Pontos de sutura - Capítulo 33
Dohan estava caminhando pelo corredor do hospital, então, quando parou tão abruptamente, o corpo de café Americano gelado na caixa que segurava com as duas mãos balançou e sacudiu até formar uma pequena poça no fundo. Ele estava de muito bom humor naquele dia, então teve a ideia de deixar seu posto na sala de cirurgia e sair para comprar café para ele e seu colega de turno. Mas então, Hee-jae, que estava seguindo os passos de Dohan de perto, parou de repente quando um corpo musculoso o bloqueou.
—Ai… Professor?
—Mas o que…?
—O quê?
—O que é isso?
Hee-jae olhou ao redor ao ouvir a voz trêmula de Dohan. Kang Hyewon estava rindo, RINDO, com uma mulher de vestido branco e sapatos de salto alto.
—O quê? Kang Hyewon?
Hee-jae olhou para Dohan como se estivesse muito confuso sobre o que aparentemente deveria estar vendo.
—Não, não ele. Quem é… Essa mulher?
—Bem, eu não sei. É a primeira vez que a vejo.
—Nós tínhamos uma médica assim no nosso hospital?
Em resposta à voz de Hee-jae, Dohan perguntou novamente, especificando o que ele queria saber de seu alvo com bastante precisão. Mas a resposta que ele obteve não foi exatamente útil. — Quem sabe — disse Hee-jae. Porque assim como Dohan, era a primeira vez que ele a estava vendo dentro das instalações. No entanto, o crachá de identificação de funcionário do Hospital Universitário Deokwon estava pendurado ao redor do pescoço dela e ela vestia o mesmo jaleco curto que todos os funcionários usavam, então estava claro que ela era médica neste hospital.
Depois que Dohan ficou olhando para Hyewon e a mulher misteriosa, Kim Mihee se aproximou lentamente e sussurrou em seu ouvido:
—O nome dela é Park Eun-soo. Ela é uma estagiária que veio para o nosso hospital ontem depois de trabalhar no Departamento de Saúde Mental do Hospital Universitário Sunhwa.
—Aaaaah!
Dohan estava tão absorto com Hyewon que não pôde deixar de gritar ao sentir a respiração de Mihee direto em seu ouvido. Ela deu de ombros por um momento e continuou explicando:
—Não sei que tipo de relacionamento eles têm, mas dizem que ela e Hyewon se conheceram em um seminário uma vez e desde então são muito amigos.
Mihee falou com uma voz bastante misteriosa, como uma detetive da brigada de homicídios investigando um criminoso bastante importante. Dohan, por outro lado, ouviu a explicação até o final e olhou lentamente para a mulher que estava em pé na frente de Hyewon, com o cabelo preso em um rabo de cavalo alto e um par de meias arrastão pretas. Ela parecia muito confortável diante dele, então, muito naturalmente, enfiou as mãos nos bolsos de seu jaleco e colocou uma perna na frente da outra de maneira muito elegante. Além disso, era uma mulher com uma impressão bastante arrumada. Tão bem vestida que de alguma forma se parecia muito com Hyewon. E quanto mais ele observava Park Eun-soo, mais suas sobrancelhas escuras se erguiam até ele parecer verdadeiramente alguém completamente irritado, então, rugas apareceram em sua testa e a veia em sua cabeça saltou como se fosse explodir. A razão era que Kang Hyewon não parava de sorrir, era a primeira vez que Dohan via Hyewon sorrindo daquele jeito no corredor e também a primeira vez que percebia que ele estava conversando com uma médica no hospital! Ninguém falava com ele porque ele não conversava para começar!
O robodoc estava sorrindo e conversando com uma mulher no corredor!!!
O boato circulou durante todo o turno da noite e, na manhã seguinte, uma série de rumores haviam se espalhado de que os dois estavam namorando e até mesmo noivos – coisa comum no hospital – no entanto, ele sentia como se seu coração estivesse gelado. Mais frio do que o gelo em seu café Americano que ainda segurava na mão. Tudo isso ofuscou o pensamento de que ele era a única pessoa no mundo que podia ver o belo sorriso de Hyewon ou o único com quem ele se sentia confortável. Ele não conseguia ouvir claramente a conversa entre os dois, mas ao vê-los conversando e rindo, ficou claro que eles se davam incrivelmente bem. Incrivelmente bem até.
