Pontos de sutura - Capítulo 23
Os dois se encontraram em frente ao banheiro, cedo pela manhã. E, em uma palavra, disseram:
—Oi.
Hyewon, que não conseguiu dormir a noite toda, estava com a roupa desarrumada e torta, e Dohan, seminu, caminhava como se pudesse se chocar contra a parede a qualquer momento. Nenhum dos dois dormiu confortavelmente, então o cansaço pesava sobre seus ombros de forma completamente evidente. Além disso, como estavam bastante envergonhados pelo que tinham feito na noite anterior, ambos mantiveram a boca fechada como se tivessem prometido isso a situação mesmo.
—Dormiu bem?
—Sim. Muito bem. E você?
—Sim, incrivelmente bem.
As caras dos dois homens, trocando cumprimentos matinais, eram opostas às palavras que saíam de suas bocas.
—Quer tomar café da manhã?
Hyewon olhou por cima do ombro de Dohan e perguntou. Seus olhos pareciam um pouco fora de foco, mas Dohan também estava com as pupilas assim, então ele não deu muita importância a isso. Os dois homens disseram:
—Vamos comer no hospital?
Quando a conversa terminou, eles voltaram para seus respectivos quartos como se tivessem uma agenda muito ocupada em mente. Eles nem podiam se olhar diretamente por causa da maldita vergonha, então, no final, apenas fecharam a porta e se esconderam como duas crianças fariam.
Dohan, com o rosto corado, não trocou de roupa imediatamente e, em vez disso, decidiu abrir a janela do seu quarto completamente. Mas quando o vento frio da manhã entrou no quarto, ele tremeluziu como se tivesse sido atingido por um raio. O lugar estava impregnado com seu feromônio devido ao desejo que brotou de sua pele durante toda a noite, então ele achou necessário arejar um pouco antes de sair. Não havia como Hyewon, que era um Beta, sentir seu feromônio de qualquer maneira, mas Dohan, que não pensou nisso, até trocou de roupa enquanto sentia o vento soprando.
Hyewon ficou sem palavras desde cedo e mesmo Dohan, que era incrivelmente tagarela, não disse muita coisa. Além disso, os dois saíram do prédio sem dizer uma palavra, com uma atmosfera desconfortável fluindo entre eles, de modo que cada pequena coisa que faziam parecia estranha até para as outras pessoas. Mas cada um deles estava tão absorto em sua própria situação que não perceberam isso de forma alguma.
Dohan e Hyewon caminharam com a cabeça baixa o tempo todo, pois não tinham coragem de encarar um ao outro. Mas se os passos de Dohan ultrapassassem os de Hyewon, Hyewon o seguia até alcançá-lo, e se Hyewon estivesse na frente, Dohan se apressava para alcançá-lo.
Os dois ficaram em silêncio e caminharam em direção ao hospital como se estivessem jogando um estranho jogo infantil. Então eles sorriram um para o outro e Dohan, que entrou na sala de espera sozinho, finalmente suspirou e enterrou o rosto na tigela de cereal que havia servido até que o leite entrasse pelo nariz. A verdade era que ele estava incrivelmente cansado de se masturbar com a mão direita a noite toda diante de um desejo que parecia não querer desaparecer nunca e por causa disso, ele dormiu até um pouco mais tarde. Claro que seus olhos estavam visivelmente vermelhos.
Dois minutos depois, Mihee entrou na sala de espera com o cabelo preso em um rabo de cavalo alto.
—Você estava de plantão?
—Não.
Afinal, a aparência de Dohan, que chamou a atenção de Mihee, parecia a de alguém que esteve no hospital a noite toda.
—Por que você está assim então?
—Porque… Eu não sei. Talvez a idade?
—Você não está fazendo horas extras como um louco de novo, está?
—Acho que só… Não me recuperei corretamente da última vez.
Era porque ele estava cansado de fazer horas extras, estava cansado porque sua mente não parava de pensar em bobagens, estava cansado porque se masturbava frequentemente pensando em seu melhor amigo a noite toda e estava cansado de estar cansado.
—Eu não acho que seja só isso. Você tem estado muito estranho ultimamente. Você… mudou um pouco.
—O que mudou exatamente?
—Você não disse nada sobre sair para beber esses dias e não há ninguém esperando na frente do hospital para te matar.
Kim Mihee assumiu uma expressão realmente séria, com os braços cruzados sobre o peito como se fosse um médico ditando uma sentença de morte. E ao ver Mihee, franzindo a testa e fazendo um olhar significativamente assustador, Dohan fez uma expressão que o obrigou a apertar os lábios.
