Pontos de sutura - Capítulo 03
— Eu vou transar com você…
Kang Hyewon, que estava sentado em uma cadeira, quase deitado, franziu a testa por um momento e olhou atentamente para o estúpido Dohan.
O homem, incapaz de ficar de pé, muito menos andar de maneira decente, cambaleou até parar na frente de Hyewon. Então, quando ele pareceu recuperar um pouco sua concentração, ele deu um passo para trás e três passos para frente. Inclinou-se para a esquerda e, com os olhos arregalados, mostrando que estava em estado de embriaguez total, começou a sorrir.
— Eu…
Dohan estava cambaleando enquanto tentava afrouxar o cinto do amigo. No entanto, Hyewon não tentou impedi-lo em momento algum. Em vez disso, ele apenas olhou para os movimentos desajeitados das mãos do outro e o modo como ele puxou várias vezes o cinto para abrir a fivela, falhando todas às vezes.
Hyewon sentou-se na outra cadeira de maneira desajeitada e fixou o olhar completamente entre as pernas do outro. Ele refletiu no quanto o outro estava demorando para baixar suas calças, mas, embora quisesse dizer para ele parar e que ele era um completo idiota, não conseguiu se mover. Ele ficou completamente calado por um longo tempo como se estivesse se divertindo ao ver o quão longe ele poderia ir. Então, Dohan finalmente afrouxou o cinto, se levantando, e o ergueu no ar como um general triunfante tendo o suprimento de um comandante inimigo. E enquanto ria, ele proferiu palavras que soaram mais como um trava-língua do que uma conversa.
Hyewon lambeu os lábios com a ponta da língua. Ele estava tão bêbado que sua garganta parecia doer devido a uma sede que se manifestou do nada e, consequentemente, uma pequena língua avermelhada, que contrastava completamente com sua pele branca, passou algumas vezes por sua boca seca até deixá-la bem úmida e brilhante. Isso foi algum tipo de sinal gay ou algo assim? Por que Dohan está tirando as calças? E por que ele agarrou minha cara e me beijou de um jeito tão legal? Esses pensamentos encheram a mente de Hyewon, mesmo que parecesse que eles estavam se encabeçando ao invés de “namorando”. Suas testas se encontravam e muitas faíscas voavam dos olhos dos dois. Não foi possível dizer se Hyewon estava tonto de embriaguez ou se teve uma concussão por ter sido atingido por aquele cabeça oca. Além disso, sua boca tinha um forte cheiro de álcool. Era como se tivesse encostado o nariz em um béquer cheio do mais puro álcool. Mas fora isso, não foi nada mal.
(N/ MiMi: Béquer é uma espécie de copo com medidas usado em laboratório.)
Como se bebesse um bom rum, apesar do odor, a boca de Dohan tinha aquele gosto de açúcar e creme e o calor e a suavidade de uma manteiga na ponta da língua.
— Obrigado… — Hyewon agradeceu.
Após o breve beijo, Dohan riu enquanto olhava atentamente para Kang Hyewon, que o olhava com uma cara estúpida. Ele, então, cambaleou pela terceira vez, abaixou a cabeça e murmurou algo que Hyewon não conseguiu ouvir devido à falta de coerência.
Dohan se afastou, terminou de tirar as calças na frente de Kang Hyewon e, lentamente, se aproximou novamente. O traje de Hyewon, que ele não tinha conseguido tirar, enrugava-se feio toda vez que ele o tocava com as pontas dos dedos e, embora parecessem movimentos muito desorganizados e desajeitados, Hyewon nunca o afastou ou o repreendeu. O homem estava constantemente resmungando para si. Ele estava cambaleando e tentando tirar as calças de Hyewon, mas sem sucesso. Por fim, ele apenas se levantou da cadeira.
— Droga, você é um besta, sabia…?
