Pontos de sutura - Capítulo 42
Dohan fez uma pausa por um momento e olhou para as luminárias brancas penduradas no teto do hospital. Como em cada dia de verão, o sol brilhava através da janela e o céu parecia completamente claro agora, mas o interior do prédio, especialmente a pequena sala onde esperava, parecia tão frio quanto a expressão que Kang Hyewon sempre mostrava.
Contrariando as palavras do homem, que disse que terminaria em no máximo duas horas, a operação levou muito mais tempo do que o previsto e começou a ficar entediante estar ali esperando. Normalmente, ele passaria o tempo na enfermaria, comeria algo e procuraria alguém com quem pudesse se divertir, mas devido à conversa que teve com Hee-jae, Dohan pensou muito sobre o que queria fazer para expressar seus sentimentos. Ele trocou de roupa e sentou-se em frente ao centro cirúrgico, na sala de espera para familiares, enquanto monitorava todos os movimentos na sala à frente. Na tela do monitor que estava na parede, o nome do paciente sendo operado atualmente era mostrado junto com o nome do tratamento ao qual estava sendo submetido. Ele recostou-se na cadeira do canto, olhou para a televisão, folheou a lista com os nomes dos departamentos e médicos envolvidos no procedimento e depois destacou a palavra “Doutor Hyewon”, que estava em vermelho e estava lá há um bom tempo.
Então, quando estava prestes a perder a paciência, a porta do centro cirúrgico se abriu e Hyewon, com um traje completo, se revelou antes que Dohan se levantasse, entrasse na sala e relatasse o homem para fora à força.
—… Desculpa, você esperou muito?
—Na verdade não.
Quando Hyewon perguntou, enquanto tirava o jaleco, Dohan se levantou e começou a se alongar até que cada parte de seu corpo parecesse estalar de uma maneira muito semelhante a uma verdura.
Dohan seguiu Hyewon até a sala de médicos e, enquanto o homem se preparava para sair, decidiu passar o tempo arrumando todos os livros que estavam espalhados na mesa.
Sempre que ele lembrava do seu último beijo nesta sala, pensava que nem mesmo conseguiria sentar-se na cama, tocar a mesa ou se acomodar na cadeira sem sentir arrepios, mas acabou que não se sentiu tão envergonhado como pensava. Ele suspirou, desviou o olhar dos livros para Hyewon e então abaixou a cabeça tão rapidamente que o movimento mal foi perceptível. Tudo isso porque as costas brancas de Hyewon, que havia tirado o jaleco cirúrgico azul que usava como um uniforme estéril, estavam expostas à sua frente como se fossem uma paisagem verdadeiramente linda. Além disso, assim como em seu próprio corpo, as marcas daquela “noite de amor desconhecido” que tiveram em sua casa ainda não haviam desaparecido completamente e eram completamente evidentes no ombro e em algumas partes de seu pescoço. E talvez ele não tenha percebido, mas até estava lá a marca exata do momento em que ele mordeu a carne daquele pescoço. E como ele não era um Ômega, as marcas de seus dentes pareciam escandalosas o suficiente para pensar que ele precisava de alguns pontos.
‘Eu fiquei louco.’ Ele pensou. ‘Da próxima vez, eu realmente vou ter que amarrar minhas mãos e pés e amordaçar minha boca.’
Dohan se amaldiçoou por dentro e olhou para ele mais uma vez, apenas levantando os olhos e espiando como se tivesse muito medo de ser descoberto. Meu Deus, nos fizemos sexo ou brigamos? Hyewon tinha hematomas azuis por todo o corpo, manchas vermelhas, e as marcas das mãos de Dohan quando ele o agarrou tão desesperadamente. Era como o corpo de um Ômega que tinha sido esmagado pelo amor de seu Alfa.
‘Ah, não. Não. Não posso pensar nisso agora. Controle-se.’
Mas o suor irrompeu repentinamente e ele até começou a sentir que suas palmas estavam ficando úmidas sobre as capas dos livros de anatomia. E sentindo o desconforto do momento, Dohan esfregou os dedos na calça e então os sacudiu no ar como se tentasse secá-los.
—Im Dohan, está tudo bem?
Quando não obteve resposta para sua pergunta, Hyewon rapidamente colocou a camiseta de volta e se aproximou dele para tentar entender um pouco melhor o motivo daquelas estarem chacoalhando no ar. Sentindo-se estranho ao ver que ele não tirava os olhos do livro e também estava suando como se tivesse acabado de sair de uma sauna, Hyewon suspirou e imediatamente levou uma mão à sua testa.
