Pontos de sutura - Capítulo 27
Dohan começou a manhã esfregando os olhos. Na verdade, ele havia acordado muito antes de abri-los, mas não tinha força suficiente para se mover direito. Ainda era um lugar um tanto desconhecido, já que acabara de se mudar, mas percebeu que o cenário diante dele era definitivamente seu quarto. No entanto, sentiu-se como se estivesse preso em uma dimensão paralela, pois além de perceber claramente que alguém havia deitado ao seu lado antes, a pessoa em questão também havia deixado um bilhete sobre criado-mudo.
Dohan, deitado de lado e com o rosto completamente enterrado no travesseiro, não havia movido um dedo desde que acordou. Ele sabia o que havia acontecido e sabia perfeitamente bem o que tinha feito e com quem tinha feito, para variar. Uma vez foi capaz de descartar isso como um erro, mas duas vezes? “A segunda não podia ser chamada de engano, mas sim de desejo.”
Dohan murmurou isso para si mesmo enquanto seus olhos se fixavam na nota em cima da mesinha de cabeceira, como se não soubesse do que se tratava para começar.
—Mamãe, seu filho enlouqueceu completamente…
Então ele começou um movimento cerebral para organizar cuidadosamente o que havia acontecido na noite anterior.
Tudo começou depois de encontrar um Ômega no clube. Seu comportamento foi vulgar e até mesmo deu nojo a insistência com que queria ter sexo com ele. Mas claro, ele era um homem que costumava rolar e se divertir como um cachorro com quem cruzasse seu caminho e também sabia que tinha um hábito bastante estabelecido ao longo dos anos, que as pessoas não mudavam da noite para o dia e que não podia viver com a luxúria oculta em uma mochila atrás de suas costas só porque estava apaixonado. E enquanto bebia com Mihee, podia se lembrar claramente de quantas vezes disse algo estúpido como “Quero fazer sexo” e também o quanto chorou por estar insatisfeito. Estava um pouco deprimido pelo desejo não resolvido e é por isso que começou a beber álcool como um louco. E depois de uma breve pausa, saiu com Byeong-jun e passou a noite falando sobre o quanto a vida tinha sido injusta com ele. Depois sentiu mãos e pernas e quando virou um pouco a cabeça, percebeu que todo o seu corpo estava coberto de marcas vermelhas de beijos e chupões e que sua pele estava macia como se tivesse acabado de tomar um banho. Mas além disso, também tinha a mesma sensação que havia experimentado no hotel: o buraco dolorido, o traseiro adormecido e muitas dores nas costas.
Dohan, que estava pensando na situação, ainda com calma suficiente para não perder a cabeça, levantou o braço e passou a mão no cabelo. Seus fios castanhos estavam emaranhados, parecendo o ninho de passarinho. E é claro que ficou pior quando começou a puxá-los enquanto lia o bilhete:
«Vou trabalhar primeiro, mas gostaria que falássemos sobre o que fizemos ontem à noite, cara a cara. –Kang Hyewon.»
Caso não soubesse quem era o autor da nota, a outra pessoa gentilmente havia escrito seu nome. Embora ele já soubesse que quem havia deixado a folha era nada mais, nada menos que seu intenso parceiro sexual, Kang Hyewon.
E Dohan, que estava deitado de bruços na cama, gritando e mexendo os pés por muito, muito tempo, começou então a gemer de dor que sentiu percorrendo sua espinha até parar na parte mais profunda de seu ânus. Dessa vez, mais do que da primeira, ele realmente queria muito, muito, muito morrer.
—Eu realmente quero morrer. Morra, morra de uma vez. Por favor, Dohan! Morra antes que algo mais horrível aconteça.
E pequenos momentos da noite passada começaram a passar imediatamente pela cabeça de Dohan.
“Você gosta de homens com óculos?”
“Não, eu gosto de como eles ficam em uma pessoa.”
Ahxgkfuijg!!!
O que diabos eu estava dizendo para Hyewon!? E além da ressaca, sua cabeça começou a latejar com força até que ele não aguentou mais.
—Quero desaparecer, quero desaparecer agora.
As tendências evasivas de Dohan destacaram-se novamente. Foi um erro causado pela bebida, então deveria ele se ajoelhar e pedir perdão, dizendo algo como: “Confundi você com outra pessoa?”? Ou explodir como uma bomba-relógio e dizer: “Fiz porque gosto de você”?
