Pontos de sutura - Capítulo 15
Dohan e o agente imobiliário encontraram-se com Hyewon na entrada do complexo de apartamentos. Hyewon, que tinha sua camisa branca abotoada até o final do pescoço e apenas dois botões de sua jaqueta preta, parecia ter saído de um evento tão formal que o ambiente deixou de parecer uma simples visita para ver casas.
—Você não disse que tinha algo muito importante para fazer, doutor Kang?
—… Era apenas um jantar.
—E já acabou? Suponho que tenha corrido bem.
Dohan foi abertamente sarcástico com Hyewon.
—Foi tudo bem.
— Claro. Suficientemente bem para decidir ver casas com seu amigo em vez de ficar com ela. Aposto que estava se divertindo muito, até parece sem fôlego.
Mas depois de dizer isso, apenas fechou a boca e olhou para o lado, foi porque achou que seu comportamento era definitivamente infantil. No entanto, Hyewon continuou:
— Então, estou errado em sair com ela ou algo assim?
— Olha, faça o que quiser. Você tem seus horários e eu tenho os meus. É isso!
Desta vez, Hyewon ficou em silêncio diante da resposta afiada de Dohan. O que acontecia era que, ao vê-lo em seu terno, tão bem penteado e arrumado, cheirando bem e parecendo tão bonito, ele não conseguia… pensar em nada coerente para dizer. Hyewon umedeceu os lábios por um momento.
—Você está certo, se vai ao clube todos os dias para foder com qualquer Omega que aparecer, então eu não tenho que justificar nada também, certo?
Diante das palavras de Hyewon, as sobrancelhas de Dohan, que haviam se suavizado, se ergueram novamente, e em resposta à sua observação, Dohan ficou de pé com os braços cruzados e as pernas completamente retas. Embora a terceira casa também não estivesse ruim, Dohan já não conseguia se concentrar bem por causa disso.
—Gostei da primeira casa que vi, mas é melhor eu te mostrar outro dia porque… Obviamente, este não é o momento.
— Estou bem com isso, mas não sei como você está.
— Também estou bem. Perfeito.
Frente a frente com Hyewon, Dohan o encarou como se estivesse ansioso para ir embora e conteve as palavras que estavam prestes a sair de sua boca. O que ele estava fazendo agora era exatamente o que uma criança com o coração partido faria ao ver seu amigo próximo – seu melhor amigo – brincando com alguém que não era ele no pátio da escola. Pensou que todos tinham um amigo assim quando eram jovens. Uma criança infantil e ciumenta que dizia: “Não brinque com ele, porque está comigo.” Dohan sacudiu a cabeça em resposta às suas ações e soltou uma risada bastante hostil.
A risada de Dohan soou como zombaria para Hyewon.
—Saí com ela para dizer que não estou interessado em um relacionamento, satisfeito?
Hyewon, que tinha mantido a boca fechada, finalmente a abriu para justificar suas ações. E era estranho que ele tivesse que se justificar por isso. Foi apenas que Hyewon pensou que precisava dizer a ele para acalmá-lo. Ao ouvir as palavras dele, Dohan franziu ainda mais as sobrancelhas escuras e o encarou nos olhos. Sua postura, com os braços cruzados e as pernas retas, parecia incrivelmente desafiadora e completamente irritada. Dohan perguntou a Hyewon:
—Se fosse o caso, você poderia ter dito a ela enquanto tomavam café. Havia alguma razão para ter que levá-la para jantar?
— Você me falou sobre ela.
—…
— Você me disse que ela gostava de mim. — Quando Hyewon foi ver o quarto, Dohan o seguiu para dentro e gritou
—Você está dizendo que é minha culpa?
Hyewon olhou para o lado, como se estivesse pensando por um momento sobre o que tinha que dizer. A terceira casa também estava banhada pelo sol e era incrivelmente brilhante, mas como Hyewon estava no meio do quarto vazio, olhando diretamente para ele, não parecia nada quente ou acolhedor. Era um quarto cheio de luz solar ao entardecer, mas não parecia bonito. Era como uma sala de cirurgia com uma lâmpada acesa que não parava de piscar.
