No Jardim Das Rosas - Capítulo 35
Klopp estava hospedado em um quarto não muito distante do dele. Hugo havia lhe dito que era um quarto de hóspedes, mas, na verdade, era o quarto que a mãe de Arok (a antiga condessa) utilizara antes de falecer.
Arok estava prestes a deitar-se quando Hugo decidiu falar com ele:
—Sua condição pode realmente perdurar por muito tempo?
Se o homem havia feito essa pergunta, então significava que estava verdadeiramente preocupado.
—Honestamente, não sei. Espero que não.
E acrescentou que, quando Marta retornasse das férias, explicaria a situação e discutiriam seriamente de que forma tratar Klopp.
Até então, seu trabalho como advogado havia sido definitivamente suspenso e ele até teve que enviar uma carta à “Oficina de Finanças” informando que tiraria uma licença devido a um acidente que afetara sua saúde.
Mas naquela noite específica, sentiu-se mais solitário do que nunca antes.
Teve um sonho em que dava à luz a um belo bebê. Um menino de cabelo negro e pele clara. Orgulhoso, entregou-o a Klopp, que estava em pé não muito longe dele, e disse enquanto o observava e sorria:
“É nosso bebê. Não é bonito?”
Mas o homem nem sequer se mexeu. Apenas dois olhos enormes e frios brilhavam na escuridão. Ele nem sequer piscou.
Então Arok repetiu: “Klopp?”
Mas ele respondeu: “Por que você se importa se vai acabar morto de qualquer maneira?”
Arok deixou de sentir o calor da sala e, em vez disso, foi expulso para uma cabana fria e deteriorada por todos os lados. Klopp então estendeu a mão, em forma de garra, e arrancou a criança de seus braços antes de desaparecer, deixando Arok tremendo e gritando:
“Não, não vá! NÃO VÁ!”
Acordou suando muito.
Nem sequer conseguia respirar.
Olhando ao redor, percebeu que estava em um quarto familiar, na cama de sempre, mas seu coração batia com extrema fúria. Faltava-lhe o ar, e ofegante, sentou-se, tocou o peito e tentou encher os pulmões de oxigênio respirando lentamente. No entanto, nem isso estava ajudando. Suas bochechas estavam quentes como o inferno e as lágrimas escorriam uma após a outra, até se perderem no arco de seu pescoço. Ele pensou: ‘Vai ficar tudo bem se eu esperar um pouco.’ ‘Calma, não corra.’ E disse a si mesmo que tudo ia ficar bem antes que percebesse e que, como em outras ocasiões, era apenas uma questão de… De respirar fundo.
Mas seu coração não se acalmou facilmente.
Agora que pensava nisso, na verdade, fazia muito tempo desde que esteve sozinho após um pesadelo como esse. Desde que Klopp chegou à mansão, ele sempre consolava Arok quando tinha um ataque de pânico e, de fato, lembrava-o constantemente de que não precisava ter medo. Sussurrava com uma voz doce e tratava alguém como ele – um adulto – como trataria um bebê. Em seguida, uma de suas grandes mãos acariciava suas costas lentamente, pressionava-o contra o peito e fazia-o sentir como se tudo fosse ficar bem.
Mas agora Klopp não estava lá.
O lugar ao seu lado estava frio como gelo e, mesmo que se encolhesse no edredom até formar uma bola, seu corpo tremia tanto que seus dentes começaram a bater uns nos outros, fazendo barulho.
Temia que esse ataque de pânico machucasse seu bebê, então tentou ficar confortável, mesmo que fosse apenas por ele. Respirou fundo e até cantou a “canção de ninar” que havia praticado secretamente uma e outra vez, até perceber que a havia repetido mais de dez vezes. Mas tudo foi em vão. Estava muito assustado e não conseguia dormir. Suas mãos e pés estavam tão frios que ele os esfregou na tentativa de voltar a sentir seus dedos, mas isso também não funcionou. E, para piorar, de repente ouviu um trovão distante e percebeu que gotas começaram a bater contra a janela. Arok realmente odiava todo aquele cenário tenebroso e tinha a estranha sensação de que, se conseguisse dormir, nunca mais iria acordar.
Parecia melhor parar de tentar.