Em primeiro lugar, Hyewon, cuja única conversa com os outros era um “sim” ou um “não” muito ocasionalmente, estava falando com ela como se tivesse muitas coisas para contar.
Os olhos de Dohan estavam flamejando.
—Você está bem?
—So-… sobre o que Kang Hyewon está conversando? Você sabe?
—Hahaha. Como eu vou saber disso, idiota?
Era hora de começar o turno, mas com Hyewon sorrindo daquele jeito… Dohan nem conseguia encontrar motivação para isso:
—Senhor, precisamos subir agora.
Os olhos castanhos de Dohan olharam furiosamente para Hyewon uma última vez, como se estivesse disparando direto na cabeça dele. Depois disso, o entediante turno da noite começou, então Dohan, que estava completamente largado na ala porque não tinha um horário de cirurgia específico, balançava as pernas com tanta força que conseguia ouvir a cadeira em que estava começando a tremer. A expressão de Hyewon, que ele viu enquanto caminhava para o trabalho, não saía de sua mente durante todo esse tempo, então não era exagero dizer que ele estava ficando terrivelmente louco.
—Ei, relaxe.
Mihee bateu nas costas de Dohan com toda a palma de sua mão. No entanto, embora devesse ter sido bastante doloroso, o homem não parou de mover as pernas para frente e para trás como se estivesse fazendo uma dança bastante estranha e, além disso, para sua má sorte, os sintomas de ansiedade pioraram significativamente com o passar das horas, então ele estava concentrando toda sua energia ao girar uma caneta usando as pontas dos dedos. Quase como se esperasse que ela voasse. Foi como se ele tivesse testemunhado a cena de seu namorado tendo um caso com uma garota sexy do trabalho.
No final, a caneta, que ele decidiu fazer rolar em cima do caderno, caiu sobre a mesa com um estalo e rolou por baixo da porta, deixando-o sem nada para fazer.
Dohan involuntariamente se lembrou do rosto de Park Eun-soo. Droga! Ela era uma mulher muito bonita, então não era um rosto que ele pudesse esquecer facilmente. Dohan traçou sua memória até os dias em que Hyewon foi para um seminário por uma semana e até tentou lembrar o que aconteceu depois. Porque? Como Hyewon tem uma amiga que eu não conheço? Haaa. Literalmente as palavras “Dohan não sabe” e “algo sobre Hyewon” eram duas coisas que não existiam no mundo. Ou pelo menos era o que ele sempre pensou. Além disso, qual é o maldito ponto de contato entre uma psiquiatra e um cirurgião? Estavam tão separados quanto Cartoon Network e Disney!!!
Claro, para ser honesto, ele não conhecia todas as pessoas com quem Hyewon conversava no hospital, mas se entendia com Hyewon melhor do que qualquer pessoa no universo inteiro e o médico não teria coragem de rir assim para alguém que ele viu uma ou duas vezes. Deve haver algo mais entre eles. Algo íntimo!
Depois de pensar por um momento, Dohan agarrou sua cabeça com as mãos e apertou-a.
—…Eu tenho que me preocupar com isso?
A voz de Mihee podia ser ouvida de trás, mas ele não se importou nem um pouco. Agora, todos os nervos de Dohan estavam estáticos na cara sorridente de Hyewon, mais precisamente em sua risada. De repente, ele sentiu que estavam roubando o amor de sua vida na frente de seus olhos! Droga!! Maldita mulher! Por que ninguém vê o quão sério isso é realmente!?
Deus! De jeito nenhum… É com essa pessoa que ele estava pensando em ter um relacionamento sério? Porque quando Dohan falou com Hyewon no clube outro dia, ele lembrou que o homem disse que queria se casar. Ele vai se casar!?
Ele estava tão desesperado que seus pensamentos pareciam fluir a uma velocidade incontrolável. Tanto que ele chegou a um momento em que imaginou Hyewon casado com uma médica chamada Park Eun-soo e segurando um bebê em seus braços que não tinha expressão facial.
O rosto de Dohan ficou pálido.
