Pontos de sutura - Capítulo 21
Um par de Crocs bateram fortemente no chão do hospital.
O som de alguém correndo fez parecer que um alarme de Código Azul tinha tocado.
Eram passos terrivelmente preocupados que pararam diante de Kim Byung-jun, que estava encostado na estação da área de emergência. Era Hyewon, que correu loucamente ao ouvir a notícia de que Dohan estava deitado em uma maca. Era estranho que alguém como ele corresse daquela forma para começar.
—Doutor Kang, você chegou muito rápido.
—O que aconteceu com Im Dohan?
—Enfermeira, você me deve os dez mil wons que combinamos. Eu disse que ele chegaria em menos de dois minutos depois de ler a mensagem.
—O que aconteceu com Dohan!?
Ao contrário de Hyewon, que estava com pressa, o médico, que parecia muito calmo na sala, aplaudiu enquanto dizia que ele realmente tinha chegado mais rápido do que imaginava. Além disso, em vez de responder à pergunta de Hyewon, ele observou como o homem e a enfermeira estavam realmente trocando dinheiro. Faíscas acenderam em seus olhos.
—Vocês realmente apostaram que eu correria até aqui!?
—Você é muito óbvio.
—Meu Deus!
E enquanto os cantos de seus olhos e da boca estavam se tornando cada vez mais amargos, o homem apontou com o dedo indicador para a única cama com as cortinas fechadas.
—Ele já morreu.
Hyewon, que normalmente fingia ser amigável, deu um empurrão no ombro dele enquanto emanava aquela aura aterrorizante que gritava que ele poderia matá-lo na próxima vez se fizesse outra piada como essa. Claro que agora havia algo mais urgente que ele precisava verificar, e esse era o estado atual de Dohan.
Hyewon empurrou cuidadosamente a cortina com a ponta dos dedos.
O impulso que ele tinha – o de quem estava prestes a atacar qualquer um que estivesse na sua frente a qualquer momento – desapareceu e houve uma sensação de delicadeza em seu corpo e na mão que segurava a borda da cortina. Foi porque ele tinha medo de fazer barulho, já que Dohan agora estava completamente adormecido.
Quando recebeu a mensagem de que Dohan estava na sala de emergência, Hyewon inicialmente pensou que era apenas uma brincadeira. Uma daquelas táticas de Dohan que sempre usava para desarmá-lo e brincar com sua vontade. Então, depois de receber uma ligação do departamento de medicina de emergência pedindo-lhe para vir como assistente, porque ele poderia precisar fazer uma tomografia computadorizada, Hyewon percebeu que isso não era apenas um truque. Ele lamentou ter ignorado como Dohan estava suando quando o chamou no corredor e o terrível rosto com o qual o homem tinha lutado nos últimos dias. Hyewon olhou para o rosto adormecido de Dohan e perguntou baixinho ao seu colega se ele estava muito doente.
—Naaa. É gastrite. Eu administrei um analgésico, coloquei um soro e… Acho que o mandarei para casa depois de ficar em observação por um tempo.
—Que bom.
Byung-jun percebeu que Hyewon tinha levado a mão ao peito enquanto suspirava.
—O cara ficou de plantão por uma semana inteira. Kim Mihee disse que ele quase não comeu nada durante esse tempo.
—…
Aparentemente, Kim Mihee estava dando voltas por lá porque estava muito preocupada com seu amigo. E provavelmente ele estava assim porque estava cansado, mas Dohan não abriu os olhos, apesar de os dois homens estarem olhando para ele enquanto falavam sobre ele. Mesmo que tivessem dado analgésicos, ele devia estar bastante doente porque as pontas de seu cabelo castanho-avermelhado estavam molhadas de suor, e suas sobrancelhas escuras estavam franzidas ao máximo, formando rugas profundas entre sua testa.
—Mas vamos fazer uma tomografia computadorizada. Depois, quando tiver tempo, diga a ele para fazer uma endoscopia digestiva alta e uma colonoscopia. Melhor prevenir.
—Muito obrigado.
—… Isso foi assustador. Ouvir isso de você dá calafrios.
—Vou ficar aqui um tempo com ele, tudo bem?
—Claro. Tome o seu tempo.