Então, decidiu ir à biblioteca e ler um livro. Vestiu o robe, pegou um travesseiro e decidiu levá-lo para baixo. Afinal, as roupas e itens de seu quarto eram mil vezes mais confortáveis que as almofadas do escritório, e com certeza, isso contribuiria para que seu traseiro não adormecesse enquanto folheava uma novela. Pensou em como queria levar também seu cobertor, mas, na verdade, decidiu que isso já seria demais. Se o fizesse e se acomodasse em uma poltrona, acabaria dormindo mais cedo ou mais tarde, e Hugo faria um escândalo inimaginável quando chegasse de manhã. Não queria preocupá-lo e, acima de tudo, não queria que ele chamasse o médico apenas para que terminasse receitando-lhe vitaminas. Em vez disso, abriu a porta. O corredor estava escuro porque deixavam acesos apenas três dos dez candelabros. Sua respiração era ruidosa, e ele ainda não havia aprendido a controlar seu peso adequadamente, então fazia muito barulho ao pisar no chão. Assim, o mais silenciosamente que pôde, caminhou passo a passo e se dirigiu ao escritório pelas escadas que estavam no fim do corredor. No entanto, não havia notado que teria que passar pelo quarto de Klopp.
E, como era de se esperar, uma vez que chegou lá, perguntou-se: ‘O que ele estará fazendo?’ e até se deteve em frente à porta, olhando-a como se nunca a tivesse visto antes.
Com certeza, ele estava dormindo.
Estava prestes a bater, mas desistiu no último segundo.
—…
E, embora pensasse que não era nada cortês esgueirar-se sem permissão, ainda assim abriu a porta secretamente, como um ladrão, e espiou até conseguir passar todo o corpo para dentro e fechar a porta de madeira.
Infelizmente, estava escuro e ele não podia ver nada. E isso era lamentável porque realmente só queria se certificar de que Klopp estava bem.
—Eu só quero dar uma pequena olhada…
Arok então entrou um pouco mais, mas, quando chegou ao meio do quarto, pensou que parecia um tanto lamentável. Quer dizer, não era muito digno de sua parte, sendo um aristocrata tão renomado, rastejar-se no quarto onde dormia um Alfa. Também não gostava de sentir-se como um adolescente fazendo coisas erradas sem o conhecimento dos pais. No entanto, em um dado momento, pensou que não era culpa dele, mas sim da pessoa que havia perdido a memória. A culpa era de Klopp, por deixar seu esposo grávido sozinho e fazê-lo chorar, não uma, mas cinco vezes em um único dia.
Tateou na escuridão e aproximou-se da cama até sentir um pouco de calor nas pontas dos dedos. Primeiro, tudo estava escuro. Depois, seus olhos se acostumaram o suficiente para notar que Klopp estava deitado de costas, como um vampiro em um conto de terror. Seu coração estava batendo freneticamente só por causa disso e, mesmo assim, ele respirou aliviado ao perceber que Klopp estava em um sono tão profundo que chegou a roncar.
Lá fora, havia trovões. A chuva estava piorando, e o sombrio sussurro dos galhos era como o canto de um fantasma no jardim. Era tão forte e constante, tão tenebroso, que não mentiria ao dizer que estava assustado. Assustado o suficiente para não querer ir à biblioteca ou voltar ao seu quarto se isso significasse atravessar novamente o corredor escuro. Arok deixou cair o travesseiro no chão e subiu na cama.
—Hum?
Então o colchão se mexeu.
O Alfa, que havia estado dormindo até aquele momento, sobressaltou-se e levantou a parte superior do corpo para olhar ao redor. E Arok, fingindo não estar ali, tentou ficar em silêncio ao ponto de até parar de respirar.
Merda! Ele não estava dormindo? Não, foi um erro assumir que Klopp não perceberia que ele estava se escondendo, quando era absolutamente óbvio que ele estava ali.
—Meu anjo? O que você está fazendo?
Uma vez que confirmou quem era seu acompanhante, Klopp suspirou como se estivesse aliviado. Esfregou os olhos para afastar o sono e finalmente se sentou na cama, deixando mais evidente que estava cheio de dúvidas. Arok não sabia o que dizer. Havia apenas silêncio, trovões e o vento uivando como uma besta. Uma noite solitária, mas agora tão embaraçosa que o medo de um momento atrás se transformou em pura tristeza. Afinal, a pessoa diante dele era Klopp, mas ao mesmo tempo, não era Klopp. Não queria vê-lo, mas sentia sua falta, mesmo que não estivessem tão distantes. Nem sequer respondeu à pergunta, pois tinha vontade de chorar e, em vez de ser corajoso e enfrentá-lo, enfiou-se na cama e cobriu-se até esconder a cabeça.