Quando Hyewon, que era cerca de um centímetro mais alto que ele, veio até ele para pegar sua mão, Dohan, que ainda estava cambaleando de um lado para o outro, balançou a cabeça e franziu a testa como se estivesse tentando observá-lo apropriadamente. Dohan pareceu se impressionar com os pequenos detalhes do rosto do amigo: seu rosto branco, seus belos lábios, o formato de seus olhos, suas bochechas, suas orelhas e aquela flor vermelha brilhante que havia crescido nas bochechas de Kang Hyewon.
— Você está lindo…
— Você é tão…
Dohan começou a tirar a própria cueca.
Agora, lá estava ele: bêbado, totalmente nu, com seu corpo balançando para o lado e um pênis impressionante entre suas pernas. E, no momento em que Lim Dohan estava prestes a tocar Kang Hyewon, que estava bem a sua frente, seu corpo virou e o teto inexplicavelmente apareceu em seu campo de visão. Observou as luminárias ornamentais da suíte do hotel e também, um ou outro detalhe gravado nas paredes. Então, sob a luz das lâmpadas, o rosto corado de Kang Hyewon apareceu de repente a centímetros dele.
— Vai com calma…
Aquela voz quente e bêbada, como sempre acontecia quando ele estava cansado, o fazia estremecer deliciosamente da cabeça aos pés. Ele sentiu o sangue correr de seu rosto para a metade inferior de seu corpo e o cheiro doce daquela pele, que tocou a ponta de seu nariz quando ele o beijou novamente, o entorpeceu. Aquele aroma delicioso parecia invadir seus pulmões a cada inspiração.
*
— Você está bem? Bom dia…
Dohan, que estava deitado na cama com os olhos bem fechados, acordou com a voz de um estranho parado ao lado dele. Além disso, havia uma sensação horrível entre suas pernas. A boca de Dohan se abriu e logo, seus olhos negros vibraram implacavelmente com a memória que passou por sua mente e o que estava acontecendo agora naquele cômodo. O ômega, aquele do aplicativo, estava se contorcendo entre as pernas de Dohan. O rapaz estava olhando para ele com orgulho, enfiando o pênis de Dohan na boca como se ele tivesse realizado uma grande façanha e carregando um grande sorriso. Mas quando seus olhos encontraram os dele, Dohan de repente sentiu-se extremamente enjoado. A sensação de estar em um campo onde soprava uma brisa fresca mudou instantaneamente para os esgotos da cidade.
— Urgh.
O cheiro doce do homem, de repente invadiu a ponta de seu nariz, revirou o estômago de Dohan de forma bastante exagerada. Não era um cheiro forte, como se o ciclo de calor tivesse chegado, mas um feromônio ômega muito suava que estava saindo especificamente para tentar deixá-lo excitado.
Dohan cobriu a boca e o nariz com as duas mãos ao sentir o cheiro. O que em outras circunstâncias teria sido um excelente catalisador para mais excitação antes da relação sexual agora parecia um pesadelo. No entanto, ao vê-lo assim, seu parceiro, que lentamente se levantou com sua ação repentina, imediatamente distorceu seu rosto e perguntou se tinha “algo errado” com ele.
— Não, não chegue perto… eu não sinto… meu estômago não…Urgh. Vai embora!
Dohan, que tentava dar qualquer desculpa para não parecer tão estranho, fechou a boca assim que a náusea começou a aumentar de intensidade.
— O que aconteceu?
— Um…!
Lim Dohan, que tinha o rosto completamente azulado, empurrou o ômega assustado e, então, correu rapidamente para o banheiro para se trancar lá. Dohan abriu a torneira da pia, embora isso significasse ignorar os xingamentos irritantes do homem do outro lado da porta.
Ssshhh.
E a água fria começou a fluir.
Dohan enxaguou a boca algumas vezes para aliviar a dor de estômago. Ele realmente parecia muito doente. Trancou a porta e tentou banir o mau cheiro que o outro havia disparado em sua direção para tentar provocá-lo. Além disso, a silhueta daquele homem, que ele acabara de conhecer começou a se refletir na porta de vidro translúcido.