Seus pensamentos estavam saindo do controle tão rapidamente que nem percebeu quando isso aconteceu. Ele queria correr imediatamente, agarrar Hyewon pelo colarinho e perguntar qual era a relação dele com a mulher e por que diabos estava sorrindo assim! Mas não. Não. Esses eram pensamentos muito idiotas e sem sentido. Sou seu amigo e talvez parceiro sexual muito ocasionalmente, então que direito eu tenho de questioná-lo e perguntar sobre tal coisa? Além disso, Dohan estava agindo como se tivesse sido traído.
Mas foi isso, não foi? Porque o Kang Hyewon sorridente era algo que só eu deveria ver.
E quando a coisa da qual ele estava bastante orgulhoso finalmente desapareceu, ele logo começou a se comparar com a mulher que nem mesmo conhecia. Idade, formação, personalidade, ele estava definitivamente perdendo. Park Eun-soo também era Beta e também era médica. Dohan de repente olhou para trás em sua vida e começou a lamentar por não ter estudado com mais afinco e por não ter cumprido sua promessa de se tornar um médico também. Por que eu fui tão idiota!? Por que perdi tanto tempo transando com Ômegas!? Por que não disse a ele o quanto gostava dele em todas as oportunidades que tive cara a cara?
Seus pensamentos se ramificavam em tantas direções que definitivamente parecia muito difícil controlá-los. Obviamente, ele havia pensado que um dia Hyewon poderia se casar com outra pessoa e deixá-lo de lado, mas quando percebeu que isso poderia acontecer imediatamente, então sentiu que sua vida era muito mais frágil do que imaginava e que cada um de seus alicerces começava a se desintegrar sob a terra. E mesmo que não tivesse nada garantido, era difícil pensar em qualquer coisa que não fosse ele e um futuro em que não o teria mais.
Dohan baixou a mão, que puxava seu cabelo, e a colocou contra o peito sem pensar muito. O lugar que tocou doía tanto que ele até pensou em si mesmo como alguém que acabara de perder um pedaço do coração.
Ele queria desaparecer do hospital.
Queria se tornar ar e evaporar como se nunca tivesse existido desde o início.
E, embora tentasse dizer a si mesmo que estava fazendo um drama bastante exagerado, não ajudou muito porque aquele lado racional que ele ainda tinha na cabeça havia se desfeito graças ao sorriso de Hyewon. Um sorriso que pertencia somente a ele. Era a única coisa que Dohan havia monopolizado todo esse tempo! E sim, ele se sentia como se algo precioso tivesse sido tirado dele, e odiava aquela mulher e queria chutá-la mesmo que só conhecesse seu nome. Foi como se um ladrão tivesse entrado em sua casa e antes mesmo que ele pudesse proteger Hyewon, aquela pessoa já o tivesse em seus braços e estivesse indo em direção à porta! Foi assim que ele se sentiu!
Mas então Dohan, que havia caído em seu próprio mundo, ouviu as palavras: “O doutor Kang” e se aproximou um pouco mais para a direita com toda a intenção de poder escutar a conversa. Como era de se esperar, a história sobre Hyewon e a médica estava se tornando um tópico quente entre todos os enfermeiros do bloco cirúrgico.
Parece que Park Eun-soo, que era filha de médicos, era muito popular devido à sua aparência elegante e personalidade tranquila quando trabalhava no Hospital do Sul. Ela também havia tentado entrar em medicina interna, mas, como gostava muito de crianças, optou pela psiquiatria pediátrica e conseguiu uma base sólida. E o fato de que ela gostava de crianças, tinha uma aparência elegante e uma personalidade gentil e amigável, estava lhe dando nos nervos.
Incapaz de suportar o ciúme e a curiosidade, Dohan finalmente encontrou o perfil do Facebook de Park Eun-soo e entrou.
Enquanto esperava na ala do bloco cirúrgico, ele pegou seu telefone e verificou as fotos da mulher uma após a outra, com muito cuidado para não dar “curtir”. E se havia algo de bom nisso, era que pelo menos ela não tinha tirado nenhuma foto com Hyewon. Na verdade, na tela do celular, havia apenas imagens de Park Eun-soo uma e outra vez, segurando um filhote de cachorro ou um gatinho ou um coelho, enquanto sorria como se fosse o melhor dia de sua vida. E o fato de ser uma médica que amava crianças e animais era tão digno de capa de revista que parecia quase ofuscante.