—O que? Você acha que sou do tipo que bebe o tempo todo e deixa as pessoas com o coração partido em pé na frente do hospital?
—É isso aí.
Dohan acenou com a mão para Mihee, com uma expressão que parecia a de alguém prestes a rir. No entanto, assim que ouviu sua resposta tão incrivelmente firme, fechou a boca como se estivesse se sentindo humilhado. Ele já sabia que essa era a imagem que passava para os outros.
—Saí do clube. Também não vou ao bar há um tempo e decidi me abster de continuar procurando sexo.
Claro, foi algo obrigatório para evitar vomitar com o cheiro dos Ômegas. Além disso, depois de reconhecer que estava apaixonado por Hyewon, não importa quantos homens bonitos ou mulheres bonitas passassem por ele, a verdade era que ele estava tão concentrado em seu amigo que nem os notava. Seus olhos estavam constantemente fixos no doutor. Olhando para suas mãos, suas pernas, e a maneira como se movia de um jeito que ele nem sequer parecia lembrar que piscar era importante para ele.
—… Você está com uma doença terminal?
—O quê?
—Por que você não vai ao clube? Você é um cachorro, uma pessoa assim não muda só porque deu na telha.
—Hey, hey. As pessoas podem mudar se quiserem.
Mas diante de tantas perguntas contínuas de Kim Mihee, Dohan apertou os dentes e tentou sorrir da forma mais bonita que conseguiu. Dohan já se sentia como uma bomba prestes a explodir desde ontem, então quando Mihee o atacou daquele jeito, a luz em sua cabeça pareceu se acender de uma maneira bastante perigosa. Ele contou o número de batimentos em seu coração e a verdade era que desde que se tornou adulto, nunca deixou de comparecer a um encontro para beber por tanto tempo. A cerveja que bebia enquanto comia era uma porcaria em comparação ao que costumava beber. Porque quando Dohan bebia álcool, muitas vezes diziam que ele o fazia até cair no chão e até mesmo houve um tempo em que o chamavam de “o gênio”. Era um termo usado na brincadeira porque diziam que bastava abrir uma garrafa e ele aparecia do nada. Claro que a pessoa que lhe deu esse apelido foi Kim Mihee para começar.
—Se você faz algo que não está acostumado a fazer, é porque está se preparando para a morte.
A situação já era perturbadora, mas quando Mihee continuou falando tanta besteira, Dohan, irritado, fez um barulho alto com a boca e se jogou de volta no sofá como se quisesse fazer pouco caso do assunto. Então, como se tivessem sido convidados para se juntar, outra pessoa interrompeu a conversa:—Do que estão falando?— Era Yoon Ji-ho, que havia chegado para o turno. — Quem está morrendo?
Ele até trouxe uma cadeira para se sentar na frente dos dois, então Mihee apertou ainda mais a expressão.
—Ji-ho, ouça. De repente, Dohan parou de beber e disse que levaria uma vida decente.
Embora o fato de não beber e não conhecer outros Ômegas não significasse que ele estivesse levando uma vida completamente “decente”, em comparação com a rotina diária de Dohan alguns meses atrás, era completamente evidente que ele estava caminhando em uma direção quase santa. Aos olhos daqueles que o conheciam bem, era assustador.
—Ela tem razão. Se você faz algo que não faz com frequência, significa que algo sério está acontecendo. Já achei estranho você estar por aí andando como um zumbi esses dias.
—É verdade.
—Não faz muito tempo, perguntei sobre seu CARDEX e os registros de enfermagem, mas me ignorou e ficou olhando para o nada.
—Se um alcoólatra é subitamente solicitado a abandonar o álcool, ele entra em abstinência. Com certeza é isso que está fritando seu cérebro como um ovo.
