Pontos de sutura - Capítulo 24
—Vamos para o maldito clube.
Kim Mihee e Kim Byeong-jun olharam Dohan nos olhos e começaram a falar um monte de palavras estranhas. Ambos estavam um pouco bêbados naquele momento.
—Do que estão falando? Só estou planejando ficar aqui mais uma hora e depois ir dormir.
—… Você não tem mais 20 anos. Idiota. Pare de agir assim.
Kim Mihee e Byeong-jun, que queriam aproveitar um ambiente mais animado depois de passarem muito tempo no hospital, começaram a reclamar e dizer que ele era amargurado. Mas Dohan queria evitar o clube tanto quanto possível. Quantas pessoas realmente iam lá com a intenção de aproveitar a música, álcool e dança? Impossível.
—Vamos, vamos…
Mihee empurrou as costas de Dohan até que sua cabeça começasse a balançar para frente como um boneco.
—Tudo bem então. Vamos.
Contrariamente à expressão trêmula em seu rosto, Dohan estava muito falante e animado para estar com seus amigos. Afinal, era como uma lagarta que precisava comer as pequenas plantas de um pinheiro para sobreviver. Quanto mais o álcool entrava em seu organismo, mais brilhantes seus olhos ficavam e sua resistência se tornava tão boa que até começava a transbordar.
Eles saíram do bar, atravessaram a rua e passaram imediatamente por uma loja de Crocs que chamou a atenção de Dohan no primeiro momento. Mesmo assim, Dohan balançou a cabeça ao ver Mihee correndo em direção ao clube sem prestar atenção por onde estava indo.
—Ei! Espere um minuto, maluca.
—Por quê?
Mihee e Byeong-jun, que já estavam bem à frente, viraram rapidamente a cabeça ao chamado de Dohan. Ele apontou para a loja de sapatos com o polegar.
—Quero comprar algo lá.
—O quê? Oh! Compre Jibbitz para mim!
—Compre com seu próprio dinheiro se quiser.
Kim Mihee então se jogou nos braços de Dohan e deixou que ele a arrastasse para dentro da loja enquanto ela cantava “Jibbitz” repetidamente, como uma criança.
Enquanto Mihee estava empolgada escolhendo Jibbitz, Dohan optou pelo design mais básico de um par de Crocs brancos. Foi porque viu Hyewon durante o dia com as solas dos sapatos completamente desgastadas e o plástico saindo. Alguns hospitais especificavam a cor dos sapatos a serem usados durante os plantões, mas o Hospital da Universidade de Deokwon não era assim. De qualquer forma, como esperado, Hyewon sempre insistia no branco porque achava que parecia elegante. Isso era muito diferente de outras pessoas que usavam todo tipo de enfeites e cores.
Ele queria comprar um par igual.
Dohan, que pediu ao pessoal da loja que trouxesse um par de tamanho sete para Hyewon, hesitou entre comprar os Jibbitz que Mihee mostrou ou deixar como estava. No entanto, ele pensou que se usasse os sapatos como vieram da fábrica, sem enfeites ou cores, seria fácil perdê-los em um lugar cheio de pessoas que tinham exatamente os mesmos. No entanto, Hyewon realmente não gostava de coisas muito barulhentas ou vistosas, então, considerando seu gosto, Dohan escolheu Jibbitz com suas iniciais em preto.
Mas, quando estava prestes a sair com Kim Mihee, que segurava uma sacola cheia de Jibbitz do Mickey Mouse entre as mãos, um enfeite, com óculos redondos bonitos e olhos pequenos, chamou sua atenção tão drasticamente que ele até parou abruptamente. Eram óculos com armação prateada, muito semelhantes aos que Kang Hyewon usava. Dohan pegou impulsivamente o Jibbitz em sua mão e o comprou.
Era um presente para o dia seguinte. Ele queria dar algo bonito e ao mesmo tempo foi uma compra impulsiva, um impulso momentâneo para possuir o mesmo. Como um casal.