Meu Deus…
Seu estômago revirou novamente e a náusea ficou tão intensa que Dohan cobriu a boca novamente e disse:
— Urgh!
Como Dohan não conseguia responder, mesmo depois de tentar algumas vezes, a outra pessoa soltou frases cheias de frustração e reclamou de como ele era “estúpido”. Ele realmente queria se desculpar, mas ouviu um estrondo e a porta principal do quarto se fechou.
O quarto do hotel ficou tão silencioso que a única coisa que restava ali era o som da água escorrendo pela pia como as Cataratas do Niágara.
Suspirou. Dohan tinha lágrimas nos cantos dos olhos e tentava engolir toda a náusea que vinha sentido para tentar não vomitar. Ele abriu as palmas das mãos e deu tapas nas bochechas até que seus dedos deixassem uma marca clara em seu rosto.
— Deus, agora estou grávido. Perfeito.
Como de costume, ele fez uma piada leve para aliviar a atmosfera estranha e, após respirar fundo algumas vezes, finalmente decidiu estar bem o suficiente para sair da pia. Em vez de procurar um lugar confortável para se instalar, ele se sentou no banheiro e encostou as costas na parede de ladrilhos frios por muito, muito tempo. Por que os eventos da noite passada vieram à minha mente de maneira tão fragmentária? Não importa o quão bêbado eu estivesse, o quê que eu tava pensando antes de beijar o Hyewon? Ou melhor, por que foi tão fácil aceitar o Kang Hyewon quando agora estava completamente claro que ele não suportava o toque de outra pessoa?
Mais uma vez, ele de repente se lembrou de Kang Hyewon subindo em cima de seu corpo com um rosto vermelho e maduro e seu nome borbulhando da ponta daquela boca. Instantaneamente, ambas suas bochechas ficaram quentes e uma estranha coceira surgiu entre suas pernas. Em vez do cheiro forte e repugnante daquele feromônio do ômega, que lhe dava dor de cabeça e vontade de vomitar, parecia sentir de novo aquele perfume rico que o deixava com um cheiro de madeira na floresta. Ele se lembrou do jeito que ele estava gritando “Kang Hyewon!”, “Hyewon!” naquela noite.
Dohan olhou para a parte inferior de seu corpo para ver o quão óbvio era que estava ficando com tesão. Era difícil pensar nele e naquele perfume.
Dohan bateu na testa mais uma vez.
— Droga, isso é tão…
Lágrimas brotaram.
Apoiando-se contra a parede de azulejos por um tempo, Dohan acalmou seu corpo excitado e saiu do banheiro tremendo, como se sua pressão sanguínea tivesse caído. Chutou abruptamente as roupas que estavam jogadas no chão, jogou-se na cama fria e tentou apagar o feromônio ômega dos lençóis, colocando apenas o seu. No entanto, ele logo teve que se levantar novamente com uma vontade forte de vomitar. Tudo isso por conta de um lençol.
O alfa, que tremia de náusea, pensou por um momento se deveria pedir à recepção uma mudança de quarto ou de lençóis, mas não conseguiu controlar sua mente perturbada e decidiu que iria para casa imediatamente. Quando ele estava enjoado, ele perdia toda a força de seu corpo. E agora não era diferente. Seria melhor se eu estivesse chapado. Afinal, hoje, depois de um sexo muito triste, Dohan seria lembrado como um louco que estava vomitando graças a um ômega desconhecido.