As expressões sérias de Kim Mihee e Yoon Ji-ho fizeram Dohan se sentir um pouco… Angustiado. Ele sabia muito bem que estava agindo de maneira diferente, mas era tanto assim para que os dois reagissem tão mal? Ao mesmo tempo, ele até refletiu sobre como estava sendo visto pelos outros. Como disse Kim Mihee, havia passado um tempo considerável desde que saiu para beber, e embora não estivesse deprimido com isso, não gostava de ficar sozinho por muito tempo. Além disso, era verdade que recentemente teve cólicas estomacais e estava claro que já não tinha tanta energia como antes. Até mesmo só agora descobriu que Ji-ho havia perguntado sobre o Kardex. Deve ter sido na época em que ele e Hyewon estavam se evitando. Porque, embora levasse uma vida bastante desordenada fora do trabalho, era incrivelmente profissional no hospital. No entanto, agora estava apaixonado por seu melhor amigo e era difícil manter o foco com ele à vista o tempo todo. Dohan, que lembrou do que aconteceu na noite anterior, sem motivo aparente, ficou perturbado até um ponto em que teve arrepios. Ele pensou que essa nova vida, com Hyewon brilhando em sua mente, estava se tornando incrivelmente boa para ser verdade. Mas talvez estivesse errado.
Dohan engoliu em seco diante do sabor repentinamente amargo em sua boca e respondeu com a mesma expressão séria que os dois: —Não sou um alcoólatra.
Mihee, que tinha se divertido muito zombando de Dohan por tanto tempo, agitou exageradamente as mãos e gritou alto, como em um drama:—Então você realmente vai morrer, não é? Isso é mesmo verdade meu amor?!
—Não!
—Você não está com uma doença terminal?
—… Kim Mihee, por favor!
—De repente você parece muito estranho, não parece o mesmo Dohan que eu conheço.
—Quer que a gente faça uma missa de corpo presente no hotel que você gostava tanto?
—Ai, por favor. Calem a porra da boca!
Quando Dohan, que não aguentava mais, se levantou, os dois recuaram e fugiram dele. Até pouco tempo atrás, ele era tratado como um homem moribundo, mas agora pareciam vê-lo como um lobo.
E no meio de toda a conversa, finalmente passou o tempo e chegou a hora de todos irem trabalhar. Mihee, que estava verificando o horário da cirurgia com antecedência, de repente se lembrou de algo tão importante que chamou Dohan com a mão:
—Você disse que acabou de se mudar, certo? Vamos beber juntos então!
—Do que está falando?
A sugestão de Mihee pegou Dohan de surpresa.
—Vou fazer você beber até sangrar pelo nariz!
—Eu parei de beber, já te disse!
—Ah, vamos lá! Vou convidar o Byung também! Vai ser divertido.
As orelhas de Dohan se aguçaram diante das palavras de Mihee, que ainda dizia que as pessoas não podiam mudar instantaneamente. “Vou fazer você beber até sangrar pelo nariz”, ela disse. Na verdade, Kim Mihee e Kim Byung-jun do pronto-socorro eram uma combinação que poderia ser interessante para se divertir, e a verdade era que ele gostava muito de estar com os dois até altas horas. De repente, como se tivesse o gosto de álcool na boca, Dohan engoliu em seco. Para ser honesto, embora não fosse uma festa tão elaborada, ele queria ir a um pub próximo e beber até acabar no banheiro. No entanto, não queria mostrar a Kang Hyewon um lado tão desagradável dele.
Dohan, que estava ignorando o olhar de Mihee, olhando para a parede, se sentiu meio vazio. O que ela estava dizendo era verdade, o amor não deveria ser um impedimento para viver como antes e relaxar antes de explodir.
—Então o que você acha? Yoon ji-ho vai se juntar a nós. Ele também é legal.
—Claro vai ser… Legal.
No final, Dohan cedeu à tentação.
Mesmo assim, como não conseguia se livrar da ansiedade, repetiu um pequeno mantra que dizia: “Está tudo bem beber com moderação”. “Está tudo bem beber com moderação” “ESTÁ TUDO BEM BEBER COM MODERAÇÃO.”
Dohan até pensou que talvez estivesse um pouco em apuros.
***
—Doctor Kang, excelente como sempre. Pode continuar por sua conta agora.
—Muito obrigado, doutor.
—É isso aí, pessoal. Será uma recuperação simples, fechem e limpem.
Quando o médico principal, um idoso com muitos anos de experiência, saiu da sala de cirurgia, Dohan observou como Hyewon se movia tão fluidamente diante dele. A desconfortável manhã foi breve, e embora não tivessem falado muito, os ombros de Dohan já não estavam tão tensos.
E então, como se para quebrar a ilusão, o homem que havia estado esperando o término da operação, com um sorriso sob a máscara facial e as mãos percorrendo cada um dos instrumentos cirúrgicos, de repente se viu de frente para os olhos de Hyewon, que aparentemente ergueu um pouco a cabeça.