E no meio disso, ainda mais aterrorizante, era o fato de que a hora de ir trabalhar estava se aproximando.
Dohan tinha se deitado na cama enquanto olhava para o bilhete por um longo. E então, enquanto caminhava em direção ao banheiro para tomar banho, Dohan pensou que havia algumas coisas que ainda não tinham chegado à sua cabeça. Em primeiro lugar, ele não conseguia se lembrar da expressão de Hyewon de jeito nenhum. E além da forma como ele se comportou com ele, o que disse enquanto o beijava era muito confuso. Era terrível que ele se lembrasse claramente dos comentários que havia feito, mas não conseguisse pensar em uma única frase dita por Hyewon!
A esta altura, Dohan já sabia que embora antes pensasse que poderia concentrar-se no seu trabalho e desempenhar as suas funções como profissional e como enfermeiro, na realidade não era assim. Se ele soubesse que as coisas seriam tão difíceis para ele, dentro e fora de sua cabeça, definitivamente teria se confessado muito antes.
Tudo parecia um castigo por suas más ações. Desde o fato de ter conhecido um Ômega que o agrediu, passando pelo fato de ter bebido demais, e parando no momento em que descobriu que tinha um sentimento bastante intenso por Hyewon e ainda pior que os dois começaram a viver juntos nesta casa. Tudo foi, infelizmente, causado por ele mesmo. Dohan estava submerso na água que ele derramou sobre seu próprio corpo e que se transformou em um poço profundo. E se visse Hyewon no hospital, como diabos o olharia nos olhos e o que diria para começar? E à medida que o momento de ir trabalhar se aproximava, a angústia de Dohan tornou-se insuportável.
Foi um pouco desconfortável, mas não foi um grande problema andar ou se mover. No entanto, sentar em uma cadeira dura por muito tempo ou se curvar, provocava uma dor ardente na parte inferior de seu corpo. Especialmente entre as nádegas. Como ele ousava se deixar penetrar duas vezes pelo mesmo PAU COLOSSAL? Estava claro que ele era um completo louco.
Ele segurou a cabeça e o estômago dolorido, lavou o cabelo e se preparou para ir trabalhar. No entanto, veio à mente a letra de uma música muito popular nas rádios que dizia em um de seus versos que “eles poderiam viver bem mesmo que se separassem”. Claro, isso não foi escrito para uma situação como a que acabara de acontecer entre os dois, apesar de ele definitivamente estar pensando que o impacto poderia fazer com que se afastassem um do outro.
E de quem era a culpa para começar?
As palavras que havia cuspido no início do encontro ainda permaneciam intactas em sua memória. Ele foi o primeiro a falar com Hyewon e também foi quem tirou as calças primeiro.
—Minhas calças…
Quando a textura leitosa entre suas pernas se desdobrou novamente em sua mente, Dohan ficou tão corado que acabou batendo a testa na porta do armário assim que entrou na área de trabalho do hospital. Mas então Dohan, que se culpava por ser um pervertido e batia entusiasticamente contra cada superfície em seu caminho, levantou a cabeça em direção ao som de alguém entrando no vestiário. E parecia realmente que ele estava prestes a quebrar o crânio a qualquer momento.
—Professor, o que está fazendo?
—Oh, nada.
—… Cheira a álcool.
—Sim, é que eu saí para festejar ontem à noite.
Mas na verdade, agora ele estava em um estado em que seu corpo era quase totalmente composto por álcool.
Enquanto Dohan sorria desajeitadamente e cheirava suas roupas, Kim Hee-jae abriu a porta do armário e começou a se despir para vestir o uniforme cirúrgico. Dohan sorriu, virou o olhar para tentar se despir também e, no entanto, no momento em que estava prestes a tirar a camisa, lembrou-se do que aconteceu e abaixou novamente a roupa que havia subido um pouco acima do umbigo. Antes de ir trabalhar, o reflexo no espelho de corpo inteiro, que viu enquanto tomava banho, estava vermelho como se tivesse sido atacado por um enxame de insetos famintos. Ele não tinha vontade de mostrar um corpo cheio de vestígios da noite de amor a um colega de trabalho. Mais do que tudo, porque não era sensato. Kim Hee-jae farejou na direção dele porque Dohan havia ficado imóvel, apenas segurando a porta do seu armário.
—Senhor… Posso te perguntar algo?
—O quê?
—Você… Você tem um relacionamento com o Dr. Kang?
—O quê… O quê com quem?
