Pontos de sutura - Capítulo 02

   Foram para o quarto.

   Como Dohan explicou, naquele lugar, onde ele havia apanhado de dois ômegas, ainda havia uma garrafa de whisky escocês que o homem estava bebendo sozinho na tentativa de aliviar sua dor mental. Também tinha um champanhe fechado, encaixado em um balde de gelo que estava na mesa de centro.

   Im Dohan realmente decidiu destruir o fígado nesse dia, então decidiu derrubar o balde, onde o gelo havia derretido, e o encheu com o conteúdo da garrafa de whisky malte que estava agora em suas mãos. Hyewon balançou a cabeça como se estivesse entediado com o ato de vê-lo beber loucamente, então ele apenas se sentou na cama, serviu-se de champanhe e bebeu em completo silêncio. Dohan, que estava meio deitado no colchão, por vezes voltava a encher seu copo graças a aparentemente não gostar de nenhuma daquelas velhas histórias que ele mesmo estava contando. Por exemplo, quando Im Dohan sofreu um acidente, ou sobre as coisas estúpidas que ele fez na faculdade, como na vez em que Dohan foi forçado a assumir a cabine de doação de sangue no departamento de enfermagem, chamou Kang Hyewon, e tirou sangue dele à força até quase matá-lo.

   Hyewon, que se tornou ainda menos falante devido ao seu crescente estado de embriaguez, se acomodou. Fechou os olhos, abriu a boca e adormeceu com a risada silenciosa de Dohan ao fundo. Além disso, a pronúncia do homem, trazendo uma nova história que não era nada engraçada, mas o estava fazendo rir de qualquer maneira, foi sendo lentamente apagada até que não pudesse mais ser ouvida. Por um momento, houve silêncio. O efeito de quatro dias de “vai e vem” do hospital começou a aparecer. Conduzidos pelo cansaço e álcool em excesso, sentiu estarem em um ponto em que definitivamente não seria estranho para eles desmaiarem juntos.

   Hyewon, que estava deitado todo esse tempo como uma “roupa suja na cadeira”, mal levantou a cabeça ao som de algo estranho se aproximando desajeitadamente. Im Dohan, cujo rosto estava vermelho e seus olhos arregalados, estava de pé na frente de Hyewon. O amigo começou a afrouxar seu cinto e tirar sua camisa. Ouviu-se o som de calças sendo puxadas para baixo, mas Kang Hyewon, bêbado, apenas observou as ações de Dohan atentamente, como se ele já tivesse previsto que isso aconteceria. Logo depois, suas calças deslizaram para baixo para revelar sua roupa interior. Então, como se não quisesse se sentir sozinho, Im Dohan puxou as calças de Kang Hyewon para baixo também. Em seguida, com um olhar misterioso, ele cambaleou para frente e para trás como se estivesse prestes a cair. Em seguida, esmagou as bochechas de Hyewon com as duas mãos e bateu a cabeça contra a cabeça dele. Por um momento, ambos os olhares escureceram.

   Um som de fivelas contínuo invadiu o quarto.

   — Ei… eu… eu…

   — Eu sei… não se preocupe…

*

   Brrrrr…

   Mais tarde, muito mais tarde, Im Dohan estendeu a mão e tocou a mesa de cabeceira, de onde estava vindo o som daquele pequeno aparelho que não parava de vibrar.

   Quando seu dedo tocou o celular, que já estava muito quente, Dohan desligou o alarme e o empurrou para longe, buscando evitá-lo. Sua cabeça doía. Era como se seu crânio tivesse sido macetado com uma pedra e, mesmo estando deitado, o mundo inteiro girava como em uma discoteca. Ele tentou erguer o corpo por um momento, mas não teve nem o desejo e nem a força para fazê-lo. Era como se tivesse ocorrido uma paraplegia em ambos os membros inferiores ou um acidente vascular. Depois de passar toda a sua juventude em festas, motéis e bares, agora era como se a vida no hospital o tivesse envelhecido mil anos em três. Dohan virou o corpo e deitou-se, reprimindo a queixa de que definitivamente não era o mesmo homem de antes. Se sentia como um paciente de um acidente de carro: seu corpo inteiro estava dolorido e seu estômago doía como se alguém o tivesse esfregado com um ralador.

