Pontos de sutura - Capítulo 19
Dohan, que visitou o hospital privado do Norte, estava sentado no saguão sem fazer nada de interessante. E é claro que havia uma boa razão para ele ter vindo a este lugar tão distante, onde a maioria dos pacientes eram homens de meia-idade ou aposentados. Ou seja, se ele se consultasse no hospital que trabalha, era completamente óbvio que seus colegas saberiam todos os detalhes sobre sua consulta, não importava a que departamento ele fosse ou que registro de confidencialidade ele preenchesse. Basicamente, ele poderia dizer que as pessoas do hospital gostavam muito de fofocar. Então, se Dohan marcasse uma consulta no Hospital Universitário Deokwon, seus colegas perguntariam e então Kang Hyewon viria para verificar sua doença pessoalmente. Então, o homem, que estava extremamente cansado e cheio de sintomas que dificultavam sua vida normal, dirigiu o carro de seu melhor amigo até aqui e esperou “pacientemente”.
Dohan, que tinha uma expressão incrivelmente séria, como se tivesse contraído uma doença grave, esfregou o rosto com as palmas das mãos e então começou a reclamar da sua vida. Ele já havia passado por todos os tipos de procedimentos, incluindo exames de sangue e urina, mas ainda assim a voz do médico ainda parecia ecoar constantemente em sua cabeça. Parecia mais como… Ter alguém rindo alto em seu ouvido. As palavras de Hyewon de que ele seria punido por viver como um prostituto estavam incrivelmente corretas.
—Emparelhamento mental.
A resposta que Dohan deu ao diagnóstico do médico foi uma pergunta: —O que diabos é emparelhamento mental?— Ou seja, foi uma combinação de palavras que o fez se perguntar se realmente havia ouvido com seus próprios ouvidos ou se havia algum problema no processo de transmissão até seu cérebro. Diante das próximas palavras do médico, Dohan não pôde deixar de rir.
—Às vezes, esse é um sintoma experimentado por alguém que tem um parceiro com quem não pode se emparelhar. Ou seja, você não pode ter um vínculo como tal, mas ainda assim não responde a outros feromônios que não sejam os dessa pessoa. É como se estivessem emparelhados. Algo assim, um desejo de sua alma.
Uma espécie de doença mental.
—Parece que você ama muito seu parceiro.
Depois de fazer sexo com Hyewon, os feromônios dos Ômegas se tornaram repugnantes. Será que foi por causa desse sexo enquanto estava bêbado que nem conseguia se lembrar? A partir desse momento, ele não conseguiu sentir luxúria por mais ninguém e de manhã, quando abria os olhos, a ilusão de fazer todo tipo de coisas com Kang Hyewon era o primeiro pensamento que inundava sua mente. Segundo o médico, o Alfa Im Dohan gostava tanto do Beta Kang Hyewon que o marcou. Uma completa bobagem.
Um absurdo…
Deus. Se não fizesse algo, se não se concentrasse em qualquer outra coisa, ele iria cometer um crime. Por exemplo, ele não sabia se poderia correr até Hyewon enquanto estava de serviço e dizer-lhe para ver se realmente estava psicologicamente ligado a ele. Dohan, que saiu do hospital com os olhos desfocados, não conseguia decidir para onde ir e ficou ali, segurando seu celular e a chave do carro de seu melhor amigo na mão. Ele estava com suor frio e muitos calafrios descontrolados.
E então, Dohan fez o mais sensato que pôde pensar.
Correu como um louco.
As gotas de suor não eram mais tão pequenas como no início e agora escorriam por todo o seu corpo e cabelo até o deixarem encharcado. Era impossível encontrar um lugar para ir ou algo para fazer, então, na verdade, o lugar para onde Im Dohan se dirigiu em seguida foi uma academia, onde não havia nada estranho em vê-lo suar loucamente. Mas mesmo assim, era ridículo ver Dohan suando tanto na academia que ele nunca tinha usado corretamente, graças ao fato de ter cortado sua adesão devido às malditas horas extras que tinha que trabalhar.
Estritamente falando, ele estava fugindo da realidade.
—Ah, droga. Eu tenho negligenciado meu corpo por bastante tempo.
Disse, segurando-se na parede como se estivesse prestes a desmaiar. Ele não era alguém que se exercitava e agora tinha corrido até que seus pulmões e panturrilhas pareciam prestes a explodir. E pouco antes de sua energia se esgotar completamente, Dohan segurou o peito e sentou-se no banco. O suor pingava de seu cabelo molhado até cair no chão e ele podia sentir até o sal em seus lábios. É que… Simplesmente não estava certo de como entender e resolver o resultado que havia recebido.
