovem não tivessem notado, foi que Arok dirigiu sua atenção para ele o tempo todo. Klopp chegou até a encontrar aqueles olhos azuis por um momento.
Sempre que isso acontecia, Arok sorria encantadoramente e começava a ficar um pouco mais tímido. Já Klopp, pelo contrário, só se sentia cada vez pior. Ele não conseguia entender o sentimento que se manifestará, mas estava convencido de que era terrível e, embora, de início, pensasse ser inveja dele por ser um belo jovem aristocrata com status e riqueza, a verdade é que não parecia como algo que se encaixava com sua personalidade. Para começar, ele nunca demonstrou interesse por outros e, por mais que acreditasse que haviam aqueles com habilidades extraordinárias, ele não tinha um complexo de inferioridade que o fizesse se sentir humilhado.
Ele pensou novamente.
Tentou, então, conversar com outro alfa de aparência nobre sobre o preço das ações, mas embora a pessoa estivesse inicialmente interessada no assunto, ele logo perdeu o fio e fez uma cara desconcertante que o fez entender que esperava que ele recuasse tanto quanto possível, o mais rápido possível. Mas isso nunca aconteceu com Arok. Não. Com ele a conversa parecia fluir na direção que ele queria. Podia jurar que não sentia inveja ou inferioridade pelo que acabara de acontecer. Em vez disso, ele até se sentiu mal por aquele homem perceber que ele não tinha nada de interessante dado a ele por sua própria vontade além de um bom sobrenome.
Não, eu juro. Esse sentimento é outra coisa.
Era o tipo de sentimento que você não sentiria por alguém que acabou de conhecer. Como se sua cabeça dissesse:
Você já passou por esse caminho antes e foi terrível. Agora, Klopp, pelo amor de Deus, vá para outra direção.
Não fale novamente com Arok.
E isso o assustou.
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Continua…
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Tradução: MiMi
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O plano original de aproveitar a oportunidade e se juntar com a alta sociedade foi um fracasso. Klopp permaneceu enojado, franzindo a testa quando alguém se aproximava dele ou fazia pelo menos o pequeno gesto de tentar puxar assunto. Foi assim durante toda a festa do chá. No entanto, algo havia mudado. Klopp seguiu Arok constantemente com os olhos. Era inevitável, como se o outro tivesse uma grande placa nas costas que dizia “estou bem aqui, olhe para mim”. Para piorar, o conde, cheio de compostura, conhecendo ou não seus sentimentos, sorria para Klopp toda vez que seus olhares se encontravam e andava mais rápido ou mais devagar dependendo da situação, como se estivesse nervoso.
Arok parecia ter cansado de lidar com as pessoas e com essa demonstração interminável de cortesia, quase como uma dança. Então, ele espantou as ‘formigas’ que se apoiavam em seus ombros e saiu. De repente, de alguma forma, Arok se aproximou de Klopp. Pareceu um ato voluntário, algo que, obviamente, era impossível: não havia nenhum motivo especial para o homem vir até este canto só para falar com alguém de classe inferior. No entanto, apenas após chegar bem perto de Klopp que ele o cumprimentou novamente e olhou para ele como se não soubesse que ele estava preso ali durante toda a reunião.
Mas é claro que ele sabia.
— Todo mundo parece meio desesperado, não acha?
O conde deu-lhe um leve sorriso, zombando sarcasticamente daqueles que haviam obtido um pouco de sua atenção à força até agora. Ele supôs que era porque o outro confiava nele devido ao seu status de alfa, mas, na realidade, pareceu tão arrogante que sua única resposta foi encolher os ombros. Ele não sabia o que dizer. Klopp estava muito irritado com ele sem motivo, então lançou-lhe um olhar de reprovação, embora fingisse ser amigável. Finalmente, ele virou o rosto e deu uma resposta que poderia parecer incrivelmente fria:
— Eu acho que eles te seguem porque você parece fácil.