   Im Dohan sempre acordava fresco, renovado, e saía do quarto em um terno Impo, passado, penteado e sem nem um único vestígio de doença, mesmo após foder tão duro. Mas hoje, sua voz parecia rouca e não conseguia nem abrir bem os olhos.

   Dohan sorriu. Fazia muito tempo desde que ele fez algo assim. Isso era um fato. Afinal, era uma loucura estar de plantão quatro dias seguidos e depois, no quinto, decidir beber até morrer. Então, vendo que ele estava com sono, como se tivesse se tornado um com a cama, ele pensou que talvez fosse porque tinha tido uma noite muito chata com sua parceira sexual. Ele pensou: “Você fica com ômegas horríveis, cara” . Balançou a cabeça e engoliu um suspiro.

   Vamos ver… depois que Hyewon consertou o meu nariz, com certeza devo ter encontrado uma gracinha no salão e talvez pago a ela coisas que eu não precisava apenas para garantir algumas horas de pernas abertas e uma bunda bonita. Certeza.

   Dohan de repente, se perguntando quem era a pessoa dormindo ao lado dele, puxou o cobertor branco que cobria o topo de sua cabeça um pouco mais perto. Havia alguém belo, com nariz alto, cílios grossos, ricos e lábios finos. Era lindo, embora não fosse o rosto que ele imaginara. Era exatamente o oposto dos ômegas com quem ele dormia recentemente. Hahaha… até parece um pouco…

   Parece com… o…

   Dohan estava suando frio pelo súbito ataque de ansiedade.

   — …?

   Dohan se levantou cautelosamente da cama, movendo o cobertor. O homem tinha pernas longas e lisas que se entrelaçaram com as dele. Ele levantou o cobertor mais alto, com seus dedos trêmulos, revelando a parte inferior do torso de seu melhor amigo à luz do sol. O lindo rosto de Kang Hyewon, que dormia pacificamente em seu travesseiro, estava coberto de suor.

   — Eu estou com o… Ah!

   No momento em que o pé de Dohan bateu no tapete do quarto de hotel, ele fez um barulho estridente e caiu no chão sobre suas nádegas. A parte inferior de seu corpo doía.

   Meu Deus…

   Especialmente, aquele lugar que nunca havia sido invadido, embora ele penetrasse nas bundas de outras pessoas mais vezes do que podia contar.

   Puta merda, meu ânus dói!

  Suor frio escorria como chuva em seu rosto, mas ele não conseguia nem endireitar as costas porque era como se alguém tivesse arrancado uma de suas vértebras.

   Tentou levantar, mas sem sucesso. A dor no traseiro o imobilizou vergonhosamente.

   Dohan rastejou no chão como um pequeno verme. Ele mal conseguia se mover por conta da dor monstruosa. Suas coxas grossas se cruzaram e, à medida que a força em seu quadril, que ele sempre se gabava de ser perfeito e em forma de maçã, foi liberada, a coisa misteriosa que havia sido acumulada dentro fluiu para fora.

   Isso

   Isso…

   É sêmen!

   — Ai meu Deus!!!

   Quando gritou, Dohan automaticamente cobriu a boca, pegou a camisa do chão e cerrou os dentes. Sua mente estava em branco sobre o que diabos estava acontecendo. Tudo bem dizer que ele comeu Kang Hyewon… Mas o melhor alfa do mundo, Im Dohan, foi atacado pelo beta, Kang Hyewon! Essa situação era nada além de inaceitável! Dohan olhou cuidadosamente entre suas pernas.

   Sim, eles definitivamente transaram.

   Cerrando os dentes, Dohan se arrastou pelo chão para pegar as roupas que estavam espalhadas ao pé da cama, mas como não conseguiu se levantar imediatamente na segunda tentativa, respirou fundo e apenas se concentrou.

   Inalou:

  — Uuuuh…

  Exalou:

  — Aaaah…

   Enxugando o suor frio da testa, ele se levantou silenciosamente tentando não acordar Hyewon, que estava dormindo profundamente. Então, suspirou mais uma vez ao perceber que ele estava exatamente como o havia deixado a pouco.