—Ah…
Dohan, que voltou a si devido aos dedos frios de Hyewon, rapidamente olhou para cima. Era desconfortável encará-lo no rosto mesmo que ele tivesse bloqueado toda a luz de fundo com seu corpo.
—Acho que você está com febre de novo. Está cansado? Sente alguma dor?
—O quê? Oh, não. Não é nada. Depois de olhar um livro por muito tempo… De repente eu comecei a suar.
—…
—Eu juro.
A expressão preocupada de Hyewon suavizou um pouco ao ouvir Dohan.
—Eu perguntei se havia algum lugar onde você gostaria de ir para comer, mas você não respondeu.
—Não sei… Você gosta de carne?
Na verdade, ele queria evitar ir a um restaurante tranquilo onde estivessem sozinhos. Agora sua mente estava tão complicada que, se comessem juntos, cara a cara e com as mãos a centímetros um do outro, ele se envergonharia tanto de seus pensamentos que definitivamente não saberia como se comportar depois. Além disso, não fazia ideia do que dizer a ele, ou pior ainda, suas palavras poderiam ser um completo desastre. Então, Dohan acabou levando Hyewon a um restaurante de barriga de porco um pouco afastado do hospital, mas que prometia ser muito delicioso.
—Claro.
Como esperado por Dohan, o interior do restaurante, que já cheirava a churrasco, estava cheio de bêbados falando alto e crianças que não paravam de gritar para chamar a atenção de seus pais. Mas mesmo sendo uma paisagem sem a possibilidade de criar uma atmosfera íntima, quando ele se sentou na beirada da janela, de frente para Hyewon, até algo tão bagunçado como isso se tornou um lugar para um “flerte”. E, como se fosse o protagonista de um filme popular para adolescentes, um daqueles caras que bebia uma taça de vinho em uma festa importante, o rosto branco e bem cuidado de Hyewon criava uma espécie de atmosfera que o fazia não ter outra opção senão engolir a saliva para não escorrer por sua boca. E como além disso o ar-condicionado não estava funcionando bem, Dohan, que estava pegando fogo, teve que agarrar a bainha de sua camisa e agitá-la de um lado para o outro na tentativa de criar pelo menos uma pequena brisa.
—Este lugar é bem quente.
—Tem razão.
—O ar-condicionado não está funcionando?
—Venha, troque de lugar comigo. Aqui circula o ar.
—Está bem.
Em resposta ao carinhoso gesto de Hyewon, Dohan desenhou um pequeno sorriso em seus lábios e deixou as pinças de carne com as quais estava brincando.
—Deixa que eu faço isso.
Hyewon estendeu a mão e pegou a pinça. Ele parecia um garçom bonito, alguém luxuoso e também muito acostumado a grelhar carne. Isso porque, quando saíam como amigos, Dohan sempre estava conversando, brincando e flertando, e Hyewon ficava virando a carne para que todos pudessem comer.
—Isso me lembra os velhos tempos. Na universidade. Costumávamos vir muito.
—Eu me lembro, claro.
—Eu realmente não gostava.
—Por quê?
Hyewon pareceu tão surpreso pelas palavras de Dohan que parou a mão que estava grelhando a carne. Era verdade que o homem gostava de ambientes barulhentos e multidões desorganizadas, mas, para ser honesto, não gostava muito de grelhar carne ou ter que fazer as coisas por conta própria. Era porque sempre parecia estar mais ocupado bebendo e se divertindo, e por isso mesmo preferia um lugar onde os petiscos fossem preparados individualmente e o foco principal fosse a bebida.
Dohan, que fez contato visual com Hyewon, pensou por um momento e então disse:
—No passado, meus colegas de classe me pediam para vir aqui com eles para fazer com que você também viesse.
—Sério?
—Haha, você não sabia?
—Não.