Com uma sacola de compras contendo dois pares de sapatos, Dohan seguiu Byeong-jun e Mihee e todos entraram juntos no clube, embora ainda fosse bastante cedo. Ele gostava do som alto da música em seus ouvidos porque preferia o barulho ao invés do silêncio normal. Poderia-se dizer que era algo com o qual ele se sentia confortável. Quando estava sozinho, em espaços tranquilos, pensamentos sombrios o assaltavam e a solidão o fazia sentir infinitamente estranho. Pelo menos ali ele não precisava pensar.
O clube, que ele costumava frequentar no passado, estava lotado naquele momento e muito barulhento. Ele viu alguns rostos familiares e, enquanto procuravam um lugar ao fundo, também observou Kim Mihee dançar tão apaixonadamente que era difícil dizer se eram movimentos novos ou uma rotina de academia.
—Mihee, por que está treinando pilates?
—Acho que vi isso em um vídeo de zumba.
Byeong-jun e Dohan observaram Mihee atentamente, que estava fazendo um exercício aeróbico enquanto segurava uma taça de vinho na mão. Como Byeong-jun disse, era realmente difícil ver isso como uma dança. Mesmo que fosse uma moderna.
Então, no final do olhar de Dohan, que estava escaneando a pista, ele avistou o rosto familiar de um par de Ômegas com quem já havia se envolvido anteriormente. Os homens, que também fizeram contato visual, acenaram brevemente e o olharam como se pedissem que se aproximasse. E naquele momento, Dohan sentiu uma súbita sensação de vertigem que o fez fechar os olhos. Mas como eles estavam basicamente no canto, não se aproximou deles e imediatamente despejou um novo copo de bebida em sua boca.
—Mihee, já terminou as repetições?
Kim Mihee, que caminhava pela pista, respirou fundo e se aproximou da mesa onde seus amigos estavam sentados. A mulher estava suando profusamente e seu rosto estava vermelho como uma cereja, então nem teve tempo para se ofender com a pergunta de Byeong-jun.
—Hoje foi um dia realmente difícil. Entrei duas vezes seguidas para ajudar o Donald na cirurgia.
—Como assim, o Donald?
—O médico de cirurgia ortopédica. Shin Sung-seop.
Com o surgimento de um apelido que só se espalhou entre médicos e enfermeiros da sala de cirurgia, Dohan começou a rir alto. No entanto, Byeong-jun, que estava encarregado das emergências, olhou alternadamente para Dohan e Mihee e perguntou:
—Por que o chamam assim?
—Ele fala exatamente como o Pato Donald. Soa exatamente igual.
—Coloque muita solução salina morna para artroscopia, senhor Dohan.
Dohan deu uma explicação muito detalhada para satisfazer a curiosidade de Byeong-jun, usando uma voz engraçada que causou muitas risadas. Dohan encheu os três copos com mais bebida.
—Bebam devagar, droga!
—Ela disse para bebermos até o nariz sangrar.
Depois disso, sempre que Byeong-jun falava sobre um erro engraçado cometido por um novo interno ou residente, ou sobre algo estranho que aconteceu com um paciente, Kim Mihee e Dohan seguravam o estômago e riam tanto que parecia que não conseguiam mais respirar. Os rumores se espalhavam rapidamente dentro do hospital, mas como eles estavam em uma sala de cirurgia fechada, os boatos chegavam mais devagar para eles do que para o homem que sempre estava na sala de emergência. Então, do nada, alguém tocou no ombro de Dohan, que ainda estava sorrindo, colocou um braço em volta de seus ombros, baixou a cabeça e aproximou os lábios de sua orelha. Obviamente, era um daqueles Ômegas com quem ele havia tido um caso antes.
—Olá, Dohan. Faz muito tempo que não nos vemos.”
A sensação do cabelo de outra pessoa fazendo cócegas em sua bochecha fez o corpo de Dohan se arrepiar.
—Você parou de falar comigo do nada…
—Estou com meus amigos, desculpe.
O clima, que tinha sido infinitamente agradável até o momento, caiu no chão e se quebrou como uma xícara. O toque em seu ombro foi repulsivo e o cheiro do feromônio daquele homem, misturado com o aroma de álcool e suor, começou a causar tantas náuseas que ele baixou a cabeça. O Dohan que sorria e ria abertamente desapareceu instantaneamente, deixando para trás apenas um homem com o coração gelado e um rosto tão sombrio quanto o de Kang Hyewon.
