Pontos de sutura - Capítulo 44
Mi-hee agitou as mãos quando o médico, um homem alto de pele incrivelmente branca, que parecia não combinar em nada com aquela praia sob o sol escaldante, correu na direção deles.
—Ele disse que não consegue mais se levantar. Não faço ideia do que aconteceu com ele…
—Acho que ele foi arremessado pelo ar por acidente.
Dohan, deitado no chão, sem se importar com a areia grudada em seu corpo e rosto, gritou, mas riu como se não conseguisse concordar com o que estava sentindo.
—Eu estou bem… É minha perna.
—Sua perna?
—Estou com cãibra. Hum… Acho que foi por pisar em falso.
—Ah. Você me assustou. Pensei que fosse algo mais sério.
—Desculpa…
—Tudo bem. É melhor assim.
À medida que os músculos, que estavam causando contrações em sua perna, começavam a se acalmar, Dohan, envergonhado pelo alvoroço que causou na praia, apenas se encolheu e cobriu o rosto com as mãos. Principalmente porque se sentia muito mal por ter feito Kang Hyewon correr até lá mesmo com o sol no auge. No entanto, mesmo com a cena, os dois amigos do hospital, e depois até Eun-soo, continuaram brincando na água como se nada tivesse acontecido. Foi quase infantil.
Depois disso, Hyewon, que observava o mar sob a sombra criada por seu guarda-sol, virou a cabeça para a direita apenas para ver o homem que o acompanhara tentando descansar. Dohan, escorrendo água do mar, estava deitado a poucos centímetros dele, com os olhos completamente fechados e o peito subindo e descendo suavemente. Seu cabelo encharcado e escurecido roçava sua testa e a roupa de banho, que grudava em seu corpo, parecia ser parte de sua própria pele ao se marcar em seu abdômen definido.
Hyewon lutou para esconder seu rosto ruborizado e se concentrou no que realmente importava:
—Ainda não está se sentindo bem?
—O quê? Ah, isso… É que minhas pernas sempre parecem ser a parte mais fraca do meu corpo.
Na verdade, essa era a primeira conversa casual deles desde a briga. Dohan se secou com uma toalha, levantou-se e sentou-se ao lado dele como se já estivesse cansado de estar deitado. Hyewon não disse nada e, em vez disso, manteve o olhar constantemente em direção ao mar. Byung-jun estava ajudando Eun-soo e Mi-hee a entrar em um flutuador, então tudo o que se ouvia eram suas risadas e suas próprias respirações cansadas. Hyewon pegou uma lata de cerveja da caixa térmica de Eun-soo e entregou a Dohan.
—…
Mais uma vez, ninguém disse nada.
Dohan pegou a cerveja, abriu-a e deu um grande gole. Na verdade, embora o espaço ainda estivesse cheio de barulho e vozes, ele podia ouvir perfeitamente tudo o que Dohan estava fazendo. Se ele se acomodava, bebia ou mesmo se mexia as mãos.
Hyewon fez uma pausa por um momento e olhou para Dohan. Dohan, sentindo os olhos de Hyewon em seu rosto, amassou a lata e fez o mesmo.
—…?
—…
—Você deveria… Usar um boné.
Dohan cobriu a cabeça de Hyewon com uma toalha úmida. Mas em vez de tirá-la, o homem apenas a moveu um pouco para baixo em uma tentativa de esconder seu rosto.
Dohan, ainda molhado, seminu ao seu lado, era tão sexy que desejou poder dar um monte de beijos em seus lábios sem prestar atenção nos olhos das outras pessoas. Mas obviamente ele não era tão corajoso para fazê-lo.
—Sua pele está descascando.
—Sim, acontece com frequência. E você? Gostaria de uma massagem nas pernas?
—Não, não. Não é nada para se preocupar.
Hyewon, notando suas panturrilhas, falou em resposta à preocupação de Dohan, mas ele apenas balançou a cabeça. Hyewon se perguntou se era porque ele ainda estava bravo.
—Dohan.
—…
Hyewon disse seu nome baixinho, mas Dohan não respondeu. Ele nem mesmo fez contato visual com o médico ou algo assim. Ele estava apenas lá, fingindo não ouvir e olhando fixamente para Mi-hee, Byung-jun e Eun-soo, que eram muito mais barulhentos que os outros turistas.
Hyewon, mais uma vez, reuniu coragem e chamou seu nome. Embora fosse um pouco mais suave e carinhoso do que da última vez.
—Dohan.
Ao ouvir a voz de Hyewon, que era bastante séria, Dohan finalmente suspirou e decidiu olhar para ele:
—Naquele dia, o que eu queria dizer era que…
—Não diga nada. Fui eu quem agiu como um imbecil.
—Dohan…
—Sempre falo demais, mas é você quem está se desculpando.
Os olhos dos dois estavam presos um no outro. Ele sabia melhor do que ninguém que Kang Hyewon era uma pessoa que facilmente poderia ser mal interpretada, mas entender com a cabeça, e com o coração eram coisas diferentes. Às vezes era doloroso e complicado, então Dohan pensou que talvez isso fosse algo que eles repetiriam continuamente só porque eram eles.