Através da lupa presa aos seus óculos, as pupilas de Hyewon capturaram as dele por tanto tempo que Dohan virou o corpo na direção oposta. Ele coçou a cabeça e se inclinou para evitar qualquer tipo de contato com Hye-won enquanto fazia a contagem. Enquanto colocava as gazes ensanguentadas uma por uma em uma bandeja especial, Hyewon suspirou e concentrou-se novamente na operação. Era a vantagem de estar em uma sala de cirurgia, onde era inaceitável desviar o olhar do paciente por tanto tempo.
Depois que a cirurgia foi concluída e todas as contagens necessárias foram feitas, Dohan finalmente terminou de limpar e saiu da sala de operações apenas para encontrar Hyewon, que o esperava com o gorro cirúrgico ainda na cabeça.
—O que…? O que está fazendo?
Como era a última cirurgia da manhã, Dohan, que realizou seu trabalho de maneira bastante despreocupada, agora olhava para Hyewon como se não pudesse acreditar que o homem ainda estivesse esperando por ele. Ele parecia bastante relutante em enfrentar esse “encontro cara a cara” com o homem por causa do que aconteceu na noite anterior, mas mesmo assim, o médico parecia tão casual que o corpo de Dohan ficou tenso.
—Vamos almoçar juntos?
—Uau, você fica faminto quando me vê?
Dohan, muito nervoso, soltou uma piada que imediatamente soou como algo que nunca deveria ter dito em sua vida. E ficou pior quando Kang Hyewon o agarrou pelo ombro e disse:
—Pervertido.
Meu Deus.
—… Vamos então.
Depois de Dohan sofrer de gastrite por alguns dias, Hyewon se comportou como uma “mãe pássaro” que não podia viver sem alimentá-lo decentemente. Os dois foram ao vestiário, trocaram de roupa e vestiram os jalecos brancos habituais. Mas enquanto caminhavam lado a lado, Dohan de repente percebeu que Hyewon sempre o estava esperando. Quer dizer, foi uma sorte o programa de cirurgia ter terminado tão cedo hoje, mas houve momentos em que ele saía muito tarde da sala de cirurgia. A menos que houvesse uma discussão com Hyewon ou Hyewon tivesse outros compromissos, o homem sempre esperava obedientemente que ele aparecesse no corredor do hospital. Era irônico que ele só tivesse percebido isso agora, mas na verdade podia-se dizer que Dohan não havia prestado muita atenção às suas ações. Ele sempre achou que era muito casual. Além disso, não havia um ditado que dizia que quanto mais você se acostuma com algo, mais descuidado se torna?
Hyewon, esperando-o para o almoço, era terrivelmente familiar para Dohan. Tão familiar que ele esqueceu de apreciar isso.
Dohan corou completamente. Talvez fosse bobagem, mas de repente começou a sentir uma nova onda de vergonha que o estava deixando inquieto até a garganta. O fato de que Hyewon sempre o esperava para almoçar juntos fez seu coração bater estranhamente rápido. Por que ele não tinha percebido isso antes? Por quanto tempo esteve agindo como um tolo com ele?
Os passos em direção à cafeteria eram leves. A culpa e o desconforto rapidamente desapareceram e Dohan, que se sentiu melhor quase sem perceber, seguiu em frente com um sorriso bastante bonito no rosto. A verdade era que ele estava um pouco animado para estar com ele, quase como uma criança que ganharia um brinquedo. E para tentar não ser tão evidente, ele se atrasou um pouco e observou as costas de Hyewon de uma maneira um pouco descuidada. Então ele percebeu que o novo jaleco curto ficava muito bem no médico, mas simplesmente não tinha o temperamento para elogiá-lo.
Em vez disso, ele disse: —Agora que percebi, seu traseiro parece muito grande quando você usa esse novo jaleco.
—… Ah. Não sei o que dizer. Obrigado?
—Não. Escolha um tamanho de jaleco maior da próxima vez.
—O… Ok.”
Na verdade, quando ele caminhou atrás de Hyewon, o final de seu jaleco balançou devido ao movimento pronunciado de seus quadris, o que o deixou muito nervoso. Definitivamente, um jaleco mais longo teria sido melhor. Aquela coisa era muito curta para alguém como Hyewon, que era muito alto. Se ele levantasse os braços ou se movimentasse muito, suas nádegas e contornos musculares seriam muito evidentes. Ele não queria que ninguém visse isso, não queria que ninguém olhasse para o corpo de Hyewon.
Dohan sabia que era muito tolo estar com ciúmes.