—Eu amo Kang Hyewon?
Amor e Kang Hyewon não pareciam algo que poderiam combinar. Claro, houve momentos em que ele sentiu algo muito forte por ele, mas, depois de se manifestar como um alfa, como se sentisse um rejeição fisiológica, seu interesse pelos Betas naturalmente desapareceu. As emoções que ele experimentou na infância já haviam desaparecido como água entre seus dedos, então Dohan, incapaz de aceitar facilmente o que estava acontecendo, manteve a cabeça baixa e continuou repetindo os mesmos pensamentos uma e outra vez até se sentir tonto. Ele lembrava das mesmas palavras repetidamente, como se estivesse perdido em um labirinto com uma saída desconhecida e continuasse vagando em um canto. O celular de Dohan começou a vibrar com força e, em vez de atender a ligação, ele apenas o olhou fixamente, como se com isso pudesse fazer com que parasse.
Aparentemente, o nome que aparecia na tela LCD era o de Kang Hyewon.
Gosto.
Não gosto.
Gosto.
Não gosto.
Gosto…
Sem que ele percebesse, estava apaixonado por seu melhor amigo. Não fazia sentido que Im Dohan nem sequer soubesse que estava apaixonado por seu melhor amigo! Ele não era um garotinho que não sabia nada do mundo, então… O que estava acontecendo com ele?
—Desde quando?
A vista da cidade pela janela já estava tingida de vermelho. Olhando para o sol que se punha, Dohan começou a refletir sobre quando havia caído nesse caminho tão erraticamente infinito.
Um enlace mental… Não poderia ter sido algo tão simples se aquela noite acabou sendo o gatilho. Se foi suficiente para se conectar a ele, significava que o amava. Mas desde quando? Foi o ano em que ele entrou no hospital? Ou foi desde a universidade e no momento em que se reencontrou com Hyewon? Embora tenha sido completamente diferente do tempo em que estavam no ensino médio no sentido de que as aulas que frequentavam eram claramente diferentes e não havia necessidade de estarem juntos o tempo todo, a verdade era que passavam as noites juntos na biblioteca durante cada período de provas, cozinhavam e comiam macarrão no quarto um do outro enquanto estudavam. Naquela época, ele sempre tinha um Ômega ao seu lado, mas ainda mantinha Hyewon em mente. Por que ele se afastou dele então? Foi por causa do fato de que Kang Hyewon não era um Ômega? E se ele se manifestasse como um? Quer dizer, ele estava absolutamente convencido de que se fosse esse o caso, Dohan estaria com Hyewon sem uma única hesitação. Com o pensamento que apareceu em sua cabeça, Im Dohan bateu em sua bochecha com o punho.
Dizer que tinha se vinculado a Hyewon, como se fosse um Ômega, era o mesmo que pensar que já o tinha em seu coração como seu companheiro. E em palavras mais simples, significava que ainda estava completamente apaixonado por seu primeiro amor.
Dohan olhou pela janela e enxugou o suor que escorria de seu rosto. E como se sua pele tivesse sido tingida pelo sol, ele descobriu que seu rosto e suas orelhas estavam fervendo. Seu corpo estava tão quente que até seus ombros ficaram da mesma cor, suas mãos tremiam e havia esse desejo constante de se esconder em um buraco. Depois que Hyewon desapareceu da escola, ele imediatamente perdeu o interesse em ir para a faculdade de medicina. E desde o dia em que os resultados do teste de características de Hyewon saíram como Beta, ele ficou tão triste que começou a levar para a cama cada Ômega do mundo com ele como um cão no cio. Porque ele gostava de Kang Hyewon, mas não conseguia transmitir sentimentos que nem mesmo reconhecia.
Ninguém na academia se importava se ele estivesse lá agindo como um idiota, mas ele se sentia envergonhado, como uma criança nua parada no meio de todos. Como um perdedor que acabara de ser rejeitado.
Dohan estava perplexo porque não sabia como aceitar isso ou como lidar com o que estava crescendo em seu peito. Ele queria evitar o fato de estar apaixonado por seu melhor amigo, então rotulou Hyewon como um simples “beta” e então o ignorou e o tirou da lista de pretendentes. Ele não queria dizer isso em palavras reais porque, comparado com como se mostrava ao mundo, Dohan tinha uma autoestima muito, muito baixa.
O telefone, que havia parado por um momento, voltou a vibrar.
