Pontos de sutura - Capítulo 13
O hospital era um lugar entediante. Não, para ser preciso, era um lugar movimentado e agitado, onde não havia tempo para pensar em assuntos pessoais devido ao maldito estresse. Todos estavam tão focados em cuidar dos pacientes que suas vidas começaram a deteriorar, e os rumores se espalhavam como fogo em uma floresta. «Fulano e Fulaninho estavam se encontrando no corredor.» «Fulano e Fulaninho estavam de mãos dadas no ponto de ônibus depois do trabalho.» Se alguém dava uma razão, mesmo que pequena, no dia seguinte os rumores se espalhavam pelo hospital, e as pessoas começavam a dizer que eles eram «o casal do momento». Como era de se esperar, os olhos da equipe do Departamento de Cirurgia, que observavam Hyewon e Kim Jung-ah, eram intensos.
— Parece que os dois realmente estão começando a sair.
Dohan pensou logicamente que era completamente impossível que isso fosse verdade, mas ao vê-los conversando no vestíbulo, algo não parecia totalmente normal. Ele tinha muitos pensamentos fatalistas em mente e estava ficando incrivelmente nervoso sem motivo aparente.
O homem, com uma expressão levemente franzida, desviou o olhar, tentando esconder o fato de que os estava seguindo por quase dez minutos como um maldito stalker. E nesse momento, os olhos de Dohan viram Kim Heejae saindo do escritório de assuntos gerais.
— Heejae.
— Professor?
Quando Dohan pediu que se aproximasse, Kim Heejae correu até ele como um pardal seguindo a mão que lhe dava comida. Vê-lo com o crachá ao redor do pescoço o lembrou do dia em que usou o seu pela primeira vez, então sorriu. Mas ao mesmo tempo, sentia-se indo para o inferno.
Dohan conversou com Kim Heejae na tentativa de aliviar seu coração sombrio por causa de Hyewon.
— Quer entrar comigo para tomar um café? Eu pago o que quiser.
— Mesmo? Muito obrigado!
Kim Heejae sorriu e ficou ao lado de Dohan. Inicialmente, seu feromônio parecia fazê-lo tremer, mas à medida que continuava a absorvê-lo, descobriu que na realidade nada era diferente do que acontecia com frequência. Dohan, que até então estava sentindo náusea devido aos feromônios ômega de seus outros colegas, uma após a outra durante dias, baixou a guarda ao pensar na sorte que tinha de parecer normal naquele dia. Estava prestes a perguntar se teria que fazer um “teste de sensibilidade”, então, Dohan, um pouco mais aliviado agora, olhou para Kim Heejae e sorriu muito honestamente.
Comprou café para ele na cafeteria do primeiro andar e virou-se para procurar Hyewon e Kim Jeong-ah, que estavam um pouco mais longe de onde ele estava. Tinham uma xícara entre as mãos e estavam olhando o cardápio de sobremesas. Ele sorriu, fingiu que tudo estava muito casual e sentou-se em uma das duas mesas vazias.
Como recém-chegado, alguém que dera seus primeiros passos no mundo da medicina, Heejae tinha muitas perguntas para fazer ao chefe de enfermeiros, então Dohan respondeu gentilmente a cada uma delas com um sorriso verdadeiramente bonito. Pelo menos até Kang Hyewon e aquela mulher (a médica) se sentarem na mesa ao lado. Bem, na verdade, era o único lugar vago no local, mas essa situação pareceu como se estivesse recebendo uma “declaração de guerra”, então ele ligou e desligou o celular quase sem perceber que o estava fazendo.
—Deveria morar um pouco mais perto do hospital? Ouvi você falar sobre isso na sala de cirurgia, então todos os outros médicos moram por aqui?
—É comum fazer isso, porque todos tendem a receber chamadas de emergência com frequência. Você deveria considerar.
Enquanto respondia à pergunta de Heejae, Dohan continuou mexendo no celular contra a mesa. No entanto, ele estava mais preocupado com a história de Dohan e Kim Jung-ah, que estavam sentados ao seu lado, do que com a de Heejae sentado bem à sua frente. Queria ouvir o que diabos estavam dizendo, então, lentamente, se aproximou da outra mesa.