   Dohan, que levantou uma perna para colocar a cueca, não percebeu que a peça estava ao contrário, ou que suas calças estavam desabotoadas quando ele saiu do quarto do hotel parecendo que estava fugindo do diabo. Além disso, a camisa foi encaixada com os botões tortos, e um aspecto pavoroso. Chegou até a escada do andar e, quando desceu um degrau…

   — Ai…

  Ele não conseguia ficar de pé confortavelmente, nem sentar, nem nada. Principalmente porque quando dobrava as costas e aplicava força nas nádegas. A dor era tão forte que não conseguia se mover sem fazer algum tipo de som. Ele de repente pôde entender perfeitamente porque os ômegas, que estiveram em sua cama todo esse tempo, adoravam as preIminares e diziam para ele diminuir o ritmo. Ele basicamente teve sua bunda dilacerada por outro homem por não ir devagar!

   Dohan, que nem parecia ter tempo para refletir sobre a situação, parou no corredor do hotel, abotoou a calça e ajeitou a camisa. Mas a mão, que estava muito ocupada com os botões, tremia tanto que ele não pôde deixar de blasfemar o tempo todo. Talvez fosse a ressaca, mas sua cabeça doía como se estivesse prestes a rachar no meio e seu hálito parecia cheirar a… Uma menta familiar. Ele não tinha certeza.

   O coitado estava tão desgrenhado que parecia ter sido expulso de um quarto depois de ser pego no pulo com algum affair. Estava enfiando a bainha saliente de sua camisa para dentro da calça e ajeitando a cueca, que estava causando coceira, quando decidiu passar os dedos na bunda para ver se não havia mais tanto sêmen saindo. Finalmente, quando ele se virou, percebeu outro hóspede do hotel, tão bem-arrumado que pareceu estar pronto para trabalhar.

  N/Rize: MDS! Que vergonha desse hóspede, que vergonha alheia, ele passou o dedo no cu na frente de outra pessoa!! Já pode se atirar da cobertura 😂😂😂😂😂 

   — …

   — … Sua camisa está do avesso. Dá para ver as costuras.

  Dohan bateu com a testa na parede do corredor do hotel.

    Estúpido, estúpido, estúpido!

   Suas pernas tremiam e suas nádegas estavam quentes e doloridas. A dor nas costas era suportável para andar, mas o fluido que descia pela coxa ensopava a cueca, deixando-o extremamente desconfortável.

   Dohan, que estava batendo a testa na parede há muito tempo, balançou a cabeça para tentar recuperar as memórias que haviam sido enegrecidas. Não, para ser honesto, morrer batendo a cabeça contra a parede parecia ser uma ideia melhor do que pensar em qualquer coisa que ele tivesse feito. A verdade é que ele não conseguia se lembrar de nada do que aconteceu durante a noite além do rosto de Kang Hyewon, que olhou para ele como se ele fosse patético, enquanto dizia: — Uma hora você vai se dar mal por viver assim.

  N/Rize: Amigo nem tente, já passei por isso várias vezes é horrível, mas as vezes é melhor não lembrar mesmo (⁠◔⁠‿⁠◔⁠)

   Como foi possível?

  Essa…? Era essa a minha punição?

   Kang Hyewon era um amigo próximo desde o ensino fundamental. Poderiam ser considerados “amigos íntimos”, já que, mesmo agora, eles se viam cara a cara diariamente no trabalho.

   Hyewon, que tinha habilidades cirúrgicas extraordinárias, estava encarregado de todas as cirurgias que chegavam ao hospital. Já Dohan, sempre o acompanhava na sala de cirurgia e era o tipo de pessoa que sabia exatamente a ferramenta que seu amigo queria, mesmo que ele apenas estendesse a mão em sua direção e não pronunciasse nem uma única palavra.

   Além disso, Kang Hyewon deveria ser alguém inacessível, então Dohan não conseguia nem imaginar como diabos eles chegaram a essa situação em primeiro lugar.

   Kang Hyewon era o homem típico que sempre era indiferente aos outros e, ao contrário de Dohan, ele era um homem heterossexual bastante firme com suas preferências. Dohan poderia até dizer que Hyewon parecia o tipo de homem que sempre esperou encontrar uma boa mulher para apresentar a sua mãe. Graças a isso, Dohan começou a refletir seriamente se deveria pular no rio Han ou sufocar Kang Hyewon até a morte para que nada disso acontecesse novamente. Afinal, como ele veria Kang Hyewon no futuro e como eles trabalhariam juntos a partir de agora?