Era uma coisa muito infantil. O Departamento de Enfermagem estava no prédio da faculdade de medicina, então eles tinham que trabalhar juntos como resultado de um novo programa que incentivava o treinamento prático para o trabalho. A maioria dos estudantes no departamento de enfermagem eram mulheres, então naturalmente, quando se reuniam no campus, havia um nome que circulava entre todas elas, e esse era nada menos que o de Kang Hyewon. O jovem mais bonito e inteligente do mundo. Ao contrário de Dohan, que era relativamente fácil de se aproximar, Hyewon sempre parecia uma pessoa de personalidade forte e reservado, então na verdade ele não conversava com ninguém. Embora tenha entrado na escola com uma média relativamente normal, ele tinha a porcentagem necessária para se matricular em uma classe avançada sem fazer exame, ele era bonito, educado e vinha de uma boa família, então todas as garotas miravam suas flechas nele. Então, suas colegas de enfermagem convidavam Dohan para uma festa, e o usavam para obrigar Hyewon a se juntar a eles também. E naquele momento, ele estava tão bêbado que não tinha escolha a não ser ligar para o homem e fazê-lo vir até ele e se aproximar da mesa, onde 5 ou 6 pessoas já estavam esperando para abordá-lo. Claro que Hyewon sempre vinha buscá-lo com uma aparência limpa e refrescante, como alguém que acabara de acordar de manhã depois de uma boa noite de sono, não importava a hora ou a distância que tivesse que percorrer.
E quando Hyewon, que normalmente se mantinha distante, aparecia, as pessoas ao seu redor sempre ficavam enlouquecidas. Queriam beber, trocar contatos e conversar com ele, mas ele não dava muita atenção a elas. Claro que Dohan estava um pouco preocupado que ele pudesse estar estressado pelo assédio até um ponto em que não quisesse mais voltar, mas ele nunca reclamou ou agiu de maneira desrespeitosa. Isso principalmente porque Kang Hyewon realmente não dava muita importância para essas pessoas.
—Elas estavam flertando com você, então sempre me usavam para isso. E para mim era conveniente que você viesse porque eles pagavam a bebida então…
—… Eu não sabia.
—Sério?
Dohan também estava atônito. Mesmo que já tivesse se passado muito tempo, era surpreendente que ele nem sequer percebesse que todas aquelas pessoas estavam descaradamente flertando com ele ou pelo menos que não soubesse que era tão popular. Não é que ele estivesse ignorando isso de propósito, mas ele realmente estava vivendo em seu próprio mundo.
—… Eu sabia que você estava ocupado e, de qualquer forma… Bem, eu sinto muito por isso.
Embora fosse óbvio que ele se sentia desconfortável estando ali, Dohan ainda assim sorria, bebia mesmo sem querer, brincava com pessoas com quem não queria conversar e fazia o máximo para se encaixar em um espaço com mais pessoas. Mesmo que aquilo significasse prejudicar seu melhor amigo.
—É tarde para isso, mas eu aceito suas desculpas.
—Hahaha, muito obrigado.
Dohan corou com as palavras tão repentinas de Hyewon e depois desviou um pouco o olhar. Nessa atmosfera, Dohan era infinitamente frágil. Ele se sentia envergonhado e desajeitado, e todo o seu corpo começou a agir de forma muito estranha. Os olhos de Hyewon eram tão brilhantes que ele mal conseguia enxergar direito.
—Mas eu não entendia o motivo de você vir. Sempre, nem uma vez você me deixou na mão. Não importava o dia.
Dohan perguntou isso a Hyewon com o coração um pouco acelerado. Não estava claro qual seria a resposta, mas ele tinha uma leve ilusão de que seria algo… Romântico.
Ele não percebeu que isso tinha deixado Hyewon irritado.
—Porque você era meu amigo.
Dohan levantou a cabeça e olhou para Hyewon. Ao contrário do que esperava, o rosto do homem não tinha nem um pouco de gentileza nem um pequeno sorriso. E como se estivesse apenas dizendo algo óbvio, respondeu enquanto virava a carne com uma atmosfera tão inexpressiva quanto de costume. O coração de Dohan gelou com isso, mas ele não expressou e respondeu de forma desconfortável, mas com seu característico tom sarcástico.
—Com certeza você vinha para ter uma desculpa para não estudar mais.
—Eu nem estava estudando. Eu esperava sua ligação todas as noites.
—O quê?
—Eu tinha medo que você ficasse bêbado e acabasse dormindo na rua.
—Hey! Nunca na minha vida aconteceu algo assim.
—E se a polícia acabasse te levando?
—Claro que não. Acho que tenho autocontrole.
—E elas? Elas tinham autocontrole?