Dohan levantou a voz como um aluno do ensino fundamental que estava se defendendo de um colega que estava espalhando boatos sobre ele e, em seguida, provavelmente sem perceber, agarrou-se à porta do armário como se fosse um escudo.
—É que… eu encontrei o Dr. Kang no elevador e… Ele está impregnado com seu feromônio. Cheio mesmo.
No caminho para o trabalho, Hee-jae, que subiu no mesmo elevador que Kang Hyewon, sentiu o aroma de Dohan em cada parte do corpo do médico. Ele estava tomando supressores para não ser afetado por isso, mas mesmo assim conseguia entender o que aquilo significava e por que ele havia feito isso. E Hee-jae, obviamente, estava muito curioso sobre isso.
—Vocês são um casal?
—Nós moramos juntos!! Moramos juntos, estamos no mesmo espaço e até compartilhamos toalhas de banho! É claro que ele vai ter meu cheiro!
—Hmm…
Ao vê-lo agir assim, o jovem estudante sorriu e assentiu com um movimento bastante desajeitado de sua cabeça. Mas Dohan, que foi queimado pelas brasas que Hee-jae jogou sobre ele, ardeu em vermelho por um tempo e irradiou calor em todas as direções como se não pudesse se acalmar com nada. Era algo que ele não havia pensado antes! Ele soltou um monte de feromônios enquanto faziam sexo e praticamente o marcou, mas não ia dizer ou explicar nada disso na frente dele ou de qualquer outra pessoa.
—Está zangado comigo por perguntar, professor?
—Não. Não estou.
Mas a resposta final de Dohan foi quase um murmúrio. Rapidamente ele se inclinou para o armário e ficou notavelmente mais pálido do que antes, segurando a maçaneta da porta de metal com mãos tão trêmulas que até poderiam pensar que ele estava morrendo de frio. Hee-jae sorriu novamente, como se tivesse gritado a resposta correta em um programa de “perguntas e respostas” na televisão.
—Vocês brigaram?
—… Você acha que nós brigamos todos os dias ou algo assim?
A resposta de Dohan foi tímida e, além disso, para atormentá-lo, sua cabeça começou a doer. Talvez por causa da ressaca ou por Hee-jae, que constantemente o irritava.
—Professor.
—De novo? O que?
—Você não vai trocar de roupa?
—Depois, certo? Depois.
Diante das palavras de Dohan, Hee-jae deu de ombros e disse —Está bem.— Então ele embalou suas coisas e saiu do vestiário sem dizer mais nada, finalmente, o ambiente desagradável desapareceu e Dohan, um homem sozinho no vestiário, suspirou como se sua alma tivesse descansado por um momento. E não era exagero dizer que assim que Kim Hee-jae, que o havia estado distraindo, desapareceu, as preocupações que ele deixou de lado se precipitaram em seu corpo na forma de um refluxo terrível.
—Deus… Maldita.. Maldita dor estomacal. Maldita dor de cabeça, maldito cansaço.
Dohan despejou todo tipo de reclamações, como uma criança. E logo chegou a hora de começar a trabalhar.
Dohan teve que trocar de roupa antes que as pessoas inundassem o vestiário, então ele parecia bastante ocupado movendo-se de um lado para o outro e arrumando cada detalhe para tentar esquecer seus problemas. Mas a parte de cima do corpo que se refletiu no pequeno espelho de mão, preso ao armário, estava em completo e total caos. Além disso, havia marcas de dentes em todas as direções. Como se Hyewon tivesse se transformado em um maldito zumbi. Felizmente, ele teve inteligência suficiente para evitar os lugares visíveis ao público.
—Você é um cachorro ou o quê? Imbecil…
Mesmo nessa situação, houve risos.
Dohan soltou um suspiro abafado e tocou suavemente a sacola de compras amassada que também trouxe para o trabalho. Quantas vezes ele bateu nela para estar tão amassada e maltratada? Além disso, ele previu o futuro e comprou os sapatos como uma tentativa de indulgência pelo que fizeram na cama?
Dohan, que abriu novamente sua sacola de compras, se curvou para colocar as meias de compressão que costumava usar, depois franziu o cenho e endireitou a cintura novamente o mais devagar possível para evitar algum tipo de dor. Ele pensou se deveria fazer isso ou aquilo, então coçou a cabeça, fechou o armário e saiu do vestiário. Ele respirou fundo, caminhou até a sala de espera e pensou em suas opções: 1: Ele dizia que foi um erro, se ajoelhava e rezava ou 2, confessava seus sentimentos, se ajoelhava e rezava.
