Pontos de sutura - Capítulo 07
Hyewon estava se movendo tão rápido que seu jaleco branco começou a balançar no ar da esquerda para a direita. O cartão de identificação do funcionário, que pendia de seu pescoço, fazia um som de “crack, crack, crack” toda vez que batia em seu peito. Vê-lo assim não era nada comum, mas, hoje, seu temperamento estava tão alterado e pesado que todos estavam com medo. Os residentes que vinham do lado oposto do corredor o cumprimentaram com o respeito que um superior merecia, mas Hyewon passou por eles sem sequer notá-los.
Dentro dele, havia um fogo impressionante que consumia seu sangue. Um incêndio florestal. Após retornar à sua base, Hyewon revisou os registros do paciente e foi até o computador para preencher seu relatório de cuidados. Quando o mouse fez click rápido e forte sobre a madeira, ele gritou algo como:
— Mas que merda! Você não pode ir mais rápido?
O residente, que estava comendo macarrão, deu um pulo em seu assento e caiu de nádegas. Até o próprio Kang Hyewon sentiu que sua personalidade parecia instável naquele momento.
Hyewon, que permaneceu concentrado no registro do paciente por algum tempo, bateu no teclado com força quando o rosto de Lim Dohan voltou à sua cabeça. Maldito bastardo… como ele ousa…? Como ele pode ser tão…? Até o próprio Kang Hyewon mentiu para Dohan para não deixá-lo mais apavorado, mas ver Dohan aliviado com a mentira o fez sentir o desejo de socá-lo! Bem, ele havia dito isso. Que vontade de bater nele! Podia entender por que ele queria fingir que nada aconteceu entre eles. Eles eram amigos há muito tempo, então ele não queria se afastar disso ou perder o relacionamento. Ok, que fofo. Mas que diabos me dizer para ir com a anestesista? A gente acabou de transar, meu Deus! No final, as palavras de Dohan foram a prova de que o relacionamento deles naquela noite não passou de um erro ou entretenimento sem emoção.
— Filho da puta!
Um palavrão saiu da boca de Hyewon, que se lembrava do rosto de Dohan como uma mosca-morta no refeitório. Foi assustador porque Hyewon não era o tipo de homem que frequentemente mostrava suas emoções na frente dos outros. Se alguém tivesse ouvido os palavrões que saíam de sua boca, um após o outro, ficaria tão pálido quanto se tivesse visto um fantasma.
Kang Hyewon sempre esteve ao lado de Dohan, mas Dohan nunca o colocou em sua lista de prioridades só porque eles eram alfa e beta. Mesmo quando o calor chegava até ele e começava a ofegar na sua frente, Dohan apenas dizia: “Me injete um inibidor” ou “me ajude”. Mas Dohan nunca olhou para Hyewon, pois seus olhos estavam atentos a qualquer ômega desconhecido que passasse derramando feromônios. Ele estava cansado de fingir que estava tudo bem! Estava cansado de fingir que eram amigos íntimos, fingindo que não se importava se ele dormia com quem quer que fosse, e cansado de fingir que era hétero. Se soubesse que seria aquelas palavras que voltariam em sua direção, dizendo: “Não sei. Você lembra daquela maldita anestesista?” Teria dito a ele todos os seus sentimentos por ele corretamente. Ele provavelmente deveria ter dito: “Oh, você não se lembra? Então, olhe para aquela porra de cicatriz de mordida na sua coxa! Quem você acha que deixou ela lá? Acha que foi um cachorro ou quê? Que caralho!”
Hyewon, que rapidamente movimentou o mouse para escanear o registro do paciente, parou o dedo e riu sombriamente. Em momentos como este, Hyewon se sentia infeliz por ser um beta. Se ele fosse um ômega, seu relacionamento com Dohan teria sido completamente diferente. Os pais de ambas as famílias eram muito próximos, então talvez ele pudesse ter sido o noivo escolhido por seus parentes estúpidos.