Quando Dohan negou com a cabeça, dizendo que seus sermões não faziam sentido, Hyewon colocou a carne cozida no prato diante dele sem dizer mais nada a respeito. Bem. Ele também não esperava nada grandioso. Hee-jae havia dito que talvez Hyewon estivesse fazendo movimentos sutis para se aproximar dele, mas, quando os procurava, só encontrava que ele o via como um amigo próximo ou talvez um irmão mais novo.
Dohan, pensando que talvez seu pensamento tinha sido um mal-entendido, se endireitou e pegou a carne que Hyewon havia cozinhado para ele. E como ele enfiou um grande pedaço de carne de porco na boca repetidas vezes para tentar acalmar a frustração que sentia por toda parte, Hyewon achou que ele estava com muita fome e continuou enchendo seu prato com mais pedaços disso e daquilo.
—Mas eu acho que você fez isso porque estava desesperado para ser popular.
Dohan estreitou os olhos diante das palavras de Hyewon. Se fosse como antes, ele teria aumentado sua autoestima e dito coisas como: “Obviamente eu amo ser popular! Você já viu meu rosto?” Mas agora, essas palavras soaram como uma ofensa.
—Não entendi o que você quis dizer com isso.
—Você tem o hábito de fazer coisas que todos os outros querem que você faça, mesmo que odeie. E faz isso só para se encaixar, o que é o pior.
—Eu não faço isso.
Dohan colocou seus palitos na mesa com um som forte.
—Foi o que você acabou de dizer.
—Não.
—Mas o fato é que você não precisa parecer bem para todos. Você não precisa sempre ser um cara legal ou o mais popular ou o que mais fala no hospital nem o que consegue mais homens numa noite. Ou o Alfa perfeito.
—Haha, você diz isso porque você é um… —Dohan engoliu o que estava prestes a dizer e manteve a boca fechada por um segundo. —Olha, eu tinha meus próprios motivos. Além disso, eu era jovem. Eu não pensava direito no que estava fazendo naquela época.
—Por que ainda age assim então?
Como esperado, Hyewon largou a pinça em sua mão ao ouvir o tom áspero de Dohan, embora estivesse olhando para ele com olhos calmos e apagados.
—Não me interprete mal. Estou dizendo isso porque me preocupo com você. Quero dizer que não precisa se esforçar apenas para ser aceito em algum grupo. Sinto que isso está complicando as coisas com… Não sei, com cada coisa em sua vida.
—Como o quê, na sua opinião?
—Como na briga na sala de emergência. Teria sido bom mesmo se você não tivesse brigado com aquele cara.
—Ei, a sala de emergência estava um caos, o que você queria que eu fizesse? Você queria que eu cruzasse os braços e esperasse outra pessoa ir cuidar disso?
A vontade de continuar comendo desapareceu. Ele sabia que Hyewon não era bom em se expressar e que era fácil interpretá-lo mal, mas era impossível para Dohan aceitar quando parecia que homem estava criticando tudo o que ele fazia. No final, Dohan, completamente irritado, apoiou-se no encosto da cadeira com os braços cruzados e as pernas abertas. Era uma atitude defensiva e também uma tentativa de aumentar a distância entre ele e Hyewon.
—Sim, teria sido resolvido da mesma forma se eu não tivesse aparecido. Mas se fosse esse o caso, se eu não tivesse me envolvido, a segurança teria vindo depois que eles te espancarem novamente. Era isso que você queria?
—Só estou dizendo que acho que, como você é um Alfa, acha que precisa ter um excesso de senso de justiça.
—Excesso de quê?
—Você pensa que se não ajudar, todos vão perceber que você não fez nada e isso, por sua vez, vai lhe dar uma imagem ruim. Você não precisa parecer bom para todo mundo.
Hyewon tentou explicar o que estava querendo dizer, mas tudo soava muito irritante para os ouvidos de Dohan. Ele não havia agido com essa mentalidade, mas sim porque não queria que Kang Hyewon se machucasse ou se envolvesse em uma situação desagradável. Dohan franziu a testa e encarou Hyewon, que estava sentado falando bobagens sobre “um senso de justiça” que ele não tinha. A atmosfera tímida e nervosa desapareceu e foi substituída por pura raiva em seu rosto. O barulho das pessoas falando ao seu redor agora era simplesmente repugnante.
—E é por isso que pode haver pessoas que te interpretam mal.
—Interpretar mal como!? Pensar que eu só sirvo para brigar? Que estou aqui apenas por ser o filho do presidente?