   Bam, bam, bam.

  Quando Dohan bateu a cabeça com força contra a parede, um dos hóspedes do hotel, que interpretou erroneamente o som como uma batida em sua porta, abriu-a e olhou para o corredor. Constrangido com os mal-entendidos causados ​​por suas ações, Dohan curvou o corpo como pedido desculpas e saiu às pressas do hotel.

 Quando Dohan chegou ao seu apartamento, que ficava um pouco distante do hospital, chamou imediatamente a colega de plantão. Dohan trabalhava como enfermeiro circulante na sala de cirurgia todas as manhãs, então ela pediu a ele que trocasse seu horário de trabalho pelo dele pelo menos por uma semana enquanto essa situação não fosse resolvida… “De repente apareceu um problema familiar!”. Foi um pedido repentino, mas sua colega concordou imediatamente porque já lhe devia vários favores passados. Sem mencionar que era o enfermeira-chefe que estava pedindo.

   Mas o que ele realmente fez com Kang Hyewon? Se ele tivesse alguma memória, teria fingido que era tudo devido ao álcool, explicado a situação, e definitivamente estaria agindo feito um sem vergonha… mas ele não tinha uma única maldita memória. Por fim, sem saber mais o que fazer, Dohan resolveu passar um dia em casa para clarear as ideias.

   Sentindo-se desconfortável em suas calças molhadas, Dohan tomou um banho frio para tentar lavar tanto o corpo quanto a mente. O homem levantou várias hipóteses sobre a origem desse incidente e as alinhou na palma da mão com uma caneta que estava na bancada que sempre colocava ao lado da banheira. Primeiro, Kang Hyewon, que estava bêbado, o atacou como um animal e abusou de seu corpinho. Que absurdo! Dohan, que estava encharcado de água fria, esqueceu-se da situação e soltou uma gargalhada um tanto exagerada:

   — HAHAHAHAHAhaha…!

   Toda essa situação era um grande absurdo. Mesmo no auge do verão, Hyewon era um homem e profissional admirável que nunca desabotoava a camisa ou tirava a gravata. Houve um tempo em que Hyewon foi seu primeiro amor. Pensando bem, era ambíguo até mesmo chamá-lo de primeiro amor. É que, ao contrário de agora, o Hyewon daquela época tinha um encanto estranho que abalava o coração das crianças que gostavam de coisas fofas e delicadas.

   Ao contrário dele, que corria pelo campo de futebol e fazia muito barulho, Hyewon era o típico esquisito que passara o recreio lendo na biblioteca. Desde que Dohan se expressou como um alfa em uma idade jovem, ele ocasionalmente olhava para o rosto bonito de Hyewon e se perguntava quando ele se manifestaria como um ômega para que eles pudessem… para que pudessem montar um plano onde eles finalmente ficariam juntos. Não havia razão, as coisas simplesmente eram assim. É que Hyewon tinha um rosto bonito, era flexível e sempre foi apegado a ele. Mas depois de saber que o amigo era um beta, Dohan rapidamente perdeu o interesse, e só piorou quando ele abandonou repentinamente o ensino médio. Hyewon agora era como sua outra metade: seu professor gentil, um vizinho amigável e o melhor companheiro de bebida do mundo. Mas, agora, eles fizeram sexo. E mesmo que Hyewon tivesse o atacado, não é como se eles fossem um alfa e um ômega, que eram influenciados por feromônios. Além disso, Dohan não tinha um físico esguio nem era um oponente fraco e seu amigo não era de forçar os outros.

   Pensando bem, talvez ele não foi realmente fodido Kang Hyewon, mas outra pessoa. Ele pensou sobre isso por um tempo, e então balançou a cabeça mais uma vez e suspirou com força. Ele era um alfa dominante e nunca, jamais, poderia se imaginar sob as ordens de outro homem. Em vez disso, esse tipo de situação sempre lhe deu uma sensação de repulsa instintiva. Era do tipo que abominava ser tocado mais do que o estritamente aceitável. Sendo assim, mesmo que fosse seu parceiro de meses ou alguém muito próximo, Dohan não suportava sentir as mãos de outros perto de suas nádegas.

   Me dá uma agonia terrível.