—Sim, é sua culpa. Você disse que ela estava interessada em mim e até me deu muitas dicas para sair com ela. O que há com você, pelo amor de Deus? Eu deveria ter dito a ela que não estava interessado ali mesmo no hospital?
Dohan sorriu como se tudo o que estivesse ouvindo fosse ridículo. Não importava o quão amigável fosse, era uma história de amor de hospital. Eles poderiam ter se encontrado por 10 minutos em frente à máquina de refrigerantes e falado sobre seus sentimentos, mas Hyewon complicou as coisas. Basicamente, ele estava dizendo que não tinha intenção de sair com ninguém, mas como seu melhor amigo, Dohan, lhe falou sobre o interesse da mulher, então ele saiu com ela. Claro.
—Desde quando você é tão obediente?
Dohan não conseguia entender por que estava tão irritado, mas seu estômago inteiro fervia. Talvez fosse porque ele pensava que entendia e conhecia Hyewon melhor do que ninguém, mas estava aprendendo que não era assim.
—Eu te disse que ela gosta de você, e você vai com ela como se… Se eu pedir para você se casar comigo, se casaria comigo também?
— Quer que eu me case com você?
—Não estou falando sobre isso!!
Os dois estavam um diante do outro no meio de um quarto vazio. Hyewon era um pouco mais alto que Dohan, mas na verdade não havia diferença no nível de seus olhos.
—Desculpe…
Quando a voz de Dohan se elevou, Hyewon empalideceu visivelmente e pediu desculpas a ele. “Desculpe”, disse. A que ele se referia? A pessoa que realmente deveria se desculpar era Dohan. E na verdade, o pedido de desculpas de Hyewon fez o coração do homem ferver ainda mais a ponto de ele deixar de se reconhecer. Foi um pedido de desculpas que desenhou uma linha, como se não quisesse falar mais, como se não quisesse que sua irritação fosse além. Ambos estavam apenas ficando com raiva, sem saber por que estavam agindo assim ou o que ofendeu a outra pessoa, ou por que estavam dando explicações e pedindo desculpas quando eram apenas amigos.
O agente imobiliário, que os esperava na sala, abriu a porta com cuidado quando percebeu que a pequena briga não havia terminado. E assim que o fez, o homem emitiu um som sufocante e parou abruptamente como se tivesse sido pregado no lugar. Embora fosse obviamente um Alfa, estava mais sobrecarregado pelos feromônios daquele Alfa, mais forte que ele, que enchia o quarto do teto até as paredes, tanto que nem conseguia se mexer. Era um cheiro feroz, algo que parecia o de alguém muito, muito irritado. Estava cheio de uma possessividade terrivelmente profunda. Porque Hyewon, de pé no centro, estava impregnado com o feromônio de Dohan por toda parte, ele apenas não havia percebido isso. Mas outros Alfas nem sequer podiam olhá-lo sem sentir medo, era como se estivesse dizendo “Ele é meu. Não pensem em tocá-lo.”
Quando o agente, que abriu a porta, repentinamente pisou no limiar, Dohan e Hyewon, que estavam chateados um com o outro, finalmente pareceram direcionar toda a sua atenção a ele. Era algo de sua profissão. Onde quer que fossem, acontecesse o que acontecesse, quando viam alguém que não parecia bem, tinham que largar tudo o que estavam fazendo e concentrar-se no paciente.
—Você está se sentindo mal?
—… Oh, não.
Dohan se aproximou dele, colocou a mão em seu ombro e perguntou, mas o agente imobiliário mal conseguia falar corretamente. O homem enxugou o suor e tentou novamente, mas mal conseguia continuar sua conversa.
