Pontos de sutura - Capítulo 35

Depois do jantar, às 20h em ponto, Hyewon e Eun-soo caminharam tranquilamente em frente ao hospital com as mãos enfiadas nos seus respectivos casacos. Durante toda a refeição, a expressão de Hyewon não era exatamente normal, então Eun-soo fez muitas perguntas curiosas e até mesmo pediu para que lhe dissesse o que estava errado para que ela pudesse ajudá-lo. Mas ele não abriu a boca nem uma única vez.

—Vamos lá, me diga, algo de errado aconteceu, meu bem?

—…

Os olhos de Eun-soo ficaram em branco diante da indiferença de Hyewon. Para ela, como psiquiatra, o cara era um paciente incrivelmente difícil. Um rapaz ferido que buscava companhia, estabelecia um pequeno relacionamento com alguém e então fugia assim que percebia que as coisas estavam tomando o rumo errado. E Eun-soo, curiosa para saber o que tinha acontecido com Hyewon, para fazê-lo ficar de boca fechada por tanto tempo, segurou suas mãos e tentou levá-lo a um lugar tranquilo na esperança de que ele se sentisse confortável o suficiente para abrir o jogo. Mas no momento em que Eun-soo assumiu sua posição de “amiga fofoqueira” e se preparou para abordá-lo, Hyewon abriu a boca e olhou para longe.

—Entre primeiro, okay?

—Por quê?

Com a cabeça na direção do local onde seu olhar parou, Eun-soo então viu Dohan, caminhando com a cabeça baixa e as mãos apertadas como se não pudesse suportar um colapso nervoso que o estava atingindo.

Ao ver Hyewon, que não conseguia tirar os olhos dele nem por um momento, Eun-soo sorriu, disse para ele ter cuidado e recuou sem dizer uma única palavra sobre o que acabara de ver. Mas enquanto fingia voltar para o hospital, como uma boa médica, Eun-soo se virou novamente e observou os dois meio escondidos em alguns arbustos não podados. Na verdade, sempre achou bastante divertido observar a história de amor de outras pessoas. Algo romântico e mega, MEGA fofo.

Eun-soo ficou de pé de forma oblíqua na porta principal, agora ao lado de um lixeiro, e observou atentamente Hyewon e Dohan.

—… O que está fazendo aqui, doutora?

—Ah, eu… Eu estou… Estou apenas dando uma olhada.

—Atrás do lixo?

—Algo assim.

O comportamento de Eun-soo foi questionado por Mi-hee, a intrometida melhor amiga de Dohan, que não conseguia simplesmente ignorar a doutora quando ela já era bastante famosa por ter algo com Kang Hyewon recentemente. Mi-hee, que notou Dohan se aproximando de Hyewon de longe, tropeçando como um zumbi, acenou com a mão para chamá-lo, nesse momento em que Eun-soo a abordou e puxou-a para trás da lata de lixo.

—O que deu em você!?

—Estou espionando os dois, sua boba!

—O quê…?

—Kang Hyewon e Im Dohan. Preciso ver o que eles estão fazendo, entendeu?

—O que há de interessante em ver o que esses dois estão fazendo?

Eun-soo sussurrou secretamente palavras que não tinham nenhum significado, então, mesmo que Mi-hee não estivesse entendendo nada, ela também baixou a voz e olhou alternadamente para os dois homens. Hyewon ficou em pé na frente de Dohan, que ainda estava caminhando desajeitadamente, e perguntou algo que ela não conseguia ouvir claramente enquanto Dohan balançava a cabeça. A aparência dos dois era completamente estranha, mas ela pensou que era porque eles tinham estado de plantão por quase uma semana.

—O que você quer ver?

—Meu Deus. Eu quero bisbilhotar o relacionamento deles, tudo bem? Assim como todos vocês na porra do hospital.

—Não estou entendendo…

Mihee inclinou o rosto e depois a olhou como se tivesse ouvido algo que não precisava ter ouvido em primeiro lugar. Então, com uma expressão de incrédula surpresa, ela voltou a olhar para Dohan e Hyewon e disse:

—Eles… Haha, não é nada disso. Eles são apenas melhores amigos.

—Bem… basicamente, um amigo se torna um namorado com o tempo.

—Im Dohan é um Alfa.

