Pontos de sutura - Capítulo 36
—Dohan….
Depois do almoço, Kim Mi-hee decidiu falar com Dohan, que estava parado em um canto como se fosse uma espécie de pedra solitária na estrada. E como sua mente e coração estavam terrivelmente complicados, ele não ouviu seu chamado nem pensou em abrir a boca uma única vez. Dohan apenas encostou-se na parede, suspirou e levantou-se fracamente. Assim como um zumbi faminto faria. Mi-hee se aproximou dele.
—Ei, Dohan.
Mi-hee cutucou Dohan com o cotovelo. Mas mesmo, diante do gesto de Mi-hee, Dohan apenas a olhou uma vez para ela e depois desviou o olhar novamente. Ela suspirou e cutucou o lado dele mais uma vez em resposta à reação tão irritável de Dohan, mas quando sentiu dor, ele respondeu apenas com relutância:
—Você pode me deixar em paz?
Era uma voz cheia de aborrecimento.
—Não!
—Ótimo, então vou embora. Está feliz?
—Isso é por causa do doutor Kang?
—O quê? Você também vai me falar sobre ele e Park Eun-soo? Olha eu realmente não tenho tempo para isso, então…
—Não, não é isso.
Assim que Mi-hee mencionou o nome de Hyewon, ele reagiu como se estivesse sendo atacado. Era quase como um reflexo automático.
Mi-hee, que tinha se encolhido por um momento diante da reação um pouco nervosa de Dohan, balançou a cabeça e continuou.
—Eu não ia falar sobre isso.
Normalmente ela teria dito algo como: “Por que isso te incomoda tanto?” Mas hoje, Mi-hee também parecia um pouco perdida. Ela pareceu hesitar por um momento sobre o que dizer e depois, minutos depois, continuou com a ideia que originalmente tinha em mente.
—Só queria saber o que você pensa do Dr. Kang.
—Ah, o que eu penso? Nesse momento? Bem, que ele é um idiota ignorante, cego, infiel, um imbecil, um canalha que só chora para me chantagear. E ele consegue, aliás.
Mi-hee olhou para ele perplexa quando uma resposta diferente do que ela esperava saiu de sua boca. No caminho para o trabalho, ela teve uma conversa bastante estranha com Eun-soo, então foi até ele e perguntou o que Dohan pensava sobre o homem. Claro, ela imaginou que ele pelo menos diria que era um bom amigo ou seu colega de sala de cirurgia. Mas, como se houvesse um pequeno rancor contra Hyewon, Dohan apenas rangeu os dentes e cuspiu um monte de palavras muito feias. Claro, feias para ela porque nunca o ouvira falar assim antes.
—Bem, e você, meu amigo? Você não age de forma um pouco ignorante e idiota às vezes também? Pense seriamente. Não responda.
Mi-hee, que ouviu atentamente as palavras de Dohan, respondeu com a testa franzida. Mi-hee estava certa. Na verdade, Dohan não estava em posição de julgar Hyewon porque estava agindo da mesma maldita maneira idiota. Ele suspirou.
—De qualquer forma, a partir de hoje não sou mais amigo dele, então não pergunte sobre ele.
—Ah, por isso. Vocês dois brigaram?
—…
—Caramba, nem os alunos do primário não brigam assim ultimamente. Que infantil, é sério. Tinham que agir como adultos.
Dohan bufou diante das palavras de Mi-hee, mas na realidade também estava muito consciente de como era infantil. Terrivelmente infantil, na verdade. Ele interpretou mal, estava com ciúmes e ressentido de alguém que era completamente estranha para ele. Além disso, ficou chateado com Hyewon porque ele não contou a história com a qual conheceu sua suposta amiguinha. E o pior era que, embora ele soubesse que suas ações eram semelhantes às de seus primos de 10 anos, ainda achava que não podia fazer nada para remediar isso. No início, todo amor era infantil!