O tempo passava desesperadamente devagar quando se tinha tantos pensamentos estúpidos na cabeça, então no final, ele teve que sentar sobre suas mãos para não ligar para Hyewon imediatamente e começar a interrogá-lo sobre suas “supostas atividades de homem infiel”.
***
Quando se deu conta, percebeu que o sol já estava brilhando intensamente do lado de fora da janela. A operação a que assistia ainda estava em curso mas, por ser muito complicada e ter durado mais de 8 horas, todo o pessoal, exceto o cirurgião operador, foi substituído pelos do turno da manhã.
Para cirurgias desse tipo, que muitas vezes exigiam várias horas extras, a equipe cirúrgica era rotacionada, assim como o resto do pessoal operacional, porque, embora pudessem ser completamente profissionais e dedicados ao trabalho, ainda eram humanos e precisavam de tempo para atender às suas necessidades fisiológicas básicas. No entanto, o cirurgião principal tinha que se tornar uma máquina perfeita e, ao mesmo tempo, confiar o suficiente em seus colegas para agir como se fossem um só.
Dohan entrou no vestiário com o corpo tão cansado que acabou se deitando em um banquinho no canto. A fadiga mental era maior do que a física, e o dano psicológico que ele causou a si mesmo após uma série de pensamentos inesperados parecia ser maior do que ele imaginava. Até mesmo suas articulações começaram a sentir-se estranhas.
Dohan, ainda deitado no banquinho, olhou para seu relógio de pulso muito antes de poder levantar o braço para cobrir os olhos. Já estava na hora de Hyewon começar a trabalhar, e embora ele quisesse dar uma passada no centro cirúrgico para ver seu rosto, a imagem daquele sorriso voltou à sua mente de uma maneira terrivelmente desagradável, fazendo Dohan desistir do plano completamente. Ele estava com medo de encontrá-lo agora e que, em vez de falar como sempre, só proferisse palavras duras e expressasse um monte de pensamentos sombrios e emoções acumuladas que talvez não tivessem nada a ver. Ele não queria se tornar uma pessoa pior para Hyewon do que já era.
Dohan, deitado no banco olhando para o teto, levantou a mão e tocou o peito. Sentia um vazio terrível, estava cansado e queria ir para casa imediatamente, mas ao mesmo tempo não queria chegar lá. O apartamento vazio, onde não haveria ninguém, seria silencioso e solitário, e embora parecesse que poderia finalmente dormir após horas de insônia, definitivamente seria um problema sua mente continuar o incomodando. No passado, em um dia como este, ele teria ligado para alguém para tomar um vinho ou teria ido a um hotel para se divertir. Mas agora, a verdade era que não estava interessado nisso de jeito nenhum. Não foi apenas por causa de sua imaginação alarmista, mas, desde que começou a amar Hyewon tão fortemente, ele não conseguia se imaginar fazendo sexo com outra pessoa que não fosse aquele homem. Embora Hyewon aparentemente pudesse se divertir com outra mulher.
A porta do vestiário se abriu assim que Dohan tirou a camisa, só para começar a praguejar novamente.
—Por que está saindo tão tarde?
—Porque sim. Por que está entrando tão cedo?
—Eu tenho que ajudar em uma cirurgia.
—Ótimo.
Era Kang Hyewon. Talvez ele tivesse acordado maís tarde esta manhã porque seu cabelo escuro ainda estava úmido e grudado em seu rosto. Dohan olhou para Hyewon como se não quisesse: era um dia bastante abafado, então sua roupa estava mais leve. Além disso, quando ele tirou os óculos para colocá-los no armário, seus longos cílios pareciam mais compridos, cheios e grossos do que o normal, fazendo Dohan se sentir cócegas no peito.
—Você… saiu mais cedo do trabalho ontem?
Dohan aproveitou o momento para tocar em um assunto que o estava deixando curioso. Pensou que, como Hyewon não estava usando os óculos, talvez sua expressão mais estranha não fosse notada. Diante da pergunta de Dohan, Hye-won tirou a camisa e assentiu.