Quando voltou para casa, um jaleco branco, que havia lavado antes, o esperava. Comeu sopa de kimchi e relaxou assistindo uma partida de futebol repetida. Porém, ao checar as horas, descobriu que, na verdade, já tinha que fazer as malas para ir ao hospital à tarde, graças ao colega ter concordado em mudar de turno. Mas não era possível evitar ver Kang Hyewon para sempre. Ele não queria, mas tinha que enfrentar seu destino. Ele pensou em ligar mais cedo para o amigo, dizer que aquilo tinha sido um erro; algo como “A culpa foi do álcool”, “Não sabia que era você.” Mas mesmo sabendo que precisava fazer algo assim, quando pensava neles juntos, um de frente para o outro e conversando sobre o assunto, Dohan começava a se sentir terrivelmente desconfortável. Era como se apenas cogitar em falar algo referente a isso fosse algo rude.
Dohan abriu seu livro de “Técnicas Básicas De Pós-Operatório” e tentou se livrar de todos aqueles pensamentos negativos para se concentrar. Afinal, fosse ele enfermeiro ou médico, a área de saúde exigia estudo constante ao longo da vida. Além disso, em um mundo onde novos medicamentos, novas máquinas, novos métodos cirúrgicos estavam sendo criados e reinventados constantemente, se atualizar era absolutamente necessário. E como a quantidade de coisas para estudar aumentava dia após dia, quando estava na faculdade, ele até pensou por um momento que seria melhor se parassem de fazer tanta pesquisa para inventar novos remédios e o deixassem descansar; embora fosse, obviamente, uma maneira estúpida de ver as coisas.
Dohan, sentado em sua mesa, passava muito tempo concentrado em seus livros de medicina. A partir desta semana, ele entraria no turno da noite, então precisava ajustar seu padrão de sono novamente. O turno do dia começava às 7h e terminava por volta das 3h30, mas Dohan nunca saía do trabalho naquele horário, nem na matriz, nem na filial. Como as cirurgias sempre tinham variáveis incontroláveis, muitas vezes se estendiam tanto que, quando os diurnos terminavam seus turnos, ele ainda ficava para trás à tarde.
Dohan era um dos poucos enfermeiros com experiência em sala de cirurgia na filial, então ele dormia muito no hospital. Às vezes, as operações eram longas e terminavam às 12h da manhã. Logicamente, aquele era o horário em que o último trem da cidade cessava suas atividades. E, mesmo quando ele não estava no turno da noite, de repente havia muitas cirurgias que não podiam ser cobertas, então ele sempre recebia ligações irritantes de seu departamento que o faziam pular da cama. Como resultado, em certos dias da semana, era mais confortável dormir na sala de vigilância ou na sala de cirurgia do que ir para casa. E ali, ao seu lado, estava sempre…
— Mas que merda! Foda-se! Pare de pensar nisso!
Dohan, que estava ficando cada vez mais frustrado, fechou o livro e deitou na cama, tentando evitar pensar nisso novamente. Na verdade, era a primeira vez que ele fazia isso porque, quando chegava em casa, deixava a maleta e ia beber, sair, encontrar alguém por aí. Mas agora, pensando em refletir sobre o que aconteceu com Hyewon, ele decidiu abster-se de sair e beber por muito tempo. Parecia um plano meio bobo, mas foi a única opção que lhe veio à mente.
Apagou as luzes e foi para a cama, mas a luz do lado de fora ainda permeava completamente o teto. Cada vez que um carro passava, a sombra aumentava e depois diminuía repetidamente.
Ele achou a situação do hotel muito estranha. Aquele rapaz era apenas um ômega comum, então ele não conseguia entender por que seu feromônio de repente parecia tão nojento em seu nariz. Ele também não conseguia entender por que queria tanto vomitar apenas por estar perto dele. Dohan fechou os olhos. Decidiu, finalmente, que iria trabalhar um pouco mais cedo amanhã. Assim, falaria sobre o ocorrido com quem devia e buscaria tratamento no departamento de fisiologia.
N/Rize: MANO DO CÉU, SERÁ QUE ELE FOI MARCADO?!!
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Continua….
Tradução: MiMi
Revisão: Rize