Além disso, ainda doíam em seu peito aqueles três anos de seu desaparecimento. Ele não perguntou no começo, mas quando perguntou, disse que “estava doente”. Assim, sem contexto. O que ele realmente tinha? Quem sabe? Porque Hyewon nunca contou corretamente a Dohan sobre o que aconteceu naquele tempo. Como se não quisesse que ele soubesse ou isso o envergonhasse.
O Hyewon, que hesitava em responder, continuou vindo à sua mente todo esse tempo, assim como foi com o Hyewon que sorriu para Eun-soo e o Hyewon que chamou Euni. E cada vez que essas imagens surgiam em sua mente, um arranhão muito mais profundo do que o anterior aparecia em seu coração. Porque mesmo que não pudesse responder à pergunta, os padrões que estabeleceu para seu relacionamento eram muito rigorosos. Em primeiro lugar, Hyewon tinha que ser INCRIVELMENTE honesto com ele. E ele não era.
—Bem, você sempre foi assim de qualquer maneira. Talvez tenha sido minha culpa por pensar demais.
Enquanto Dohan estava imerso em pensamentos relacionados a Hyewon, Mi-hee tamborilou os dedos na mesa e se levantou como se já tivesse tirado suas próprias conclusões. Como esperado, as palavras de Park Eun-soo eram apenas uma hipótese sem sentido, então Mi-hee balançou a cabeça, disse que ele era “patético”, mesmo que ele fosse seu melhor amigo, e se afastou dele.
***
Dohan evitou Hyewon, e Hyewon também evitou Dohan.
Em vez de fazer isso sob o pretexto de estarem ocupados com o trabalho, assim como antes, ambos eram abertamente honestos sobre o desejo de não se verem mais e relutantes em se encontrarem até mesmo no hospital. A exceção era, é claro, quando estavam juntos na sala de operações ou em alguma reunião de pessoal. E de qualquer forma, mesmo que não houvesse cirurgias urgentes ou pacientes precisando de atenção cuidadosa, Dohan percebeu que Hyewon nunca mais voltou para casa. Como nos seus dias de residente, ele estava vivendo no hospital, dormindo na sala dos médicos e comendo na cafeteria.
Dia após dia, Dohan esperou que Hyewon voltasse para casa, exausto e dizendo “vamos conversar sobre o que aconteceu”. Mas no final, ele não voltou nem brincando. Obviamente estavam trabalhando no mesmo lugar, então se ele queria saber sobre o homem, poderia simplesmente descobrir tudo o que quisesse ao dar uma olhada em seu local de trabalho. Mas ele não tinha coragem suficiente para fazer isso.
Uma semana.
Duas semanas.
Era evidente que Hyewon o estava evitando intencionalmente. Afinal, ele mesmo disse que não queria que voltassem a se encontrar novamente, então o que ele estava fazendo agora era um movimento completamente normal. No entanto, do outro lado de sua mente, sempre estava a expectativa de que Hyewon voltaria para ele e para casa. Ele ainda imaginava que abriria a porta normalmente, como se nada tivesse acontecido, e o cumprimentaria como todos os dias. Mas ao ver que não era assim, Dohan começou a pensar em como superar essa situação que ele mesmo havia criado em primeiro lugar. Também era como se estivesse dando razão àquele ditado de que a pessoa que se apaixona primeiro sempre perde.
Ele poderia dizer que fez de tudo para compreender e aceitar Hyewon enquanto se consolava com pensamentos como esses.
Mas ao contrário dos esforços de Dohan para não fugir, desta vez foi Hyewon quem estava evitando o encontro. Ele o esperou em casa após dar aquele “período de descanso pós-briga”, mas mesmo assim o médico não retornou nem uma vez. E mesmo depois de encontrá-lo no hospital, Hyewon sempre tinha algo na manga para evitar confrontá-lo. Ao ver essa situação, Dohan, que sempre estava prestes a se desculpar, começou a perceber que realmente tinha um problema sério em suas mãos.
Já não era mais algo tão simples.
—Oi!