—É que estou muito feliz de estar com você.
—Se eu fingir que estou feliz em te ver, você vai embora?
O homem continuou falando, mantendo o sorriso, apesar da voz fria de Dohan. Mas quando ele cortou o final de suas palavras, pareceu ficar um pouco atordoado. Mesmo estando em um clube escuro, com uma iluminação caótica de luzes vermelhas e verdes, ainda podia ver claramente o rosto do homem Ômega corado de vergonha. E em resposta à reação de Dohan, Mihee olhou nos olhos dele e disse:
—Acho que esse cara já está bêbado. Ele vai te ligar mais tarde. Deixe-o por enquanto.
Mihee sorriu e consolou o homem, que estava evidentemente muito desconcertado com tudo aquilo. Quando ele se afastou, Dohan bateu no lugar onde a mão do Ômega o havia tocado e se sacudiu quase como se tivesse poeira na roupa.
—Viver com o Dr. Kang faz com que os hábitos dele grudem em você.
—É que eu simplesmente já estou de saco cheio. Sério mesmo.
—Dohan-ah, essa atitude é algo novo para você. Você está realmente bem?
Dohan não sabia como se livrar de sua testa franzida ou de seus olhos cheios de ódio. E mesmo depois que ele se foi, os feromônios do maldito Ômega pareciam permanecer ao seu redor tão fortemente que Dohan, se sentindo desconfortável no estômago, encheu um copo de bebida e o engoliu de uma vez só. Graças a isso, a pulsação em sua cabeça diminuiu um pouco.
—Por que os Ômegas são tão grudentos?
—Bem, em primeiro lugar, porque você é muito bonito.
—Você atrai muita gente, sortudo. Isso não é motivo para ficar tão ranzinza.
Kim Byeong-jun, que estava passando um tempo bastante solitário como solteiro, caiu sobre a mesa e desabafou uma reclamação incrivelmente pesada sobre isso. Dohan apenas serviu mais bebida para si mesmo sem dizer uma única palavra no meio do desconforto que ainda pairava entre os três.
No passado, ele teria desfrutado de uma noite encantadora com os braços ao redor da cintura de um Ômega sexy. Enquanto desfrutava de um contato moderadamente próximo, ele sorriria convidando-o para se sentar com eles e riria da sensação da pele apertando em volta de sua mão. E é claro que, para terminar, eles teriam uma noite inteira de diversão no quarto de um hotel. Agora, ele nem queria falar ou respirar no mesmo espaço que eles.
Embora tenha ficado um pouco deprimido que essa mudança fosse devido ao seu amor não correspondido por Kang Hyewon. Foi triste porque a vida passada, que era desenfreada e louca, era mais confortável e sem complicações do que essa em que ele estava confuso.
—Ai, Kim Byeong-jun, toda vez que você diz que está muito sozinho, parece um ancião de mil anos.
—É por causa desse maldito bonitão. Eu o vejo e tenho vontade de ser um Alfa também.
A risada de Kim Mihee fez Dohan sorrir tardiamente, tentando se encaixar na atmosfera.
—Mas para ser honesto, sinto que você está se desperdiçando ultimamente. Você nasceu como um alfa, cara. Abraçar um boneco como esse está bem às vezes.
Mas Dohan desviou o olhar em vez de continuar participando da conversa. As pessoas que procuravam parceiros e os que estavam lado a lado na pista de dança chamaram sua atenção naquele momento, porque a verdade era que… Em dias como aquele, ele preferiria ter sido um Beta em vez de um Alfa. Quer dizer, teria sido um pouco mais fácil. Era apenas um pensamento baseado em como ele se sentia mal naquele momento, mas Dohan ficou terrivelmente surpreso por ter algo assim em mente, isso antes teria sido impossível para ele. Embora Alfas, Ômegas e Betas fossem iguais na sociedade, estritamente falando, Dohan era uma pessoa com uma supremacia muito importante. Foi a primeira vez que ele quis ser alguém diferente, então ele se sentiu estranho.