Klopp ficou confuso.
—O que aconteceu, anjo?
Arok puxou o cobertor um pouco mais.
Klopp o chamou várias vezes, mas ele não respondeu. Em vez disso, enviou um sinal para que se deitasse ao seu lado, batendo no travesseiro que o Alfa vinha usando até então.
—…
No entanto, Klopp ficou em silêncio por um momento, ignorou o sinal e o olhou como se não acreditasse que este Arok e o que havia encontrado no jantar eram a mesma pessoa. Depois, levantou-se como se estivesse prestes a sair do quarto e finalmente, ouviu-se passos.
Era uma atitude natural. Afinal, que alfa se deitaria com outro alfa? E apesar de estar grávido de seu filho, o idiota havia perdido a memória a tal ponto que parecia realmente desconfortável com o que acabara de acontecer.
Arok fez um bico com os lábios, olhou-o de soslaio e disse: —Não quero dormir sozinho.
Klopp perguntou em voz baixa:
—É verdade que somos apenas um contador e um cliente?
Eles não eram apenas contador e cliente, então ele balançou a cabeça negativamente.
Ouviu-se um estalo de sua boca, depois o roçar do lençol e o travesseiro sendo arrastado de volta ao seu lugar.
Em silêncio, apoiou o queixo no colchão e suspirou tão forte que até sentiu o ar saindo de seus lábios. Era óbvio que Klopp já tinha percebido. Afinal, por que um contador viveria na mansão de seu cliente e, ao mesmo tempo, por que um cliente deitaria na cama de seu contador tão confiantemente como se já tivesse feito isso mil vezes antes? Claro que isso era algo que os amantes faziam, mas ele não queria dizer a verdade. Tinha uma atitude infantil, algo que todavia gritava que, se estavam ligados, então Klopp deveria se lembrar por conta própria. E mais que tudo, porque queria ter certeza de que o amor ainda estava lá, mesmo depois que o destino tentou pregar-lhes uma peça.
Mas a breve ideia de enviá-lo embora, se isso não fosse verdade, o fez ter vontade de chorar.
À medida que o silêncio se aprofundava, Klopp pensou em algo para dizer: —Tenho um acordo com você?
Arok não queria ouvir algo cruel, então tapou os ouvidos com ambas as mãos e tentou esconder as lágrimas na escuridão. Não era fácil agir normalmente quando seu bebê levava seus hormônios até o céu. Ah não, coitadinho do meu bebê! Queria dar-lhe o lar perfeito e tudo o que estava fazendo era deixá-lo ouvir como chorava todos os dias! Enquanto isso, Klopp se inclinou mais perto e sussurrou suavemente em seu ouvido. Mesmo que suas mãos ainda pressionassem suas orelhas:
—Vendo meu corpo ao conde para ter um lugar onde viver?
—Sim, você e eu… Espera, o quê? —Perguntou estupidamente. Foi tão ridículo que até as lágrimas pararam.
O que ele acabou de dizer?
—Que bobagem.
—Do contrário, não haveria nenhuma razão para que você se esgueirasse na minha cama esta noite. Em primeiro lugar, porque um anjinho lindo e perfeito como você sentiria falta de alguém como eu?
O Alfa parecia estranhamente triste.
Arok não conseguiu fechar a boca.
Como diabos ele podia imaginar que estava vendendo seu corpo para ele!?
—Além disso, não parece que eu tenha alguma qualidade especial. Também não sou particularmente bonito e meu trabalho é muito comum. Nem sei se tenho pais. Acho que estudei algo, mas tenho certeza de que estou muito longe de ter um diploma. Em uma palavra, sou um perdedor, então por que alguém tão nobre e bonito como você está comigo? Sei que não sou um ômega, mas não tenho outra resposta.