A caminho do trabalho, ele então ouviu a voz daquela mesma mulher que sempre o fazia tentar conter toda a sua raiva e ao mesmo tempo, tinha vontade de bater a cabeça contra o armário. E quando se virou, ele então se deparou com Park Eun-soo realmente de pé, com seu jaleco, saia e um café na mão. Dohan, que estava observando-a de longe nos últimos dias, descobriu que Eun-soo sempre estava dando voltas pelo hospital. Tanto que ele achou que a mulher definitivamente tinha mais energia do que Mi-hee. Pouco depois de chegar ao Hospital Deokwon, ela estava indo para cá e para lá e logo conseguiu se dar bem com cada uma das enfermeiras do local. No entanto, Dohan, que estava ressentido a um nível em que odiava profundamente Park Eun-soo após a briga que teve com Hyewon, nunca conseguiu falar direito com ela ou pelo menos concordar em estar no mesmo espaço.
No entanto, pode-se dizer que ele tinha conseguido controlar seus próprios sentimentos até um ponto em que não parecia tão lunático. Afinal, Dohan era um adulto maduro e Park Eun-soo era, até certo ponto, inocente. Não era culpa dela ser tão irritante.
Dohan recebeu seu cumprimento com a expressão mais brilhante do mundo. Ele tinha decidido parar de culpar as pessoas ao seu redor apenas por ter sentimentos confusos e ser tão infantil. Pensou que este era o primeiro passo para superar isso.
—Oi.
—Você está indo começar seu turno?
—Sim…
Era completamente óbvio, já que estava a uma rua de distância do hospital, então ele até começou a pensar que ela veio encontrá-lo de propósito.
—Que coincidência.
Eun-soo sorriu um pouco diante das palavras de Dohan e o seguiu de perto. E como esperado, os dois caminharam lado a lado na calçada tranquila em direção ao trabalho que ambos tinham no hospital.
Depois de trocarem palavras sem sentido por um tempo, como suas opiniões sobre o clima e alguns boatos locais, Eun-soo finalmente disse a Dohan aquela coisa que aparentemente o tinha deixado curioso durante toda a semana.
—Você teve uma discussão com Kang Hyewon?
—…Por que você pergunta?
—Ah, nada. É só que é estranho ver o Robodoc não sendo um Robodoc nos últimos dias.
—Não sendo?
—Bem, ele não parece está comendo bem ultimamente.
—Ah, sim. Provavelmente deve estar ocupado. Ele está fazendo muitas horas extras.
—É verdade.
Ele tentou agir como se não fosse grande coisa, algo bem casual relacionado ao trabalho. Mas o assunto que Eun-soo mencionou certamente despertou o interesse de Dohan. Ele estava muito curioso sobre onde e quão estranha estava a condição de Hyewon agora.
—Mas como ele está?
—Kang Hyewon?
—Sim.
Diante da pergunta de Dohan, Eun-soo levantou ligeiramente os cantos dos lábios e deu um gole no café que estava em sua mão.
—Terrível. Ele está dormindo na sala de cirurgia.
—Bem, ele costuma fazer isso quando está ocupado.
—Não importa o que você pergunte a ele, ele não responde.
—Ele não costuma falar muito.
—E acima de tudo, ele nem sequer fala mais sobre você. Acho que isso é o que mais me surpreendeu.
Dohan, que estava respondendo cada uma das palavras de Eun-soo com respostas mais ou menos lógicas, parou completamente em sua última frase. Se ela disse isso… Então significa que ele costumava falar sobre mim com frequência?
—Ele fala de mim?
—Muito. Geralmente é só sobre você.
—Sobre o quê?
—Ah, sobre como você comprou um par de sapatos para ele, sobre como seus pés estão realmente inchados. Que você não come muito, que ficou doente do estômago. Sobre todas as vezes que vocês iam juntos para a sala de cirurgia ou as vezes que se encontravam no corredor para ir almoçar.
—Meu Deus. Isso é demais…
—Eu sei, é exagerado. Mas geralmente você é o principal assunto dele.
—…
—Mas de repente ele parou. Talvez tenha acabado as histórias.
Dohan mordeu o lábio inferior com força na tentativa de esconder sua expressão tão… entristecida, aquele homem era um enigma. Por que ele estava relatando cada movimento de seu melhor amigo para outras pessoas? Poderiam interpretar mal sua relação, certo?