Byung-jun tocou o ombro de Hyewon uma vez e voltou ao seu trabalho. Então Hyewon puxou cuidadosamente a cortina e caminhou em sua direção para poder olhar para o rosto adormecido de Dohan por mais um momento. A verdade era que seu coração doía ao vê-lo com uma expressão tão abatida, as costas da mão apertadas e uma linha intravenosa em seu braço. Então, ele se sentou em frente a Dohan e levou os dedos à testa. Não é como se ele realmente o odiasse pelo que ele havia feito. Quer dizer, ainda estava muito apaixonado por ele. Como poderia odiá-lo? Talvez até mesmo se Dohan tentasse matá-lo, ele não estaria completamente furioso ou ressentido com ele. Além disso, foi só porque aparentemente o homem ia começar a morar com outra pessoa que ele pensou que tinha que se afastar dele para não ser um obstáculo em sua vida. E também, porque obviamente ele não podia estar feliz em vê-lo vinculado a outro. Eles não haviam trocado uma palavra durante a última semana, mas de qualquer forma sabia perfeitamente que ele esteve de plantão todos os dias e que não estava comendo bem. Hyewon também conhecia melhor do que ninguém o olhar de Dohan, que se virou após o término da operação e o seguiu, e o olhar de Dohan, quando ele gritou com ele no corredor.
Dohan sempre dizia a Hyewon que ele era sensível e exigente, mas, na verdade, a pessoa mais sensível do mundo era ele mesmo. Se alguém não gostasse de Hyewon, estava tudo bem, não o incomodava. Mas Dohan era muito cuidadoso com o que as outras pessoas diziam e pensavam dele. Ele se vestia com glamour, sorria brilhantemente e se envolvia com os chamados “tipos populares”. Embora fingisse que não se importava com o que diziam às suas costas, na verdade não era uma pessoa de coração duro. Pelo contrário, era um homem muito propenso à solidão e preferia evitá-la sempre que possível. Hyewon estava muito consciente disso, e por isso, conseguiu resistir e perdoá-lo mesmo que Dohan o tivesse machucado. Porque sabia que todas aquelas ações e palavras duras não faziam parte dele.
Hyewon secretamente agarrou a mão de Dohan, quase como se estivesse fazendo algo errado. Eram dedos que ele nunca segurou bem porque fingiu ser apenas seu amigo o tempo todo. Uma mão que ele só conseguia ver quando estava dormindo ou discretamente na sala de cirurgia. E era tão quente que Hyewon sentiu que estava prestes a explodir em lágrimas novamente. Doía muito o que estava acontecendo entre eles, e ele pensou que deveria ser ele, não Dohan, quem deveria estar deitado na emergência. Mas e se Dohan abrisse os olhos enquanto ele segurava sua mão assim? Não seria bom se seus sentimentos fossem descoberto? Não seria melhor dizer tudo de uma vez por todas? Hyewon acariciou suavemente a mão de Dohan e beijou seus dedos. Ele queria segurar Dohan e acariciar sua testa. Queria beijar algo mais do que a pele de seu pulso e abraçá-lo, dizendo que tudo ficaria bem. Mas se o fizesse, então era possível que ele não fosse capaz de vê-lo novamente, exceto à distância, então Hyewon sorriu amargamente com um rosto estranhamente vazio. Ele se sentiu frustrado por não poder fazer isso ou aquilo, também era muito triste ver Dohan encharcado de suor frio e respirando tão pesadamente.
Como alguém que tinha sido pego roubando o calor de Dohan, ele se apressou em se afastar e escondeu suas mãos vermelhas nos bolsos de seu jaleco. Dohan franziu a testa o máximo que pôde e logo, quase como se odiasse que ele tivesse parado de tocá-lo, abriu os olhos e observou enquanto Hyewon se levantava de seu assento para esconder um rosto que parecia prestes a explodir em lágrimas…
—Kang Hyewon.
Uma voz seca chamou por Hyewon, que estava prestes a se virar para sair.
—Vou trazer água para você.
Devido à voz rouca de Dohan, Hyewon disse que voltaria em breve com algo para ele beber e limpar a garganta. Mas Dohan sacudiu seu corpo levemente, sentindo-se desconfortável em uma cama tão estreita, e estendeu a mão em sua direção até que as pontas dos dedos, que ele havia tocado há pouco, alcançaram seu pulso:
—Pensei que não ia mais falar comigo…
—… Como você está se sentindo?
—Acho que estou bem.
—Vou dizer ao médico, então.
