Pontos de sutura - Capítulo 20
—Voála!
—O que?
—Edição limitada, comprada diretamente no exterior!
—Crocs?
Kim Mihee ergueu os pés na direção de Dohan, que estava sentado no sofá da sala de espera do pavilhão cirúrgico. Em vez de ter Crocs lisos e em cores sóbrias, ela tinha uns muito bonitos com desenhos em tons vibrantes.
—Edição limitada de quê? Acho que já vi uns 10 pares iguais apenas neste corredor.
—Por que você está tão amargo?
A doutora Mihee, empolgada com a ideia de se gabar pela manhã sobre seus novos sapatos, apoiou-se no braço do sofá e reclamou enquanto olhava para o totalmente abatido Im Dohan. Ao contrário de sua aparência habitual, o homem estava sério e tão abatido que isso só significava que algo muito ruim tinha acontecido com ele. Kim Mihee deu de ombros para Hee-jae e Yoon Ji-ho, que se perguntavam silenciosamente sobre o motivo da aparência tão depressiva de Dohan.
—Você… não estava planejando se mudar ou algo assim?
—Não, acho que não vai ser possível. Ji-ho, você não quer se mudar? Já tem um lugar disponível e é um local maravilhoso. Eu prometo, é um lugar muito perto daqui. Você chega em menos de 20 minutos.
—Oh, sério, está disponível?
Quando Ji-ho mostrou interesse nas palavras de Dohan, o homem começou a recitar todas as coisas boas sobre a casa para a qual Hyewon já havia assinado um contrato. Afinal, não havia nada de errado em dar-lhe uma pequena promoção.
—É uma construção nova, tem 4 quartos e 2 banheiros. Além disso, você terá um colega de quarto super limpo e ocupado. Então, sendo dois, você paga apenas metade do preço. É ótimo, não é?
—Eu não sabia que vinha com colega de quarto incluso.
—Não soe tão decepcionado! Mesmo tendo um colega de quarto, garanto que você pode viver tão tranquilamente quanto se estivesse sozinho.
—Esse colega de casa não seria… Kang Hyewon?
—… Talvez?
Dohan, que foi golpeado no rosto com o olhar, não disse nada e soltou um suspiro profundo. Todos tiveram a mesma reação. Hyewon já havia assinado o contrato e ele não podia morar naquela casa, então tinha que preencher o espaço vazio com qualquer outra pessoa para fingir que tudo foi decidido de forma completamente casual. Então, desde a noite anterior, ele vinha pensando em seus colegas de equipe, nos outros enfermeiros ou em seus amigos próximos, mas todos tiveram uma resposta unânime:
—Com o doutor Kang Hyewon é um pouco…
—Vamos, não sejam assim. O que Hyewon fez para que vocês não queiram? É um lugar bonito.
—Provavelmente será desconfortável.
Kim Mihee também se juntou e jogou mais lenha na fogueira:—Vocês dois estão brigados ?
Dohan, sentindo remorso em sua consciência, ficou em silêncio enquanto evitava o olhar de Hee-jae e Mihee, que o observavam ansiosos por mais informações.
—Há… há momentos em que nós dois brigamos. Claro que é diferente do que quando estávamos na universidade, mas ainda assim nos reconciliamos muito rápido toda vez.
—Vocês dois estudaram juntos na universidade.
—Você não sabia? Costumavam passar o tempo juntos todos os dias! E embora todos estivessem desconfortáveis com Hyewon, Dohan ainda grudava nele como chiclete.
Isso estava correto. Quando Dohan estava na escola, não havia muitos estudantes do sexo masculino no departamento, então eles frequentemente se agrupavam para não ficarem sozinhos. Mas ele sempre, SEMPRE, estava ao lado de Kang Hyewon em todas as oportunidades, então todos começaram a olhá-lo estranho. Na verdade, Dohan uma vez ouviu de seus colegas de classe um: “É assustador vê-lo com ele o tempo todo.”
—Hyewon é um cara legal. Ele é muito engraçado e agradável. É só que… Acho que o problema é que ele não fala muitas palavras e não tem expressão no rosto. — disse Dohan.
—Você está vendo com olhos de amor.