Sete chamadas perdidas.
A fonte desse problema e a pessoa que mais queria evitar, ligava para ele uma e outra vez.
Dohan olhou para o nome que apareceu em seu telefone e pensou no futuro. Deveria falar com ele ou simplesmente se afastar? Felizmente, Hyewon era um Beta. Se ele fosse um Ômega, poderia ter percebido os feromônios tão necessitados de Dohan e notado que ele estava ficando louco. Mas assim que o cérebro de Dohan começou a pensar normalmente, ele percebeu que em breve se encontrariam em um lugar onde ele definitivamente se sentiria desconfortável.
Eles tinham planejado morar juntos, pelo amor de Deus!
Primeiro, ele tinha que cancelar isso. O que aconteceria com ele se tivesse que ficar com Hyewon não apenas no trabalho, mas também em casa, onde seria mais vulnerável a ele? Ele perderia sua casa, seu melhor amigo, perderia seu colega de trabalho e até sua família. Dohan, cujo rosto vermelho se tornou negro instantaneamente, levantou o telefone. Foi por pouco, porque ele se lembrou de que hoje o contrato vencia. Depois de passar pelo hospital, ele tinha uma reunião com o corretor de imóveis, mas estava tão perdido que esqueceu. Não à toa, o protagonista principal de 4 das 7 chamadas perdidas que flutuavam na tela do celular era o corretor de imóveis que estava desesperado por estar lá esperando por ele. Havia também três mensagens de texto do proprietário pedindo-lhes que tomassem uma decisão rápida.
—Tenho que cancelar a casa!
Mas assim que Dohan tentou ligar para o corretor, o telefonema de Kang Hyewon interrompeu.
[Dohan!]
Dohan, que acidentalmente atendeu sua ligação devido ao movimento urgente de sua mão, bateu na testa ao perceber a besteira que acabara de fazer. A voz de Hyewon, um pouco mais alta do que o habitual, podia ser ouvida pelo telefone.
—Ei, só… Só queria te dizer que…
[Se é sobre a casa, já resolvi.]
—O quê?
[Se supõe que tínhamos que tomar uma decisão para hoje.]
—E como você resolveu? O que fez?
Depois das próximas palavras de Kang Hyewon, Dohan chutou o banco e se levantou com um impulso. Sua voz alta chamou a atenção dos membros da academia, mas Dohan não tinha intenção de prestar atenção em seus olhares. Foi um erro fornecer as informações de contato de Hyewon ao corretor, foi um erro incluí-lo em tudo.
[Eu tirei uma pausa para almoçar e fui lá. Já assinei o contrato.]
—Kang Hyewon!! Por que você fez isso sem me avisar?!
Para seus ouvidos, a voz apagada de Hyewon era clara e muito tranquila, mas a voz de Dohan, que gritava no celular, estava cada vez mais alta.
[Porque foi o que combinamos.]
—Não, deveríamos ter discutido isso juntos!
[Nós já tínhamos concordado em morar juntos, e você disse que gostou da casa. Qual é o problema?]
—Não! Você deveria ter me me consultado mais uma vez antes de assinar o maldito contrato.
[Foi você quem marcou um encontro hoje para resolver o contrato. Onde você estava? Por que só me culpa quando, na verdade, foi você quem combinou tudo?]
—…
O fato de que não havia nada de errado no ponto de Kang Hyewon fez com que Dohan ficasse calado. Ele continuou ouvindo do agente que o locador estava impaciente, e estava claro que era sua culpa por estar deslumbrado pelo diagnóstico do maldito “enlace mental.” A culpa de Kang Hyewon foi apenas retificar a situação em seu nome, já que ninguém conseguia contatá-lo.
—De qualquer forma, não posso morar com você.
[… Por quê?]
—Tente encontrar um substituto. Um de seus colegas de trabalho…
[Por quê? Me diga apenas… Por que você não pode morar comigo?]
—Porque…
Segurando o telefone, a mente de Dohan ficou em branco.
‘Porque gosto muito de você e me liguei a você na minha imaginação. Então, se morar com você, vou entrar no seu quarto todas as noites e inventar qualquer desculpa para fazermos amor, e isso vai acabar em um caos terrível que não quero enfrentar porque sou covarde.’
—Porque… Estou saindo com alguém.
[… Isso não importa.]
Confuso, ele gaguejou:
—Essa pessoa não quer que eu viva com outro homem porque me liguei a ele.
[….]