  Não importa o quão bêbado ele estivesse, ele JAMAIS aceitaria algo assim. Chegava a ser tão estúpido quanto dizer que Kang Hyewon o atacou.

   Então… Im Dohan pensou que ele mesmo havia pedido a Kang Hyewon para fazer amor com ele. A cena parecia horrível, mas era o mais plausível em comparação com as hipóteses anteriores. Mas por quê? Especialmente levando em consideração que esta foi a primeira vez que Dohan usou sua bunda para transar com alguém. A verdade é que ele nunca se atreveu a se tocar dessa forma.

   Em vez de tomar banho direito, como planejado, Dohan deu um tapa no rosto com a palma da mão. Não adiantava lamentar agora que tudo já havia acontecido, mas com tantos pensamentos abalando sua mente, era difícil não ser influenciado por toda essa situação.

   — Será que já posso me aposentar?

   Ele pensou por um momento, mas ele era muito jovem. Além disso, não podia simplesmente desaparecer porque Kang Hyewon tinha um relacionamento próximo com seus pais. Não era um relacionamento que eles poderiam simplesmente terminar e pronto. Não… Ele não conseguia imaginar abrir o chat no celular e não dizer “Bom dia” para o amigo, ou não se encontrar na parada do trem, ou não passar uma noite juntos assistindo televisão. Im Dohan não poderia imaginar uma vida sem Kang Hyewon. Era impossível.

   — Estou ferrado. Em todos os sentidos. A vida me ferrou, meu amigo me ferrou, eu me ferrei…

   Dohan enfiou o rosto na água do chuveiro e falou consigo mesmo.

   Depois de um banho demorado, Dohan se deitou na cama e suspirou profundamente, pensando:

   —  Kang Hyewon já acordou?

   Ele desligou o celular para evitar receber ligações de Hyewon, mas agora estava bastante curioso sobre. Mordeu o lábio, suspirou, rolou na cama por um tempo e até pensou em beber de novo. Por fim, ele olhou para o teto como um louco,  arrancou os próprios cabelos, enrolou-se na cama, bateu a cabeça na parede como se estivesse tendo um ataque e depois voltou a chorar e pedir desculpas à mãe. Ele queria evaporar. Seria perfeito se pudesse voltar no tempo… Rolando na cama mais uma vez, Dohan cerrou os dentes com a dor que subia pela parte inferior do corpo. Foi doloroso transar com Kang Hyewon, mas acima de tudo, machucou seu ego, afinal, mesmo sendo um alfa, teria sido devorado por um beta.

   Se Dohan quem tivesse devorado Hyewon…

   Ele engoliu em seco, e se sentiu estúpido por pensar nisso.

   Dohan, que estava murmurando sozinho por um longo tempo, finalmente se levantou de sua cama e pegou uma lata de cerveja. Então, para acalmar o estômago, ele bebeu e bebeu, embora não tivesse pensado por que estava agachado no canto da sala em vez de sentar no sofá. Além disso, Dohan, que era um daqueles que se sentia confortável com as pessoas o tempo todo: não conseguia sobreviver num quarto escuro e silencioso por muito mais tempo. Sendo assim, ele ligou a TV e o celular também. Ele se concentrou na televisão e riu enquanto assistia a um programa de variedades enquanto ainda tomava um gole de sua cerveja gelada. Mas, de repente, ele sentiu uma pontada em sua bunda novamente.

   Ai… doeu muito.

   Mas, independentemente das circunstâncias, ele conseguiu dormir bem à noite: algo que não conseguia fazer há três dias. Além disso, ele pôde comer, se mexer e aproveitar a vida como um ser humano normal depois de muito tempo apenas trabalhando. Mas… Ele não se sentia tão confortável assim. Afinal, amanhã voltaria para o hospital e iria trabalhar com Kang Hyewon…

    Não, ele já havia mudado de turno.

   Eu tenho certeza que vai ficar tudo bem.

   Mas, logo, um monte de latas de cerveja vazias começaram a se acumular em torno de Dohan, que estava sentado no chão mesmo tendo um sofá perfeito no canto. Quanto mais ele não fazia nada, mais vividamente se lembrava de Kang Hyewon quando estava escondido debaixo do cobertor na cama de um hotel no centro da cidade. Não que não tivesse visto seu rosto adormecido uma ou duas vezes, mas agora parecia más… íntimo, personal.    Embora talvez fosse pelo susto que levou naquele momento.

