Pontos de sutura - Capítulo 10
— Olá, garotos.
A certa altura, a porta do elevador se abriu, revelando um dos personagens que Dohan queria evitar mais do que qualquer outra pessoa no mundo. O rosto do homem imediatamente se enrugou, mas Hyewon apenas acenou o visitante com a cabeça, em saudação, então imediatamente entrou no elevador enquanto estendia a mão na tentativa de fazer Dohan segui-lo. O homem, que era seu tio, apertou o botão do segundo andar.
— Vá falar com seu pai.
— Certo.
— Ele estava em uma reunião, mas tenho certeza que já acabou.
O homem, com rugas ao redor dos olhos, sorriu para Hyewon, que estava sério, e Dohan, que estava visivelmente zangado. Sua aparência casual e amigável se parecia muito com a daquele homem, então era um tanto assustador. E então, quando o elevador abriu no segundo andar, Dohan saiu rapidamente como se estivesse fugindo dali, então não percebeu que o homem acenava pela porta que se fechava. Os familiares de Dohan eram todos doutores.
— Seu tio disse tchau a você.
— Por favor, não o mencione.
Dohan estava nervoso.
A sede era um campo minado para ele. Não importa quantos andares ele subisse, onde quer que fosse, ele encontraria parentes que o procurariam e começariam a falar e falar sem parar POR HORAS. Além disso, a família era tão enérgica que foi imediatamente reconhecida a origem da personalidade dominante de Dohan. Eles também chamavam Hyewon de “sobrinho” ou “filho deles”, e até lhe davam dinheiro!
Dohan, que agora rangia os dentes, viu um grupo de pessoas de meia-idade caminhando do lado oposto do corredor do segundo andar, até o ponto onde ele estava parado. No entanto, ao contrário de Dohan, que ainda estava tentando fugir escada acima, Hyewon educadamente abaixou a cabeça e disse “Olá”.
— Garotos!
Era o diretor do Hospital Universitário Deokwon. Aparentemente, havia acabado de terminar sua reunião, porque estava se aproximando de Hyewon e Dohan acompanhado de seus supervisores e de todos os médicos-chefes do hospital. Quando o jovem deu sinais de fuga novamente, o diretor do hospital rapidamente agarrou seu pulso e o puxou como um gato agarrando um rato pelo rabo. E então Dohan, que não teve escolha a não ser parar ali mesmo, olhou para Hyewon com uma expressão que dizia: “Me mata, por favor!”
— Pai…
Um homem alto, de meia-idade, que deve ter sido bastante popular quando jovem, aproximou-se dos dois para lhes dar um abraço. Isso é desconfortável! Embora ter um pai amoroso e ativo não fosse ruim para a maioria das pessoas, o pai de Dohan era justamente o diretor de um dos centros médicos mais importantes do país e seu superior.
Dohan e Hyewon tiveram que se curvar novamente para cumprimentar todos os médicos que continuavam fazendo perguntas.
— Ah, entendo. Parece que esses são os filhos do presidente do hospital.
— Isso mesmo. Eles não são maravilhosos? Originalmente ambos trabalhavam aqui, mas agora eles estão em uma filial mais ao norte em Seul.
Hyewon se virou e olhou para o rosto de Dohan enquanto seu pai falava sobre isso e aquilo. Os cantos dos lábios, sempre retos, permaneceram retos o tempo todo.
— Nossa, eles são médicos realmente bonitos. Só de olhar dá para ver que eles parecem altos o suficiente para se passarem por modelos.
— Meus dois filhos são médicos incrivelmente maravilhosos. Eles brilham mesmo quando não fazem nada.
Um velho médico de cabelos brancos, que foi o primeiro a dar um passo à frente, sorriu para o diretor do hospital e depois fez exatamente o mesmo com Dohan. No entanto, como ele não gostava de ser mal interpretado e detestava se apresentar como algo que não era, ele limpou a garganta e falou rapidamente:
— Desculpe, na verdade sou enfermeiro. Não sou médico. Meu pai às vezes se esquece disso.
Dohan odiava isso. Claro, havia médicos que ignoravam os enfermeiros e os rebaixavam constantemente, mas isso não significava que ele ficaria de braços cruzados para ouvir isso. Os enfermeiros tinham seu próprio respeito e, afinal, eram eles que trabalhavam juntos para salvar os pacientes. Na verdade, desde que era estagiário, ele descobriu que ser enfermeiro era uma carreira incrivelmente assustadora e difícil. Exigente como nenhuma outro e extremamente importante para a medicina. Entretanto, à medida que seu pai se afastava da sala de cirurgia, e começou a passar mais dias sentado atrás de um computador, era provável que ele tenha se esquecido do valor dessa área para o hospital.