—Vocês costumam falar de mim quando estão juntos?
—Bem, sim. Mas às vezes falamos um pouco sobre os pacientes mais críticos.
—Doutora…
—Sim?
—Há quanto tempo você conhece o Hyewon?
Ao ver Eun-soo falar sobre tudo isso, Dohan também trouxe as dúvidas que tinha dentro de si. Sentiu que ela poderia preencher o vazio que Hyewon deixou quando não respondeu.
—Desde que éramos muito jovens. Ele me disse que naquela época havia deixado o ensino médio.
—Onde vocês se conheceram?
—No hospital. Ambos éramos pacientes.
As palavras de Hyewon, que foram proferidas como algo passageiro, vieram imediatamente à mente de Dohan. “Eu estava sentindo um pouco de dor”, ele disse. Mas o que realmente estava doendo nele? Será que estava escondendo alguma doença grave? Olhando para Eun-soo, que deu uma resposta inesperadamente dócil, Dohan fez uma pergunta mais profunda:
—Hyewon ficou doente?
—Bem… Sim. Naquele momento, Kang Hyewon estava muito doente, então teve que ser hospitalizado. Eu também passei pela mesma situação.
(N/Rize: A gata nem é fofoqueira 🤣🤣 ADORO!)
Ele estava certo de que se perguntasse onde, como ou até mesmo o que exatamente aconteceu, Eun-soo estaria mais do que feliz em responder a tudo isso. Mas Dohan decidiu não fazer isso. Ele não queria ouvir o que Hyewon não queria dizer.
—Você não vai me perguntar o que ele tinha?
—Não, eu… Acho que seria melhor ouvir isso dele.
—Fico feliz. Teria me envergonhado se você tivesse perguntado. A informação do paciente deve ser protegida, sabe. Quando você se torna profissional de saúde, entende um pouco melhor.
—Sim.
—É só que… eu fico muito frustrada vendo o que Hyewon tem feito ultimamente, então é por isso que eu te contei. Se os dois realmente brigaram, eu gostaria que pudessem se reconciliar logo. É aquilo… “é como cortar água com uma faca.”
—… Claro.
Mas mesmo que Dohan tenha parado por um momento, Eun-soo continuou andando. Arrastando suavemente seus Crocs com passos leves e até mesmo cantarolando. Na verdade, o que Eun-soo disse fazia parte de um ditado: “Lutar contra seus sentimentos é como cortar água com uma faca”.
***
Após a cirurgia da manhã, Dohan, que estava desinfetando a sala de operações, ficou momentaneamente sem expressão e lembrou da conversa que havia tido com Eun-soo apenas algumas horas atrás. Durante os três anos em que o homem desapareceu de seu lado, ele já havia pensado que talvez tenha sido porque estava muito doente. Pensou nisso sem ter provas, é claro. Mas, considerando que Park Eun-soo estava dizendo exatamente a mesma coisa, não havia mais dúvidas a respeito.
—Mas ele está bem agora?
De repente, as preocupações brotaram até os dedos dos seus pés. Porque ele ficou doente? Que tratamento recebeu? E, acima de tudo, ele estava bem agora? Queria correr até Hyewon imediatamente e perguntar onde, como e quanto ele havia sofrido, e se isso já era coisa do passado ou se ainda precisava de algum tipo de atenção especial até agora. No entanto, graças a estar pensando nisso, Dohan deixou cair a tesoura metzembaum de suas mãos sem perceber.
Crash.
Dohan franziu a testa enquanto olhava para a ferramenta de aço inoxidável que tinha caído. Agora estava no chão, o que significava que ele teria que começar a desinfecção novamente. Além disso, ele ainda precisava terminar de limpar, organizar, anotar e preparar antes da próxima operação começar, mas seu corpo continuava incrivelmente lento. Ele poderia dizer que agora entendia melhor os sentimentos de Hyewon, que perguntou se ele estava bem até o final, mesmo estando cheio de lágrimas no rosto. O homem fez isso porque ele mesmo sabia o que era estar doente. Seu peito começou a bater com ansiedade e preocupação e, em seguida, com um monte de sentimentos cruéis dirigidos totalmente para si mesmo. Ele havia apenas cuspido palavras duras contra o médico.