Dohan agarrou seu coração pulsante e tentou se acalmar. À medida que o silêncio de Hyewon se prolongava, Dohan apertou o celular com força até seus dedos ficaram brancos e até mesmo começou a soltar um monte de maldições internas. “Porra!” A única desculpa que consegui pensar foi a do enlace! E enquanto esse silêncio continuava, tornando-se cada vez mais assustador, Dohan ficou tão ansioso que chegou a morder os dedos. Preocupava-o como Hyewon aceitaria suas desculpas ridículas e o que ele diria a seguir. Mas depois de suspirar, ele ouviu a voz de Kang Hyewon, um pouco mais baixa do que o habitual e, de alguma forma… um pouco truncada.
[Me desculpe… Faça o que quiser então.]
Kang Hyewon estava errado. Era Im Dohan quem deveria se desculpar.
Dohan desligou e foi para casa. Ele não limpou por alguns dias porque tinha acabado de ir para a cama por um tempo e depois voltou a trabalhar, então obviamente pensou que poderia aproveitar a oportunidade para fazer isso.
Embora não quisesse ir para casa.
Em outras circunstâncias, teria ido a bares e clubes para aliviar essa sensação de desconforto, e se isso não funcionasse, teria contatado um Omega com quem pudesse ir para a cama para fazer sexo. Mas isso só deixaria mais claro o quanto ele gostava de Kang Hyewon. E era horrível que, exatamente quando estava vivendo no meio do caos, com a cabeça tão confusa, nem mesmo pudesse ligar para seu melhor amigo em busca de conselhos.
Porque depois de entender seus sentimentos por Hyewon, seus pensamentos finalmente se esclareceram. Ele gostava de Kang Hyewon desde o início, então, tentando não perdê-lo, certificou-se de ficar muito próximo dele. A relação pessoal deles era próxima, então ele criou uma atmosfera em que não teve escolha a não ser dizer às pessoas ao seu redor: “Esse cara é incrivelmente rígido”, embora na verdade o único problema fosse seu rosto inexpressivo. É que, ao aproximar e isolar Hyewon dos outros, ele tinha esse sentimento incrível de: “Sou o único para ele.” “Sou o único que o conhece.” “Sou o único que o aguenta.” E, no entanto, Dohan nunca conseguiu dizer a Hyewon com suas próprias palavras.
Os passos trêmulos de Dohan pararam diante da porta principal de sua casa.
***
—Ah, ah… Umm… Uh!
Um forte jato de água jorrou entre suas mãos. Na verdade, a água que começara a sair em borbotões da torneira respingou na pia branca e nos óculos que ele tinha deixado perto do espelho, criando pequenas poças aqui e ali.
O homem estava em um banheiro que ninguém visitava porque era apenas para cirurgiões residentes. Na verdade, eles fizeram um quarto para médicos em tempo integral com a ideia de tentar melhorar o bem-estar dos funcionários, mas Kang Hyewon era na verdade o único médico que fazia tantos plantões. Esperava-se que pudessem contratar mais um ou dois no próximo ano ou no ano seguinte, mas, enquanto isso, ele era o único que tinha que suportar tanto trabalho.
Na verdade, há alguns minutos, finalmente chegara ao seu limite, então o que fez foi sair correndo da sua cadeira e vir até aqui.
Foi por causa da ligação de Dohan.
—Ah… Estúpido…
Mesmo quando pensava nisso novamente, as maldições saíam da sua boca sem que ele pudesse evitar.
Após a ligação telefônica com Dohan, ele esteve tão ocupado com o transporte de um paciente que não teve tempo para refletir sobre o que havia acontecido. Mas, quando o sol se pôs, a história pareceu mudar completamente. O hospital, que estivera tão cheio a ponto de não lhe dar tempo para comer ou pensar, ficou silencioso quando o céu fora da janela escureceu de forma definitiva. Hoje, não havia nenhum residente precisando da ajuda de Hyewon e não havia nenhuma emergência para atender, então, quando ele estava sozinho na sala dos médicos, ainda incrivelmente bagunçada, as feridas que sofrera durante o dia vieram sobre ele como uma onda. E quando estava em um espaço cheio de silêncio, as palavras de Dohan, que voaram como flechas da primeira vez, agora o perfuravam até fazê-lo sangrar. Ele olhou e olhou para o prontuário do paciente para tentar parar de pensar nisso, mas o que havia acontecido com ele não parava nunca, então, no final, Hyewon não aguentou mais e teve que correr para o banheiro como um adolescente.
