No Jardim Das Rosas - Capítulo 17
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- Capítulo 17 - E O DESTINO CONTINUA A FLUIR
O quarto que a empregada lhe ofereceu era o mesmo quarto que ele havia ficado quando foi convidado pela primeira vez para esta mansão. Por estar sozinho, Klopp, frustrado, tirou o paletó, afrouxou a gravata e desabotoou alguns botões no pescoço. Então, abriu a grande janela para respirar. O ar noturno esfriou sua cabeça quente em questão de segundos. Sentado no peitoril da janela, Klopp olhou para o céu e, naturalmente, alguns minutos depois, olhou para a frente. A janela do quarto dava para o jardim de rosas. Terminado o concerto, o local foi limpo, as mesas e cadeiras guardadas, e as luzes foram apagadas uma a uma, à medida que os criados retiravam as lanternas. Era como se as flores murchassem. Ele fechou os olhos, inalou por um momento e exalou. Havia um leve perfume de rosas.
Hoje foi realmente confuso. Se eu soubesse que isso aconteceria, não teria vindo para a mansão em primeiro lugar… Que dirá propor casamento a ele aqui… mas não adianta chorar pelo leite derramado. Acabei estragando tudo só porque tentei ser romântico… Essas coisas não combinam comigo. E o jeito que Rafiel olhou para ele era visivelmente o olhar de um amante desapontado. Seria necessário fazer algo incrível para compensar esse erro, mas por mais que ele pensasse sobre, nada lhe vinha à mente. Ele só queria manter as coisas simples de acordo com sua personalidade, mas… espera, e o anel?
Abriu os olhos em surpresa, levantou-se e buscou nos bolsos da roupa que vestia. Em seguida, checou nos bolsos do paletó jogado na cama e, enquanto buscava aqui e ali, lembrou-se da cena anterior. No mesmo instante, saiu do quarto correndo e blasfemando internamente.
Seu burro! Burro!!!
❖
No jardim de rosas, que agora estava vazio, soprava apenas um vento incrivelmente gelado. Klopp, que saiu correndo sem vestir uma jaqueta, catou uma lanterna das mãos de uma empregada que passava e dirigiu-se para o local onde ocorreu toda a confusão. O anel era uma peça muito importante. O preço não era o problema, mas era um pedido especial de uma loja sofisticada na qual o visconde Derbyshire havia até escrito uma carta de apresentação. Se a proposta de casamento desse errado, seria algo triste… mas se ele perdesse o anel, não seria apenas um trágico incidente, mas algo que poderia afetar seu relacionamento com o visconde e isso é algo que ele definitivamente gostaria de evitar.
Olhando para os lugares onde o anel poderia ter caído, as únicas coisas que ele encontrara depois de muita busca foram as pétalas de rosa e o laço de seda que enfeitava a caixa. Alguns poderiam pensar que foi um toque muito romântico, mas àquela altura, apenas irritou ainda mais o homem. Ele procurou e procurou, mas não conseguiu encontrá-lo. Nem mesmo a caixa estava lá. Mesmo que o anel fosse difícil de encontrar, Klopp chegou a pensar que poderia ter algo ali que lhe ajudasse a encontrar a caixa, mas não importa quantas vezes ele rastejasse, revirasse ou buscasse forçar os olhos no escuro, não havia sinal do anel.
— Caramba… Onde você está? Anel maldito…
A parte inferior das costas doía e os músculos de suas pernas estavam horrivelmente tensos. Ele estava tão absorto que nem percebeu a presença do outro. Ficou surpreso ao ouvir uma suave voz dizer:
— Não há necessidade de fazer isso.
— O quê?
E quando se virou, percebeu que o conde o observava com um sorriso tão sutil que nem sabia se poderia chamar de ‘sorriso’.
— Você não está procurando por isso?
O conde se aproximou, ainda olhando para Klopp, que buscou endireitar as costas. Então, Arok depositou uma pequena caixa nas mãos do outro. A joia ainda estavam lá dentro, imaculada. Klopp olhou para o conde fazendo careta. Arok riu novamente. E ao vê-lo fazer isso, Klopp pareceu perceber a diferença das expressões do conde: o que ele estava sentindo não era algo sarcástico ou alegre, mas sim… Triste.