—E o que isso tem a ver? Você está dizendo que um Alfa só pode amar um Ômega ou algo assim? Acho que seus pensamentos estão um pouco… sem ofensas, você sabe. Bem antiquados.

Diante das palavras de Eun-soo, Mi-hee fechou a boca completamente. Agora que ela pensou sobre isso, não conseguia imaginar uma razão válida para não acreditar que eles estivessem juntos. De fato, nem todos os Alfas que ela conhecia tinham um namorado ou namorada Ômega e, como Eun-soo disse, a maioria das pessoas conhecia seus parceiros primeiro como amigos.

—É uma história tão clichê, mas, para amar alguém, você precisa de condições específicas? Precisa ser Alfa ou Ômega, homem ou mulher, seu amigo ou colega de trabalho? Se você gosta, você gosta. E eu pensei que pelo menos você poderia compartilhar o mesmo pensamento que eu.

Mi-hee mais uma vez capturou Hyewon e Dohan com seus olhos. E a verdade era que, depois de ouvir as palavras de Eun-soo, a atmosfera entre os dois parecia… incomum. Oh, Deus! Por que eu não percebi antes? Na verdade, ela percebeu, mas sua visão estava obscurecida pelas declarações habituais de Dohan e seu comportamento negligente nos clubes. Quando estava na faculdade, ou até antes disso, eles eram tão próximos quanto dois chicletes. Dohan confortava Hyewon quando os resultados da cirurgia não eram bons, trazia comida, casacos, roupas e doces para ele, e sabia que Hyewon se esforçava muito para arrumar tempo para visitá-lo. Embora Mi-hee tivesse visto isso inúmeras vezes, ela pensou que era apenas algo típico deles. Era porque Dohan sempre foi o alfa perfeito sobre o qual todos falavam? Ou porque ela pensava que ele nunca namoraria um Beta? Acima de tudo, ela se sentia estúpida porque o jeito que Hyewon estava olhando para Dohan agora, e o jeito que ele estava olhando para Hyewon, OBVIAMENTE não era amizade.

Mi-hee quase riu, mas foi por nervosismo.

—Que estranho. Sério.

—Então, já que você está aqui comigo, posso te pedir uma coisa? Você poderia ter uma conversa com ele? Eu entendo que ele é seu melhor amigo e Hyewon é o meu, então… Com certeza nós duas queremos o melhor para eles, não é? Por favor…

Diante das palavras de Eun-soo, Mihee olhou para Dohan, depois para ela, e assentiu silenciosamente com a cabeça.

—Vou fazer o possível…

***

Hyewon interrompeu o caminho de Dohan e o chamou pelo nome. No entanto, com uma expressão realmente cansada no rosto, Dohan se afastou sem olhar para Hyewon e disse que “estava com pressa”.

 Mas diante da atitude do homem, de ignorá-lo e fugir, Hyewon arqueou levemente as sobrancelhas e o segurou pelo braço, dizendo:— Espere!

—Por quê?

Dohan, que foi pego por Hyewon, estava irritado. Ele não tinha conseguido dormir por vários dias, então sua mente estava incrivelmente bagunçada agora. Ele pensou que estava um pouco mais calmo e até pensou que estava bem o suficiente para ir trabalhar, mas de longe viu Kang Hyewon caminhando na frente do hospital com alguém. E pra variar que esse alguém era Park Eun-soo. Então, todos os tipos de emoções sujas, as quais ele tinha lutado para tirar de sua mente, cresceram lentamente até se tornarem insuportáveis.

Ele foi arrastado pela atmosfera, estava irritado e não queria estragar o momento agradável entre os dois só porque havia algo dentro dele prestes a explodir. Embora ir trabalhar fosse difícil por si só, ele não queria começar o dia com um peso no coração por ter que enfrentar Hyewon antes do turno. No entanto, Dohan já estava sendo arrastado para outro lugar.