Klopp Bendyke sempre teve uma autoestima tão baixa? Nunca pensou que ouviria palavras tão lamentáveis de um homem como ele, ou que ele pareceria um cachorrinho largado na chuva. Ainda mais porque sempre pensou que Klopp era o tipo de pessoa que faria uma fonte funcional, mesmo se fosse jogado no deserto mais quente. Sem perceber, Arok elevou a voz e disse:
—Como pode dizer isso? Você é um excelente advogado e é magnífico quando se trata de coletar, guardar ou administrar dinheiro. Você também é um homem bonito e… faz com que as pessoas sempre olhem para você quando passa em qualquer lugar! Homem! Você tem coragem suficiente para criar coisas por conta própria, sem pedir favores a ninguém. Seus pais morreram, é verdade, mas você fez seu próprio caminho. Criou um nome, um escritório, conseguiu clientes, comprou uma casa e até ajudou seu irmão mais velho. Sabe de uma coisa? Você conseguiu se tornar o advogado pessoal do Conde de Taywind. Alguém a quem nem a família real conseguiu ajudar. Então, por que diz tantas bobagens? Você não precisa perder o seu ego só porque perdeu a memória!
Ele falou desesperadamente. Pensar que não havia nada mais terrível do que deixá-lo ir era uma ilusão. Nada seria mais doloroso do que ser apagado completamente da memória de Klopp Bendyke e vê-lo se odiar e ressentir, sem amor, sem amizade, sem acreditar em nada e sem lembrar que Arok Taywind significava algo importante para ele fez seu coração arde e esse calor chegou até mesmo a alcançar seu estômago. Klopp, sem perceber isso, acrescentou:
—É sério? Haha, não sei se é uma crítica ou um elogio, mas de alguma forma, você me dá mais força.
—…
—Embora eu ainda não entenda por que você se aproxima de mim tão intimamente de qualquer maneira. Nada do que você acabou de dizer explica isso.
Não queria pressioná-lo, mas a verdade era que ele havia se compadecido de si mesmo por razões egoístas. Era Klopp quem estava sofrendo mais do que qualquer um por perder a memória. Como uma criança indefesa jogada repentinamente no mundo. E ele descobriu que era idiota de sua parte estar zangado com ele por essa mesma razão. Na verdade, nunca deveria ter estado! Em vez disso, ele deveria ser envolvido confortavelmente em seus braços e dizer-lhe que “tudo ficaria bem”. Igual antes.
O médico havia dito para não se esforçar demais para fazer Klopp recuperar a memória. Mas agora era a hora.
—Klopp.
Ele pegou a mão do homem e a levou até sua barriga. Klopp se sobressaltou quando ele pressionou seu ventre redondo e inchado com os dedos, e a verdade é que ele sentiu vontade de chorar novamente ao vê-lo parecendo tão desconfortável.
—Você consegue sentir? É nosso bebê, ele está aqui. É seu filho… E gosto de pensar que é um filho feito graças ao nosso amor mútuo.
Ele próprio não acreditava no que estava dizendo. Arok confessou que estava grávido enquanto fazia-o tocar seu estômago! Ainda assim, havia uma parte dentro dele que imaginava que isso daria certo.
Segundo o médico, a memória não desapareceu, mas sim ficou parada em algum lugar de seu cérebro, esperando o momento certo para sair. E um pequeno gatilho poderia liberá-la.
Ele esperava que seu bebê, e mais ninguém, fosse a chave. Assim como o fato de ter uma família se tornou seu impulso para continuar neste mundo, ele esperava que também significasse algo para Klopp.
Mas, como era de se esperar, o homem ficou tão pálido que mal conseguia falar. Em vez disso, ele arregalou muito os olhos e tocou a barriga várias vezes.
—Como…? Como um Alfa pode engravidar? Não, é meu filho?
—Bem…
Ele tinha que dar uma explicação detalhada para o homem que havia perdido a memória, mas de qualquer forma, engolir as lágrimas e falar logicamente não era uma tarefa fácil, então ele apenas disse: —Quando te conheci, eu era um Alfa, mas, depois de ficar tanto tempo com você… eu mudei. Tudo mudou.
Ele disse que quando o conheceu e se apaixonou por ele, tudo virou de cabeça para baixo. Claro, era impossível explicar desde o início, então ele apenas trouxe as lembranças mais simples. No entanto, o nervosismo não diminuiu, e foi ainda pior quando Klopp sussurrou:
—Você está brincando comigo?
°
°
Continua….