Dohan franziu levemente a testa.
—Na verdade, lembro que houve alguns colegas que me intimidaram muito na faculdade antes de eu encontrá-lo novamente. E ele, apesar de termos brigado antes disso, me defendeu de todos eles como se nada de ruim tivesse acontecido entre nós, para começar.
—Eles te incomodavam?
—… Sim.
Hee-jae e Ji-ho engoliram essa informação inesperada sobre Dohan, que sempre parecia ser incrivelmente popular em todos os lugares. De fato, como ele disse, houve momentos em que seus colegas de classe, tanto homens quanto mulheres, o evitavam porque diziam que não suportavam sua personalidade arrogante. Mas na verdade, ele não podia lembrar disso como um momento particularmente difícil ou desconfortável porque seu velho amigo, a quem ele reencontrou na universidade, tratou Dohan tão perfeitamente bem como nos velhos tempos. Eles só… só precisavam um do outro para ficarem bem.
—Enfim. Devemos parar de falar bobagens e trabalhar.
—Ainda há tempo.
—Conte mais!
—É divertido porque você está falando de coisas que podemos usar contra você no futuro.
Dohan cobriu a boca de Mihee e a empurrou para trás, pensando que se não tivesse cuidado, a história de seus dias de juventude na universidade vazaria até chegar aos ouvidos de todo o hospital.E se ele fosse o mesmo de sempre, teria contado mais coisas, rindo e conversando alegremente com eles e até tirado uma foto do amigo. Mas hoje Dohan não estava se sentindo bem. O que lhe aconteceu foi desanimador o suficiente para deixá-lo seco.
Dohan olhou cuidadosamente para a disposição da sala de operações que estava escrita no quadro. Felizmente, Dohan podia evitar a cara de raiva de Hyewon por hoje.
***
—Professor, você poderia me mostrar mais uma vez?
—…
—Senhor?
—Hein? Desculpe?
—Sobre como envolver o campo cirúrgico. Apenas mais uma vez, por favor. Se eu fizer como estou fazendo agora, vai soltar.
Dohan, que estava de pé na entrada da sala de desinfecção, olhando para o vestiário, ficou surpreso como um coelhinho no meio do campo com o chamado de Heejae. Ele o olhou como se não soubesse o que estava acontecendo e depois, quase involuntariamente, pegou o pano azul esterilizado como se fosse a única coisa que lhe ocorresse fazer.
—Claro. Aqui, você tem que amarrar a corda diagonalmente. Você vê como eu seguro dos dois lados?
—Sim.
Dohan, que voltou a olhar para o vestiário, balançou a cabeça para tentar recuperar a concentração perdida. No entanto, mesmo que ele estivesse bastante disposto a observar Heejae enrolar o pano cirúrgico de perto, ele virou a cabeça para a direita quase sem perceber.
—Ah… Senhor, por acaso, o que está olhando?
—… Nada. Nada.
Dohan, que observava alternadamente os movimentos desajeitados das mãos de Heejae e o corredor onde ficava o vestiário, verificou novamente se tudo estava bem assim que Heejae terminou de colocar a fita para o autoclave. Ele estava tão distraído que o enfermeiro pensou que na verdade ele nem perceberia se de repente furasse a mão com uma agulha ou jogasse tudo no chão novamente. E ao vê-lo assim, de repente, veio-lhe à mente um nome para mencionar na ocasião:
—Você está esperando pelo doutor Hyewon?
—O quê? Não, não. Haha, como você pode dizer algo assim? Esperar Hyewon. Haha, até parece
Dohan, envergonhado pela pergunta de Heejae, gaguejou até o final e agitou a mão como se quisesse mudar de assunto. No entanto, mesmo que seu rosto não estivesse completamente visível devido à máscara, sua testa e orelhas ficaram vermelhas instantaneamente. Era como a figura de alguém que havia sido apunhalado na direção certa. Heejae sorriu:
—Um pedido de desculpas sempre ajuda, sabe?