— Como sabia? Onde achou isso?
— Foi o mordomo.
Era uma boa desculpa, exceto que o mordomo estava mais ocupado do que Klopp ou Arok lidando com tantos convidados e cuidando de toda a situação. O conde quebrou o clima constrangedor antes que Klopp pudesse perguntar qualquer outra coisa.
— É uma pena que o seu pedido de casamento tenha sido arruinado.
Então um sorriso se espalhou por seu belo rosto novamente e, no momento em que o viu, Klopp sentiu que algo estava errado com o conde. Não foi porque o pedido de casamento deu errado ou porque o conde ficou feliz em vê-lo fracassar – o que não era verdade. Não, aquele homem exalava uma tristeza amarga. Sentiu como se o triste soar do violino ressoasse em seus ouvidos… Aquilo era um apelo, e não uma performance.
De repente, percebeu querer ver mais de seus sentimentos: conhecê-lo profundamente, vê-lo… chorando, rindo… deitado, nu. Queria fazê-lo revelar sua verdadeira natureza humana. Não aquele tipo de sorriso como uma máscara, mas o verdadeiro Arok. Imaginava o quão belo seria ver Arok Taywind se debulhando em lágrimas de prazer. Klopp sentiu como se o calor começasse a se acumular na parte inferior de seu corpo. Foi um pouco embaraçoso. O anel de noivado que queria dar a Rafiel ainda estava em sua mão e ele pensava no quanto queria outra pessoa. Ele não conseguia lidar com o coração partido e o corpo rebelde, então, em vez de agradecer apropriadamente, apenas expressões severas e rudes acabaram saindo de sua boca.
— Agradeço por encontrá-lo. Sinto muito por te trazer tantos problemas hoje, mas não vejo a necessidade de você se intrometer na minha vida privada.
Com a resposta fria, Arok levantou o canto da boca novamente. E, assim como as palavras e ações de Klopp eram completamente diferentes do que desejava seu coração, a expressão do conde não batia com seu olhar.
— Sim, eu compreendo. Me desculpe, não quis interferir, eu só…
Arok, que respondeu em um tom rígido, parou a fala no meio, olhando para Klopp, que apenas observava.
— Eu preparei o melhor que pude para deixar meu primo feliz. É uma pena que o resultado não tenha sido dos melhores. Isso é tudo.
Klop, então, desapareceu, seguindo para o outro lado do jardim, deixando para trás palavras que desapareceram, como se fossem levadas pelo vento.
❖
Foi bom sair para procurar o anel, mas não esperava encontrar justamente a pessoa que foi a origem de todo esse conflito interno. Aquele havia sido um dia muito cansativo para sua mente e corpo, mas devido ao encontro anterior, sua mente estava em uma briga interior entre a tristeza e a excitação. Por conta disso, sabia que não conseguiria dormir se simplesmente fosse para a cama. Pensou melhor e decidiu que seria melhor dar um passeio ou algo assim para espairecer. Deixou a lanterna nos degraus de pedra próximos e guardou o anel no bolso para caminhar um pouco mais pelas vielas do roseiral. O fogo ardente que subia por suas costelas e o vento gelado de seu coração colidiam em seu corpo e mente, causando muita dor. Suas mãos estavam inchadas e sua cabeça doía. Como a proposta deu errado, ele precisava refletir sobre como agradar Rafiel… mas, de alguma forma, a pessoa que ele acabara de ver não parava de aparecer em sua mente. Uma sede pela presença de Arok surgiu. A sensação não era apenas desagradável, como pareceu insaciável. Era inaceitável que o mero pensamento sobre aqueles olhos azuis o fizesse se sentir tão urgente.
Klopp respirou fundo o ar frio da noite e exalou ar quente, dando um passo de cada vez.
❖
O jardim na noite tranquila refletia no luar azul, como um mundo em um limite ambíguo. À medida que a noite se aprofundava, o vento soprou bastante frio, mas esfriou sua cabeça. Ao contrário das costas quentes da mão, as pontas dos dedos ficaram frias rapidamente. Klopp caminhou pelo jardim, sentindo a brisa suave para que pudesse se refrescar mais rapidamente do calor frio que havia subido antes.