Dohan encheu seu copo de vinho, o esvaziou de uma só vez e se levantou imediatamente de sua cadeira. Os dois, que estavam conversando bastante entusiasmados sobre seus dias no hospital, levantaram a cabeça e o olharam antes que ele andasse mais:
—Para onde você vai?
—Para o banheiro.
—Se você não voltar logo, eu te mato. Eu juro.
—Não vou demorar. Volto logo.
Dohan tinha um histórico de desaparecer inesperadamente nas festas. Naturalmente, era óbvio onde ele estaria então, quando Kim Mihee, que o conhecia bem e estava familiarizada com ele, o ameaçou, Dohan gritou para “não se preocupar” e cambaleou em direção ao banheiro. Talvez fosse porque ele tinha bebido álcool por muito tempo, mas Dohan estava em um ritmo bastante desajeitado. Ele sentia que sua cabeça tremia com a música e estava tão bêbado que teve que colocar as mãos na parede para não cair de cara no chão. Um Ômega e um Alfa, que estavam se beijando, bloqueavam a entrada de forma tão descarada que ele teve que empurrá-los com uma expressão bastante irritada no rosto. No entanto, o Ômega, a quem Dohan tinha tratado mal na mesa, estava lá de pé para tornar tudo ainda pior.
—Já se passaram mais de dois meses desde que te vi. Não é realmente demais?
—Estive doente. Não é você, então por favor…
Como disse Kim Mihee, ele tentou dizer algo agradável para não parecer um idiota. Mas isso não durou muito. Irritado com o ato do Ômega que deslizou os braços ao redor de seu pescoço, Dohan puxou bruscamente seu pulso e o empurrou até que ele bateu na parede. O nojo foi tão intenso que ele sentiu que ia vomitar em cima dele.
—O quê foi isso?
—Eu não estou interessado em você! Você fede! Entendeu? Então suma daqui e me deixe em paz de uma vez por todas!
Dohan, que havia perdido a paciência, cobriu a boca, puxou-o para trás e correu para o cubículo do banheiro antes que fosse tarde demais. O som da água correndo da torneira aberta e o som de vômito vindo do box mais distante encheram todo o banheiro até parecer honestamente ridículo. Nos ouvidos de Dohan, os palavrões do homem Ômega a plenos pulmões podiam ser ouvidos, mas na verdade ele não se importou muito agora que estava se sentindo tão mal. Era apenas um cara de quem ele se lembrava como alguém com quem teve relações sexuais. Era alguém de quem ele não sabia nem o nome nem onde o conheceu, e como se estivesse prestes a vomitar seus intestinos, Dohan se inclinou e vomitou com tanta força que até o banheiro ficou em silêncio. Ele nem mesmo tinha comido nada, então estava apenas vomitando todo o álcool que ingeriu junto com os sucos gástricos.
E assim que o Ômega, que estava cuspidando um monte de maldições, saiu do banheiro, as náuseas de Dohan diminuíram gradualmente até que finalmente desapareceram. Era um vínculo imaginário, mas estava se tornando mais grave do que ele pensava. Ele se inclinou para cuspir uma bola de saliva e então, o telefone que estava em seu bolso caiu no chão. Dohan encarou o aparelho por um momento, depois se agachou e o pegou. Seu rosto foi refletido na tela preta, então ele notou que seu cabelo, que ele tinha arrumado para sair, estava bagunçado e que tinha vômito grudado no queixo. Ele deveria estar se sentindo feliz, mas a imagem refletida na tela não parecia nada assim. E enquanto observava seu rosto, tão sombrio, de repente desejou ver Kang Hyewon com tanto desespero que seus olhos se encheram de lágrimas.
Dohan se ajoelhou no chão do banheiro e chorou copiosamente. Na verdade, ele pensou que queria voltar para casa de Hyewon, jantar com ele e dormir ao seu lado. Não importava que houvesse uma parede estúpida ali! Mas embora não fosse tarde demais agora, Dohan nem mesmo tinha forças para ligar para Hyewon ou sair neste momento.
Deveria ter sido divertido, mas agora ele não estava nada feliz.
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Continua…