Embora tenha jogado água fria várias vezes em seu corpo, as emoções que o inundavam como a maré alta não se acalmaram nem um pouco, e quanto mais pensava nisso, mais irritado e miserável se sentia.
—Idiota… Maldito idiota…
E então ele começou a chorar.
Seu rosto estava cheio de gotas de água fria, mas também havia muitas lágrimas quentes correndo até o queixo. Kang Hyewon olhou para seu reflexo diante do repentino surto de um soluço e então, cobriu a boca como se estivesse prestes a gritar alto e segurou. Era como se o mundo tivesse acabado hoje ou como se algo dentro dele tivesse morrido.
O grito reprimido finalmente se fez ouvir com força.
Era um banheiro cirúrgico onde nunca havia ninguém, mas Kang Hyewon se escondeu dentro de uma cabine e se sentou no vaso sanitário, caso alguém pudesse descobrir o quão terrivelmente alto ele estava chorando. Hyewon cobriu o rosto com as mãos brancas e deixou as lágrimas caírem livremente.
—Ah… Você disse… Você disse que não gostava dessas coisas! Você disse que… Ah! Ah!
Kang Hyewon soltou um grito misturado com um diálogo estranho que ninguém ouviu. Afinal, uma indescritível sensação de traição atravessara sua mente a ponto de ele não conseguir nem respirar direito.
Im Dohan era bastante talentoso em dilacerar os corações das pessoas que o amavam. Havia várias vítimas que Hyewon conhecia e, é claro, agora ele estava incluído nessa lista também. E como se isso pudesse expelir os sentimentos que estavam alojados em seu peito mais profundo, Hyewon se curvou e chorou com ainda mais força, mas não conseguiu se livrar facilmente de suas emoções. Além disso, no meio de suas lágrimas e gritos, ele até sentiu curiosidade sobre o Omega com quem Dohan se ligara. Foi estúpido que, enquanto parecia como se o mundo e bilhões de estruturas próximas a ele estivessem desmoronando ao mesmo tempo, ele estivesse curioso sobre o homem que estava ao lado de Im Dohan neste momento. Quer dizer, deve ter sido uma pessoa bonita e popular. Diferente dele, deve ter sido um cara legal que ria alto de suas piadas e sorria o tempo todo. Não um homem que precisava de óculos e parecia não saber como se divertir.
Kang Hyewon era infinitamente menor em comparação com outros homens com quem ele saía e, ao mesmo tempo, entendia o que deveria fazer agora e como lidar com essa situação melhor do que qualquer outra pessoa no mundo. Tinha que parabenizar seu amigo por ter um relacionamento. Deveria… Ter um jantar com os dois, renunciar à imagem que havia mantido em sua mente todos os dias e também renunciar a um futuro ao lado dele. Mas mesmo sabendo que isso era o melhor, não era tão fácil botar em prática quanto pensava.
Principalmente porque agora odiava Im Dohan até a morte.
Não esperava muito. Só queria estar um pouco mais perto dele, só queria ver aquele rosto em seu espaço pessoal todos os dias depois do trabalho. Desejava ver seu sorriso todos os dias, mesmo que fosse por apenas um minuto ou um segundo, então, quando Dohan concordou em morar juntos com um sorriso no rosto, ele ficou animado como uma criança no Natal e desejou que isso acontecesse. Mas agora, o homem disse que nem mesmo podia fazer isso.
Nesse momento o celular tocou no bolso de seu jaleco. Ele queria mostrar primeiro a Dohan o novo uniforme que haviam enviado, mas logo pensou que isso também não fazia muito sentido.
Hyewon enxugou as lágrimas com a palma da mão e pegou seu celular. Mesmo que o mundo estivesse desmoronando, os hospitais precisavam dos médicos e os médicos precisavam ser fortes para salvar seus pacientes. Ele deu algumas bofetadas na bochecha, mas mesmo assim seu rosto, antes branco, estava vermelho pelo calor e tinha um monte de lágrimas em seus olhos incrivelmente inchados. Hyewon ficou em pé diante da pia novamente depois de sair da cabine do banheiro, lavou o rosto para esconder os rastros de choro e tentou limpar seus óculos. Mas é claro que não conseguiu esconder a ponta vermelha de seu nariz.
Quando o telefone vibrou mais uma vez, Hyewon pressionou o botão de chamada sem hesitar e pensou que era hora de se livrar dos sentimentos densos de depressão e perda e fazer a única coisa em que parecia ser bom.
Quando Hyewon saiu do banheiro e passou pela sala de tempo integral, o corredor do Centro Médico finalmente ficou em silêncio.
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Continua…