Na sala de enfermeiros, Dohan apertou os dentes e refletiu sobre isso DURANTE toda a hora de trabalho, embora não tenha obtido uma resposta que o deixasse tranquilo. O turno da noite não tinha um horário específico a seguir, exceto, é claro, para cirurgias de emergência. E isso só significava que estavam dando a ele tempo suficiente para afundar em seus próprios pensamentos sobre seu melhor amigo sem interrupções.
—Eu gostaria de ter lembrado de tudo na primeira vez.
O belo rosto, ou mesmo o movimento de uma sobrancelha, teria permanecido em sua memória, a resposta para suas preocupações atuais teria chegado muito mais cedo para permitir que ele descansasse. Agora, embora também não pudesse lembrar exatamente de sua expressão, as memórias de seus movimentos e o prazer que ele lhe deu na cama ainda eram incrivelmente vívidos. Para ser honesto, ele poderia dizer que foi melhor do que qualquer outro sexo que ele já teve antes. Tão sensacional que ele até perdeu a consciência por um momento.
—Ahhhh!
Dohan, que estava batendo a cabeça na mesa, ficou tão envergonhado de si mesmo que de repente corou e tossiu com tanta força como se estivesse sufocando. Ninguém na ala estava preocupado com ele porque ele era propenso a se tornar estranho do nada, mas agora era diferente porque as orelhas de Dohan ficaram tão vermelhas quanto a alça de uma panela quente e de repente até parecia que ele sentia que seu coração ia pular do peito.
—Mas será que ele está por aqui? Ou já foi embora?
Dohan olhou para o telefone. Nem mesmo conseguia mandar uma mensagem para Hyewon porque não tinha coragem de contatá-lo primeiro. E Hyewon, que normalmente se comunicava quando chegava e quando ia comer, não tinha dito uma única palavra até agora em seu turno. Talvez porque fosse difícil para um robô como ele lidar com esse problema. Pensando assim, Dohan continuou ligando e desligando a tela do telefone repetidamente.
E nesse momento.
Seu celular vibrou tão forte que ele teve que conferir o histórico:
«Kang Hyewon: Quer ir comigo comprar um café?»
Esta era, em poucas palavras, a declaração de guerra que ele esperou durante todo o dia. O momento da batalha decisiva finalmente havia chegado.
Dohan engoliu em seco. E embora ainda não soubesse o que dizer a Hyewon, ele enviou uma resposta ao mensagem com movimentos rápidos da mão:
«Já estou indo.»
Dohan, que pediu desculpas a um colega por um momento, correu rapidamente para o vestiário para pegar os Crocs que havia comprado especialmente para seu melhor amigo. Foi porque ele pensou que deveria usá-los como uma espécie de suborno caso algo desse errado no meio da conversa.
Dohan foi para o vestiário, pegou sua sacola e conferiu o conteúdo novamente. Lá estavam os Jibbitz em forma de bonequinho com óculos e um par de crocs brancos.
—O que estou fazendo?
Ele se sentiu tão frustrado que desejou sair correndo do hospital. E estava tão apaixonado por seu melhor amigo que pela primeira vez se sentiu covarde.
—E se eu me confessar?
Mas que tipo de reação Hyewon teria se Dohan se confessasse? Nem mesmo conseguia imaginar.
Ele respirou fundo e foi para a sala de meio período para médicos porque era onde haviam combinado de se encontrar. No entanto, ele permaneceu lá sem fazer nada por muito, muito, MUITO tempo. Não conseguia empurrar a porta, que se abriria apenas girando a maçaneta, e não conseguia tocar ou limpar a garganta ou dizer algo importante sobre isso estando tão nervoso. Ele engoliu em seco novamente, colocou a mão na madeira, recitou uma oração rápida e então balançou a cabeça, mordeu os lábios e decidiu ir em frente. Mas naquele momento, a porta da sala foi aberta.
—O que está fazendo aí parado, se já está aqui?
Hyewon, que encontrou Dohan parado na frente da porta, usou uma expressão bastante casual. E depois de um momento de vergonha pela reação tão direta de seu amigo, Dohan decidiu falar como sempre:
—O que?
—…? Bem, eu te perguntei se queria ir tomar um café e… Acontece que você disse que sim.
—Ah, sim claro. Vim te ver para irmos tomar café. É isso.
Hyewon tomou a dianteira e Dohan o seguiu.
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°
Continua….