A caminhada parecia longa e ele estava começando a ficar cansado. O jardim mal era iluminado pela luz azul da lua, escondida entre as nuvens. À medida que a noite se aprofundava, o vento frio soprava o suficiente para refrescar sua cabeça. Ao contrário das costas quentes da mão devido os hematomas, as pontas dos dedos ficaram frias rapidamente. Klopp seguiu caminhando pelo jardim, sentindo a brisa suave, o ajudando a apagar o calor que havia subido antes. De repente se lembrou de quando se perdeu como aquela vez em que veio a esta mansão da primeira vez, não conseguindo encontrar o jardim de rosas. A trilha brilhante era muito diferente do que ele lembrava. O luar não conseguia afastar as sombras e os gigantescos pilares de troncos não eram suficientes para afastar a névoa que habitava a noite. As pequenas pedras que habitavam as sombras das árvores soltavam um pequeno grito ao serem pisadas pelos pés daquele homem de coração tão pesado.
… Como eu saio daqui agora?
Sabia que a mansão ficava à direita, então decidiu seguir seus instintos até esbarrar em algo.
Adivinhando a direção, Klopp percorreu o pequeno caminho iluminado pelo luar. Após passar por uma árvore gigantesca, finalmente encontrou algo mais além de árvores à sua frente: a silhueta de alguém, entre os cedros. Inconscientemente, ele alargou os passos e se aproximou. A pessoa parada no meio da escuridão, sem expressão, era Arok. Aparentemente, ele não havia voltado para a mansão. Mas no momento em que Klopp viu, a postura equilibrada que havia recuperado se quebrou em um instante, e os sentimentos confusos que tanto o atormentavam começaram a se rebelar novamente.
Por que ele estava andando à noite sem luzes? Klopp, claro, estava na mesma situação, mas pelo menos ele tinha alguma desculpa. Ele não sabia o que havia acontecido com Arok. Lembrou-se da apresentação, onde o viu agindo como se estivesse desolado e carregasse toda a tristeza e dor do mundo. Foi perturbador vê-lo parado sob a sombra de um cedro olhando para a lua e, embora desejasse perguntar o que se passava, não tinha intenção nenhuma de se aproximar de Arok. Concluiu que não seria prudente ir até a pessoa que o fazia se sentir estranho em primeiro lugar. Foi assim desde o início, quando sempre evitavam se encontrar face a face até o dia em que o destino exigiu. O melhor é ignorar.
Após dar mais alguns passos, ele parou e pensou novamente. O que diabos ele está fazendo? Talvez seja melhor eu checar. Mas quando ele se virou, um vento frio soprou e o atingiu, carregando um cheiro estranhamente estimulante. Era um odor diferenciado que não pertencia a um alfa ou ômega. Algo mesclado, na verdade. Havia, talvez, algum par de recém-casados por perto? Pensando bem, essa era uma ideia um tanto boba. Exceto por ele, havia apenas uma pessoa neste grande jardim: Arok.
Klopp olhou para ele novamente: só havia aquele belo rapaz, a lua, o jardim, o vento e as sombras. Uma bela cena, mas que carregava o desejo persistente do pecado.
E logo sentiu aquela sensação desagradável novamente.
Ele decidiu voltar imediatamente. Estava enojado por ficar tão excitado ao chegar perto dele. No entanto, ele parou novamente e reconsiderou. Sentiu que era uma boa oportunidade de distrair sua mente soltando as verdades que estavam presas em sua garganta desde o início da noite. Aquele homem acabara de gastar uma fortuna para apresentar-se junto a uma orquestra e havia uma grande possibilidade de que ele entrasse em uma grave crise financeira devido a isso. É necessário alertá-lo. Afinal, sabe-se lá quais seriam os planos do conde amanhã? Não tem nada haver com excitação ou raiva. Como corretor de investimentos, gestor de ativos, estou aqui apenas para dar conselhos profissionais e não para jogar conversa fora. Era uma questão de grande urgência, então Klopp se dirigiu até Arok, o abordando.
Arok estava tão atordoado que não percebeu a presença do outro, até que gritou com o toque em seu ombro.
— Ei.