As palavras de Heejae envergonharam Dohan novamente. Ele não estava acostumado a alguém conseguir revelar tão facilmente seus sentimentos internos e, em segundo lugar, estava envergonhado consigo mesmo por estar tão ansioso para ver o rosto de Kang Hyewon. Porque ele estava ali, parado, quase abanando o rabo como um filhote à espera de seu dono voltar para casa para acariciá-lo. E estava claro que Heejae captou a atmosfera.
Mas como se não fosse nada disso, Dohan começou a tossir para minimizar o problema. Ele nem sabia o que faria quando visse Hyewon, ou mesmo o que diria sobre isso. Como de costume, como se nada tivesse acontecido ontem, ele o cumprimentaria descaradamente ou decidiria se esconder dele até que esquecessem a discussão? Tudo era desconhecido até ele enfrentar isso.
—Não é o que você está pensando…
—Bem, para não ser, você realmente parece muito ansioso.
Diante da resposta tão decisiva de Heejae, Dohan manteve a boca fechada. Mesmo que ele desse desculpas, só se sentiria mais e mais frustrado consigo mesmo, então ele começou a se concentrar novamente em seu trabalho com o campo cirúrgico.
Enquanto revisava em silêncio os itens que seriam enviados para a sala de desinfecção central e os carregava no carrinho, de repente apareceu uma enorme torre feita de tecido estéril azul.
—Bem… Acho que isso será suficiente por hoje. Mais tarde, te ensino a não fazer tanta bagunça.
—Tudo bem.
Ele suspirou profundamente diante do brilhante sorriso e resposta de Heejae, como se sua alma tivesse descansado com isso. Então, Dohan cuidadosamente empurrou o carrinho cheio de instrumentos cirúrgicos envolvidos em tecido, e saiu da sala para ir para outro cubículo. Mas enquanto se dirigia para a frente do elevador que o levaria diretamente à sala de desinfecção central, Heejae exclamou de repente:
—Espere!
—Por que? Está faltando algo?
—Boa tarde, doutor Kang.
Dohan gritou internamente: “Ah, droga!” Depois de empurrar cuidadosamente o carrinho, Kang Hyewon apareceu de pé atrás dele, então Dohan finalmente percebeu um sintoma ao qual não teria dado atenção se não tivesse ido ao médico da última vez. Como se tivesse uma arritmia cardíaca, seu coração começou a bater como louco “Tum-tum, Tum-tum, Tum-tum, Tum-tum.” E foi como se ele estivesse de costas para uma chama ardente, a parte de trás do seu pescoço e suas orelhas ficaram quentes além do infinito. Até mesmo parecia que seu coração estava prestes a sair pela boca. Era como um adolescente sofrendo de amor e que nem conseguia olhar diretamente nos olhos do outro.
Hyewon, olhando para o nada no meio do caminho, o cumprimentou com um —Oi. Você se importaria de mover o carrinho para que eu possa passar?
E isso foi tudo o que ele disse ao seu melhor amigo. A voz era mais áspera do que ele esperava e, embora seu coração estivesse batendo forte e seu rosto queimasse, ele achou infinitamente rude com ele. Mas, como sempre, ele pensou que Hyewon ficaria chateado por um momento e depois voltaria ao normal com apenas uma palavra.
—Eu vou tirá-lo. É que…
Mas Hyewon não esperou que ele terminasse e contornou o carrinho sem pensar duas vezes. E em resposta à reação inesperada de Kang Hyewon, Dohan só coçou a nuca e ficou completamente em branco novamente. Claro, ele refletiu por um momento sobre o que havia acontecido ali: A expressão de Hyewon, que passou por ele, distorceu-se e depois se transformou na expressão vazia característica de toda uma vida. Mas seu rosto tinha uma grande ruga na testa e seus dentes estavam tão apertados que a força cruzava o queixo e chegava às bochechas. Foi a primeira vez que ele o viu assim, mesmo que confiasse que não havia nada no homem que ele não conhecesse. Parecia que ele estava se obrigando a suportar. Confuso, Dohan ficou olhando fixamente para a nuca dele, mesmo que Hyewon se afastasse cada vez mais.
Por mais que ele tivesse errado com relação à casa, ele se perguntou por que Hyewon estava tão irritado com ele. Não era algo que pudesse ser completamente compreendido se conversassem sobre isso? Como sempre, ele pensou que se fingisse que estava tudo bem e começasse a brincar, então passaria de forma simples.