Foi um comentário tão ofensivo que até ele mesmo ficou surpreso com a facilidade com que disse aquelas palavras. Arok parecia assustado com a acusação de que ele era uma “vagabunda” e, claro, era bastante óbvio que as pessoas que não falavam frequentemente umas com as outras geralmente ficariam com raiva se alguém aleatório fizesse comentários rudes como esse. O conde também havia falado com ele com muita confiança, mas a situação de Klopp era diferente. Ele pensou que esse nobre, que vivia da exaltação do povo, expulsaria imediatamente um homem rude da mansão ou poderia esbofeteá-lo no rosto com aquela mão ágil que tanto parecia ter. Na verdade, ele gostaria de ter lutado com o outro até ser arrastado pela porta da frente pelos cabelos. Mas, mesmo após a provocação, Arok apenas ergueu ligeiramente os cantos da boca e franziu a testa.
Ele nasceu nobre, então nem sabia como ficar com raiva. Porém, algo estranho aconteceu e essa máscara de lisura se desfez. Arok entregou a xícara de chá a um mordomo que passava e respondeu calmamente::
— Melhor assim do que não conseguir atrair nem o mais faminto dos vermes.
Arok o olhou de cima a baixo. Sua voz calma e lenta tremia um pouco, mas isso o fazia parecer ainda mais arrogante do que antes.
— Ha… entendo o que você quer dizer.
Ele ficou muito chateado com o insulto, mas, ao mesmo tempo, achou um pouco divertido ver o conde, que sorria para os outros, olhando para ele com olhos tão enérgicos. Não, na verdade, ele até se sentia satisfeito com isso.
A partir de então, toda vez que eles se encontravam, fosse no jardim ou dentro da mansão, eles começavam a se insultar. Porém, isso só acontecia quando os dois estavam sozinhos. Quando um garçom, uma empregada ou qualquer outra pessoa estava por perto, os dois agiam como se fossem bons amigos então, enquanto continuava a ver Arok sorrindo para aqueles ‘bichos’ que conversavam com ele no jardim, Klopp, que ficava com o estômago embrulhado, pensou que o melhor a fazer agora era ir até as dependências da casa que mais atraiam sua atenção, se despedir, pegar seus pertences e ir embora.
Primeiro, ele foi dar uma olhada na biblioteca. Quando ele perguntou se poderia passar um tempo por ali, o mordomo de cabelos grisalhos mostrou-lhe alegremente o ambiente e começou a contar toda a história de cada coleção.
— Oh…
A biblioteca do conde estava repleta de livros de qualidade: livros e itens que ele nunca tinha visto na vida. A maioria deles eram ligados aos estudos da humanidade e filosofia, e cada item parecia valer muito dinheiro. Ele viu volumes que desejou pegar e ler imediatamente, mas como ia embora de qualquer maneira, imaginou que não teria tempo nem para folheá-los e desistiu. Não queria ousar pegá-los emprestados e acabar adquirindo milhões de dívidas. Acabou, então, admirando as obras de arte penduradas no escritório.
Para ser honesto, Klopp não era muito versado na arte. Ele não era bom em música, não sabia pintar ou esculpir e era pior em artesanato do que uma criança de cinco anos. Era necessário muito dinheiro para desenvolver conhecimentos relacionados a essas áreas e como esse era um elemento essencial para lidar com a classe alta, a falta dessa parte fez com que até seu pai começasse a questionar se ele teria chance.
Ainda assim, mesmo aos olhos de Klopp, as pinturas penduradas no estúdio pareciam obras que renderam uma boa soma de dinheiro. Entre as enormes estantes que iam até o teto, estavam penduradas pinturas, grandes e pequenas, e entre elas havia peças tão famosas que dava para perceber à primeira vista que eram feitas por pessoas muito importantes. Mas o que chamou a atenção de Klopp, no entanto, ao olhar ao redor da sala, foi a pintura de uma paisagem do verão idílico. Ao observar o quadro, que expressava uma luz deslumbrante usando branco e amarelo brilhante em meio à forte harmonia dos tons pastéis, ele sentiu como se estivesse vendo a paisagem de sua cidade natal e até se deu ao luxo de sorrir um pouco.
Após uma inspeção mais detalhada, a assinatura do artista e o ano estavam escritos no canto, mas parecia que, na verdade, havia sido pintado há menos de cinco meses. Ah… Não importa como eu olhasse para isso, era visível que tinha sido feito por um novato. Era um pouco estranho pendurar isso com as outras coleções, mas Klopp pensou que poderia ser um presente de algum membro da “festa do chá”, então não pensou muito sobre.