Além disso, o rosto de Hyewon, que havia chorado durante a briga deles, apareceu até mesmo sobre os lenços desinfetantes que ele pegou da prateleira.
—Ah, merda.
Veio à mente a frase “é como cortar água com uma faca“. De repente, ele realmente queria estar com ele.
Enquanto as mãos de Dohan diminuíram a velocidade, Hee-jae, que havia terminado de organizar, começou a ajudá-lo com algumas coisas para que pudessem terminar o turno um pouco mais rápido. E como os dois moviam as mãos ao mesmo tempo, as coisas se juntaram na ordem certa tão facilmente que ele realmente se sentiu muito orgulhoso de seu querido aluno.
Ele pensou que se saísse agora mesmo, poderia encontrar Hyewon fingindo que tudo isso era apenas uma coincidência. Estenderia a mão descaradamente na direção dele, seguraria seus dedos e, percebendo que estavam gelados como frequentemente estavam, diria: “Vá para casa e tome um banho quente”. E ele estaria ao seu lado naquela mesma noite. Com isso em mente, Dohan trocou de roupa, fingiu que estava escapando do trabalho e parou no centro cirúrgico, mas Dohan não conseguiu encontrar Hyewon em lugar algum. Ele tentou procurar o chefe dos residentes e perguntar, mas nem mesmo conseguiu fazer isso porque logo percebeu que estava correndo de um lado para o outro como um louco. E, como ele também devia estar muito ocupado, ele se sentou perto do laboratório e esperou por um tempo, mas nada aconteceu.
Dohan, que não conseguia encontrar Hyewon em lugar nenhum, foi para a emergência com passos que claramente mostravam que ele estava morrendo de desespero. E como Kim Mi-hee estava indo para uma cirurgia de cabeça e pescoço, ele pensou que não tinha escolha senão ir com Kim Byung-jun para ver se o homem queria tomar um café enquanto estava de folga. Além disso, também aproveitaria para pedir alguns conselhos sobre como melhorar relacionamentos amorosos. Porém, o pronto-socorro estava mais movimentado do que ele esperava e embora não parecesse louco o suficiente como em outras ocasiões, Dohan também não achava que seu amigo teria tempo livre suficiente para conversar e sair para comer com ele.
Dohan, inclinado sobre a mesa da recepção, procurou por Byung-jun junto com uma enfermeira que estava verificando o histórico de um paciente.
—Dr. Kim Byung-jun?
—Por ali.
Então ele olhou na direção que a enfermeira apontava e notou Kim Byung-jun, em pé e com os braços completamente cruzados. Parecia que ele estava examinando um paciente de forma bastante minuciosa, então pareceu incorreto para Dohan ir até ele apenas para reclamar sobre sua vida amorosa. Dohan virou-se com um sorriso infinitamente amargo e pensou “Paciência”.
No entanto, assim que Dohan deu um passo à frente, houve um forte —Ei!—, então, olhando naquela direção, ele descobriu que havia um problema entre o paciente, o médico e a enfermeira.
Dohan parou em seu caminho e observou: havia enfermeiros ômegas lidando com um paciente alfa. E a maneira como um deles estava sentado, mal-humorado e com os olhos semifechados, fazia Dohan acreditar que estavam lidando com um daqueles arrogantes que se achavam muito só por causa de sua posição e pelo pedacinho de papel que dizia “A”. Dohan olhou alternadamente para o médico, o paciente e a enfermeira que gritava, então balançou a cabeça. Mesmo no mundo atual, sempre havia momentos em que entravam pessoas que eram arrogantes e muito, muito rudes. Pacientes e familiares também. O assédio sexual era bastante frequente, mas era pior na sala de emergência, onde entrava e saía todo tipo de gente. O triste era que a maioria dos enfermeiros que sofriam com isso já estavam tão cansados que não faziam nada para mudar. Ou melhor, nem queriam reclamar porque sentiam que ninguém faria nada mesmo, ou que não faria diferença.