Quando Hyewon abriu a cortina novamente e tentou sair, Dohan estendeu a mão novamente e segurou seu pulso. E Hyewon, que foi pego por Dohan daquela maneira tão necessitada, não conseguiu se mover nem se livrar de seus dedos como se fosse totalmente impossível.
—Espere um minuto… Hyewon, tenho algo para te dizer.
Dohan puxou o pulso de Hyewon em sua direção mais uma vez.
—O que é?
—Tenho algo para dizer.
—Isso eu já entendi. Estou dizendo para você dizer.
—… Não consigo ver seu rosto.
Embora Dohan estivesse segurando seu pulso, Hyewon estava virado de costas para ele. Isso porque não queria que ele visse seus olhos tão cheios de lágrimas. Os dedos de Dohan em sua mão estavam tão quentes que começaram a se sentir como ferro queimando sua pele.
—Kang…
—Acho que você pode estar com um pouco de febre. Suas mãos estão quentes.
—Kang Hyewon.
Cantando suavemente o nome de “Hyewon”, Dohan fechou os olhos e depois os abriu. Ele sentia calor em suas pálpebras, então definitivamente significava que ainda estava um pouco febril. Mas enquanto baixava os olhos para descansar, os pulsos pálidos e brancos de Hyewon chamaram sua atenção de imediato. Dohan mal tocou nele com a ponta dos dedos e então pensou: O que aconteceria se eu agarrasse aqueles dedos longos e frios e os puxasse até que ele ouvisse?
—Devemos evitar nos ver? — Olhando para a mão de Hyewon, que ainda não o olhava nos olhos, Dohan cuspiu algumas palavras que pareciam mais dirigidas a si mesmo do que ao seu melhor amigo. Estar ligeiramente febril e medicado lhe dava o poder de falar besteiras. —Você tem me evitado.
—Eu nunca fiz isso.
—Não minta para mim. Você tem me evitado há uma semana! — Mas mesmo que ele gritasse, Dohan soou como se tivesse perdido toda sua energia em um minuto. Agora, ele tinha certeza de que Hyewon devia ter fechado os lábios e abaixado o queixo. Mesmo sem olhá-lo, aquele rosto determinado, frio e zangado estava perfeitamente desenhado em sua mente. E embora tudo que ele pudesse pensar fosse em se desculpar imediatamente, sua boca se recusava a dizer algo coerente sobre isso. Foi muito irônico em certo ponto. Na verdade, se não fosse precisamente Kang Hyewon, ele teria se desculpado facilmente e dito “Desculpe” sem hesitar. Em vez disso, ele comentou: —Lembro dos velhos tempos. Uma vez tivemos uma briga horrível. Gritamos um com o outro e… Kang Hyewon chorou por dias. Você estava tão bravo que fez isso na escola também. Então começou a fingir que não me via, assim como agora. Passava por mim e agia como se me odiasse. Por que brigamos? Não se lembra?
—Porque… Você não cumpriu sua promessa e não foi para a cyber café comigo.
—Sério?
Enquanto ouvia Hyewon, as memórias que haviam desaparecido começaram a ganhar vida. Ele podia perceber que naquele momento estava distraído pela tentação de se divertir com outras pessoas, mas infelizmente tinha dito a Hyewon que iriam para um cyber café e comeriam ramen juntos.
—Esperei por você, mas você não apareceu.
—Lembrei agora! Mas, como você ainda se lembra disso?
Dohan soltou uma risada sufocada e bateu levemente no pulso de Hyewon com a ponta dos dedos. Enquanto isso, era evidente que a mão de Kang Hyewon estava perdendo lentamente a tensão. Ele percebeu apenas olhando um pouco para baixo. Dohan lembrou que quando percebeu o que tinha feito, correu para casa de seu amigo para falar sobre seu erro, mas os olhos de Kang Hyewon já estavam bem vermelhos. Ao vê-lo desolado e irritado, ficou tão surpreso que até pensou que poderia chorar também.
Agora, nada havia mudado entre eles.
—Desculpe.
—Por quê? — Hyewon perguntou, talvez ainda imerso em memórias do passado. No entanto, essas palavras o fizeram virar a cabeça e olhá-lo diretamente nos olhos como se não esperasse que ele se desculpasse. Foi uma palavra dita do coração.
—Desculpe. Sinto muito mesmo por… Por mudar repentinamente de ideia depois de prometermos morar juntos. Também lamento não ter ido com você para o cyber café, como prometi.
