Pontos de sutura - Capítulo 28
Seguindo Hyewon como um cachorrinho, Dohan pigarreou bem alto enquanto olhava ao redor. Havia muita gente no hospital, então ele pensou que Hyewon o levaria dali para acusá-lo de estupro e dar um bom soco em seu estômago. Não. O que diabos estou pensando? Não importava o que tivesse acontecido entre os dois na noite anterior, Kang Hyewon não era do tipo de pessoa que partia para a violência primeiro quando podia resolver tudo de forma muito racional. No entanto, ele estava tão preocupado que todos os tipos de pensamentos estranhos começaram a passar pela mente de Dohan sem qualquer filtro.
O jardim aberto, no andar intermediário do prédio do hospital, era um espaço comum onde ele nunca havia estado antes. E como nem mesmo fumava, não passava por ali por acaso. Claro, ele pensou que era o mesmo para Hyewon. Os dois se sentaram em um banco no jardim, com uma xícara de café entre as mãos, e ficaram em silêncio por um tempo que parec uma eternidade. Já passava da 1:00 da manhã, não havia ninguém no jardim e os corredores estavam completamente desertos. Dohan lutou para reprimir o desconforto que tomava conta de seu corpo e, sem se virar para olhá-lo, mexeu no copo de papel que tinha na mão enquanto rasgava as alças de uma sacola de compras com a outra. Foi um ato natural de ansiedade, então Hyewon, que notou perfeitamente, deu um gole no café e então disse:
—Im Dohan…
—…— A hora que ele tanto temia finalmente havia chegado. Dohan tensionou todo o seu corpo.—Diga.
—Por que seus tornozelos estão tão inchados?
Diante das palavras de Hyewon, Dohan imediatamente olhou para as pernas e procurou pelos pés. Seus tornozelos, que podiam ser vistos sob seus Crocs e abaixo da bainha de suas calças, estavam realmente terrivelmente inchados. E a verdade era que ele também não sabia o que havia acontecido para que ficassem tão mal. Assim que o dia começou, ele participou de uma operação de duas horas e, desde então, estava andando de um lado para o outro para cobrir todos os turnos. Não foi um horário difícil em comparação com o normal, mas ele pensou que seus tornozelos incharam porque não usou suas meias de compressão como de costume. O incômodo silêncio foi quebrado por um momento quando as duas pessoas focaram seus olhos no inchaço de seus pés.
—Por que você não colocou suas meias?
—Oh, acho que estava tão distraído que nem percebi.
—Entendi…
E depois das palavras de Hyewon, o silêncio voltou a cair entre os dois.
Como se estivesse descalço no asfalto em pleno verão, Dohan sentiu o ar quente envolvendo-o até um ponto em que tudo começou a parecer muito desconfortável. Ele estava suando profusamente e seu rosto estava muito quente, então ele pensou em levantar-se da cadeira e correr ou apenas tentar falar sobre qualquer outra coisa. Mas, contrariamente ao seu coração tão agitado, sua boca não conseguia se abrir diante do outro, e as palavras que ele não conseguia pronunciar, mesmo depois de pensar nelas o dia todo, continuavam ressoando em sua garganta até um ponto em que ele sentia que estava se afogando nelas. Dohan lambeu os lábios e pensou: “Vamos. Você consegue. Apenas se confesse, leve um soco e acabe com isso.” Então ele virou a cabeça e olhou para Hyewon. Ele ficou muito impressionado com o nariz pontudo e a linha do queixo, fino, mas não muito frágil do médico. Kang Hyewon, o homem mais bonito do universo inteiro, estava tão perto que Dohan não conseguia tirar os olhos do seu rosto, mesmo que o médico estivesse atento às pernas inchadas de Dohan. E como ele tinha a cabeça ligeiramente inclinada, podia ver até mesmo cada um daqueles bonitos e longos cílios em seu rosto e seus pequenos sinais. Além disso, toda vez que o vento soprava, alguns fios de cabelo voavam e roçavam suavemente em seus olhos, a ponto de parecerem cortinas. Ele fez amor comigo com um rosto tão bonito assim? Dohan pintou seu rosto, da noite que ele não conseguia lembrar, em sua mente, e assim que obteve uma reação em seu estômago, rapidamente pigarreou e tentou se concentrar em outra coisa. Talvez ele estivesse agindo como se alguém tivesse colocado cola em seus lábios, mas isso não impediu que seus pensamentos fluíssem de forma bastante explícita.