— Ma- Mas… O que está acontecendo… É o seu cheiro…
Foi então que Dohan percebeu que inadvertidamente liberou seus feromônios ao máximo. Tentando ocultar sua expressão desconcertada, Dohan olhou para Hyewon, que ainda estava de pé no meio do quarto, e imediatamente se concentrou na parede. Sendo um Beta, ele permanecia ali sem sentir absolutamente nada, mas era evidente que o odor estava presente. Teria ficado irritado o suficiente para liberar seus feromônios sem perceber? Dohan estava envergonhado, pois era a primeira vez que algo assim acontecia, então rapidamente dissipou tudo da melhor maneira que pôde. Seu odor, que era como um profundo aroma cítrico, deixava um sutil toque de sândalo no final, então, quando Dohan o removeu, o agente se levantou como se tivessem acabado de soltar o seu pescoço.
—Eu… Eu sinto muito. Não foi intencional.
—Sim… Bem, vou encerrar isso por hoje. Entrarei em contato mais tarde.
—Sim. Claro.
Dohan, que não respondeu às desculpas, começou a andar junto com o agente, então Hyewon mordeu o interior da boca como se estivesse muito preocupado com o que aconteceu. E, já que seus dentes se afundaram em sua carne, uma sensação de calor e o gosto de sangue começaram a se espalhar em todas as direções, quase como se pudesse pingar. Engolindo silenciosamente para aliviar a dor aguda e o sabor em sua língua, Hyewon seguiu Dohan e o agente, saindo também do apartamento.
Dohan confirmou novamente com o homem sobre seu próximo encontro e o enviou de volta em um táxi. Quando ficaram apenas os dois, Hyewon segurou o braço de Dohan, que estava prestes a se virar, e disse:— Me dê sua resposta.
—Que resposta?
—Eu pedi desculpas.
—… Hyewon, agora não. Estou um pouco cansado.
Dohan olhou para Hyewon, segurando seu braço firmemente entre os dedos, e respondeu de maneira um tanto fria. O rosto de Dohan, dizendo que estava cansado, estava mais duro do que nunca, e até certo ponto, era tão assustador quanto quando rejeitou o Ômega que apareceu na frente do hospital e se agarrou a ele. Hyewon mordeu o lábio com mais força. Não podia mais se conter, e, como esperado, seu rosto refletido na janela do shopping em frente era exatamente igual à expressão daquele Ômega quando Dohan gritou com ele. A de um coração partido.
Hyewon soltou lentamente sua mão, e Dohan saiu do complexo de apartamentos deixando apenas uma saudação dizendo que “o veria mais tarde”.
Sentiu como se o estivesse perdendo completamente, então, embora soubesse todas as informações de contato e o endereço de sua casa, Hyewon não achava que conseguiria pegar Dohan novamente desta vez. Se corresse até ele agora, sentia que seria rebaixado ao mesmo nível de suas outras muitas aventuras de uma noite.
Mas depois de dar alguns passos, Dohan de repente olhou para trás e fez um gesto com a mão para Hyewon, que ainda estava lá de pé olhando para ele como um cachorro esperando por seu dono. Ele sorriu. Sua mente estava complicada, mas não queria ficar com raiva dele por algo assim.
—Sinto muito ter me comportado assim. Nos vemos amanhã, certo?
Quando Dohan cumprimentou e decretou o “cessar-fogo” primeiro, Hyewon o olhou e disse que — tudo bem —, embora não tivesse nenhum desejo de aceitar aquela horrível declaração de paz. Além disso, tentou levantar ligeiramente as comissuras dos lábios porque, embora para outros pudesse parecer inexpressivo, o mais provável era que Dohan reconhecesse que estava sorrindo. Isso o acalmou o suficiente para fazê-lo continuar caminhando, mas, como ele próprio disse, não queria uma trégua. Honestamente, sentia que estava prestes a ultrapassar a linha que ele havia traçado e invadir tudo. Queria perguntar: Por que? Por que você parece tão ciumento? Por que não me diz o que realmente sente? Mas quando Dohan se afastou sem olhar para trás, Hyewon inclinou a cabeça de uma maneira um tanto derrotada.
O covarde Kang Hyewon, temeroso de perdê-lo, nunca faria algo tão arriscado quanto isso.