Pontos de sutura - Capítulo 43
Foi uma semana em que eles facilmente poderiam ter se agarrado pelo pescoço e brigado a chutes e pontapés até o chão. No entanto, não trocaram socos, não se insultaram, nem se evitaram como nas vezes anteriores. Ainda assim, tinham que admitir que havia muita desconforto entre os dois. Foi muito estranho. Comiam juntos e iam para o trabalho juntos também, mas não falavam ou perguntavam sobre seus dias. Não era que se odiassem, é claro. Poderia-se dizer que estavam apenas tendo cuidado para não se machucarem novamente.
No entanto, como resultado disso, Dohan sequer conseguiu falar com Hyewon sobre a ideia da viagem. Saudou a manhã do dia da partida com o pensamento de que talvez tivesse que ir sozinho, então Dohan, que estava prestes a sair de casa com uma mochila cheia de bagagem, acabou se deparando com Hyewon, com uma pequena mala, sentado bem em frente à porta principal do apartamento. Dohan trincou os dentes com força e recitou o nome do culpado em sua mente.
‘Eun-soo.’
No entanto, agora era realmente muito difícil e desconfortável falar sobre isso, então, depois de dar uma última olhada em sua bagagem, Dohan saiu pela porta principal sem dizer uma única palavra a respeito. Como se fossem pessoas com destinos diferentes, ele seguiu em frente e Hyewon ficou logo atrás.
Mas Dohan esperou por Mi-hee todo esse tempo com uma sensação de ansiedade impressionante, como um estudante que precisava de seu amigo no primeiro dia de aula para não se sentir envergonhado. Desejava que alguém viesse e quebrasse o silêncio que se estabelecera entre Hyewon e ele e então, mesmo antes de perceber e quando estava prestes a desmaiar de exaustão emocional, viu Byung-jun e Mi-hee se aproximando de longe enquanto se cumprimentavam com pequenos socos.
—Ei, filho da puta! Você ia sair sozinho ou que porra é essa?
Embora o homem estivesse xingando alto, Dohan sorriu com uma expressão bastante aliviada no rosto.
A princípio, Byung-jun não estava na lista de convidados para essa viagem, mas aparentemente apenas uma ligação e algumas palavras sobre seus planos fizeram com que ele agora carregasse uma mala que chegava um pouco acima dos joelhos.
—E aí, doutor? Pronto para ir à praia? Já comprou sua sunga?
E ele deu um tapa nas costas do médico como uma saudação. No entanto, Kang Hyewon, ainda segurando sua bagagem nas mãos, não fez nenhuma expressão ou disse uma palavra para responder à pergunta, então, é claro, isso só fez com que Dohan tivesse uma dor de cabeça muito mais irritante do que da primeira vez.
Foi estranho que essa viagem tenho sido planejada em primeiro lugar: Sair de férias com esses caras sempre era um caos de níveis ancestrais, então realmente não foi surpresa que os gritos de Mi-hee e Byung-jun continuassem mesmo quando já estavam dentro do carro de Eun-soo.
—Não, a doutora vai dirigir? Estamos ferrados.
—Não seja palhaço!
—Por favor, Pai Celestial. Deixe-nos chegar à praia em segurança porque quando as mulheres dirigem sempre há… Ai! Não me bata, Mi-hee!
—Eun-soo. Estacionei e diga para ele dirigir o carro. Vamos, estacione para como vamos passar o dia todo sem sair do lugar.
Longe de ser uma viagem de adultos, estava no nível de uma excursão escolar do ensino fundamental. Dohan, que estava sentado no banco do passageiro, coçou a cabeça por um momento e olhou para Hyewon, que estava sentado atrás e no meio de Byung-jun e Mi-hee, que eram incrivelmente insuportáveis. Ele parecia uma criancinha, com sua expressão serena e sua maletinha nas mãos.
—Kang Hyewon, quem você prefere? Eu ou essa idiota?”
—Kang Hyewon, ele me chamou de idiota. Diga alguma coisa!
—Você começou!
—Eu não fiz nada!
—Foi você!
—Foi você!
—…
Observar Hyewon ser provocado por eles dois o deixou tão desconfortável que ele imediatamente se arrependeu de tê-los deixado sentar atrás. Na verdade, Dohan, que não parava de olhar para seu rosto, quase disse que havia mudado de ideia e que seria melhor se trocassem de lugar. No entanto, ele não queria parecer muito consciente do outro, então não disse mais nada.
‘Não se preocupe com isso, não se preocupe com isso.’
Dohan virou para olhar para o outro lado, mas ainda estava de olho em Hyewon. Então, quando o olhar de Byung-jun também alcançou o inexpressivo médico, ele o abraçou pelos ombros e perguntou:
—O que aconteceu com você, Kang Hyewon? Você nunca sai. O que você disse para conseguir folga do hospital? Eu disse que estava com uma diarreia hiper mega explosiva.