Dohan finalmente pegou a sacola de compras para tentar bloquear o olhar de Hyewon.
—Aqui.
—É para mim?
—Uh-huh. É para que você possa trocar esses seus sapatos feios.
Dohan entregou a sacola a Hyewon, que ele vinha carregando desde ontem à noite.
—Sério?
Hyewon olhou alternadamente para dois pares de Crocs e para Dohan. Suas sobrancelhas retas não se moveram nem um pouco, mas ficou claro que ele tinha dúvidas sobre isso.
—É que um deles é meu.
—Os jibbitz também?
—Sim. Olhe e me diga se você gosta deles.
Hyewon permaneceu inexpressivo. Seus lábios, olhos e sobrancelhas eram incrivelmente retos, mas Dohan ainda sentia que ele realmente gostou do presente. E quando ele mostrou sinais de querer dizer “obrigado”, Dohan apenas virou a cabeça e olhou para o céu noturno escuro como se fosse uma tentativa desesperada de não encará-lo mais. Esse sempre foi o seu problema, Dohan, que só flertava, tinha sexo casual e nunca falava sobre seus sentimentos, tinha um problema real em superar a vergonha e organizar seus pensamentos adequadamente. Ele nem sequer sabia como iniciar uma conversa!
—Eu…
Mas então, um par de dedos frios tocou o tornozelo de Dohan, que estava perdido em sua mente complicada, e o fez pular da cadeira devido à surpresa que foi senti-lo. Não era exagero dizer que ele havia perdido completamente a consciência quando sua perna de repente se levantou e descansou confortavelmente contra o peito do outro.
—É bom manter as pernas elevadas quando estão inchadas.
—Me… Me deixe em paz. Não consigo beber meu café nessa posição.
Mas não era pelo café. O café era apenas uma desculpa para ele soltá-lo antes que visse seu rosto tão terrivelmente vermelho. Dohan tentou fazer com que Hyewon o deixasse levantar, mas Hyewon deu força aos seus movimentos e não pareceu querer soltar seu tornozelo de jeito nenhum. Pelo contrário, agora ele estava tirando os crocs Dohan, verificando o grau de inchaço e começando a massagear os dedos dos pés e a girar lentamente o tornozelo em pequenos círculos.
—Pare, Hyewon…
Quando estavam na universidade e Dohan voltava do treinamento com as pernas ou pés terrivelmente inchados, Hyewon massageava-os cada vez até que ele se sentisse consideravelmente melhor. Naquela época, não era nada importante para ele, e ele até gostava de brincar e até mesmo dizer para massagear com mais força. Mas agora ele não podia agir assim. Como alguém que havia feito algo muito errado, Dohan cobriu o rosto com o braço e mordeu o lábio inferior para tentar não falar. Era vergonhoso que ele tocasse seus pés, mas estava mais preocupado em se concentrar em não gemer ou falar demais.
—Dohan…
—…
Hyewon pressionou suavemente a panturrilha com a ponta dos dedos. E ao contrário de Dohan, que sentia que todo o seu corpo estava fervendo em lava, a mão de Hyewon parecia imensamente gelada. Na verdade, ele até estava muito calmo.
—Se for difícil, não precisa se esforçar. Apenas relaxe…
—… Kang Hyewon…
Os dois trocaram seus nomes. Hyewon estava muito perto, mas mesmo assim Dohan não conseguia afastá-lo, tirar os pés dele de cima do homem ou expressar as palavras que guardara o dia inteiro. Nada disso. Era o mesmo com Hyewon. Ele havia pensado nisso inúmeras vezes durante toda a noite enquanto Dohan dormia, mas agora achava que não poderia chegar a uma conclusão tão facilmente. Havia muito em jogo! Além disso, todos os pensamentos de Hyewon foram negativos porque as ações e comentários de Dohan no passado não foram exatamente agradáveis. Ele dizia “Eu? Ter um namorado? Por que faria isso?” e “Nunca me envolvo com meus colegas de trabalho.” Claro que cada uma dessas palavras sempre o fazia desistir antes mesmo de começar.
Hyewon, um amigo e colega de trabalho, provavelmente estava longe de ter uma chance com Dohan.
Para Hyewon, parecia que tudo estaria perdido se ele se confessasse apenas para se sentir confortável consigo mesmo. Talvez ao escutar isso ele jogasse o café que tinha na mão e, depois disso, o vínculo do relacionamento se romperia como aconteceu no ensino médio.