Então, a porta do cômodo silencioso foi escancarada.
— Arok, pense nisso. Vai ser incrível!
Olhando para trás, viu um alfa bastante robusto e Arok parados na porta, discutindo como se estivessem nisso há algum tempo. O homem, um pouco mais alto que Arok, lançou-lhe um olhar açucarado e, à luz das velas, percebeu que ele suava tanto que parecia pingar gordura. Eca. Ele até tocou levemente o braço de seu companheiro com a mão e lentamente passou os dedos sobre a lapela de sua camisa. Klopp não pôde deixar de se surpreender por ver as intenções sexuais claras do alfa desconhecido, que, em vez de escondê-las, as mostrava tão abertamente na frente dos outros que chegava a ser desrespeitoso.
O maior problema era Arok. Fosse ele um homem ingênuo ou alguém que se divertia com o fato de que um homem importante parecia honestamente atraído por ele, torceu o corpo ligeiramente para evitá-lo, mas não mostrou nenhum sinal de rejeição. Se fosse Klopp, teria quebrado o pulso do homem, o xingado e até chutado sua barriga. Mas Arok não fez nada disso. Na verdade, ele até mostrou um sorriso bastante sutil. Foi um sentimento estranho. Ele não conseguia entender por que tinha que ver outras pessoas não apenas saindo, mas fazendo coisas nojentas como mostrar suas intenções de comer umas às outras… Mas, por mais que a situação fosse repugnante, não conseguia deixar de ouvir a situação.
— Não estou interessado, mas caso mude de ideia, te aviso com antecedência. Por agora, tenho um livro para procurar. Com licença…
Arok recusou educadamente o convite e entrou no escritório. O rabugento alfa soltou uma gargalhada, provavelmente não prestando muita atenção na biblioteca, e então saiu seguindo pela mesma escada que eles usaram para chegar lá. Após fechar a porta e se virar, Arok franziu a testa como se estivesse muito chateado. Levou a mão ao rosto, deu alguns passos e, ao encontrá-lo, congelou, tão surpreso quanto antes.
— Klopp… o que você está fazendo aqui?
Ele parecia muito assustado sempre que eu o via. No entanto, Klopp fingiu não saber.
— Vim até a biblioteca para me refrescar… Estava olhando as pinturas, mas meu descanso acabou quando vi alguns alfas nojentos fazendo atos descarados a vista de todos.
— …Hahaha. Sua língua funciona bem. Já seus olhos, nem tanto. Continue olhando para as pinturas. Você não terá a chance de fazer isso em outro lugar.
Arok, com o rosto levemente vermelho, respondeu e se virou para ir até a estante mais distante do corredor. Ele pensou ser apenas uma desculpa, mas parecia que o homem realmente estava procurando um livro para levar consigo. Então, ele pegou um romance muito difícil de ler chamado <O Pecado> e se dirigiu para o sofá. Ele está pensando em ficar lendo aqui, numa festa? Klopp se perguntou se deveria sair, mas, mesmo enquanto pensava nisso, seu olhar voltou-se para a pintura:
— … Essa pintura foi feita por um artista iniciante que abriu sua primeira exposição há alguns meses. Dentro da série de quatro estações, essa corresponde ao verão.
— … Eu sei.
Ele não sabia de nada, mas respondeu assim por hábito. Arok, que se aproximou, parecia saber que ele estava mentindo, mas não demonstrou. Em vez disso, ele continuou a falar enquanto olhava para a imagem:
— … Uma vez, alguém… Alguém me falou deste quadro. Não sei, mas, nunca o esqueci. Fui visitar aquela exposição assim que tive oportunidade e o procurei até conseguir comprar. Achei que ia queimá-lo, sabe, mas acabei guardando.
— … Deve ter trazido lembranças ruins.
— … Nem tanto. O quadro é muito bonito. Quero dizer, o uso da cor é como…
— Se iluminasse o ambiente completamente.
— Isso mesmo.
— Parece que o pintor ama muito esta paisagem, não é?