Quando Klopp o chamou, com uma voz levemente zangada, Arok deu um pulo. Ao mesmo tempo, ele se virou e tropeçou, perdendo o equilíbrio e dando um passo para trás. Havia girado munto rápido. Estava prestes a cair.
— …!
— Opa…
Klopp esticou o braço para apoiar as costas do conde. Arok não era grande, mas cambaleou, se apoiando no peito do homem.
Após se debaterem por alguns segundos, os dois conseguiram se equilibrar. Não foi intencional, mas Klopp foi, naturalmente, envolvendo a cintura de seu adversário, puxando-o para si. Já Arok, em uma tentativa desesperada de recuperar o equilíbrio do corpo, acabou agarrando o colete do homem com as duas mãos, suspirando aliviado de ter evitado o acidente. Então, os olhos de ambos se encontraram. A estranheza de estar tão perto de Arok foi um choque para Klopp.
Lágrimas em formato de gemas preciosas escorriam dos olhos azuis úmidos que refletiam a luz da lua.
— Arok?
— … Ah…
Enquanto involuntariamente diziam seu nome, Arok, que voltou a si. Rapidamente se afastou de Klopp e franziu a testa. Em seguida, esfregou os olhos com a palma da mão com força. O jovem conde parecia muito triste e angustiado. A máscara social que ele sempre utilizava havia desaparecido. Quando seu braço, que por um momento sentira uma sensação satisfatória de preenchimento, ficou vazio, o sentimento de raiva retornou, mas não só ele… mas também uma profunda tristeza. Sim, foi muito triste; o suficiente para torná-lo consciente de que seu coração doía. Por que está chorando? Quem o fez chorar? Aquela ômega, talvez? Ou…
— Você já teve seu coração partido?
As palavras, que surgiram do nada, soaram sarcásticas até para seus próprios ouvidos. Não foi realmente sua intensão, mas quando se tratava de lidar com o conde, não era algo que ele pudesse controlar. Enquanto Klopp, que estava envergonhado por dentro, endurecia sua expressão, Arok baixou as mãos que esfregavam os olhos e sorriu. Em seguida, desviando ligeiramente a cabeça, respondeu com os lábios ligeiramente trêmulos:
— Eu também me machuco.
Mas que resposta estúpida foi essa? Ele está realmente quebrado ou têm algo mais acontecendo?
Ele não conseguiu entender a resposta, mas preferiu continuar em silêncio. Na verdade, ele não conseguia tirar os olhos do homem. Não podia deixar de se preocupar com ele. Por mais que Arok enxugasse suas lágrimas, elas continuavam a encher seus olhos, voltando a escorrer por seu rosto e molhando as costas de suas mãos. Ele realmente amou alguém a ponto de chorar desse jeito? Pensando bem… é por isso que ele tocou aquela música? O perfume era daquele que o deixou? Talvez houvesse um ômega com quem ele namorava há muito tempo e, por isso, teve o cuidado de esconder sua identidade através do uso de perfumes. Mas se esse era o caso, isso significava que ele tentou conquistar o coração de quem amava lhe dando seu corpo, mas foi um fracasso ou algo assim? Espere, Arok Taywind foi rejeitado? Quem se atreveu a fazer algo assim? Que ômega brincaria com o conde dessa forma? Uma série de pensamentos chocantes invadiram sua mente. Sua linha de raciocínio o fez querer estrangular aquele bastardo estúpido que havia se aproveitado de Arok. Mas, por quê?
Era extremamente desagradável ser influenciado por emoções impossíveis de se compreender. Incapaz de tolerar ser dominado por um ciúme inexplicável, Kropp rosnou com uma voz estranha.
— Eu não sei o que aconteceu com você, mas se está ferido é melhor não andar assim à noite, cheirando a ômega. Se um alfa te interpretar errado e te atacar, com certeza não vai ser apenas embaraçoso.
Arok, cujas lágrimas não cessavam, riu novamente e disse:
— Tudo bem, só tem você aqui.
Arok, obviamente, não disse isso com maldade, mas Klopp, por um instante, quase perdeu a cabeça. Sentiu um perfume corporal tão doce que a cabeça voltou a doer. Ele cerrou os pulsos ao ponto de apertar a bandagem que envolvia sua mão, o que fez com que ele voltasse à sanidade.