Hyewon olhou para Dohan, com os mesmos olhos calmos de sempre. Seu melhor amigo tinha as pontas das orelhas vermelhas e as bochechas ardentes como se estivesse com muita febre, mas Hyewon estava tão confuso que pensava que era apenas algo criado por seu próprio desejo e ânsia de ver algo onde não havia nada. Talvez Dohan estivesse envergonhado porque se deitou com alguém como ele, ou talvez estivesse amaldiçoando a situação por dentro. E enquanto Hyewon estava curioso sobre os pensamentos de Dohan, a cabeça de Dohan também estava ocupada pensando no que estaria na mente de Hyewon.
“Vou me confessar”, pensou. “Sim! Esta é sua chance. Faça isso agora!” E se por causa disso ele não conseguisse mais encarar Hyewon, embora fosse doloroso, de alguma forma ele se sentiria melhor do que ter essa dor constante no peito. Dohan decidiu ser corajoso:
—Kang Hyewon, eu preciso te dizer algo importante…
Ao contrário do que havia decidido, sua boca não conseguia parar de tremer. Ele até sentiu como se estivesse subitamente caindo sem parar, sendo lançado do teto do hospital em direção ao vazio. Foi vergonhoso e tão aterrorizante que seu coração batia e batia como se fosse explodir. “Tum-tum, tum-tum, tum-tum, tum-tum” uma e outra vez em seus ouvidos. Foi a primeira vez que ele iria se confessar em toda a sua vida e descobriu que isso exigia mais paciência do que coragem. Era a paciência para abandonar esses sentimentos e sensações desagradáveis e não fugir, enfrentar o olhar do outro e permanecer parado, não importando todos os pensamentos desagradáveis que passavam por sua mente.
—Dohan, eu sei o que você está pensando.
—Mesmo?
—Sim. Você estava bêbado e cometeu um erro. Foi como sempre. É um hábito seu.
O rosto de Dohan estava estranhamente enrugado. Não importava quanto tempo ele tivesse vivido uma vida de libertinagem, o que aconteceu com ele não era nenhum hábito. Claro, ele dormia com praticamente qualquer pessoa, mas não era tão promíscuo a ponto de atacar habitualmente seu melhor amigo dessa maneira.
—Hyewon-ah, não é isso. Eu queria te dizer que eu…
—Você só me vê como mais uma de seus amigos sexuais.
As duas pessoas, que estavam com pressa, embaralharam suas palavras ao mesmo tempo. Dohan parou o que estava dizendo e duvidou do que acabara de ouvir, então ele golpeou a orelha com a mão.
—O que você disse?
—Está tudo bem. Foi apenas um deslize que você teve comigo e eu entendo perfeitamente, então você não precisa se preocupar tanto com isso, ok? Você não precisa ficar nervoso ou pensar que me deve alguma coisa. Não precisa pensar tanto nisso, nem inventar desculpas para mim.
—Ei não…
—Você tem pensado em como me explicar que foi um erro. Tem pensado em como me fazer entender desde que acordou. Está escrito em todo o seu rosto.
—Não, espere, Kang Hyewon. Isso não…
—Então eu queria te dizer para não se preocupar. Não importa o que aconteceu. Vamos esquecer isso.
As palavras que haviam subido à sua garganta há pouco desceram para o fundo de seu estômago de uma vez. Diante das frases de Hyewon, Dohan perdeu a coragem de se confessar.
—Claro. Tudo bem.
Dohan levantou-se da cadeira, erguendo a perna tão bruscamente como se fosse chutar o rosto de Hyewon. Durante todo o dia, ele havia pensado em Kang Hyewon a ponto de ser a única coisa em sua mente. Ele não queria perdê-lo, era verdade, então não queria se confessar de forma abrupta e imprudente… Mas as palavras de Hyewon o esfarelaram como um biscoito. E como Hyewon também não queria perder Dohan, ele falou de uma forma que achou que faria com que seu amigo não se sentisse tão oprimido.
Obviamente, não deu certo.
Dohan pulou da cadeira, pegou sua sacola de compras e olhou para Hyewon.
—Tenho algo para fazer. Aproveite seu café.
Hyewon levantou-se para seguir Dohan antes que ele fosse embora, mas ele não olhou para trás e, em vez disso, saiu quase correndo rapidamente do jardim.
°
°
Continua….