—Você é nojento —disse Mi-hee
Hyewon pensou por um momento:
—Eu disse que precisava cuidar de algumas tarefas domésticas.
—…
—… Isso é super chato.
—E você, Eun-soo?
—Só mudei os horários das minhas consultas para daqui a dois dias.
—Droga, devo mudar minha especialidade?
—Você precisa de um psiquiatra, não ser um.
Todos riram quando Byung-jun, que fez cara de ofendido.
Felizmente, todos, incluindo Hyewon, estavam tranquilos e conversando confortavelmente até chegarem ao destino. E isso era estranho considerando que eles não se comportavam como adultos quando queriam brincar, mas… Crianças.
—Olhem, o mar!
Esse foi o sinal para que todos se dirigissem para uma janela.
—Byung, você não é uma criança? Você já viu o mar antes, então não fique tão agitado.
—Mas já faz muito tempo desde que eu vim. Eu tinha uns 20 anos.
—Mentiroso.
Dohan esticou o corpo e também olhou pela janela. Lá estava o sol, a praia de areia clara cor de trigo e um mar lindo azul turquesa. A paisagem de praia com a qual todo adolescente que queria escapar com os amigos sonhava um dia.
—Há muita gente.
A areia da praia estava cheia de guarda-sóis, mesas, cadeiras e pipas, então poderia-se dizer que havia mais gente do que água.
—Todo mundo, exceto nós, está aproveitando.
—Será que devemos desistir?
—Nãão, vamos abrir caminho.
—É muito interessante ver como todos parecem tão saudáveis…
—O que você quer dizer com isso?
—Estou no hospital todos os dias, então de repente até parece estranho que não tenham maçãs e respiradores. Ei senhor! Sua saturação de oxigênio está bem?
Eun-soo riu e Dohan também. Mi-hee, Hyewon e ele viam pacientes deitados em macas todos os dias, noite e dia, mas Byung-jun, do departamento de medicina de emergência, lidava com os casos mais assustadores e difíceis um após o outro. Era óbvio que ele precisava desse descanso antes de enlouquecer.
Dohan fingiu estar olhando para Byung-jun e desviou os olhos para Hyewon. No entanto, não importava o que seus amigos dissessem ou o que estivesse acontecendo na praia, o rosto do homem, olhando pela janela, não se abalou, não se moveu, nem pareceu menos ou mais surpreso do que antes.
‘Não se preocupe com isso, não se preocupe com isso. Pare de prestar atenção no cara bonitão atrás de você e olhe para frente porra!’
Dohan murmurou para si mesmo como se estivesse memorizando algum tipo de mantra. Então, quase com muito esforço, desviou o olhar novamente e ficou olhando pela janela. Ver as pessoas caminhando pela praia, encharcadas como se tivessem acabado de sair da água, com óculos de sol sob o sol escaldante e sorrisos enormes, realmente fez com que ele se sentisse em umas verdadeiras férias de verão. E aparentemente, Mi-hee sentiu o mesmo porque murmurou atrás dele:
—Já me sinto no verão.
Decidiram abrir a janela para receber o vento quente e úmido que fazia suas faces ficarem pegajosas, mas os gritos altos e o som intermitente das ondas misturados entre eles fizeram com que se sentissem mais confortáveis do que pensavam que seria. Como Mi-hee disse, quando o calor escaldante tocou seu rosto e banhou seus braços estendidos sobre o parapeito da janela, ele finalmente percebeu que era verão e que tinham saído do hospital. Sua mente, complexa e sombria, ficou um pouco mais simples agora, e as comissuras de seus lábios se curvaram em um sorriso casual.
Depois de dirigir por um tempo, o carro de Eun-soo parou em uma pousada enorme que ficava bem em frente à praia. Não era um prédio novo, mas havia sinais de manutenção por toda parte, era bonito e fresco e chegava-se ao porto por um pequeno caminho de pedras polidas. Byung-jun aplaudiu o lugar e disse que era excelente, mas não durou muito.
—O quarto é muito pequeno.
—Claro. Porque era um plano para quatro pessoas desde o início.
—Kim Mi-hee está tentando me fazer sentir mal!
—É porque você é um incômodo!
Mi-hee continuou discutindo com Byung-jun sobre os quartos, então Eun-soo sorriu gentilmente com a reação dos dois e acrescentou que o plano original era para quatro pessoas, então eles pediram apenas um quarto pequeno para os dois homens e um quarto pequeno para duas mulheres. Agora, no entanto, isso seria desconfortável.
—Ei, e se armarmos uma barraca e dormirmos na praia? É o que eu costumava fazer quando ia com meus pais.
—Você tem uma barraca?
—Sim, trouxe. É enorme.
De alguma forma, ele realmente tinha muita bagagem.
Mi-hee, que estava pulando de um lado para o outro como se a sugestão de Byung-jun não fosse má ideia, bateu nas costas dele várias vezes até que ele parecesse não ter escolha a não ser se queixar de dor. Enquanto isso, Dohan e Hyewon também expressaram ativamente concordar com o plano porque, afinal, isso seria melhor do que ter três homens grandes em um quarto tão pequeno.