Dohan se desculpou tarde, tanto desta vez quanto daquela vez. Os olhos cinzentos de Hyewon vacilaram por um instante e depois se voltaram para Dohan novamente. E quando o olhar de seu melhor amigo se fixou no topo de sua cabeça, Dohan finalmente olhou para ele também como se tivesse deixado de se sentir envergonhado.
—O que você disse?
—Desculpe. Eu nem mesmo me desculpei naquela época, então…
—… Por que está se desculpando de repente então?
O coração de Hyewon estava queimando com o repentino pedido de desculpas de Dohan. Talvez fosse sua maneira de dizer que não queria mais vê-lo? Era uma forma de encerrar o ciclo? Ele estava apavorado.
—Bem, me desculpei porque quero fazer isso. Pare de fazer essa expressão. Não estou morrendo.
O rosto de Hyewon, olhando para Dohan, dizia exatamente isso. Era como se estivesse vendo alguém prestes a morrer. Suas sobrancelhas retas subiam e desciam repetidamente sem poder detê-las, então Dohan não conseguiu se conter e zombou:
—Kang Hyewon, você está me assustando.
—É que… Não sei. É estranho.
Dohan pressionou os dedos nas laterais de seus olhos, que ainda estavam queimando. Ainda os sentia pesados e suas costas estavam incrivelmente úmidas de suor frio que derramou enquanto dormia, no entanto, ele parou de se sentir desconfortável. Na verdade, já até queria voltar para casa.
—Você não vai aceitá-las?
—O que?
—Minhas desculpas…
—… Você não precisa se desculpar.
Kang Hyewon, que estava olhando para o rosto cansado de Dohan, virou a cabeça em direção à porta novamente. No entanto, as orelhas brancas de Hyewon, visíveis através de seu cabelo preto bagunçado, molhado de suor por ter corrido apressadamente até ali, estavam ardendo em um vermelho brilhante. Ao ouvi-lo dizer que “não precisava se desculpar” como se fosse algo que ele já devesse entender depois de tanto tempo juntos, Dohan desabou como um balão esvaziado sobre a maca e pensou que os últimos dias, aqueles de gemer, rolar na cama e reclamar por nada, eram estúpidos.
As orelhas de Hyewon estavam ficando tão vermelhas que a cor se espalhou até a nuca. Estaria ele sentindo timidez por causa do fato de seu velho amigo de repente lhe dizer algo que não era familiar? O crachá de identificação pendurado no pescoço de Hyewon estava incomodando Dohan porque não o deixava ver até onde já estava tingido. Além disso, Dohan teve uma imaginação louca por um momento e pensou: “Se eu disser a Hyewon ‘Eu gosto muito de você’ assim, sem que ele espere, até que ponto ele ficaria corado ou o que faria exatamente?” Estava claro que Kim Byung-jun, que era meio idiota, tinha lhe dado outras drogas em vez de analgésicos. Se não, porque estaria pensando assim agora?
—Hyewon?
—… Vou trazer água.
Talvez quisesse evitar essa situação desconfortável e desconhecida, e se virou para trazer algo que não lhe tinha sido pedido.
—Hyewon-ah. —Dohan engoliu em seco e segurou o pulso de Hyewon novamente. —Kang Hyewon, eu…
Hyewon, preso pela voz baixa e mãos quentes de Dohan, o olhou novamente e mostrou que estava infinitamente vermelho. Seus olhos estavam vermelhos, a ponta do seu nariz estava vermelha, e as abas de suas orelhas, a nuca, seu pescoço e seu queixo estavam todos corados. A única coisa que era diferente e estava em uma tonalidade branca era seu jaleco. Então, Dohan engoliu em seco novamente e limpou a garganta para dizer algo importante: —Quero dizer que eu…
—Dohan.
A cortina se abriu, e Dohan ficou sem ação. Era uma enfermeira que havia vindo para drenar o líquido, então a boca de Dohan, que estava prestes a se abrir completamente, agora parecia se fechar com força.
—Olha só, também está o doutor Hyewon. Quero dizer, é uma surpresa, mas…
—Ah, sim.
Enquanto recitava o que ia fazer com ele, a enfermeira da emergência colocou um algodão em seu braço e retirou a agulha. Diante das palavras de “pressione com força para parar o sangramento”, a coragem que havia surgido entre os lábios de Dohan desapareceu novamente, deixando-o sem nada a dizer.
—O que você estava tentando dizer um pouco antes?