No entanto, ao contrário do quanto estava desconfortável de manhã, Hyewon sorriu um pouco e suspirou ao ver Dohan tão animado. Ele parecia inexpressivo aos olhos de todos, mas definitivamente havia um sentimento de alegria latente em seu rosto.
Então, o olhar de Dohan, que estiva observando atentamente Hyewon enquanto caminhava à sua frente, agora se fixou em seus sapatos. Ao observá-los com mais cuidado, ele notou que a ponta dos Crocs de Hyewon estava torcida e as solas quase que excessivamente desgastadas. Os médicos de plantão, que estavam tão ocupados percorrendo os corredores do hospital sem tempo para descanso, muitas vezes tinham as solas de seus sapatos nessas condições, com o plástico desgastado nas bordas. Dohan observou os sapatos de Hyewon uma última vez e se dobrou para verificar as solas de seus próprios pés. Seus sapatos não estavam tão danificados quanto os de Hyewon, mas ele precisava trocá-los.
—Cuidado.
Dohan se virou no momento em que Hyewon o empurrou levemente para o lado. Os residentes, correndo, pareciam ter uma emergência grave o suficiente para não cumprimentar os dois.
—Obrigado.
E conforme se aproximavam da cafeteria, o cheiro da comida enchia o corredor a ponto de fazer os estômagos dos dois homens roncarem alto. Eles estavam na sala de cirurgia desde cedo naquela manhã e não haviam comido absolutamente nada. Claro, graças a isso, o prato de Dohan, que era voraz, e gritava “Mais!” para a cozinheira, era bastante substancial.
A luz do sol, entrando pelas janelas, era tão brilhante que Dohan involuntariamente fechou os olhos. E Hyewon, observando as ações de Dohan, estendeu a mão e o ajudou a bloquear a luz.
—Isso acabou de queimar meus globos oculares.
—O sol está cada vez mais quente.
—É a única coisa da qual ficarei feliz em deixar para trás.
—Você entra à noite?
—Sim. Para o turno da manhã.
A partir de amanhã, Dohan tinha o turno da noite. Mas quando os horários de trabalho mudavam assim, o maior desafio que enfrentavam era o sono. Poderia-se dizer que era um estilo de vida difícil. Especialmente porque, ao mudar de um turno diurno para um turno noturno dessa forma, ele tinha que ficar acordado por horas usando sua força de vontade ou recorrendo ao poder do álcool. E se bebesse como um idiota a noite toda e chegasse em casa de madrugada, dormiria como uma pedra e só acordaria quando o sol se pusesse novamente. Estava bem para ele ir trabalhar depois de tomar banho e comer um ramen.
—Você vai ter plantão hoje?
—Não, vou sair mais cedo. Tenho um compromisso esta noite.
—Entendo…
Não era óbvio para os outros, mas Hyewon tinha estado trabalhando duro desde cedo para sair do trabalho o mais cedo possível. Ele viu todos os seus pacientes, esteve com os residentes, verificou antecipadamente se haveria chamadas de plantão e anotou cada informação importante. Os pacientes ambulatoriais também foram atendidos sem contratempos e ele até preencheu seus relatórios perfeitamente. E tudo isso foi por uma razão importante: ele queria passar mais tempo com Dohan em casa.
—Vou sair para tomar uma bebida com Kim Mihee hoje.
Depois de pensar por um momento, Hyewon abriu a boca.
—Só com Kim Mihee?
—Não, Kim Byung-jun está livre hoje. Vamos festejar.
Hyewon estava profundamente desapontado. Quer dizer, ele estava animado desde cedo e pensou que teria Dohan para ele também à noite. Mas, de qualquer forma, não era como se pudesse expressar sua frustração. Quando decidiu morar com Dohan, prometeu não invadir sua privacidade libertina e além disso, Kang Hyewon, que era apenas um amigo, não tinha o direito de interferir em sua vida ou em seus planos. Era apenas ele quem estava frustrado com suas próprias expectativas irreais. Hyewon fez uma pausa por um momento e tocou o peito. Agora ele precisava ser maduro, ser generoso, um homem relaxado e fingir que não se importava com o que Dohan faria.
—Divirta-se.
—Claro que sim.
—Você teve gastrite recentemente. Não beba demais.
—Não se preocupe. Só vou beber o suficiente para me sentir bem.
Isso é o que ele disse, mas Dohan queria chegar em casa o mais tarde possível. Se fosse possível, em um momento em que Kang Hyewon já estivesse profundamente dormindo e ele não tivesse que olhar para o rosto do homem.
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°
Continua…