—Se você continuar fazendo isso, chamarei o segurança.
Seria bom se a realidade fosse tão justa quanto um conto de fadas, mas não era.
A enfermeira ômega, que parecia ser a vítima, falou firmemente e o ameaçou com o segurança, mas o homem, que era o familiar, apenas falou com o paciente e riu dela. E à medida que a comoção aumentava e a atmosfera parecia desacelerar, nesse momento a cortina da cama ao lado dele foi puxada para revelar um homem que parecia completamente cansado de tudo aquilo. Era Kang Hyewon, o médico que ele havia estado procurando por todo o hospital.
Kang Hyewon, que havia puxado e fechado a cortina da cama ao lado, pegou as luvas que a enfermeira lhe deu e olhou para a paciente e para o familiar, principal causador de toda aquela comoção.
—Eles estão bêbados. Estão causando problemas na sala há um tempo, mas não vieram nos ajudar.
A enfermeira, que estava apoiada na bancada, disse isso a Dohan enquanto pegava o telefone novamente. Dohan virou-se e se aproximou, observando de perto tudo o que estava acontecendo.
Hyewon, que parecia indiferente à briga, havia puxado a enfermeira para se esconder atrás dele. Os lábios do homem então se torceram levemente em direção ao paciente e ao cuidador, e eles imediatamente começaram a rir do que ele estava dizendo. Em um instante, Dohan também ficou muito sério. Foi porque o Familiar se levantou e caminhou em direção a Hyewon. Os palavrões e a voz alta do macho alfa atraíram a atenção de todos na sala de emergência porque ele estava agindo de forma ameaçadora, como se estivesse prestes a bater em Hyewon com o punho. As sobrancelhas de Dohan se levantaram até que sua expressão inteira se enrugou.
—Chame a segurança de novo. Se ninguém vier em dois minutos, chame a polícia.
—Mas eu…
Antes que a enfermeira, que estava apoiada na bancada, pudesse terminar de responder, Dohan correu em direção a Hyewon para tentar ajudá-lo. No entanto, o homem ainda conseguiu dar um soco direto no rosto de Hyewon. Os óculos, que estavam sobre um nariz alto e suave, caíram no chão, e a enfermeira que estava atrás dele deu um pulo assustada de e gritou: —Doutor!
Dohan, que correu em direção aos dois, segurou o pulso do homem mesmo que ele ainda estivesse no ar. Na verdade, quando trabalhava na sala de emergência do hospital, fazer isso sempre foi responsabilidade de Dohan, que era um Alfa dominante. Se a outra pessoa reagisse com hostilidade, ele os tirava como se fossem lixo, porque para começar, ele era o filho do diretor do hospital. E mesmo que ele dissesse que não, tinha alguns benefícios adicionais por causa disso, se fosse outro funcionário, não teria intervindo com medo do que aconteceria depois, mas Dohan era diferente nesse assunto. E acima de tudo, a vítima era nada mais, nada menos que Kang Hyewon. Ele não podia ficar parado!
—Kang Hyewon, você está bem?
—Hahaha. Acabei de lembrar que um maldito Beta não pode se defender sozinho.
O homem, que cheirava fortemente a álcool, continuou a cuspir uma linguagem bastante abusiva para Hyewon. Além disso, ele deixou muitas marcas vermelhas no rosto do médico que eram muito evidentes, mesmo que Hyewon estivesse imóvel no chão como se estivesse tentando focar em algo forçando os olhos.
Ele pegou os óculos que haviam caído no chão, os arrumou e disse que “estava bem”. E sim, talvez Hyewon estivesse bem, mas Dohan estava ficando furioso. Era o rosto de Hyewon que aquele Alfa desgraçado havia tocado! E quando viu as marcas vermelhas de suas mãos, que contrastavam completamente com seu rosto pálido, sua raiva repentinamente transbordou e então ele acabou empurrando o homem com toda a sua força em direção à parede. Em sua mente, ele queria socá-lo até desfigurá-lo, mas na realidade ele não podia fazer isso. Como um funcionário do hospital, o que se esperava dele era ir à estação de polícia junto com o meliante e fazer um boletim de ocorrência decente. O problema era que seu estômago estava fervendo. Só de pensar que aquele filho da puta na frente dele havia tocado em Kang Hyewon, o desejo de matá-lo só cresceu mais e mais até que ele rosnou tomado pelo ódio.