Lim Dohan…
A partir do momento em que Hyewon descobriu que não conseguiria sentir o cheiro dos feromônios de seu amigo ou de qualquer outra pessoa ao seu redor, esse sofrimento se tornou incrivelmente doloroso. Era como se estivesse preso na armadilha que Dohan criou para ele. Preso no papel de um amigo que estava mais próximo dele do que qualquer outra pessoa, mas que nunca conseguiria se aproximar o suficiente. Muitas vezes ele pensava que preferiria se tornar um ômega. Pensava em como desejaria ter um ciclo de calor, poder sentir o cheiro dos feromônios dele e se juntar a ele como companheiros. Mas ser um beta significava ser um amigo com o qual Dohan nunca poderia se relacionar sexualmente. Por outro lado, qualquer pessoa com uma etiqueta de ômega poderia se tornar o novo amante de Lim Dohan.
Certa vez, Hyewon engoliu um frasco de inibidores em casa depois da escola, acreditando no boato de que, se tomasse uma grande quantidade dessa droga, ele poderia se expressar completamente como um ômega. Sua mãe ficou surpresa ao ver a caixa de remédios vazia e, sem sequer repreendê-lo, levou-o ao pronto-socorro para fazer uma lavagem estomacal. O que ele disse na época foi exatamente a frase: ‘Teria sido bom se eu fosse um ômega.’ Ele se lembrava bem da expressão de choque no rosto de sua mãe. Sem poder dizer nada, ela pegou a mão de Hyewon, que havia recebido alta do hospital, e o tirou da escola para que ele pudesse ter um momento de recuperação. Ela nem mesmo perguntou por que ele queria ser um ômega, mas ao ver o filho, que não saia com ninguém e não tinha amigos, estudando tanto para se tornar um médico e, assim, ficar com Dohan para sempre, ele se perguntou se ela tinha alguma noção da situação.
Hyewon tirou as mãos completamente do computador. Então, tirou os óculos do rosto e os colocou sobre a mesa por um tempo. Em seguida, ele simplesmente esfregou o rosto com as palmas das mãos novamente, e novamente, e novamente, e novamente, como se quisesse arrancar a pele. E, embora sua expressão não se movesse, o calor que ele sentia em ambas as bochechas falava dos sentimentos que ainda habitavam seu coração. Primeiro, ele ficou com raiva da mentira sobre seu encontro sexual, mas depois pensou que, mesmo que tivesse outra chance, Hyewon voltaria a enganar Dohan e diria que não se lembrava de nada. Porque é o melhor para ambas as partes. Se as sobrancelhas grossas e retas de Dohan iriam se juntar assim o tempo todo, parecendo tão desconfortáveis estando perto ele, então Hyewon teria que entrar no jogo.
A situação chegou ao ponto de que Hyewon não suportava mais os desejos que vinha escondendo a vida toda e, assim que surgiu uma pequena oportunidade, ele os revelou plenamente. Ele sentiu um fogo subindo por todo o corpo, então tocou Lim Dohan com a desculpa de estar bastante bêbado.
Ele aproximou seus corpos e o beijou.
Apesar de sempre dizer a si mesmo que tinha que andar ao lado de Dohan como amigos normais faziam, ele também queria que aquele homem caísse em seus braços e olhasse apenas para ele. O que seus pais diriam se descobrissem ou o que aconteceria se vissem pelo menos uma vez como as costas de seu filho ficavam tensas quando ele era tocado nu? E se Dohan descobrisse completamente como ele foi devorado por seu amigo, o que ele diria? Mas, na realidade, Hyewon conseguiu segurar sua razão, mesmo que tão frágil quanto um fio prestes a se partir, e se segurou por muito tempo como uma bandeira em uma colina onde soprava um tufão. Foi Lim Dohan quem começou primeiro! Ele foi o primeiro a desamarrar o cinto e tirar as calças, e foi ele quem se aproximou de cueca e mostrou seu pênis. Hyewon só era culpado por não parar. Dohan lutou para levantar os olhos trêmulos e pressionou seus lábios contra os de Hyewon com tanta ternura que a ação acendeu uma faísca não apenas em seu peito, mas também em sua cabeça. Como engrenagens colidindo umas com as outras e cuspindo fogo. A cabeçada e a boca perto da dele foram o catalisador.