— Sim. Este é o idílio representando os avós mais queridos do artista. Você fala como se o conhecesse…
— Não. Eu só olhei para a foto e isso me veio à mente.
— Entendo. Achei que não tinha cultura, mas inesperadamente, você parece ter um olho para isso. Incrível.
Diante do exagero, Klopp apenas revirou os olhos e olhou para Arok. Já Arok, olhou diretamente para ele e sorriu.
— Deseja algo mais?
— Você sabe que aquele homem te tratou como um ômega a pouco? Ficou parecendo que você tem interesse em porcos como ele.
— Ei, tenha cuidado com suas palavras. Você me ouviu? Eu não sei de onde você conseguiu o convite para estar aqui, mas nas suas circunstâncias atuais, você pode se dar ao luxo de entrar em uma discussão tão inútil?
— Isso é um assunto que interessa apenas a mim. Já você, deveria ter nascido um ômega, já que trabalha tão duro quanto um.
— Bom, isso explica muito sobre você.
Aqueles olhos azuis que o encaravam eram insuportavelmente desagradáveis. Mas, vendo que Arok não blasfemava nem mesmo nessa situação e respondia cada frase com confiança, sabia que não poderia vencê-lo nessa situação.
No entanto, Klopp e Arok estavam sozinhos no escritório do conde, que era tão grande quanto o jardim de rosas, e isso significava que não seriam incomodados por outras pessoas. Também significava que poderiam discutir o quanto quisessem.
— Confesso que pensei que você estava buscando um lugar discreto para trepar, mas veio ler um romance desses. Isso é admirável. É um clássico difícil, não é? Com certeza você levou anos para terminá-lo.
— Certamente. Levei o tempo que você leva para terminar um único capítulo. Eu acho que é mais fácil para você encontrar um parceiro de acasalamento. Oh, espere. Você nem consegue fazer isso direito, não é mesmo?
Faíscas voaram entre os dois novamente. Eles se entreolharam, sorriram pretensiosamente uma para o outro, então se curvaram ao mesmo tempo e se viraram. Klopp virou-se para a outra pintura e Arok seguiu com o livro em mãos para o sofá no meio do escritório. Klopp teve dificuldade em se concentrar no desenho, mas Arok logo começou a fazer o som regular de virar a página. Deus. Ele está lendo muito rápido. Ele está realmente lendo ou está apenas observando a tipografia do livro?
Klopp olhou para trás e percebeu que Arok também o observava.
— …
— …
Ele rapidamente abaixou a cabeça e virou as páginas novamente. Klopp bufou e decidiu se dirigir para outro cômodo.
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Depois que a festa do chá acabou e ele voltou para a humilde casa que havia alugado, Klopp foi convidado para muitas reuniões graças à boa carta de apresentação de seu Professor. A maioria deles eram alfas mais velhos, mas ocasionalmente havia jovens aristocratas e, inesperadamente, pareciam pessoas educadas e comuns. Nesses momentos, porém, ele ainda pensava em Arok: aquele com quem ele nem conseguia falar porque lhe subia um calor sem motivo.
Alguns meses depois, recebeu um novo convite da família Taywind. E, enquanto as cartas costumavam ser enviadas com cuidado por correio, estranhamente, desta vez, o mordomo foi à casa de Klopp e o entregou pessoalmente.
— Você quer que eu diga se eu irei ou não?
— Sim, nosso conde pediu para lhe dizer que “precisa saber se deve ou não lhe reservar lugar a mesa, pois se não decidir com antecedência, acabará comendo em pé.”
— Maldito filho da…
— Perdão?
— Vá, diga ao seu mestre que eu o vejo lá.
— Ok, senhor. Tenha uma bela tarde.
O mordomo, vestido com um elegante terno preto e um ar severo em todo o rosto, curvou-se educadamente para Klopp e voltou para a carruagem. Enquanto isso, Klopp fechou a porta da frente e reabriu o luxuoso envelope em suas mãos: O gracioso convite para jantar foi escrito diretamente por ele, não impresso. A julgar pela assinatura elegante, mesma tinta e caligrafia, parecia que Arok o havia escrito com afinco. Aquilo não era nada mais nada menos que um novo desafio. Ao observar o convite, com a tez ligeiramente distorcida, se sentiu aliviado, levantando discretamente os cantos de sua boca. Por fim, deixou o convite exposto em uma estante repleta de documentos e livros.