Dohan levantou a cabeça e olhou por cima do ombro de Hyewon: Mi-hee e Park Eun-soo, com expressões idiotas, estavam paradas a certa distância fingindo que o lixeiro poderia escondê-las. E quando o olhar de Dohan ficou mais intenso, então Hyewon também o seguiu e começou a olhar para trás. Lá, Eun-soo, que o observava do seu lugar, parecia ter um brilho um tanto assustador nas pupilas. Eles fizeram contato visual, ela se assustou, deu de ombros, sorriu brilhantemente e mostrou um sinal de coração com os dedos. Era mais ou menos era para ser um gesto encorajador, mas para Dohan, que estava construindo uma torre de incompreensão em sua cabeça, isso parecia ter um significado diferente.

—Perfeito, estou indo embora.

—Dohan-ah, espere. Por favor, espere. Só quero que você converse um pouco comigo.

—Sobre o que?

—Porque você está agindo assim de repente?

Ele reclamou.

—Estou cansado agora, então vamos conversar mais tarde.

—Não, preciso fazer isso agora.

Quando Dohan se livrou da mão de Hyewon e tentou caminhar, Hyewon o deteve mais uma vez. Dohan franziu a testa diante do comportamento de Hyewon, que nunca havia agido assim antes, e olhou diretamente para o rosto dele. Se sua expressão estava tão séria e desesperada agora, deveria ser por uma boa razão, mas, de alguma forma, ele sentiu que não poderia suportar, mesmo que fosse. Dohan realmente queria chorar. Queria perguntar: “O que você está fazendo com aquela mulher? Vocês estão saindo?” E enquanto fazia isso queria apenas sorrir. Mas realmente não poderia fazer tal coisa, mesmo que quisesse muito. Então enquanto Dohan permanecia em silêncio, Hyewon perguntou sobre algo que tinha ocupado sua mente o dia inteiro:

—Im Do-han, você está se sentindo mal? Está doente?

—O quê?

Dohan arregalou os olhos com a pergunta inesperada e olhou para Hyewon.  A expressão do homem, pedindo uma resposta, foi completamente decisiva. Certamente isso tinha estado incomodando Hyewon o dia inteiro até que finalmente ele o soltou.

Tudo começou com a enfermeira do ambulatório. Ela, que estava rondando o hospital durante o horário de almoço, perguntou a Hyewon se Dohan estava doente e acrescentou que, um tempo atrás, quando se encontraram de manhã, ele parecia cansado e um pouco magro. Ele respondeu que não sabia, então ela disse que viu Dohan sentado com uma expressão séria no centro de oncologia do hospital geral, onde ela havia passado rapidamente para pegar alguns documentos que precisava. Ele estava sentado lá por algum motivo, mas tinha uma receita médica na mão e um rosto abatido que parecia o de alguém com um problema muito sério.

Depois de ouvir essas palavras, Hyewon foi tomado pela ansiedade e ficou tão preocupado com ele que ligou para Dohan mais de dez vezes, mas ele nunca respondeu. De repente, lembrou de Dohan, que parecia particularmente cansado e sensível nos últimos dias, e sua figura, que parecia a de alguém particularmente fraco. Mesmo enquanto tentava aliviar suas preocupações sobre a possibilidade de Dohan ter gastrite novamente, a palavra “centro de *oncologia (câncer)” que a enfermeira disse ainda o incomodava tanto que o 

Dohan piscou várias vezes diante da explicação repentina de Hyewon e então revirou os olhos ao ouvir a história que haviam criado. Perfeito, agora eu tenho câncer! É normal os funcionários de um hospital serem tão fofoqueiros? Felizmente, o lugar onde ele foi encontrado não estava na frente do departamento de ginecologia, porque o boato de uma gravidez teria sido mais assustador.

—Eu não estou doente, tudo bem?

—Então o que é isso que você tem no bolso?

—O meu Deus, que isso importa para você!?

Dohan empurrou a mão de Hyewon que havia escorregado para o bolso do jaleco dele, mas ele já tinha a sacola de antidepressivos e uma receita que falava sobre o “vínculo imaginário” e os sinais médicos de um “destinado”. Dohan puxou como se quisesse arrancar os dedos dele.

—Dohan!

De repente, o braço, que estava sendo puxado à força para longe dele, saiu do bolso de tal maneira que até um envelope branco, cheio de remédios, voou direto para o chão. Dohan reclamou, rapidamente pegou as cápsulas que caíram e as guardou antes que Hyewon pudesse ver o que eram. É claro que isso só fez Hyewon ficar ainda mais assustado. Isso e o que a enfermeira do ambulatório disse, todas as circunstâncias coincidiram e fizeram com que os sentimentos de Hyewon fossem intensos.