—Sim. Você me viu?
—Oh, não. Não, só… estava pensando sobre isso.
—Saí mais cedo porque combinei de encontrar alguém.
—Ah, certo. Você combinou de encontrar alguém. Já entendi.
Diante da resposta de Hyewon, Dohan fingiu estar tranquilo e respondeu como se estivesse tendo uma conversa bastante normal. Mas não conseguiu esconder sua expressão perturbada. Bem, sim, um homem adulto independente poderia ter um encontro para almoçar ou sair. Dohan não precisava saber e monitorar cada movimento de Hyewon, mas, na realidade, ele estava irritado. As suspeitas dele começaram a crescer, e o sentimento de ciúme já estava enraizado profundamente em seu peito.
—Está tudo bem?
—Por que?
—Não gosto do seu tom de voz.
Hyewon franziu o cenho e o encarou. Não era porque estava de mau humor, na verdade estava franzindo a testa, incapaz de ver sem seus óculos. Mas quando ele olhou para o rosto do amigo, mesmo nesta situação, o humor de Dohan pareceu cair ainda mais no fundo do poço. A expressão atual, com as sobrancelhas franzidas e muitas rugas entre sua testa, e o sorriso que viu ontem a caminho do trabalho, rindo com uma mulher, se sobrepuseram na mente de Dohan em um segundo.
—É porque estou cansado. Foi uma operação longa.
—Vá logo descansar.
—Eu ia fazer isso mesmo se você não tivesse falado.
Mas no final, o tom de voz de Dohan pareceu tão irritado que ele acabou mordendo o lábio. Ele tentou não mostrar isso tanto quanto possível, mas no final saiu quase organicamente demais. Hyewon colocou os óculos e olhou para Dohan porque aquela voz irritada chamou sua atenção, Mas nesse momento, Dohan abriu o armário para se cobrir com a porta e começou a trocar de roupa apenas para evitar olhar para ele. Hyewon ficou tão confuso com o comportamento de Dohan que perguntou novamente:
—Aconteceu alguma coisa?
—Não!
No final, uma resposta cheia de irritação escapou dele. Ao ouvir Dohan aumentar o tom de voz, Hyewon limpou seus óculos e olhou para ele com olhos cheios de surpresa e preocupação. Dohan covardemente escondeu seu rosto atrás da porta do armário destrancada e tentou fazê-lo sair. Até mesmo Dohan conseguiu ficar envergonhado com sua voz tão cheia de emoções. Ele se conhecia, estava ferido, decepcionado e irritado com a forma como a situação estava se desenrolando, então tudo isso foi combustível para o seu fogo.
Querendo sair rapidamente, Dohan arrancou suas meias de compressão e as jogou no armário sem dobralas primeiro. Ele bateu a porta do armário e passou direto sem olhar para o rosto de Hyewon nem uma vez.
—Estou saindo.
—Tenha cuidado.
Apesar da irritação inexplicável de Dohan, Hyewon falou como de costume e olhou para ele com olhos ainda mais preocupados do que antes.
—Im Dohan… —Diante disso, Dohan se virou para olhá-lo e Hy-won vacilou, como se tivesse algo a dizer, mas não soubesse como: —Eu comprei um sanduíche para você. Seu favorito. Está na mesa, então… Coma antes de dormir, está bem?
—…
Dohan ficou sem palavras. Quando a mão que segurava a maçaneta perdeu força, a porta do vestiário começou a se fechar e Hyewon parecia decidido a se afastar também. E assim que ficaram separados, o arrependimento e a vergonha inundaram Dohan até um ponto em que ele sentiu vontade de chorar de tão patético que havia sido. Estando sozinho no hospital, ele começou a ter todo tipo de delírios e dúvidas intermináveis, mas Hyewon estava preocupado o suficiente para comprar algo para ele comer. E por isso, o comportamento infantil de Dohan o fez desejar se esconder em um buraco do qual nunca mais pudesse sair. Como sempre, desta vez ele não se sentiu como um adulto, era como um adolescente intimidando alguém de quem gostava.