Hyewon não aguentou mais e se levantou da cadeira. Seus olhos, que estavam ofuscados pela embriaguez, brilharam ao toque daqueles lábios, e então, sem entender como isso realmente aconteceu, ele empurrou Dohan contra o colchão e o tomou como se fosse seu.
O cansaço havia aumentado ao extremo e o médico estava exausto do trabalho que vinha fazendo há vários dias. E embora tivesse planos, Hyewon atendeu o telefonema de Dohan no primeiro toque e correu para o hotel sem perguntar muito sobre. Ele se sentiu patético ao perceber que havia arruinado um “jantar” só para ouvir o homem por quem estava apaixonado comentar sobre a maneira como um ômega o chutou na cara antes do sexo. Disse ao amigo que estava em sua casa, mas, na verdade, Hyewon acabara de escapar de um encontro que tinha como objetivo um possível casamento. Pensou ser necessário conseguir uma companheira beta, uma mulher normal, e usá-la para apagar seus sentimentos por Dohan. Mas, 5 segundos após o início da reunião, ele saiu correndo. Ela era uma boa mulher, estavam na mesma profissão, no mesmo hospital, e não falavam muito um com o outro. Ela era o tipo de pessoa apaixonada pelo trabalho, educada e gentil… E eu preferi o playboy que não para de foder porque é isso que pessoas estúpidas fazem.
Ele se despediu dizendo que algo urgente havia acontecido e saiu do restaurante. A beijou, mas também não pôde chamar aquilo de beijo. Foi realmente, um toque nos lábios.
Não era como o que ele havia feito com Hyewon.
Aquele foi o choque mais suave do mundo e com um cheiro amargo de álcool, como creme de manteiga. E enquanto Hyewon estava olhando para o rosto dele, a mão de Lim Dohan foi para dentro de sua camisa. Em algum momento durante o encontro, ele a desabotoou para poder tocar a carne do outro.
Quando a ponta do mamilo se esfregou contra a palma da mão seca e rachada e depois correu para o umbigo, Hyewon estremeceu de uma forma incrivelmente deliciosa. Ele se perguntou se isso era apenas um hábito “mulherengo” dele. Mas tudo ficou ainda pior quando a mão de Dohan tocou o lugar onde estava seu pênis. O homem tentou espremer seu último fragmento de razão e é claro que ele pensou que deveria impedi-lo naquele momento. Ele queria fazer amor com o amigo, mas como nunca o havia imaginado assim, sentiu que não era o que deveria fazer. O correto era…
Hyewon parou.
Dohan, que colocou a mão no colchão, franziu a testa e olhou para o outro como se pedisse para ele se aproximar novamente. Por vezes, olhou para ele e segurou pela cintura com as duas mãos. Havia um pensamento em sua cabeça que dizia que ele tinha que parar, mas ele não fez nada para controlar a tentação. Emoções sombrias e covardes fluíram do órgão que Dohan estava segurando e cobriram completamente seu corpo até que ele ficou com a cabeça em branco. E se eu fingir que não pude evitar e o abraçar? E se eu apenas… dar um salto de fé? Ironicamente, foi por ser um beta que o outro permitiu que ele ficasse ao seu lado por tanto tempo. Lamentou que era um beta e queria se tornar um ômega para estar com ele, mas se ele realmente fosse, eu poderia ter ficado com Dohan todo esse tempo? Ele teria permitido que as coisas fossem assim até agora? Hyewon lembrou-se dos rostos de todos aqueles ômegas que haviam sido feridos por Dohan no passado e pensou que, eventualmente, acabaria tendo a mesma expressão que eles.