—Por quê?
—Por quê? Senhor?
—Não, nada.
Dohan empurrou o carrinho com uma expressão perplexa.
O rosto de Hyewon, que passou por ele por um momento, ainda estava em sua mente, então ele até sentiu como se tivesse visto algo que não deveria. Durante toda a noite, suas próprias preocupações foram a única coisa em que ele pensou, então ele nem teve tempo de imaginar a reação dele.
—Tenho que me desculpar adequadamente.
Em frente ao elevador que ia diretamente para a sala de desinfecção central, Dohan ficou em silêncio por um bom tempo. A questão era que se fosse se desculpar e olhasse novamente para o rosto de Hyewon, não sabia se finalmente explodiria em algum lugar. Talvez seu coração o fizesse, ou seu cérebro, ou possivelmente seu rosto ficasse vermelho. É que depois de reconhecer seus sentimentos, ele sentiu como se não conseguisse olhar diretamente para o médico sem desmaiar a seus pés.
Então, depois de terminar as tarefas restantes, Dohan esperou que Hyewon tentasse conversar com ele sobre o ocorrido. Na verdade, esperou muito que ele saísse da sala de cirurgia, mas ele não saiu nem depois de 3 horas. E o pior é que parecia que a cirurgia estava demorando cada vez mais.
Ele olhou pela janela.
Olhando para ele mais uma vez, parecia completamente óbvio que o homem estava muito preocupado. Será que era uma operação difícil se não porque ele ainda tinha aquele rosto horrível? Mas, como realmente parecia ser algo delicado, Dohan, que havia esperado por muito tempo em frente à sala de cirurgia, decidiu ir para casa e tentar novamente no dia seguinte. Mas a expressão de Hyewon continuou em um canto de seu coração por um bom tempo depois disso.
***
Depois disso, Dohan não teve chance de dizer uma única palavra para Hyewon. Era como se o homem estivesse tentando deliberadamente evitá-lo. O cara, que não conseguia andar ombro a ombro com ninguém além dele, começou a se dar estranhamente bem com o residente-chefe a partir daquele dia e, graças a isso, os dois perderam a chance de se encontrarem cara a cara.
Dohan, que queria se desculpar, tentou falar novamente na próxima vez, mas não conseguiu encontrar um ponto de contato. Claro, eles se encontraram na sala de cirurgia do hospital, mas não dava para conversar decentemente em uma situação em que havia médicos, residentes, internos e anestesistas todos juntos. Ele disse: “Posso te encontrar depois que a operação terminar?” Mas Hyewon não respondeu e, pelo contrário, saiu da sala antes dos outros e desapareceu no final do corredor.
Infelizmente, essa situação desconfortável já durava uma semana e o estômago de Dohan começou a reclamar. Além disso, ardia tão constantemente que ele nem conseguia se concentrar no que tinha pela frente. E foi como se de repente a maré tivesse mudado e Dohan se encontrasse na posição dos Ômegas, que lutaram ferozmente no passado para chegar um pouco mais perto dele. De repente, até se lembrou de quando Hyewon disse que ele seria punido se continuasse vivendo assim. Além disso, o projeto de Do-han de encontrar um novo colega de quarto para ele falhou ferozmente e o prazo para se mudar parecia muito próximo. Mas todos ao seu redor se afastaram quando ele disse que seu companheiro de quarto seria Hyewon.
Dohan, que passou muito tempo vagando pelo hospital, afundou no sofá da sala de espera como se tivesse perdido toda a sua energia e força de vontade. E Hee-jae, que era seu aluno e sempre o seguia como se fosse sua pequena sombra, estava tão preocupado com seu professor Dohan que ele estava monitorando muito de perto sua condição física durante a última semana. Afinal, o homem andava com os braços e as pernas balançando de um lado para o outro, como uma pessoa sem energia, e o torso caído como se se sentisse muito pesado. Como se não bastasse, seu estado era tão ruim que seus companheiros lhe perguntaram diversas vezes se ele havia pegado um resfriado.
—Que idiota.