O homem, que havia sido derrubado pelo empurrão de Dohan, deu um pulo e empurrou a maca para frente. Mas ao vê-lo, Dohan apenas zombou.
—Um bastardo como você pensa que vai vencer um Alfa como eu? Vamos, meu amigo. É melhor você sair antes que precise de cuidados reais.
—Eu vou te mostrar o que são cuidados reais.
—Voce já chamou a polícia? Não espere, faça isso agora.
Assim que as palavras de Dohan foram ditas, os outros médicos, que estavam observando o que aconteceu, mais preocupados do que outra coisa, pegaram seus celulares e começaram a ligar para a polícia exatamente como ele disse. Mas aparentemente a resposta de Dohan pareceu ser tão ofensiva para o homem que, antes que ele percebesse, o homem o empurrou com as duas mãos, fazendo-o tropeçar para trás com o impacto e seu corpo colidir com o de Hyewon, que agora estava de pé atrás dele. Mas assim que ele virou a cabeça para olhar para Hyewon, o punho daquele homem voou em sua direção e acertou diretamente em sua mandíbula.
O som estalado foi seguido por muitos outros ruídos. Houve gritos de pessoas e também palavras muito zangadas do resto da equipe. E assim que Dohan foi atingido pelo punho do homem, Hyewon, que ainda estava atrás dele, cerrou o punho e caminhou para frente de modo que agora era ele quem socava o cara usando todo o seu poder. Foi muito inesperado ver que ele tinha uma expressão mais furiosa que a de Dohan e também foi uma surpresa que ele soubesse nocautear.
—Você está bem?
Quando os olhos de Hyewon encontraram os de Dohan, o homem segurou o queixo dele e virou o rosto para examiná-lo.
—Ah, sim. E você está bem?
O homem, caído no chão, estava desacordado. Embora obviamente não estivessem dando importância para ele. Além disso, naquele momento exato, dois guardas de segurança, com um físico forte e uma expressão tão vazia quanto a de Hyewon, entraram na sala e arrastaram o sujeito para fora.
—Não se preocupe comigo. Meu rosto não rangeu como o seu.
Quando Hyewon segurou o queixo de Dohan e olhou mais de perto, Dohan ficou tão vermelho que parecia que também ia desmaiar. Mas ao vê-lo com os olhos cheios de preocupação e medo pelo que lhe tinham feito, ele mordeu o lábio com força ao pensar que um sorriso escaparia se não tivesse cuidado.
—Não, mas sério, você está bem? Por que você interveio assim, idiota? E se…?
—Então eu só deveria ficar parado e esperar que ele te batesse de novo!?
E quando Hyewon levantou a voz, Dohan fez o mesmo:
—Se ele fizesse de novo, eu ia revidar!
—Você nem sabe se ia conseguir revidar! E se ele te deixasse inconsciente?
—E se ele te deixasse inconsciente? E aí?
—Garotas, garotas, vocês duas são lindas, isso é o suficiente.
Kim Byung-jun interveio entre Hyewon e Dohan e empurrou-os para o outro lado da sala. Um dos guardas de segurança, que havia arrastado o homem para fora, estava esperando por Hyewon e Dohan para falar com eles e pegar suas declarações. Felizmente, as câmeras de segurança da sala de emergência estavam sempre gravando e havia muitas testemunhas. Além disso, como um dos envolvidos era filho do presidente do hospital e o outro filho do presidente da junta diretiva, foi algo que seria resolvido rapidamente. No entanto, eles foram repreendidos individualmente, como se fossem crianças que tinham se envolvido em uma briga escolar boba.
°
°
Continua…