   — Merda… Ah…

   As lágrimas começaram a rolar.

   Por que justo com Kang Hyewon?

   Dohan, que pensou por um momento que era melhor simplesmente voltar para o escritório central, balançou a cabeça novamente e fungou. Kang Hyewon já havia perdido o emprego lá por segui-lo, então faria isso de novo sem pensar muito. Afinal, não havia nenhuma lei que proibisse Hyewon de fazer isso duas vezes porque ele era “o melhor cirurgião” que eles tinham na instituição no momento. Provavelmente Hyewon seguisse Dohan aonde quer que ele fosse. Não importando o porquê.

   — Não. Não é como se isso fosse acontecer. Eu não sou tão importante.

   Ele disse isso, mas seu rosto empalideceu em um momento. Ele se sentou em silêncio no chão e olhou para a tela do telefone mais uma vez. Talvez, em vez de se esconder como um cachorro, fosse melhor ser descaradamente direto como ele havia feito com seus outros parceiros sexuais. Ele sempre teve muita confiança em si, mas por que Dohan ficou tão deprimido após transar com ele?

   Kang Hyewon era uma pessoa maravilhosa quando estava ao seu lado, então ele não deveria estar tão assustado com toda essa situação. Quando se encontravam, muitas vezes discutiam e gritavam um com o outro, mas eram as duas pessoas que mais se entendiam e se conheciam no mundo inteiro. Ele gostava de Hyewon como amigo, mas isso não significava que esse sentimento fosse algo irrelevante.

   Dohan foi o primeiro a sonhar em ser médico. Já Kang Hyewon, não tinha nenhum propósito específico até que se aproximou de Im Dohan e começou a abraçar seus planos como essa fosse a peça que faltava em sua cabeça. A mãe de Hyewon era escritora e seus tios eram engenheiros. Por outro lado, Dohan, cuja mãe, pai e até avô eram médicos, tinha como certo que também queria ser médico. Ao contrário de Hyewon, que não tinha ideia de nada, Dohan nunca se imaginou tendo um trabalho que não fosse da área da saúde. Assim, quando Dohan começou a estudar visando se tornar médico, Kang Hyewon, que estava com ele, também começou a estudar com o mesmo entusiasmo que sempre demonstrava em tudo. Houve um tempo em que prometeram que seriam médicos juntos e que trabalhariam no mesmo hospital. Eles salvariam vidas e aprenderiam muitas coisas incríveis lado a lado. Mas, então, Hyewon desapareceu sem dizer uma palavra. E mais tarde, quando se reencontraram, um já era veterano no departamento pré-médico e o outro calouro no departamento de enfermagem da Universidade Deokwon. Na época, ele não pensou muito na situação, mas agora achava que estava um pouco ressentido. Ele sentiu que havia perdido um companheiro com quem estava correndo rumo ao topo.

   Mas, no fim, Dohan falhou terrivelmente.

   Ele havia sido reprovado no vestibular, mas passou no exame de enfermagem. Então, quando todos diziam “boa sorte” para ele, Dohan apenas balançava a cabeça e pedia para eles calarem a boca. Ele não achava que seria capaz de ir para a escola de pré-medicina só tentar de novo de qualquer maneira. Ele gostava mais de aprontar por aí do que de estudar e se esforçou, mas apenas o suficiente para obter o mesmo resultado.

   Hyewon se tornou médico como resultado de seu trabalho árduo, e Dohan humildemente admitiu que não se esforçou tanto quanto devia. Mas o que o deixou triste foi que… Talvez, se Hyewon não tivesse desaparecido de repente, ele não teria vivido assim e, quem sabe, teria trabalhado com mais diligência. Foi culpa dele, não minha. Era culpa dele por deixá-lo mesmo sabendo que precisava muito dele. E os sentimentos, que não eram tão pequenos quanto ele pensava, foram crescendo aos poucos enquanto trabalhava com Hyewon no hospital.

   Médico e enfermeiro.

   Ninguém na família disse nada a Dohan, mas ele sabia que eles não estavam nem um pouco orgulhosos dele. Ele sabia disso pela maneira como os professores, seu pai, mãe e avô olhavam para ele todo o tempo.