Ele desejou abrir a porta do vestiário novamente para se desculpar com Hyewon por estar tão chateado com ele, mas realmente não teve coragem de fazê-lo imediatamente, então ficou parado em frente à porta sem dizer uma palavra. Em seguida, apressou-se e se afastou quando ouviu a porta do armário se fechar novamente.
Assim que Dohan chegou em casa, se dirigiu à cozinha. Sobre a mesa, em uma tigela de vidro, havia um sanduíche enorme, cortado em fatias e com pequenos palitos em cima. Hyewon, que sempre tinha o cabelo completamente seco e arrumado, saiu para trabalhar com a cabeça molhada porque provavelmente havia perdido tempo comprando o sanduíche. A sensação, que já havia acalmado bastante, melhorou ainda mais até deixar de existir.
Dohan se sentou sozinho à mesa e deu uma mordida no sanduíche que Hyewon havia deixado. Tinha presunto, queijo, ovos e alface, mas de alguma forma tinha um gosto bastante doce e saboroso. Ele sorriu.
—Você me faz sentir ainda pior, seu idiota.
Dohan murmurou para si mesmo. Era um café da manhã em uma casa vazia, mas ele não se sentia sozinho de forma alguma.
Mas depois de devorar o sanduíche que Hyewon havia deixado, Dohan, que ia tomar banho depois de lavar a louça, parou quando viu a lixeira da cozinha. Foi porque havia um pacote descartável de comida de uma cafeteria muito popular de onde o sanduíche havia vindo. Mas depois de hesitar por um momento, um piscar de olhos, Dohan finalmente olhou para dentro da lixeira como se algo tivesse caído lá dentro. Havia três pedaços de plástico de embalagem de pão. Um para Kang Hyewon, um para ele e outro provavelmente para sua “amiguinha”.
—Ah, cretino, infiel. Você pensou que poderia me enganar…
Embora na realidade ele fosse um péssimo detetive. Se um único fio de cabelo longo estivesse na lixeira, ele teria criado um filme em sua mente que terminaria com os dois se beijando em casa e fazendo sexo em cima da mesa.
E Dohan, sentindo que um único pedaço de lixo plástico não era evidência suficiente para começar a se preocupar, olhou para a lata de lixo, embora sua cabeça estivesse dizendo: “Que porra você está prestes a fazer, seu maluco!?”
Ele colocou a mão.
Revirando a lixeira e desconfiando totalmente de Hyewon, ele parecia começar a escrever um romance inteiro de mistério em sua cabeça que terminava em tragédia. Ele até achou que parecia muito… Muito psicopata.
Sempre fingiu ser o homem mais legal do mundo inteiro. Costumava ficar irritado com os ômegas que ficavam grudados nele depois do sexo, dizendo-lhes que essa atitude só os tornava menos atraentes. Mas agora a situação se inverteu.
—Serio, porra! Por que você é assim? Acalme-se!
Dohan ergueu a mão e deu alguns tapas na bochecha. Ficou claro que ele havia enlouquecido, mesmo que dissesse que isso era justificado. Era uma paranoia que o estava dominando, uma doença mental. Dohan tentou apagar o rosto de Hyewon, que vinha à mente o tempo todo, e respirou como se estivesse tentando praticar ioga.
—Já chega. Não é nada. Ele trouxe um sanduíche para você e depois… Ele omeu dois porque estava com muita fome. Aha, é isso. Problema resolvido.
Mas mesmo que ele dissesse isso, sua mente não estava se organizando facilmente. Muito menos se acalmando. Depois de olhar para a lixeira durante muito tempo, sem dizer uma palavra, Dohan a chutou e entrou em seu quarto enquanto xingava todas as pessoas em que podia pensar em tão pouco tempo. Ele tomou banho e finalmente foi para a cama, mas não conseguiu dormir de jeito nenhum! Só conseguia ver o rosto sorridente de Hyewon rondando constantemente em sua cabeça. O rosto daquela mulher, o sanduíche e sua mãe dizendo que ele havia perdido o juízo e que não era assim que o havia criado.
Dohan deu voltas e mais voltas, mas a miséria e o arrependimento que o haviam pressionado todo esse tempo finalmente o alcançaram.
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{Fim do volume 2}
Continua no volume 03