— Sinceramente, não é da minha conta de qualquer forma. Alfa, ômega… Não me importa com quem você rola na cama. Eu só quero que você escolha alguém que gaste um pouco menos.
Klopp simplesmente soltou aleatoriamente ofensas. Era doloroso vê-lo por mais tempo. Por quê? Klopp cerrou os dentes e encarou o conde. As lágrimas que começavam a diminuir, voltaram a fluir.
— … Você realmente está sofrendo de amor?
Enquanto Klopp franzia a testa, Arok continuou a limpar as lágrimas com a mão molhada. Sem responder, o conde se afastou, virando-se e tentou sair.
Diante o ato de protesto de Arok, finalmente, a última gota de autocontrole do homem desapareceu. Klopp agarrou o braço do rapaz que estava prestes a sair.
— Ei!
A raiva crescente explodiu. Apertou com força o braço de Arok e o sacudiu. Uma mão molhada roçou os lábios de Klopp ao tentar se desvencilhar. Doeu, como se tivesse levado um tapa na cara. Sua raiva subiu a cabeça, como se quisesse quebrar o pulso que acabara de acertá-lo.
— Você..!
— Dói! Me deixe!
Olhou para Arok, que estava se afogando em lágrimas, ignorando seus olhos ardentes de raiva. Algo molhado escorreu por seus lábios. Ao tocar com a outra mão, percebeu ser um líquido claro, provavelmente resíduos das lágrimas que foram depositadas nas costas da mão de Arok que escorreram quando colidiram com sua mandíbula. Klopp instintivamente lambeu o líquido frio em seus lábios e… Foi doce.
Doce?
Por um momento, Klopp rapidamente esqueceu sua raiva.
As lágrimas de Arok são doces.
— O que…?
Passando o dedo pelos lábios, Arok ficou surpreso ao vê-lo agir como se Klopp estivesse entrado em estado de choque.
— … Me desculpe…
Arok se desculpou instintivamente, enquanto continuava a derramar lágrimas. O clima ficou estranho. Por que diabos estou segurando o pulso de uma pessoa que nunca quis encontrar em uma noite de luar? Klopp soltou o pulso de Arok, que desviou o olhar enquanto massageava com a outra mão o lugar em que fora agarrado com tanta força.
— … Eu quero que você esqueça o que você viu hoje. Se você se sentir pelo menos um pouco de pena de mim pelos vários incidentes violentos que cometeu hoje, tenho certeza que vai se esforçar para isso.
Arok, que falou em tom agressivo, logo se virou e se dirigiu para a mansão. Klopp olhou fixamente para Arok. Depois que o conde desapareceu na escuridão, Klopp lambeu o resíduo líquido das pontas dos dedos novamente.
É realmente doce.
Eu… Não posso fazer isso. Esse homem é um alfa! Seu corpo é feito de açucar?
Voltou a caminhar. Buscou desanuviar seus pensamentos e aliviar o peso de seus ombros, mas, diferente do esperado, acabou reafirmando seus desejos e lhe acrescentou questões desconhecidas. No fim, só perdi dinheiro conhecendo o conde.
━━━━━━ ◦ ❖ ◦ ━━━━━━
Arok tinha noção de que nada de bom renderia do evento da casa do conde, mas a raiva do visconde Westport sobre o incidente na festa foi muito mais forte do que ele imaginara. Ele costumava convidar Klopp para ir a sua casa quando tinha negócios a tratar, mas de forma inusitada, o visconde entrou em seu escritório na rua principal, alegando ser um assunto realmente urgente.
— Na verdade, eu não sou uma pessoa agressiva. Foi apenas um mau momento, então se você me deixar explicar…
— Eu sei que você não é agressivo, mas entenda que o que você fez não foi nada pequeno! Não é sábio enlouquecer só porque você está passando por um momento ruim, você sabe disso! Seu nome está espalhado por todos os círculos sociais e não é por uma boa causa! Cancele sua cerimônia de noivado. É impossível nesse estado! Cancele tudo pelo menos até que esses rumores desapareçam, sim?