Era culpa dele essencialmente, mas ele não conseguia deixar de se sentir triste com isso. Como se estivesse de mãos atadas.
O homem já estava de mau humor há vários dias e, assim como quando Hyewon desapareceu repentinamente no ensino médio, uma parte de seu coração parecia começar a se sentir terrivelmente vazia.
—Não vi o doutor, sinto muito.
—Não, o doutor Hyewon não apareceu o dia todo.
Até mesmo a enfermeira da sala principal, que era uma daquelas colegas que não dizia nada quando o encontrava e mal fazia contato visual com ele, disse: “Não. Eu também não vi o doutor Kang” e continuou com algo estúpido como “Por que você está o procurando tão desesperadamente?” Além disso, quando ia à cafeteria tomar uma xícara de café, os outros médicos perguntavam: “O que aconteceu com o doutor Kang Hyewon ?” Ou “Por que vocês não estão mais juntos?” E mais uma vez, ele pensou que era verdade que os dois sempre estavam andando juntos dia e noite, mais vezes do que ele gostaria de admitir. Ele até se perguntou se realmente o haviam considerado apenas um amigo o tempo todo! Afinal, as pessoas sempre encontravam Hyewon onde quer que Dohan estivesse e Dohan onde quer que Hyewon estivesse.
Então, chegou o momento em que ele começou a se sentir especialmente sozinho. Mesmo que estivesse cercado por colegas. Era estranho porque nunca tinha acontecido com ele antes, mas agora, até sentia que havia um buraco do tamanho de uma moeda de 500 wons cravado em seu peito. Tão vazio que ele já não tinha apetite e não conseguia nem dormir.
—Senhor, o doutor Kang não comeu?
—Como eu saberia disso? Nem sei onde ele está.
Dohan respondeu à pergunta como se estivesse se queixando ou como se estivesse completamente resignado.
—Você gostaria de ir jantar conosco?
—Não, vão vocês e aproveitem a comida.
—Vamos, vamos juntos. Nunca estamos todos disponíveis!
—Por favor!
Dohan não pôde recusar os convites dos novos enfermeiros, que eram bastante agradáveis com ele, e os seguiu até a cafeteria do hospital. O lugar, como de costume, estava cheio de todo o pessoal médico que tinha feito uma breve pausa para almoçar. Dohan disse: “Só um pouco.” à pessoa responsável pela distribuição de alimentos, e então se sentou com um prato de sopa e uma gelatina.
—Dohan, sua aparência está muito ruim.
—Suponho que seja porque estou cansado.
Era natural. Por várias noites consecutivas, ele não conseguiu dormir por estar se lamentando devido a todos os pensamentos que se agitavam em sua cabeça uma e outra vez até o ponto de parecerem um tanto cruéis. No entanto, em vez de ficar acordado a noite toda, com os olhos abertos e uma manta cobrindo a cabeça, ele pensou que poderia usar essa energia para procurar por Hyewon no hospital até que conseguisse se desculpar decentemente. Foi tanto assim que até aceitou ficar de plantão. Mas ele teve insônia por uma semana, plantão, ansiedade e indigestão causaram essa aparência. De fato, Dohan estava em um estado em que qualquer um poderia se preocupar com ele, não apenas por sua aparência, mas também por sua evidente falta de energia.
Dohan pediu a comida necessária para não preocupar os enfermeiros e então sorriu para eles… Mas a expressão de Dohan causou mais preocupação do que antes, então as sobrancelhas de todos eles, que estavam sentados na frente dele, rapidamente se arquearam em um “八”.
Embora não se sentisse bem, Dohan afrouxou sua expressão e deu uma colherada na sopa de frango que amava desde criança. No entanto, ele rapidamente bebeu água para aliviar o gosto e empurrou a bandeja para frente. Foi porque viu Hyewon no meio da cafeteria, por cima da cabeça de sua colega que estava sentada na frente dele. Ele estava sozinho, com um prato cheio de comida, então parecia que eles não tinham apetite ao mesmo tempo.
Dohan continuou observando e Hyewon, por sua vez, parecia estar imóvel com a cabeça em direção ao seu próprio prato de sopa.