Em resposta à voz de Dohan, Hyewon fechou a boca. E ao ver que seu rosto já branco tinha ficado ainda mais pálido com suas palavras, Dohan levou a mão à testa para tentar se acalmar um pouco. Como a gente chegou a isso? Droga!
—Desculpe.
Mas como sempre, Kang Hyewon foi o primeiro a se desculpar.
—Não peça desculpas.
—Desculpe, não quis dizer isso dessa maneira.
Seus olhares se desviaram.
Os dois ficaram em silêncio, mas o peso do significado ao seu redor era bastante denso. Dohan manteve a boca fechada, temendo que Hyewon se magoasse pelas palavras que diria se dissesse mais alguma coisa, e Hyewon fechou a boca com medo de que seu cérebro causasse um mal-entendido ainda maior.
Ninguém disse nada. Dohan de repente começou a mastigar sua comida e Hyewon coçou a cabeça como se não pudesse esconder sua impaciência pela situação que havia criado. Ele até sentiu uma estranha sensação de distância quando olhou para Dohan e percebeu que este estava concentrando toda sua atenção em um copo de água.
Para ser honesto, Hyewon só estava tentando entender o que Dohan pensava e estava tentando fazer com que ele percebesse que o ficava incomodado quando as pessoas se aproveitavam dele só porque ele achava que precisava agradar a todos. Hyewon abriu a boca novamente:
—E só que… Me surpreendi um pouco. Pensei que te conhecia melhor do que ninguém, mas acho que não é assim.
Hyewon realmente pensava que durante seus dias na universidade, Dohan simplesmente gostava de sair com várias pessoas e beber. Até agora, nunca duvidou de sua personalidade e sempre achou que ele era naturalmente festeiro. Ele pensou que fazia isso por diversão, mas aparentemente era porque se sentia solitário. E o pior era que ele deliberadamente estudava durante as tardes para poder estar sempre disponível quando Dohan precisava e até poderia dizer que cuidava dele o tempo todo para que nada de ruim acontecesse.
Ele estava chateado, mas não exatamente com Dohan .
—Eu me sinto da mesma forma com você.
Dohan, que estava olhando seu reflexo no vidro, levantou a cabeça para olhar para Hyewon. Os olhos dos dois estavam emaranhado, então nenhum dos dois se moveu ou baixou a cabeça, por mais desconfortável que fosse.
—Eu realmente não te contei porque tinha medo que você se sentisse desconfortável e eu sabia que você não iria responder, mas…
—O quê?
—Eu quero que você me conte sobre os anos que passou com Eun-soo e não comigo.
Hyewon não teve escolha a não ser manter a boca fechada. Dohan estava certo. Não importa quantas vezes ele perguntasse, Hyewon não ia responder. Fazer isso significaria confessar os sentimentos que Hyewon tinha por ele e, além disso, de uma maneira incrivelmente patética.
—Não importa. Eu disse que era por causa da doença. Mas… Recebi tratamento e agora estou muito melhor.
—Onde, como e o quão doente você estava? Por que não me contou? Por que simplesmente desapareceu?
—Eu…
—…
—Sinto muito. Não pretendo contar a você. Não posso…
—Perfeito.
—Isso é tão importante para você?
—Sim. Para mim é. Eu te conto tudo, ou pelo menos tento. Até sobre a prescrição do medicamento para disfunção erétil, eu te disse a verdade. Você fica chateado com o que eu faço, mas quando te peço para também ser honesto, parece que você não consegue.
—Dohan-ah…
Hyewon suspirou enquanto esfregava a testa. Dohan, com os braços fortemente cruzados, o olhou pela última vez e sentiu a decepção começar a se infiltrar em seu coração.
—Então é por isso que digo que essa é minha fala. Pensei que eu fosse quem te conhecia melhor, mas agora vejo que não.
—Dohan.
—Vou sair primeiro. De qualquer forma, vou encontrar Byeong-jun.
Quando Hyewon suspirou em vez de responder, Dohan se levantou sem remorso e puxou a cadeira. A excitação e os arrepios haviam desaparecido e tudo o que restava era um coração que fervia como uma noite abafada de verão.