Mas, enquanto Hyewon estava em conflito, Dohan finalmente tirou as calças e começou a se abrir de uma forma fantástica para ele. E então, antes que ele pudesse reagir, Dohan começou a mostrar a ele seu pênis.
O membro de Dohan, que estava aninhado entre as pernas de Hyewon, estava quase perfurando sua coxa, como um pedaço de pau duro. Provavelmente porque ele havia entrado no cio. Mas como Hyewon era um beta, não conseguiu sentir o cheiro dos feromônios alfa que Dohan exalava, então ele apenas adivinhou que aquilo era parte de seu comportamento debochado. O alfa estava tão bêbado que não conseguia controlar seu corpo adequadamente, então ele empurrou seu próprio corpo entre as pernas de Hyewon e pressionou as duas mãos nos ombros dele. Ah, isso é tão difícil… Não importa quantas vezes ele pensasse sobre isso, não queria se tornar um objeto de entretenimento por uma noite. Além disso, se fizermos isso, será que vou ser capaz de guardar esse momento no coração pelo resto da vida e ficar satisfeito? Ficou claro que haveria um desejo maior no futuro. E o início dessa ganância seria o fim de seu relacionamento.
No entanto, a tentação era grande demais para que ele forçasse Dohan a acordar.
Desde o dia em que percebeu que tinha Dohan em seu coração, ele agarrou seus próprios órgãos genitais e gritou o nome daquele homem enquanto se masturbava. Esse sempre foi seu único desejo. Adorava ver o corpo do amigo trocando de roupa no vestiário e adorava imaginá-lo ao seu lado na cama. Ele suspirou e, então, chegou a conclusão de que deveria aproveitar a situação.
Afinal, ali estava o corpo nu de Dohan, aquele que ele sempre tocava em seus delírios.
E, enquanto Hyewon estava divagando, a mão de Dohan corria entre seus quadris até que o pênis de Hyewon, que havia se levantado e pingava um pouco de líquido pré-seminal, mas não era o suficiente para chegar ao ponto de devorá-lo. No entanto, Hyewon olhou para Lim Dohan quando sentiu que o homem estava tocando sua bunda.
— Dohan… o que você está fazendo?
Dohan, que estava esfregando a bunda do amigo, franziu a testa quando percebeu que Hyewon o parou.
— Eu não vou fazer imediatamente. Então se acalme, Taemin.
Taemin.
Taemin?
Se Hyewon fosse um objeto, teria se quebrado em pedaços com aquelas palavras. Não importava de quem era o nome, não era o nome de Hyewon e isso era relevante. Foi muito ruim. Foi um sentimento que não poderia ser expresso em palavras. E não bastava dizer o nome de outra pessoa enquanto olhava para ele desse jeito sem vergonha. A realidade era que Dohan nem mesmo sabia de quem era o corpo que estava tocando naquele momento.
Hyewon começou a chorar.
Ele podia sentir as lágrimas quentes em seus olhos aquecendo seu rosto enquanto caíam. Um sentimento de traição e raiva o invadiu porque, mesmo estando bêbado, ele ainda achava que não era justo. Imaginou que o amigo estava fazendo aquilo porque também sentia algo por ele ou porque pelo menos gostava um pouco do rosto dele, mas não era nada disso. Então, Hyewon agarrou Lim Dohan, que estava tocando sua bunda e chamando pelo nome que poderia pertencer a um dos ômegas que esteve ele, ou ao ômega que o chutou no rosto, e o fez se agarrar à cama.
— Dohan…
— O que…?
— Eu sinto muito.
Hyewon rapidamente subiu em seu corpo, pegou seus ombros com as duas mãos e o pressionou contra o colchão.
(N/Rize: Tá vendo se tivesse ficado calado teria ficado por cima 🤣)
(N/Mimi: Ele se desculpou, então tá tudo bem, né? NÉ?)
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Continua….
Tradução: Rize
Revisão: MiMi