—Não tem problema. Quero dizer… Eu estava um pouco sensível naquele momento. Eu sei que você não quis dizer nada de ruim sobre mim. Foi só que… Você não se explicou direito.
—Me desculpe.
—Haha, está vendo? Eu só falo e falo, e você acaba pedindo desculpas. Além disso, você não precisava fazer isso porque eu já sei.
—Mesmo assim… Quero fazer as coisas corretamente.
Seu coração começou a bater forte quando viu Hyewon falando enquanto olhava para ele. Desta vez, havia uma estranha expectativa de que seria possível seguir um caminho ligeiramente diferente do anterior.
—Quero te dizer o que está acontecendo comigo…
—Então faça. Eu vou ser paciente, então, me diga…
—Dohan-ah, eu…
Hyewon fechou os olhos por um momento e então os abriu, olhando para Dohan de forma completamente direta. Quando seus olhos encontraram as pupilas negras, refletindo sua figura como a água do mar faria, Dohan soube que algo muito importante estava prestes a ser dito, então ele prendeu a respiração.
—Eu estou e…
—Ei! Você está se sentindo melhor?
Mas no momento em que Hyewon estava tentando falar, um convidado não tão convidado desta viagem interrompeu sem perceber o que estava acontecendo ali. E seguindo Byung-jun, que chegou primeiro, Mi-hee e Eun-soo se aproximaram com guarda-sóis que aparentemente conseguiram de um vendedor ambulante.
—Viemos perguntar se querem ir comer?
—Gostariam de ir comer ramen?
—Dohan, me dá um gole da sua cerveja?
—Não. Eu já bebi tudo.
Mi-hee se aproximou de Dohan tentando pegar a cerveja em sua mão, mas Dohan deu um tapa forte na mão dela e depois amassou a lata para não dar a ela. Como se nada tivesse acontecido, Hyewon pegou outra lata do cooler e entregou a Mi-hee antes que eles começassem a brigar na frente dele por nada.
Byung-jun tirou sua blusa de banho, que estava encharcada de água do mar, e a espremeu sobre a cabeça de Dohan até deixar seu cabelo, que havia secado levemente com a brisa, molhado novamente.
Dohan chutou sua canela.
—Ai!
—Seu idiota, por que caralhos me derrubou antes!?
—Não é minha culpa que suas pernas estejam tão ferradas!
—Sério, você deveria se comportar como um adulto!
—Chega vocês dois! Vamos procurar algo para comer. Descansamos um pouco, tomamos banho, comemos e voltamos para o mar, certo?
—Certo!
—Gostei da ideia.
—Eu também gostei.
—Ok.
Os quatro concordaram com a sugestão de Eun-soo. Byung-jun, que tinha estado pisando no pé de Dohan até enterrá-lo na areia, se arrastou entre Hyewon e Dohan e se deitou como se fosse um lagarto. Vendo isso, Mi-hee revirou os olhos sem perceber e se deitou ao lado de Dohan enquanto Eun-soo se sentava ao lado de Hyewon.
Enquanto tentavam se acomodar na estreita sombra criada pelos pequenos guarda-sóis, os cinco adultos se amontoaram o máximo possível para tentar não morrer de insolação. No entanto, conforme a sombra fresca sobre suas cabeças e pernas aumentava e o ar frio começava a soprar em seus rostos, uma sensação tão incrível de liberdade os envolveu que até os deixou sonolentos.
—Doutor Kang, já que veio até aqui, não deveria pelo menos entrar no mar uma vez?
—Deixe-o em paz. A menos que queira enviá-lo imediatamente para um dermatologista.
Byung-jun suspirou, secando as mãos molhadas nas costas de Hyewon, porque ele havia colocado uma camisa de algodão por cima. Dohan, notando o que o homem estava fazendo, deu um tapa nele.
—Ah!
—Enfim, o que querem comer?
—Estamos na praia, então, frutos do mar.
—Vamos comer caranguejo.
—Sim, isso seria ótimo.
—Caranguejo! Caranguejo! Caranguejo!
Byung-jun e Mi-hee cantaram “Caranguejo” enquanto se agarravam ao braço de Dohan como se ele fosse o pai deles.
—E então, o que você diz?
—Não… Eu gostaria de comprar carne de porco.
—Carne na praia!?
—Caranguejo! Caranguejo! Caranguejo!
—Carne está bom.
Diante das ações das duas pessoas, que o seguravam de um lado para o outro sem parar de fazer barulho, Dohan pulou e os golpeou um por um até fazer um som bastante estridente por causa da água em seus trajes de banho. No entanto, ele franziu a testa e abriu os olhos com firmeza ao ver as duas pessoas gritando “caranguejos” mesmo depois de terem sido atacadas por ele.