Hyewon se virou e olhou para Dohan quando ele saiu, mas mesmo assim não pôde fazer nada para detê-lo. Para isso, teria que trazer à tona todas essas antigas histórias que não queria lembrar e confessar o que havia feito e… Não, ele ainda não estava pronto para algo tão grande quanto isso. Mas no final, quando Hyewon não fez nada para impedi-lo, Dohan rangiu os dentes e saiu do restaurante o mais rápido que pôde. Depois, caminhou na direção oposta ao hospital. Ele mencionou o nome de Byeong porque não queria ficar com ele, mas a verdade era que provavelmente naquele momento aquele homem estaria completamente ocupado na sala de emergência e Dohan não queria incomodá-lo contando sobre o quão horrível estava sua vida amorosa.
Dohan, que tremia de puro ódio, comprou uma cerveja em uma loja de conveniência próxima e sentou-se em um banco do parque. E enquanto bebia, o celular em sua mão começou a tocar loucamente. Ele rapidamente verificou se era Hyewon, mas acabou sendo Mi-hee.
Kim Mi-hee:« Já preparou sua mala para a viagem?»
Dohan checou a mensagem de Mi-hee e fechou o telefone novamente.
—Seu bastardo…
Ele bateu no peito com o punho em sinal de frustração.
A decepção de que Hyewon não lhe dera uma resposta e o arrependimento de ter trazido à tona uma história sem sentido pela qual começaram a brigar se misturaram meio a meio, pressionando-o por dentro.
—Eu sou péssimo nisso.
Dohan murmurou para si mesmo e esvaziou a lata de cerveja. Mas contrariamente ao som refrescante do ácido carbônico, as entranhas de Dohan se tornaram cada vez mais sufocantes… E ficou pior porque ele não foi o único a sair correndo para tentar superar a asfixia da noite! Ali, naquele lugar, ele encontrou bastante gente passeando, sozinhos ou acompanhados, com leques ou chapéus bastante exagerados. Ele inclinou a cabeça para que não o vissem.
—Hee-jae, ouvir sua conversa horrível foi uma perda de tempo.
Gotas grossas de água começaram a cair no chão e nos sapatos de Dohan, deixando uma marca preta ao ser absorvida. Ele estava irritado. Mas o que mais magoou não foi Hyewon não ter contado seu segredo, mas que ele pensasse que o que ele tinha feito pelo homem, por amor, era apenas para fingir ser uma boa pessoa aos olhos dos outros. Na verdade, não era suficiente dizer que o machucou. Ele se sentiu péssimo. Como Hyewon disse, não era como se ele nunca tivesse feito algo para se encaixar em alguns grupos, mas, pelo menos no caso do enredo de Kang Hyewon, ele não o fez para manter uma imagem de Alfa perfeito ou para receber tapinhas nas costas. Ele não fez isso para se gabar, só não queria que o machucassem mais. A esperança que ele tinha se quebrou um pouco mais, então as gotas de água caíram com mais força.
—Idiota.
O rosto de Dohan estava coberto de lágrimas.
—Sou um idiota.
Em vez de odiar e ressentir Kang Hyewon, ele se arrependeu de ter dito o que disse sobre suas colegas enfermeiras e o motivo pelo qual ligava para buscá-lo todas as noites. Se tivesse mantido a boca fechada, não teria acendido essa vela e provavelmente estariam bem. Ele não sentia vontade de xingá-lo, estava coberto de puro arrependimento consigo mesmo.
—Por que faço isso mesmo sabendo que vai acabar assim?
Dohan esfregou as têmporas com as costas da mão. Como havia derramado muitas lágrimas em um clima quente como aquele, seu rosto molhado ficou terrivelmente pegajoso e até sentiu que cheirava a suor. Ele queria tomar um banho e deitar na cama com o ar condicionado no máximo, mas achou inconveniente ir para casa agora e enfrentar Kang Hyewon. E acima de tudo, não queria ficar na frente dele com esse sentimento porque tinha medo do que viria a seguir ou do quanto machucariam um ao outro.
Incapaz de acalmar sua cabeça e coração ferventes, ele chorou por muito tempo em um banco do parque antes de voltar para o apartamento.
O caminho foi o dobro do comprimento e mais lento do que o habitual. Como esperado, Hyewon parecia estar na cama naquele momento, então a casa estava completamente silenciosa e escura. Dohan entrou em seu quarto de mansinho, como um gato que queria se esconder, e se jogou no colchão sem trocar de roupa ou tirar os sapatos. Simplesmente não queria mover um dedo. Pelo menos não para isso.
Hyewon respirou fundo e se revirou nas cobertas. Ele suspirou com o pequeno barulho vindo através da parede e então, fechou os olhos também.
°
°
Continua…