Hyewon fez um barulho alto quando segurou o braço de Dohan, que constantemente tentava evitá-lo.

—Já chega, droga! Dohan, não fuja e diga corretamente! O que está acontecendo?

—Me solta…

—O que está acontecendo com você!

—Não há nada de errado comigo! Deixe-me em paz!

A forma apaixonada de ser de Hyewon, que Dohan nunca tinha visto pessoalmente, o deixou incrivelmente nervoso.

Dohan continuou se movendo de um lado para o outro e, como esperado, Hyewon parecia sentir uma grande decepção e um terrível raiva pela tentativa de Dohan de escapar e evitar sua pergunta. Então Hyewon o jogou contra a parede e bateu no quadro de avisos que estava perto de seu rosto, gritando como se não pudesse mais suportar:

—Im Dohan, que porra!!

Dohan ficou surpreso com essa reação. No passado, eles frequentemente brigavam e gritavam, mas Hyewon nunca tinha expressado tanto seus sentimentos como estava fazendo agora. Dohan ficou extremamente chocado com o forte barulho de Hyewon, e Hyewon também ficou tão surpreso que parecia pensar que o melhor era fechar a boca. O som foi tão horrível que até mesmo os transeuntes pararam de andar e olharam para os dois por um momento antes de começarem a sussurrar coisas que provavelmente eram mentira. Mas Dohan não sabia o que dizer. As pontas das sobrancelhas se ergueram e as rugas se aprofundaram em sua testa a um nível que o fez parecer, não com raiva, mas um pouco frustrado. Dohan, que enfrentou Hyewon, franziu a testa ao mesmo tempo.

—Eu… Já disse que não é nada disso.

—Então não fuja e fale comigo.

—Por que eu tenho que fazer isso?

O que ele tinha que dizer? “Se não fosse por você, eu não estaria sofrendo” “Se não fosse por você, se não fosse porque estou apaixonado por você, eu saberia o que fazer e saberia o que te dizer.” De jeito nenhum. Além disso, não queria falar com o cara que estava passeando casualmente com aquela mulher em frente ao hospital. Eles não estavam em um parque, ou em um café, eles estavam NA FRENTE DA PORTA DA PORRA DO HOSPITAL. Para os protagonistas dos boatos no trabalho, sobre os quais tanto se falava há muito tempo, andar lado a lado era como anunciar que estavam prestes a se casar.

—Dohan… — Hyewon, sem ter uma explicação, pronunciou seu nome baixinho: —Esqueça tudo o resto, não importa. Você é meu melhor amigo… E eu nem posso te fazer uma pergunta como essa?

Foi Dohan quem fechou a boca dessa vez. O problema era que chamá-lo de “amigo” não o acalmou em nada. Embora eles fizessem as refeições em casa juntos, a relação de Hyewon e Dohan era definida como amigos. Claro, não havia nada de errado com isso, mas Dohan de repente ficou irritado com isso porque, para começar, Hyewon o pegou em um momento em que ele estava muito vulnerável. Estava tão irritado que a raiva e o ressentimento se misturaram e Dohan simplesmente deu um empurrão nele para que o deixasse em paz.

—Se você tem tempo para se preocupar comigo, é melhor usar esses minutos para se preocupar com seus assuntos amorosos.

—Que assuntos amorosos?

—Ah, por favor. Já estão circulando rumores no hospital de que você está em um relacionamento com Park Eun-soo.

—O que?

Dohan ergueu o rosto na direção dele. Ele deveria mostrar-lhe um sorriso, mas os cantos torcidos e levantados de seus lábios tremiam e suas sobrancelhas ainda estavam fortemente enrugadas e juntas. No entanto, Hyewon falou como se fosse a primeira vez que ouvia algo assim.

—Não é isso. Eu e Euni… Isso são apenas rumores.

—Ah, entendi. Euni… Sim, certo. Você chama a Park Eun-soo de Euni, mas tudo muito casual, não é?

Dohan cuspiu palavras que não faziam sentido nem para ele.

—… Park Eun-soo e eu somos apenas… —Não querendo criar um mal-entendido com Dohan, Hyewon se apressou em explicar o que estava acontecendo. —Park Eun-soo e eu somos apenas amigos.