Dohan ainda estava um pouco preocupado com tudo isso e até se arrependeu de ter concordado em vir viajar. Mas quando trocou de roupa, junto com Byung-jun, seu coração logo começou a se animar tanto quanto o de uma criança pequena. Isso porque, no meio de tantos problemas, a roupa de banho que comprou online estava linda e o fazia parecer muito bonito. Até mais musculoso.
—Hey, estou muito bem.
—Im Dohan, pare de se olhar no espelho, pelo amor de Deus!
—É que eu amo essa roupa! Sério. Toque para sentir o tecido. Toque.
—Eu não vou te tocar. Não vou… Sai fora, seu maluco! E se apresse.
Dohan, que estava usando uma blusa preta de manga longa e um shorts da mesma cor, se fingiu de modelo enquanto tirava e colocava os óculos de sol repetidamente na frente do espelho. Byung-jun, que só tinha um shorts que comprou em liquidação em um supermercado, cobriu o espelho com sua camiseta e empurrou Dohan para levá-lo até o mar com ele, mas ele não se moveu tão facilmente. Ele precisava se ver um pouco mais! E suas sobrancelhas escuras, seu tom de pele saudável e seu cabelo tingido de um castanho avermelhado combinavam muito bem com essa cena de verão. Sério! Ele era o cara mais bonito da maldita praia!
Mi-hee sacudiu a cabeça, mas Hyewon, que estava em silêncio durante todo esse tempo, acrescentou baixinho algumas palavras positivas e disse que “Ele realmente está muito bonito.”
Na verdade, todos já estavam usando seus trajes de banho, mas Hyewon ainda estava usando uma camisa de manga longa e calças compridas. Dohan instigou Mi-hee e Byung-jun a irem com ele para a praia, mas quando viu Hyewon ainda vestido, se aproximou um pouco, como se não quisesse, e colocou sobre ele um traje de banho extra que havia trazido de casa.
—Eu não vou usar esse.
—… Muito obrigado.
Hyewon, que tinha a pele excessivamente branca, queimava em vez de bronzear quando era exposto aos raios ultravioleta por muito tempo.
Desde a infância, ele era tão sensível que queimava facilmente até o ponto em que sua pele descascava. Além disso, não podia usar qualquer protetor solar porque às vezes causava uma reação nele, e Dohan até se lembrou de uma vez em que ele teve urticária no rosto porque tinha ficado no playground durante um evento atlético no ensino médio. Naquela época, eles eram crianças e Dohan queria proteger Hyewon porque ele era muito delicado e bonito. Ainda estava preocupado e queria protegê-lo, mas agora era algo um pouco mais complicado do que naquela época. Ele não queria ser muito óbvio depois da briga.
Quando Dohan saiu do quarto, tarde e só depois de ver que Hyewon tinha colocado o traje protetor que havia lhe dado corretamente, notou que Mi-hee já estava caminhando em direção à praia como se fosse uma criança. Na verdade, ele havia criado uma grande distância com seu grupo de amigos sem perceber porque queria ter certeza de que Hyewon, que os seguia, andando incrivelmente devagar, chegasse com segurança a algum lugar com sombra suficiente.
A praia estava tão quente que a palavra “infierno” se encaixava de forma literal. Mi-hee e Byung-jun, que estavam descalços, tiveram que voltar a colocar as sandálias devido ao calor da areia, e enquanto isso, Eun-soo e Hye-won se sentaram sob um grande guarda-sol e observaram: Dohan e Byung-jun haviam agarrado Mi-hee pelos braços e pernas e decidiram que era uma boa ideia jogá-la diretamente no mar. Os dois homens, ignorando os palavrões de Mi-hee, a arrastaram para a água várias vezes depois disso, e até parecia que queriam afogá-la de propósito. Eun-soo deu um tapinha no ombro de Hyewon.
—Vocês brigaram?
—… Sim. Acho que sim.
—Por quê?
—Bem… Eu toquei em algo sensível para o Dohan.
—Eu meio que imaginei que era algo assim.
Eun-soo suspirou, olhando para Hyewon e para as outras três pessoas alternadamente.
—Na verdade, planejei isso com a Mi-hee para tentar fazer você se confessar.
—…
—Você sabe. A praia é um ambiente ideal. Muito romântico. Então pensei que…
—Honestamente, eu não acho que você seja muito boa nisso.
—Você tem pouca fé em mim.
E o que parecia uma palmadinha inocente no ombro de Hyewon por parte de Eun-soo, na verdade foi um gesto para alertar Byung-jun.
Ahá, eles também o incluíram nisso.
—Dohan!
E Byung-jun avançou e derrubou Dohan alguns metros à frente do mar.
Claro, ao vê-lo lá, rolando pelo chão e gritando de dor, Hyewon pulou e correu até ele. Eun-soo deu um tapinha na testa.
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Continua….