—Vamos Dohan. Se você não comer direito, vai desmaiar quando entrar na sala de cirurgia.
Ignorando as repreensões de seus colegas, dizendo-lhe para comer bem e terminar tudo, Dohan engoliu rapidamente a comida em seu prato e se levantou para poder seguir Hyewon a qualquer momento. Ele largou a colher quando o homem se levantou subitamente.
—Desculpe, mas vou me levantar primeiro. Comam bem.
—Dohan?
—Vou convidá-los para um café mais tarde.
Depois de engolir a última colherada que tinha na boca, Dohan se desculpou rapidamente com seus colegas e seguiu Hyewon para fora da cafeteria do hospital. Enquanto Hyewon caminhava mais rápido que o normal, Dohan enfiou as mãos nos bolsos e correu pelo corredor gritando:
—Kang Hyewon!
O coração de Dohan ficou impaciente devido a Hyewon, que aparentemente o ouvia bem, mas que decidiu ignorá-lo para seguir seu próprio caminho. Talvez fosse porque ele tinha uma emergência, mas mesmo assim seu estômago se contraiu tanto que, assim que começou a doer, Dohan finalmente parou de correr atrás de Hyewon e gritou novamente:
—Doutor Kang Hyewon!!! —Dohan tinha a mão no topo do estômago. —Você pode me ouvir?
Quando o chamou de “doutor”, ele parou de andar e finalmente olhou para onde estava seu amigo. Por um momento, a expressão de Hyewon ao olhá-lo foi tão fria quanto um cubo de gelo na geladeira, então Dohan não pôde dizer mais nada. Podia-se dizer que os olhos que o encaravam eram tão cruéis que ele ficou em branco novamente.
—Senhor Im Dohan?
—…Você tem tempo agora?
Dohan perguntou o mais cortês possível, olhando para cada pessoa que passava pelo corredor do vestíbulo do hospital. O homem parecia estar suando.
—Desculpe, mas não acho que tenho tempo suficiente para te atender porque tenho um paciente agora.
—Só levará um momento. Tenho algo para dizer.
—É importante?
—O que?
—É importante? Se não for algum assunto médico, por favor, evite me fazer perder tempo, senhor Dohan.
Diante do tom tão firme de Hyewon, Dohan franziu o cenho. Ele, que obviamente ia dizer que eles deveriam tomar uma xícara de café, falar sobre o que ele havia feito de errado, se desculpar e se reconciliar, se sentiu estranhamente ofendido pela atitude tão fria de Hyewon. Ele estava muito… Triste até porque afinal de contas era óbvio que ele sabia o que Dohan queria dizer.
—… Não acho que seja tão importante.
—Perfeito.
Dohan arqueou as sobrancelhas e abriu suas pálpebras duplas mais intensamente enquanto observava Hyewon virar as costas. Era a hora do almoço, então ele tinha muito tempo livre. Ainda assim, aquela declaração de “não tenho tempo” foi a clara afirmação de que ele não queria falar com Dohan naquele momento exato.
Mas quando Hyewon saiu rapidamente do corredor, Dohan se curvou e abraçou o estômago. Era como se ele tivesse comido tão rápido a ponto de se sentir mal. E ao ter uma dor tão severa e um suor frio escorrendo pela testa, Dohan engoliu os comprimidos de “Mebeverina” que tinha no bolso, sem água, e esperou para ver se fariam efeito. Talvez fosse culpa do que acabara de acontecer ou de ter se negligenciado tanto nesta semana.
Muito depois de Hyewon ter ido embora, alguém tocou nas costas de Dohan, que estava imóvel no corredor onde as pessoas passavam.
—O que você está fazendo aqui? Você está bem? Já encontrou o doutor Kang?
Era Kim Mihee.
Diante do nome do culpado que havia partido seu coração, Dohan sentiu uma irritação bastante ardente. Ele estava tentando responder, engoliu em seco em vez de ficar com raiva e se levantou, mas a dor no estômago piorou consideravelmente.
—Mihee…
—Por que seu rosto está assim? O que você tem?