—Amigos.

— Sim amigos.

—Desde quando? Até onde eu sei, você não tinha uma amiga assim

Dohan estava de pé, com os braços cruzados. Até pouco tempo atrás, Hyewon parecia estar muito irritado, mas desta vez, pelo contrário, Dohan parecia ser o que tinha os olhos ardentes.

Hyewon mordeu o lábio inferior porque não havia uma resposta fácil para a pergunta dele. Para explicar sua relação com Eun-soo, ele teria que falar também sobre os anos em que esteve internado. Foi um momento em que ele abusou de si mesmo para se tornar um omega que correspondesse a ele. Como poderia explicar isso para Dohan? Dohan olhou para Hyewon como se estivesse esperando por sua resposta.

—… Conheci Park Eun-soo antes de abandonar a escola e… Durante todo o tempo do ensino médio.

—Como?

Dohan tentou fingir estar tranquilo, mas seu estômago estava fervendo. Em outras palavras, Hyewon disse que Park Eun-Soo sabia sobre um tempo que nem ele conhecia, mais precisamente sobre os três anos que Hyewon não contou para ele. Esse simples fato fez Dohan sentir que tinha perdido completamente para ela.

—Isso é…

Ele poderia simplesmente ter mentindo. Mas Dohan e Hyewon não poderiam fazer isso um com o outro, então ele ficou sem palavras e completamente preso. Dohan esperou muito tempo para que ele continuasse, mas não houve resposta. Quando Hyewon finalmente fechou os lábios, Dohan desviou o olhar e olhou para o corredor.

—Eu vou devolver o que você disse. Você é meu melhor amigo, mas nós nem podemos falar sobre isso?

Dohan repetiu exatamente o que Hyewon tinha dito.

—Dohan-ah.

—Já chega, só deixe por isso mesmo.

—Dohan, não é o que você está pensando. É só que…

—Um mal-entendido ou o que quer que seja, o que eu tenho a ver com o seu relacionamento de qualquer forma? Fico feliz que você tenha encontrado a pessoa certa de quem tanto falava. Meus parabéns.— Mas Dohan ficou ainda mais irritado ao ver Hyewon, que inclinava a cabeça sem responder nem mesmo às suas palavras mais afiadas. —E sabe de uma coisa? Estou cansado disso. Não quero nada com você além de… apenas sermos amigos. Não deveríamos ter feito sexo em primeiro lugar.

Ele sabia que algum diairia surtar, mas não que seria tão terrivelmente miserável no trabalho. Dohan olhou para Hyewon, de pé diante dele, com a cabeça baixa, e depois observou o corredor. Ele disse:

—Tenho que ir trabalhar. —Mas Hyewon segurou o braço de Dohan antes que ele se virasse.—Hyewon, tenho que ir para o meu turno.

A mão fria que segurava seu pulso parecia tremer um pouco.

—Me solte.

E de qualquer maneira, ele disse o contrário do que seu coração queria.

—Certo…

Ele olhou para Hyewon pela última vez. Sua cabeça, que tinha estado inclinada para baixo, como a de um morto, se levantou lentamente… E então o rosto sombrio de seu melhor amigo foi revelado. Claro, Dohan parecia ter parado de respirar novamente pelo que encontrou: os olhos de Hyewon, que sempre foram indiferentes, estavam cheios de tantas lágrimas que ele não conseguia segurá-las, e por isso estavam escorrendo por suas bochechas até caírem em seu jaleco. E ao olhar para esses olhos lamentáveis, ele se arrependeu no mesmo instante de todas as palavras que disse contra Hyewon. Foi como se todas aquelas emoções que surgiram em sua cabeça voassem de volta para Dohan como uma flecha flamejante.

Ele queria sair daquele lugar agora mesmo. Queria fugir. Se olhasse para Hyewon por mais um minuto, parecia que diria qualquer coisa que quisesse dizer e, no final, ele seria quem acabaria chorando.

—Eu… só estava preocupado… Você está realmente bem?