Mesmo nesta situação, Hyewon não disse que era alérgico. Isso já tinha acontecido várias vezes antes, então, quando Dohan perguntou por que ele não falava sobre sua condição com as outras pessoas, Hyewon respondeu, com uma expressão vazia, que não importava se ele não comesse, contanto que os outros estivessem confortáveis e se divertindo. Sem Dohan, Kang Hyewon iria com eles comer caranguejo mesmo que isso significasse ficar com fome.
Era assim tão bobo.
—Umm… Dohan quer ir comer carne porque Hyewon é alérgico a caranguejos.
Como aqueles dois não paravam de gritar, Eun-soo finalmente veio em sua defesa.
—Huh? Você é alérgico, doutor?
—Eu também não sabia.
—Tudo bem. Vocês podem comer o que quiserem.
—Ele é alérgico desde criança. Realmente é algo para se ter cuidado, então eu também não como.
Agora foi Dohan quem interveio.
Mi-hee e Byung-jun se olharam, então observaram Dohan e Hyewon alternadamente e suspiraram como se tivessem desistido. Com isso em mente, agora ficou claro por que Dohan sempre insistia em comer algo que não tinha frutos do mar quando Hyewon estava por perto.
—É estranho.
—O que é estranho?
—Eu vi o doutor comendo todo o sushi que Dohan compra para ele.
—… É que quando eu compro, peço sushi de puro arroz e queijo.
—Ah…
Mi-hee olhou para o rosto inexpressivo de Hyewon e coçou a cabeça como se esperasse que ele dissesse algo.
—Bem. Isso é fofo. Vocês realmente formam um belo casal. E eu pensei que seria mais difícil juntar… Ai! Já chega de me bater, pelo amor de Deus!
Diante das palavras de Byung-jun, que falou sem pensar, Eun-soo e Mi-hee trocaram olhares rapidamente antes de decidirem jogar suas latas de cerveja ao mesmo tempo na direção dele. Enquanto isso, Dohan e Hyewon respiraram fundo porque começaram a se sentir como se tivessem sido pegos em algum tipo de “movimento perigoso”. Mi-hee se levantou:
—Então está decidido! A comida está resolvida!
—Sim! Estou morrendo de fome.
—Sério, vocês não precisam fazer isso por mim. Podem pedir caranguejo se quiserem.
—Não, vamos comer carne. Não se preocupe e agradeça.
Com Dohan liderando o caminho, as três pessoas se levantaram uma após a outra e disseram que a carne estava ótima. Felizmente, era um grupo que comia o que fosse colocado à sua frente.
—Ei! E se montarmos a barraca e fizermos um churrasco aqui?
—Não, não tenho energia para fazer isso quando estou tão faminta.
—Tudo bem, vamos tomar um banho rápido e comer em um restaurante daqui.
—Sim, aceito essa opção.
Hyewon, o único que não entrou no mar, ficou em um canto enquanto se organizavam para sair.
—Mi-hee e Eun-soo podem usar o banheiro do quarto, e Kim Byung-jun e eu usaremos o chuveiro aqui.
—Certo, muito obrigado Dohan.
—Hyewon, você pode me ajudar a guardar as coisas? Byung-ah, você vai primeiro.
—Tudo bem. Prometo que não vou demorar.
E depois de ver o homem atravessar a praia em direção aos chuveiros, Dohan finalmente desviou o olhar para Hyewon e pediu para ele se aproximar. Ele fez isso como um truque para fazê-lo continuar com as palavras que não havia terminado antes, mas Hyewon não disse mais nada e, em vez disso, apenas começou a limpar secretamente aqui e ali como uma “dona de casa” muito organizada.
Dohan suprimiu a súbita explosão de irritabilidade com um tapa mental. Ele disse que esperaria, então era isso que tinha que fazer.
‘Paciência, paciência. Tenha paciência.’
Dessa forma, Dohan se consolou o suficiente para continuar ajudando Hyewon a organizar o espaço na praia.
—Ah, merda.
Dohan soltou um palavrão quando o celular de Mi-hee caiu na areia ao tentar limpar o lugar, e ele olhou para trás com a súbita sensação que lhe atravessou a cabeça. Parecia que Hyewon, que tinha algumas coisas nas mãos, estava completamente atento tanto a ele quanto ao ambiente silencioso ao redor. Quase como se também estivesse esperando para ficarem a sós.
—Acha que já podemos conversar agora?
—Se não for para pedir desculpas por algo, então está tudo bem.
Quando Dohan disse isso, Hyewon sorriu para ele. E só com essa expressão tão rápida, Dohan sentiu que seu coração tenso amoleceu repentinamente.
‘Ah, droga. Não é hora de ficar nervoso.’
Mas quando virou a cabeça, viu Byung-jun ao longe, movendo a boca enquanto apontava com o dedo para o chuveiro.
—Você… Pode esperar? Vou me lavar e, depois disso…
—Claro. Não é o momento. Mas… Vamos conversar de qualquer maneira, está bem?
—Sim.
Depois de fazer as malas para sair, Hyewon ficou no jardim da pousada sob a sombra de uma árvore, esperando pelo seu grupo.
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Continua….