Mas o problema não era o fato de Dohan ser enfermeiro. O problema era que Dohan não era médico.
Desde seu avô até a geração seguinte, todos os seus parentes haviam estudado na “Deokwon University” e trabalhado no “Deokwon University Hospital”. Quase religiosamente. E era óbvio que eles não imaginavam que Dohan teria um emprego que não fosse o de médico. E embora todos sempre lhe dissessem que ele era o “número 1”, Dohan de repente deu um pulo e disse: “Eu sou o número 3”. Então foi uma surpresa.
— Este é meu melhor amigo, Kang Hyewon. Ele está em seu segundo ano. Ele é filho do Doutor Kang, então vocês provavelmente o conhecem.
— Ouvi muitas histórias sobre ele. Ele se sobressai bastante. Nossa, por um momento pensei que fossem irmãos e filhos do presidente do hospital. Sabe, o jeito que ele fala.
— É o típico, não se preocupe.
A atmosfera, que era bastante pacífica, ficou um pouco… abafada. E, de pé, ligeiramente inclinado, ouvindo silenciosamente o que os médicos diziam, Dohan deu um passo para trás e lhe lançou um sorriso triunfante.
— Então, vamos deixá-los sozinhos. Devemos voltar ao trabalho.
Então Dohan, que esperou pacientemente até que eles se dispersassem, colocou o braço no ombro de seu pai e suspirou profundamente: — Por favor, evite essas pequenas encenações no futuro. É exatamente por isso que vir aqui me dá dor de estômago.
— Você está exagerando. O que há de errado em exibi-los de vez em quando? Além disso, eu realmente os vejo como meus filhinhos.
Embora Dohan soubesse que não tinha o direito de ser arrogante com seu pai, ele não conseguia esconder seu desconforto toda vez que se deparava com uma situação tão louca como essa. Por isso não gostava do maldito consultório e não gostava de ter mãe obstetra, tio médico de família e tia cirurgiã plástica. O Hospital Universitário Deokwon estava cercado por todos eles!! Além disso, como seu pai já havia se aposentado e trabalhava no conselho de administração, parecia um pouco mais… Sufocante. Embora tenha achado muito melhor sair do hospital, sempre se sentiu como uma criança sendo vigiada 24 horas por dia, 365 dias por ano, tanto em casa quanto no trabalho. E a sensação de ser o patinho feio estava sempre sobre suas costas.
Ele era um alfa milionário, alto, musculoso, bonito e excelente em emergências. Mas a imagem de Dohan no hospital, em primeiro lugar, era apenas a de um enfermeir. E era muita pressão ser comparado a seus pais em vez de a seus colegas. Ainda mais, porque sabiam que era um “pênis fácil”. Quer dizer, por Deus! A notícia era de domínio público!
— Tudo bem, adiante. Vamos.
Os dois entraram na sala do diretor do hospital, encostaram-se na parede e olharam para o homem que agora tirava o jaleco para vestir um terno preto um pouco mais pesado. Dohan suspirou enquanto o observava ir e vir, coletando documentos para ver se havia mais alguma coisa que ele precisava fazer, mesmo sendo seu maldito aniversário. Além disso, era difícil porque ele ainda estava meio enojado com aquele maldito cheiro.
Hyewon, que estava ao lado dele, acariciou Dohan nas costas da mão com a ponta dos dedos… estava olhando para ele como se perguntasse: “você está bem”.
E ficaram assim por muito tempo sem perceber.
Tão próximos um do outro que seus ombros roçaram nos dele e suas cabeças estavam quase cara a cara. Era como se eles estivessem respirando o ar que o outro soltava dos pulmões…
— Uh…
Dohan, momentaneamente envergonhado, recuou e coçou a nuca. Além disso, seu rosto corou até parecer um tomate bem maduro. Foi o momento em que estiveram mais próximos desde o incidente.
— Vocês dois não mudaram nada.
— Perdão?
— Continuam flertando.
Ainda assim, era diferente do habitual. Mas somente os dois podiam perceber a sutil diferença.
De frente para o pai, que estava olhando para ele, dizendo que estava “pronto para ir almoçar”, Dohan passou a mão pelos cabelos que caíam em sua testa.