—Eu…
No entanto, as emoções responsáveis pela honestidade de Dohan haviam desaparecido como se tivessem sido arrastadas pela água, e apenas as partes que mostravam vergonha de continuar se elevavam lentamente em seu peito. Dohan escondeu a frase que estava prestes a soltar usando outra:
—Quando você vai se mudar?
—… Em 28 dias.
—Então vou anotar na minha agenda. Será difícil para mim mover meu equipamento de exercícios sozinho, então preciso tirá-lo alguns dias antes.
—Mas você…
A frase “você disse que não poderíamos viver juntos” foi omitida, mas ambos entenderam o significado do longo silêncio. Dohan passou a mão pelo cabelo com um sorriso forçado.
—A mudança continua de pé. Você e eu.
—Não entendo.
—Eu estava bêbado e fiquei louco por um momento. Você sabe como sou.
—…
—Como eu poderia me relacionar com alguém? De jeito nenhum, isso é assustador.
Dohan estremeceu enquanto pressionava o curativo em seu antebraço, como se realmente achasse isso terrível. Hyewon sabia que o que ele estava dizendo agora era mentira e que havia muito mais por trás, mas tinha medo demais de perguntar e descobrir algo que não iria gostar. As comissuras dos lábios de Hyewon se elevaram sutilmente. Ainda havia uma sensação de inquietação, mas o fato de ele e Dohan poderem morar na mesma casa imediatamente levantou seu ânimo.
—Mas… você ainda quer morar comigo?
—Sim.
Foi uma mudança muito sutil, mas Dohan não perdeu os novos traços no rosto de Hyewon. Pelo menos aos seus olhos, a face inexpressiva de seu melhor amigo parecia conter também um sorriso muito feliz.
— Mas você sabe? Não sou bom com limpeza.
—Sim.
—Não faço nenhum trabalho doméstico. Quero um lugar para descansar. É por isso que a limpeza e a parte da lavanderia são feitas por outra pessoa.
—Tudo bem.
Como uma criança, ele continuou listando seus defeitos um por um. Mas não importava o que Dohan dissesse, Hyewon tinha uma resposta para tudo.
—Também vou chegar tarde em casa. Talvez quando você já esteja dormindo.
—Tudo bem.
Hyewon gostava dessas coisas. Se o tempo com Dohan aumentasse mesmo que por um minuto ou segundo, então não havia mais nada que ele quisesse pedir.
Hyewon saiu do trabalho relativamente cedo, e uma enfermeira do posto e Kim Byeong-jun despediram-se dele adequadamente. A enfermeira-chefe disse para ele tirar um dia de folga e descansar, mas Dohan recusou. Quando os problemas com Hyewon foram resolvidos, a dor de estômago desapareceu como se tivesse sido arrancada pela raiz, e o peito, que estava doendo, aliviou-se. No caminho de volta para casa do trabalho, juntos, Hyewon insistiu para que ele comesse aveia e também insistiu em comprar uma caixa enorme para ele, mas Dohan franziu a testa porque era a comida que mais odiava.
Então, tudo voltou ao normal novamente. Exceto, é claro, pelos sentimentos de Dohan. Seu coração ainda oscilava como um junco em um dia ventoso e, toda vez que via Hyewon ao seu lado, suas sobrancelhas franziam terrivelmente. Após a conversa na sala de emergência, o nariz de Dohan começou a fazer cócegas, como se ele fosse espirrar só de olhar para Hyewon. Talvez como se ele fosse expor sua situação a qualquer momento. Por não poder tolerar a presença de Ômegas sem sentir repulsa, ele não podia sair para clubes e naturalmente se afastou do álcool do qual não conseguia viver sem. E, como inadvertidamente estava levando uma vida simples e saudável indo e vindo entre o trabalho e o lar, sentia-se como uma bomba-relógio prestes a explodir – era como uma bomba de confissão, para ser mais preciso – depois de perceber que estava apaixonado por Hyewon há muito tempo, a sua maior preocupação era “Como vou passar meu dia com Hye-won cara a cara todos os dias depois disso?”. Mas, surpreendentemente, o tempo passou muito rapidamente. Foram alguns dias de mudança comparável a um período de turbulência e revolução para Dohan, mas para outros, eram apenas dois amigos íntimos que se reconciliaram. Como sempre.
Preocupar-se era coisa do passado… E chegou a hora de os dois seguirem em frente.
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Continua….