   É por isso que Dohan queria derrotar Hyewon em pelo menos uma coisa. No entanto, ao contrário do Hyewon do passado, que tinha uma aparência delicada, o homem se tornou um adulto admirável sem o seu conhecimento e agora não era alguém capaz de ser derrotado facilmente. Mesmo nas ocasionais apostas de basquete entre os residentes, ele venceu Dohan e outros alfas que estavam relativamente em melhor situação do que ele. E talvez isso fosse infantil, mas havia apenas duas coisas em que Dohan poderia vencê-lo: tamanho do pênis e número de experiências sexuais. Para Hyewon, que de repente apareceu como um adulto perfeito diante dele, Dohan não tinha nada a mostrar além do jeito que era amado por todos.

   Então, ele frequentemente mostrava seu lado alfa. Coisas como piadas ou a história dos ômegas que ele conheceu em um bar. O número de vezes que ele fodeu ou até fotos mostrando seus músculos treinados na academia. Ele queria ser assim, como se fosse alguém inatingível. Mas agora, graças ao erro de uma noite, até isso foi em vão.

   Confuso, Dohan encostou a bochecha no chão e mordeu o lábio. E, embora estivesse matando o tempo há muito tempo, de repente percebeu algo e checou seu celular. Estranhamente, não havia recebido nenhuma ligação dele o dia todo. Vendo que até agora não houve nenhum contato de Hyewon, pensou que certamente  deveria ter os mesmos sentimentos conturbados que ele. Então, Dohan se levantou do chão, ajustou sua postura, sentou-se e tocou a tela com alguns dedos. Abriu um aplicativo de “encontro às cegas” que havia instalado com antecedência: um aplicativo perfeito para encontrar ômegas e ter um rolo casual.

   Dohan rapidamente examinou a lista de fotos no aplicativo, das mais simples às mais bonitas e charmosas. No entanto, por que ele continuava se lembrando do maldito rosto de seu melhor amigo? Embora, certamente, se dividisse a cama com uma pessoa perfeita para o sexo, então ele iria afastar as memórias dessa noite perturbadora com a ajuda de outra pessoa.

   E com a lógica estúpida de um playboy, Dohan seguiu observando a lista várias vezes à medida que o tempo passava. Os rostos de todos os tipos de pessoas passaram por seus olhos em rápida sucessão, mas, na realidade, foi tão instantâneo que ele nem conseguia se lembrar bem deles. Era como se estivesse em uma estação de metrô lotada, onde os rostos de outros passageiros passassem tão rápido, que no fim, nenhuma característica marcante fosse processada por seus olhos.

   — Mas que merda…

   Parecia que ele havia olhado para todas as pessoas da lista, mas não havia ninguém de quem gostasse ou em quem estivesse realmente interessado. Alguns deles eram pessoas que ele já havia encontrado várias vezes antes, inclusive a mulher que o chutou no rosto. E depois de atualizar a tela do aplicativo mais uma vez, finalmente uma pessoa chamou a atenção de Dohan. Não era tão bom quanto ter Kang Hyewon em sua cama, mas era inegável que aquele era um ômega lindo.

   Dohan enviou-lhe uma mensagem sem hesitar. Coincidentemente, a outra parte enviou de bom grado um emoticon mostrando interesse no convite para um encontro casual naquela mesma noite. Um sorrisinho confiante apareceu no rosto de Dohan sem perceber. Por que sofrer? Foi tão simples e fácil! Ele cantarolava como se nunca tivesse feito sexo em sua vida. Ele então começou a aplicar cera nos cabelos emaranhados e, já bem penteado, barbeado e cheirando a colônia, resolveu usar um relógio que normalmente guardava em uma bela caixa. Dohan olhou atentamente para seu reflexo no espelho da sala antes de sair. 

   É hora de se divertir!

   Ele tinha um corpo que todos amavam. Tinha ombros largos e um peito com músculos que se erguiam com o calor do exercício. Seu belo corpo musculoso complementava o caimento da camisa e pernas longas que ficavam bem em qualquer terno. Vestindo uma camisa preta e paletó esporte, Dohan colocou uma camisinha no bolso de trás da calça e pegou o metrô.