—Bem… Disseram que seria melhor morar a 30 minutos do hospital.
—Não se preocupe com isso, é melhor aproveitar ao máximo quando é novo. Deixe tudo fluir.
Diante das palavras de Dohan, Heejae levantou levemente os cantos da boca, suspirou e continuou falando timidamente. E quando estava assim envergonhado e nervoso, começava a parecer muito mais jovem do que sua idade.
— Está certo, me preocupei demais por nada.
—… Foi um excelente trabalho, doutor.
Dohan ouviu as palavras de Heejae e escutou a conversa da mesa ao lado ao mesmo tempo. Como era de se esperar, havia silêncios muito longos entre essas duas pessoas, porque originalmente não eram muito falantes, digamos assim. E isso estava o irritando muito!
—Venho de Gyowon-dong.
—Eh? Eu também! De que parte de Gyowon-dong?
Quando Kim Heejae mencionou o nome familiar de “Gyowon-dong”, Dohan decidiu não prestar mais atenção à mesa ao lado, onde estavam apenas tomando café, e conversar sobre algo casual:
—Ah, sério? Sou de Saebit.
—Eu também sou de lá! Ei, isso é ótimo. Depois de tanto trabalho, acumulo algumas folgas anuais e paro de ficar de plantão por uma semana mais ou menos. Que tal irmos juntos? Conheço um…
—O quê!?— disse Hyewon
Quando Dohan escutou essas palavras, pôde sentir um olhar terrivelmente penetrante em sua cabeça. Olhou ao redor e então viu Hyewon, na mesa ao lado, olhando para ele como se não percebesse que estava fazendo isso em primeiro lugar. Dohan, que fez contato visual com ele, o observou da mesma maneira e murmurou:
—O que você disse?
—Nada.
Então o homem se virou.
—… Bem, eu estava dizendo que, se você não estiver muito ocupado, gostaria de jantar comigo hoje?
Kim Jung-ah, que deixou sua xícara de café primeiro, sugeriu isso a Hyewon.
—Claro que SIM.
E enfatizou esse SIM de propósito.
O quê!? Pensou Dohan.
Dohan arqueou as sobrancelhas diante da resposta que saiu sem hesitar.
Neste ponto, ele pensou que os dois realmente não se davam bem, mas de repente a imagem de Kang Hyewon, que iria se casar com Kim Jeong-ah, passou rapidamente por sua mente como se fosse um filme de terror. Dohan deu um grande gole no copo de café americano gelado quase como se estivesse com muita sede. E enquanto mastigava o gelo frio entre os dentes, foi se aproximando da mesa deles, cada vez mais, para tentar ouvir ONDE DIABOS IAM JANTAR.
De alguma forma, era irritante. Dohan sentiu que estava perdendo para a anestesista por alguma razão, então começou a dizer palavras a Heejae que nem mesmo faziam sentido para ele.
—Então EU PASSAREI PARA TE PEGAR NAS MINHAS FÉRIAS. Está no caminho de qualquer maneira, então PASSAREI PARA PEGAR VOCÊ quando me disser. Mas o problema é que não sou muito bom com as rotas, então VOCÊ TERÁ QUE ME ENSINAR O CAMINHO.
— Ah… Não. Está tudo bem. É só um passeio de ônibus.
—De jeito nenhum irei com você. Até podemos JANTAR JUNTOS.
—Uau, é muito gentil da sua parte.
Como reação, Dohan mostrou um sorriso muito amigável para Kim Heejae e estendeu a mão na direção dele. O rosto do novo enfermeiro ficou um pouco vermelho diante da expressão maravilhosa de Dohan porque, afinal, quando ele, um Alfa tão bonito, e parecia tão interessado, era impossível resistir. Heejae era tímido, mas não conseguiu esconder sua emoção. E ao ver Heejae corando… Dohan imediatamente se arrependeu de tudo o que tinha feito com ele. Quando ouviu Hyewon dizendo que ia sair com ela, as palavras simplesmente saíram e ele acabou dando falsas esperanças a um jovem que não tinha nada a ver com isso. Era a regra de ferro de Dohan não ser tão íntimo, mas ele ultrapassou os limites desta vez, nunca tinha levado ninguém de carro e nunca tinha convidado ninguém para jantar. Menos ainda um colega do mesmo hospital.