Após o incidente, tornou-se cada vez mais difícil se encontrar com Rafiel. Mesmo após lhe enviar cartas através de diversas formas, nenhuma carta pôde alcançar seus objetivos. O visconde de Westport era um homem astuto quando se tratava de seu filho, criando diversas desculpas para afastá-los. Um dia, no chá de uma senhora rica que Klopp mal conhecia, Rafiel apareceu e, aproveitando a oportunidade, finalmente conversaram:
— Meu pai está muito bravo… Não porque o senhor Klopp entrou em uma briga, mas porque tentei pará-lo, mas você não me ouviu.
— Eu sinto muito… Me desculpe.
Rafiel balançou a cabeça, olhando para o chão. Ultimamente, sua tez não parecia das melhores. Ele não achava que tinha um problema de saúde, mas parecia que o conflito com sua família e seu namorado o incomodava tanto que mal conseguia dormir. Mas Klopp sabia que a culpa era dele e não tinha nada a declarar. A única coisa que podia fazer era esperar que o visconde Westport superasse o mais rápido possível toda a raiva que sentia e eles pudessem virar a página.
No entanto, o escândalo, que ele pensou que desapareceria com o tempo, nunca foi esquecido. As vítimas não só vinham de famílias conhecidas, mas alguém constantemente espalhava rumores hostis sobre Klopp por baixo dos panos, fazendo com que o problema apenas piorasse. Descobriu sobre esse fato ao visitar o visconde de Derbyshire para discutir sobre negócios.
— Ouvi dizer que você socou alguém até quase morrer.
— Você ouviu?
— Sim. Não é que eu quisesse ouvir a fofoca, mas não pude evitar. Estão falando por aí que sangue espirrou por toda parte e fragmentos de ossos voaram do rosto de seu oponente.
Ao ouvir a voz entusiasmada do visconde de Derbyshire, Klopp franziu a testa. Mas quando ele contou a verdade sobre o que havia acontecido, sem acrescentar ou subtrair nada, o visconde de Derbyshire, ainda segurando sua xícara, ficou mais absorto do que se a parte dos ossos fossem verdadeiros.
— Ai, meu Deus. Que horror! Você foi terrível, ein? Hahahaha!
Quando a história acabou, ele largou a xícara de chá e deu um tapinha no ombro de Klopp. A força era tão impressionante que ele sentiu como se seu corpo fosse quebrar a qualquer momento.
— Um macho alfa tem que saber dar alguns socos. Você não precisa fugir das lutas. Sabe, é isso que nós, homens, fazemos! É isso que somos, certo? Músculos e adrenalina. No futuro, eles vão respeitar você.
Ele pensou que iria repreendê-lo, mas, na verdade, recebeu muitos elogios. Klopp sorriu e bebeu seu chá.
— Por falar nisso, você sabe quem é o Marquês Wolflake?
— Hmm… Só sei seu nome e rosto. Não tenho contato com ele.
Quando o nome do homem que ele não gostava surgiu na conversa, a expressão de Klopp endureceu ligeiramente. O visconde de Derbyshire pôs as mãos na barriga gorda e deslizou seu grande corpo confortavelmente na poltrona.
— Quer dizer que você não sabe? Estranho. Eu conheci esse homem há alguns dias e ele disse estar lá em Taywind também. Você parecia ter muita animosidade em relação a ele, ou assim ele disse.
— Ah… sim, acho que ele chegou a ver o incidente. Lembro que ele me olhou de um jeito estranho antes, e isso me incomodou.
— Hmm… Bem, ele é um pouco problemático.
O visconde de Derbyshire murmurou e balançou a cabeça algumas vezes. Logo, sorriu amargamente para Klopp, que o observava tentando prever o que o visconde tentava dizer.
— … É melhor você desistir desse casamento. Westport é um excêntrico que age como um louco quando se trata de seus filhos. E como ele confia muito em Wolflake, então…
Era visível a opinião do visconde de Derbyshire. Era perceptível que, embora o homem acreditasse na capacidade de Klopp, não achava que seria um bom marido ou pai. Assim sendo, nada melhor que terminar esse relacionamento antes do pedido de casamento. Klopp havia exagerado em suas ações e o fato de ter feito isso na frente de Rafiel agravou a situação.