O rosto de Dohan, olhando para Mihee, estava manchado de suor frio e, além disso, parecia ter ficado completamente pálido em um segundo. E a figura do homem, que se encolheu e abraçou o estômago, parecia tão terrivelmente indefesa que até mesmo Kim Mihee, que estava falando com a intenção de zombar, ficou séria instantaneamente.
—O que você tem? Onde dói?
—…Kim Mihee, eu preciso ir para a sala de emergência. Por favor…
Dohan respondeu à pergunta de Kim Mihee com a voz entrecortada e deu um passo de cada vez, tão lento quanto uma preguiça. A cintura de Dohan dobrava-se cada vez mais enquanto ele caminhava para o pronto-socorro e, como a dor só podia ser tolerada quando ele encolhia os ombros o máximo que podia, ele permaneceu nessa posição o tempo todo.
Após terminar a refeição, seus colegas da sala de cirurgia, passando por ele, gritavam “Dohan!” Com uma voz bastante animada. Mas ele nem teve tempo de se despedir deles adequadamente. Ele estava distraído pela dor insuportável que parecia tomar conta de seu estômago a ponto de pensar que poderia rolar no chão a qualquer momento. No entanto, mesmo nesse momento, ele lembrou da expressão fria de Hyewon enquanto o olhava, então ele murmurou:—Desgraçado…
Dohan empurrou seu rosto, encharcado de suor frio, em direção à sala de emergência.
A enfermeira, que estava sentada no posto lendo uma revista, e o especialista em Medicina de Emergência, Kim Byung-jun, que estava em pé na frente dela, olharam para ele e levantaram uma sobrancelha em um segundo. Os três se conheciam desde os dias de faculdade e, na verdade, se davam incrivelmente bem desde então. Na verdade, deveria ser dito que não havia uma pessoa que não estivesse familiarizada com Dohan neste hospital.
—O que você tem, cara? Você parece horrível.
—Eu te disse para reduzir o consumo de álcool.
Assim que os dois viram Dohan, começaram a falar imediatamente sobre o quanto era ruim beber.
—Você bateu a cabeça na porta da sala de operações de novo?
—Não, acho que estou com cólica abdominal.
Dohan cobriu o rosto com as palmas das mãos e murmurou baixinho. Na verdade, a equipe médica era a que mais abusava do próprio corpo, embora ao mesmo tempo tentasse fazer com que outras pessoas fossem saudáveis. E devido à natureza do trabalho na sala de operações, a menos que tivessem febre ou tosse, tendiam a trabalhar doentes e mesmo se tivessem esses sintomas, saíam cedo e iam ao departamento de medicina familiar apenas para poderem voltar mais tarde.
Agora, diante do sussurro de Dohan, Kim Byung-jun primeiro verificou sua febre com um termômetro. Ainda assim, era evidente que o corpo e o rosto de Dohan estavam cobertos de muito suor. E embora houvesse uma curta distância do saguão até a sala de emergência, enquanto caminhava naquela direção, Dohan sentiu tanta dor que queria se jogar no chão e ficar lá.
—Você está realmente doente.
—É óbvio que sim!
—Senhor Im, deite-se por um momento.
—Não faça alarde! Já disse que acho que são dores abdominais.
—Ui, autodiagnóstico na frente do médico é muito mal visto, sabe?
Era embaraçoso chegar à sala de emergência de roupão e com o aspecto abatido, mas Dohan ficou ainda mais chateado quando lhe disseram para deitar em uma cama vazia como um paciente.
Dohan, que não conseguia vencer sob o aperto formidável do médico, deitou-se na cama da sala de emergência e fez um bico como se estivesse sendo preso por um crime que nunca cometeu. No entanto, quando ele se deitou de má vontade, as dores de estômago pioraram tanto que até começou a doer nas costas. E as terríveis pontadas vinham mesmo quando ele tentava respirar. Envergonhado de ser examinado, mesmo no meio da dor, Dohan se encolheu e cobriu o rosto com as duas mãos novamente, como se estivesse fingindo que nada disso estava acontecendo.
Depois de um tempo, não apenas nas mensagens internas, mas também em todas as salas de bate-papo, a notícia de que o enfermeiro cirúrgico Im Dohan estava internado na sala de emergência estava circulando.
°
°
Continua….