Diante da pergunta de Hyewon, Dohan afastou a mão dele e deu alguns passos para trás. Mas quando a mão de Dohan foi afastada à força da dele, a de Hyewon caiu ao lado do corpo dele como se toda a sua energia tivesse sido drenada. Ele não o segurou mais, nem o chamou, apenas o olhou com um monte de lágrimas nos cantos dos olhos antes de se virar e entrar no hospital.

Dohan, que foi pelo outro lado, caminhou rapidamente pelo corredor, cobrindo o rosto com as duas mãos para evitar que alguém mais pudesse ver a expressão que estava fazendo. No meio do caminho, Kim Mi-hee e Park Eun-soo o encontraram e o cumprimentaram, mas Dohan as ignorou e passou direto. Kim Mi-hee era inocente, mas Park Eun-soo…

Ele não queria ver nem a sombra de Park Eun-soo.

Afinal, um homem ciumento era desagradável, tão patético e miserável que ele só pensou que desejava se esconder em algum lugar pelo resto da vida.

Dohan foi direto para o banheiro. Seu reflexo no espelho era verdadeiramente patético e, como Hyewon, as lágrimas começaram a brotar por causa do que ele tinha feito há um minuto, então ele abriu a torneira da pia e se inclinou completamente contra ela para lavar o rosto.

—Ah, ah…

Dohan nem mesmo tinha o direito de chorar porque foi culpa dele. Sempre era culpa dele, pelo menos as coisas ruins. A expressão desolada de Hyewon brilhava diante de seus olhos e a verdade era que, quanto mais ele lembrava, mais seu peito afundava até um ponto em que sentia como se não pudesse nem respirar. Ele tinha feito algo patético. Algo estúpido! Para sair da situação, ele tornou o problema ainda maior. Ele nem mesmo era uma criança, mas não conseguia superar seus sentimentos e tudo acabou em uma explosão de raiva. Ele não pretendia chegar a isso porque Dohan acreditou nas palavras de Hyewon de que “não eram nada”. Quer dizer, Hyewon nunca foi alguém que mentiria para Dohan, então ele pensou que era verdade que eles eram apenas amigos. No entanto, independentemente de sua crença, sua cabeça ficou louca porque Hyewon decidiu chamar Park Eun-soo de “Euni”. Não era uma piada, foi bem sério. Hyewon realmente era indiferente com todos no hospital. Até mesmo com Mi-hee, a quem ele conhecia há muito tempo. Como prova disso, Mi-hee ainda chamava Hyewon de doutor Kang e ele a chamava pelo sobrenome. Os sentimentos de Dohan se complicaram muito quando ele a chamou assim, com tanto carinho. Além disso, estava terrivelmente ressentido porque havia um segredo entre os dois que ele não conhecia.

A tristeza, a raiva e a obsessão se misturaram, e Dohan se viu em várias emoções complicadas ao mesmo tempo. Era como uma boia balançando, apoiada em uma única corda em meio ao mar turbulento. Parecia que seu peito estava sendo rasgado tanto e tanto que até era doloroso continuar.

Dohan colocou a mão sobre o peito e curvou as costas. A notificação do início de seu turno continuava tocando em seu bolso, mas Dohan apenas segurou o estômago, se agachou no chão do banheiro e ficou lá por muito tempo sem se levantar. Se ele tivesse coragem, teria saído correndo dali para abraçar Hyewon enquanto dizia o quanto sentia, que estava apaixonado, e que agiu assim porque estava com ciúmes. Mas ele não tinha a coragem nescessária para fazer isso. Dohan se odiava por fugir como um covarde toda vez e se odiava por não ser honesto. Ele tinha medo de perder Hyewon, mas mesmo assim deixou escapar um monte de palavras que o machucaram.

O que diabos eu estava pensando quando disse todas essas coisas!?

Quando a confusão diminuiu por um momento, ele foi inundado de culpa e arrependimentos intermináveis, seus pulmões se encheram de tanta dor que foi como se estivesse se afogando no ar. E se Hyewon, cansado de suas palavras duras, traçasse uma linha dizendo que no final nem mesmo valia a pena serem amigos? Não. Hyewon não poderia fazer isso, certo? Mas não havia garantia de que ele gostasse tanto assim de Dohan para aceitar, mesmo agora que tinha sido tão cruel com ele. Foi então que Dohan de repente se assustou de verdade.

Foi quando ele percebeu que realmente queria muito chorar.

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Continua…