— Agradeço pelo conselho…
Na verdade, o que ele fez foi apenas uma questão de ressentimento. Até Klopp teve que admitir. O fato das vítimas não processá-lo foi muita sorte, mas ele entendeu que só decidiram isso porque era muito constrangedor para os dois serem esmagados mesmo sendo 2 contra 1, quando os três eram alfas. Além disso, também houve a compensação paga por Klopp. Graças a isso, o fundo de casamento, pelo qual ele trabalhou tanto, se esvaziou e, devido toda a confusão, ele estava tendo problemas para conseguir serviço. Pensando sobre isso, esse foi o golpe decisivo: a mente do visconde Westport pensava em como Klopp, agora em uma situação de desvantagem, iria alimentar Rafiel e as crianças que estavam por vir se ele batesse em outro nobre e perdesse ainda mais dinheiro. A família de Rafiel tinha muita consideração por Klopp anteriormente porque ele era um jovem controlado, com um histórico primoroso, e não porque era filho de uma família grande ou por ter muito dinheiro. Mas isso também significava que, a partir do momento em que Klopp manchara sua reputação, não havia necessidade de doar seu precioso filho ômega através de um casamento fadado ao fracasso. Essa era a fisiologia de um aristocrata de coração frio.
Felizmente, antes desse incidente, Klopp tinha uma boa reputação, e o visconde de Derbyshire, que cuidava dele e tinha grande poder na sociedade, conseguiu fazer com que a queda do homem não parecesse tão forte. Sempre que esse assunto entrava em pauta, arriscando a reputação de Klopp, o visconde dizia:
— Alfas tem um temperamento explosivo. É assim que as coisas são. — respondia e, em seguida, mudava de assunto.
Graças a isso, embora o casamento não tenha fluído, não houve obstáculo para continuar trabalhando.
Rafiel parecia muito triste, mas admitiu não amar Klopp o suficiente para desafiar seus pais. E Klopp não amava Rafiel o suficiente para convencê-lo a ir contra os antigos sogros. Embora eles tenham namorado por meses, era difícil ter um relacionamento tão profundo, considerando a quantidade de tempo que Klopp tinha disponível. Eles nunca passaram o período de cio juntos e nunca foram realmente honestos um com o outro. Não que seus corações não doessem, mas eles também não sentiam que não poderiam se separar. Foi triste, mas se não era para ser, tudo bem.
Após a separação ser decidida, Rafiel deixou a mansão sem o conhecimento do pai e foi se encontrar com Klopp. Naquele momento, Klopp, que estava concentrado em seu trabalho, com o coração pesado, sorriu assim que o viu chegar ao escritório e decidiu que seria bom ter um momento juntos. Pelo menos por uma última vez. Os dois caminharam juntos por uma estrada deserta, notando a carruagem do visconde logo atrás deles.
— Sinto muito como tudo acabou. Meu pai…
— Não. Isso é tudo culpa minha.
— Senhor Klopp…
Rafiel, que viu o cocheiro olhando em sua direção, conduziu Klopp por um beco afastado. O cocheiro parou a carruagem e virou o rosto para o outro lado, fingindo não ver nada. Klopp então pegou as mãos dele e as beijou. Por mais que estivessem convencidos de que essa era a coisa certa a fazer, foi triste terminar. Lágrimas apareceram novamente nos olhos do pequeno ômega. Ele fechou os olhos e se despediu com um beijo curto nos lábios. Seu primeiro e último beijo fora em um beco fedorento… uma cena nada poética.
Klopp enxugou os olhos úmidos de Rafiel com o polegar. O beijou na testa e o abraçou com força. Rafiel também, mas não perdeu tempo em ir embora.
Enquanto caminhavam até a carruagem, os dois não disseram nada. Rafiel subiu no veículo e não olhou mais para o alfa. Já, Klopp, que observava a carruagem se afastar, logo se virou também. Se dirigindo de volta para o escritório, observou o rastro de lágrimas na ponta dos dedos e, instintivamente, as colocou na língua.
Era salgado e amargo. Era normal que lágrimas fossem assim, mas…
Foi diferente.
O anel de noivado foi jogado em uma das mesas do escritório, onde acabou sendo esquecido.
°
°
Continua…