   Depois de conhecer esse jovem durante a noite, eles foram a um café no saguão do hotel. Conversaram, riram e, em seguida, se dirigiram para o quarto que havia reservado para a noite. O menino, lindo, de dedos compridos e belos olhos azuis, sorriu e contou-lhe algo sobre seu dia no escritório, mas ele não o ouviu. Afinal, se ele não gostasse da experiência, nunca mais o veria e, se gostasse, pediria seus dados para manterem contato.

   Assim que chegaram ao quarto onde se registraram, ele começou a desabotoar a camisa de Dohan na frente da porta, como se estivesse esperando por isso o tempo todo.

   — Você é muito bonito.

   — Você achou?

   — Fiquei apavorado olhando as fotos. É só que… você é realmente lindo. Achei que fosse um filtro.

   Ele olhou para o rosto de Dohan descaradamente. Foi um elogio que ele ouviu inúmeras vezes no passado, então Dohan riu por dentro e aumentou sua confiança. Não seria um pouco egoísta dizer “eu sei”?

   Como era um aplicativo de internet, a maioria das pessoas costumava colocar rostos falsos, obras de arte e avatares completamente diferentes do que pareciam na vida real. Mas diferente dessas pessoas, Dohan sempre foi honesto.

   O homem, que olhou o rosto de Dohan de cima a baixo como se estivesse bêbado sem nem mesmo tocar em um copo de álcool, riu como se realmente gostasse de seu rosto.

   — Você faz muito o meu tipo…

   Ulalá. Nada mal.

   Ele também gostou muito dessa personalidade incisiva do ômega, que vai direto ao ponto, sem ser chato e pretensioso. Seus cílios longos tinham uma cor levemente pálida e sobrancelhas retas com uma textura uniforme… Tão lindos… me lembram tanto os olhos de Hyewon que eu queria…

   … Espera, mas que porra foi essa?

   Dohan, assustado com o pensamento que acabara de ter, balançou a cabeça violentamente e olhou para o ômega, que esfregava suavemente seu peito. Não, não, ele está longe de se parecer com Hyewon. Diferente de Hyewon, que  tinha uma imagem fria e inteligente, esse omega é puro fogo. Merda, por que eu estava pensando em Kang Hye-won aqui?

   Ficou claro que ele ainda não havia se recuperado do trauma psicológico daquele dia, então Dohan decidiu agir rapidamente, em vez de se divertir sem pressa. Afinal, se continuasse nesse ritmo, ele seria incapaz de se livrar de seus pensamentos confusos.

   Dohan arrancou a camisa do rapaz com um movimento hábil e imediatamente o empurrou para a cama. Olhando para a pessoa agora sentada na beirada do colchão, Dohan afrouxou rudemente o cinto e o arremessou no chão, fazendo um barulho alto de clique. Suas calças deslizaram de suas coxas elásticas e caíram no tapete para revelar uma cueca preta sexy e então se ajustou para que a diversão pudesse começar. No entanto, ao contrário das mãos que agiam como as de uma fera, o alter-ego de Dohan estava lá, enrolado e balançando para frente e para trás enquanto chupava o dedo. 🤣🤣🤣

   — O que foi, amor? Você está nervoso?

   O ômega desconhecido sorriu para Dohan. Estritamente falando, Dohan era um típico “ninfomaníaco”. E justamente por isso não havia defeito em sua função sexual. Quando o assunto era sexo, ele era um desses potros rebeldes que poderiam te levar até o orgasmo mais sensacional que já havia sentido. Mas era verdade que hoje ele estava… lento. Ele enrijeceu um pouco e deu uma risada desajeitada para o homem que estava acariciando a parte de cima de sua roupa íntima e gesticulou para que ele se deitasse na cama.

   Dohan olhou atentamente para o homem… Qual era o nome dele? Dohan não conseguia nem lembrar o sobrenome porque não se importava. Suas calças estavam meio penduradas em seus quadris e seus joelhos estavam abertos para os lados. Ele moveu os quadris em sua direção, então Dohan pulou na cama. De repente, ele se lembrou do dia em que levou um chute no rosto e ficou com medo. A pose do rapaz era estranhamente semelhante à daquele momento.

   E enquanto ele se lembrava daquela sensação, outra lembrança invadiu a mente de Dohan.

°

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Continua…

Tradução: MiMi

Revisão: Rize