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Eu esperava que fosse um grande jantar, mas que diabos é isso? Que tipo de banquete de Ano Novo gigantesco é esse!? Ele não estava exagerando. O local estava lotado, com mais de cem pessoas, incluindo ômegas masculinos e ômegas femininas em roupas e vestidos deslumbrantes e joias. Também haviam alfas em ternos pretos bem cortados e sapatos brilhantes que pareciam ornados por diamantes de verdade. Ele pensou ter chegado em boa hora, mas, na realidade, foi levado para o canto mais distante da mesa de honra. Também era o lugar onde ele podia ver Arok imediatamente ao olhar para a frente. Era como se ele dissesse: “Isso é para você não perder a diversão de assistir o que eu faço”.
Sim, esse conde é um miserável.
Enquanto bebia um bom vinho, não havia nada que Klopp pudesse fazer para endireitar o rosto enrugado. Ele deveria ter esperado isso, ele sabia. Ele compreendia como era uma batalha de egos entre alfas, mas seus pensamentos não estavam limitados a apenas esse incômodo. Arok estava sentado na ponta da mesa, no outro extremo da enorme mansão, com uma linda mulher ômega bem ao seu lado. Mesmo à distância, ele podia ver que a mulher carregava uma beleza voluptuosa e muito sedutora, com um vestido verde-escuro e lábios carnudos destacados em vermelho que sorriam sedutoramente para o homem que sussurrou algo em seu ouvido.
Arok, que tinha o rosto mais branco que o dela e estava extremamente bem vestido da cabeça aos pés. De vez em quando, Arok olhava para ele e sorria. Parecia que ele estava rindo da conversa, mas era por Klopp. Para fazer graça. Até que Klopp percebeu que o outro estava procurando uma briga, quando seus olhos se encontraram com os confiantes olhos azuis do Conde, Arok então o beijou com sua boca, muito mais atraente que a dela.
Oh senhor. O que eu estou imaginando?
Louco, louco… Louco!!
Klopp bebeu a metade restante do vinho em um só gole. Um garçom próximo imediatamente encheu seu copo até que pudesse repetir essa ação pelo menos mais cinco vezes.
Quando o jantar se aproximava do fim, um Klopp bêbado começou a falar livremente com as pessoas sentadas ao seu redor sobre coisas irrelevantes: ele disse sonhar em se tornar um advogado e que, na verdade, era péssimo quando se tratava dos modos burgueses. Ele riu, bebeu mais e até admitiu ter sonhos horríveis sobre ele ter seis filhos. E ele odiava crianças! Ele foi tão tolo e tão honesto que logo todas as pessoas ao seu redor pararam de conversar e focaram em Klopp, longe dos convidados de alto escalão. De brincadeiras leves a comentários espirituosos, todos mantiveram uma conversa agradável, e depois trocaram olhares e cochichos como se estivessem curiosos sobre o que estava acontecendo nos assentos superiores.
No entanto, mesmo conduzindo a conversa, Klopp era incapaz de se lembrar do que diziam. Isso porque ele estava mais interessado no conde de olhos azuis, que olhava para ele ocasionalmente, do que no que estava acontecendo ali.
No final, Arok, que estava com o rosto um tanto triste, não pôde deixar de passar os braços pela cintura da mulher ômega, escoltá-la carinhosamente e desaparecer, indo para algum lugar da casa. Como anfitrião do jantar, ele teria que conduzir a conversa, mas ficou claro que ele não se importava com esse fato, quando Klopp estava indo tão bem.
Depois do jantar, a multidão se dividiu em alfas e ômegas e foram para a sala de descanso. Lá, os alfas começaram a falar mais abertamente sobre coisas que não haviam dito publicamente.
— Arok Taywind está ficando cada vez mais esquisito. Ele geralmente apenas fornece o lugar e comida, mas não se envolve nas festas.
— É, ele até têm mostrado a cara ultimamente, mas nos chás anteriores ele nem apareceu.
— Que estranho.
— Mesmo os pais dele não eram muito sociáveis.