Ele só queria…
Só queria que…
—Bem, Professor Im. Já se passaram 30 minutos, então vou subir primeiro. Tenho que ir trabalhar.
—Sim… Eu alcanço você.
— Coma bem.
Dohan enviou Heejae primeiro, tomou o restante do café e olhou discretamente para Hyewon sem perceber que estava fazendo isso.
—… Você acha que um dia poderei ir à sua casa?
Wow.
Apenas… Sossegue esse rabo, que LOUCURA.
Ao ver, nem era uma casa onde ele morava sozinho. Bem, sim. Mas, estritamente falando, eles começariam a estar lá os dois, juntos. Ele propôs que Hyewon ficasse com ele em um lugar novo, então eles iriam ver trâmites e casas e… O que diabos estava acontecendo? O que era isso de ir para a casa dele? E por que ele não disse não!?
Dohan parecia ferver por dentro quando pensou em Hyewon, que estava desfrutando de um café com Kim Jung-ah e imaginando levá-la para casa. Além disso, nada havia acontecido ainda e ele já tinha um fogo que estava subindo pela garganta até a boca. Dohan tomou um grande gole do café e do gelo que ainda restava no copo para acalmar o estômago e depois o mordeu até fazer “crash, crash” como uma pessoa irritada com a vida que queria fazer todo o barulho do mundo apenas para incomodar. Mas por que ele estava tão zangado e desconsolado com isso? A mente de Dohan estava cheia de dúvidas sobre se deveria parabenizá-lo e ficar feliz que seu melhor amigo encontrou uma boa mulher ou se, pelo contrário, deveria se levantar e tirá-lo de lá. E Dohan, que havia estado examinando cuidadosamente sua atitude e suas ações, de repente sentiu uma estranha sensação de déjà vu no que estava fazendo.
Dohan havia visto uma pessoa com tais expressões faciais e ações antes. Em um filme. E de repente ele ficou arrepiado por todo o corpo e pensou “Meu comportamento não é típico de uma pessoa ciumenta!?” Mas pelo amor de Deus! Im Dohan e ciúmes, eram palavras que não combinavam em absoluto. Hahaha Im Dohan nunca ficava com ciúmes. Era ele quem fazia os outros sentirem ciúmes! Além disso, se esse fosse o caso, não pareceria que ele gostava de Hyewon?
Dohan mastigou o gelo novamente e o engoliu. Era uma bobagem, e não havia como ser possível começar. Ele era um alfa e Kang Hyewon era uma beta comum. Kim Jung-ah também era uma Beta que era uma boa parceira para ele e…Bem, seu amor não correspondido por Hyewon já havia passado. Desde que ele se formou no ensino médio, para ser mais específico.
—Deus…
Algo estava claramente errado desde o momento em que sua bunda foi perfurada por seu melhor amigo. Ficou tão surpreso e chocado que nem consegui pensar direito. Se eles não tivessem dormido juntos, ele jamais teria sonhado com Kang Hyewon, não havia como ele ter ejaculado por ele, e ele definitivamente não teria que sentir tudo isso.
Dohan largou o copo novamente e decidiu que era demais para um dia.
De pé com uma bandeja vazia, Dohan deu um tapinha no ombro de Hyewon e cumprimentou-o para dizer que ele iria embora primeiro. Então, com um sorriso único e maravilhoso, ele não perdeu a oportunidade de olhar para Kim Jung-ah também.
—Até mais, doutor. É sempre um prazer.
Diante da ação de Dohan, Hyewon ergueu suavemente os óculos com a ponta dos dedos e olhou para ele. Foi assustador.