— Talvez ele seja nobre demais para andar com pessoas comuns.
— No entanto, os ômegas parecem achar esse tipo de comportamento atraente. Já existe um alvoroço sobre quem é a bela mulher que o acompanhou hoje.
— Os Alfas também têm mirado nele ultimamente.
— Bem… Arok é muito bonito. Se eu pudesse, com certeza o foderia.
As conversas entre os alfas eventualmente se tornaram obscenas. Klopp, que não estava totalmente envolvido e apenas ouvia à distância, se ofendeu com isso e deixou o local. Ainda não era hora de voltar, mas, não sentindo necessidade de ficar mais tempo, Klopp pediu a um criado que passava para ajudá-lo a encontrar uma carruagem.
— Já está saindo agora? Devo avisar ao mestre?
— Bem, o conde parece ocupado no momento. Não quero interromper sua noite.
Klopp respondeu imediatamente à pergunta do mordomo e subiu na carruagem, sem se virar para olhar em volta. Na verdade, a razão pela qual era difícil ouvir os alfas falando imundices não era apenas porque ele se sentia desconfortável ao imaginar isso, mas porque… Ele também pensou que seria bom tê-lo como parceiro. E quando Arok apareceu com uma linda ômega ao seu lado e o olhou bem na cara, parecia que ele não estava apenas brincando, mas seduzindo-o. Não poderia explicar isso. Era como se ele soubesse que expressão fazer, como mexer as mãos, como tocar naqueles pontos que o deixavam louco.
Naquele momento, Klopp sentiu uma onda de calor correndo em seu corpo. Então, através do álcool e da conversa, ele deliberadamente tentou focar em outra coisa. Caso contrário, sentiu que correria em sua direção, o agarraria pelo pescoço, o arrastaria para fora, se trancaria em um quarto aleatório com ele e o atacaria. Inclusive, ainda pensava em fazer isso naquele instante.
Na carruagem barulhenta, Klopp franziu a testa e cruzou as pernas. Ele suspirou enquando segurou a testa com a mão. Aquilo era uma loucura. Ele teve que parar de ouvir a conversa obscena na sala de descanso justamente por esse motivo… Porque toda vez que ouvia, eu imaginava.
Isso era algo obviamente anormal. Arok era alguém que ele acabara de conhecer e não havia nada de belo em sua personalidade. Além disso, ele também era um alfa. O tipo ideal atraente aos olhos de Klopp era uma pessoa pura e ômega. Arok não era nada disso. Talvez ver o homem aparecer acompanhado de tal beleza foi uma extensão do pensamento aristocrata de que “pobres graduados com honra devem trabalhar duro porque são pobres”. Fazia sentido, considerando o tom sarcástico que Arok sempre utilizava.
Ele deveria ter ciúmes da ômega, e não ciúmes de Arok.
Após reconhecer isso, Klopp esfregou o rosto com as duas mãos e suspirou pela segunda vez.
Esse não sou eu…
Quando veio o convite seguinte, Klopp recusou rapidamente, jogando-o na lareira. Ele achava que tudo isso era um absurdo, que seria melhor esquecer a situação e ter uma vida tranquila. Dedicou tempo e esforço para expandir sua rede pessoal através dos professores de sua universidade e, finalmente, conseguiu ser patrocinado por outra influente família aristocrática.
Klopp, que recebeu sua primeira comissão, demonstrou sem remorso que tinha excelentes habilidades de investimento e negociação, e logo ganhou confiança e pôde ganhar seu próprio dinheiro. Não demorou muito para que ele começasse a prosperar, fechando outros contratos através de seu primeiro cliente. Seu trabalho aumentou.
Após sair da casa alugada, comprou uma casa apropriada no subúrbio e abriu um escritório no centro da cidade. Em pouco tempo, conseguiu contratar uma empregada doméstica para cuidar da casa. Concentrando-se apenas no trabalho, Klopp tornou-se um investidor de sucesso e se tornou tão imerso em seu trabalho que Marta, a empregada, o repreendia por não comer adequadamente.
Durante esse período, Klopp conseguiu esquecer o Conde e deixar de lado esse tema que tanto o incomodava.
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Continua…
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Tradução: MiMi