Pontos de sutura - Capítulo 46
—O que aconteceu? Você está bem?
—Byung-jun. Sim, está tudo bem. Mi-hee e Eun-soo estão lá fora. Eu vou ficar aqui com ele.
—Você precisa descansar. Se quiser, eu…
—Está tudo bem. Quando Hyewon acordar, melhor eu estar aqui, não precisa se preocupar, vai ficar tudo bem.
—Mas suas roupas estão todas molhadas.
—Já estão secando em algumas partes. É sério, vou te ligar quando ele acordar.
Byung-jun, que havia sido levado ao hospital junto com o homem afogado, chegou ao pronto-socorro apenas para encontrar Dohan e Hyewon em uma enfermaria separada. Pouco depois de Byung-jun entrar na ambulância e partir, Hyewon começou a se sentir mal e desmaiou de forma um tanto preocupante. Dohan, que abraçou Hyewon, que era um palmo mais alto que ele, esqueceu a compostura, ao contrário de quando resgatou a pessoa que estava se afogando, e começou a parecer incrivelmente desesperado com a situação. Ele pediu ajuda, chamou por Hyewon, abraçou-o e olhou ao redor procurando alguém que pudesse fazer com que ele acordasse. Mas Eun-soo, que mais uma vez agia como a mais calma do grupo, percebeu o que estava acontecendo e colocou o amigo no carro para que pudesse levá-lo imediatamente ao hospital.
Agora, parecendo preocupado com Dohan, cujo rosto estava tão branco quanto o do homem na cama, Byung-jun tocou seu ombro e disse para ele se acalmar um pouco. A temperatura do corpo, que ele podia sentir através da camisa que ainda não tinha secado, era tão fria que ele decidiu entregar-lhe um daqueles roupões descartáveis que lhe deram na chegada para que Dohan trocasse de roupa. Então, o grupo, também assustado, decidiu recuar com uma expressão determinada e pediu para ele ligar assim que Hyewon começasse a acordar. Eles estariam por perto, então ele agradeceu por tudo e se despediram na porta.
Dohan sentou-se um pouco mais perto de Hyewon e colocou a mão sobre a dele. Seus dedos não paravam de tremer, não importava o quanto ele tentasse acalmar. O que ele tinha enterrado no peito não era uma emoção leve, como preocupação e surpresa, mas sim uma grande massa de sentimentos que o impedia de respirar em paz, quase como se o mundo tivesse desabado em um segundo. Ele ficou sentado ao lado do homem o tempo todo e acariciou seu braço para cima e para baixo na tentativa de aquecê-lo. Os dedos dele estavam tão delicados como uma escultura de porcelana, mas o toque, que se sentia sob essa fina aparência de boneco, era áspero e terroso. Como se ele tivesse sido ferido em algum momento sem perceber.
Dohan olhou para o rosto de Hyewon e acariciou também suas bochechas. Seu coração, que sempre perdia a noção do tempo na presença dele, agora estava aprisionado pela situação como se tivesse sido amarrado com uma corda. Então, Dohan definitivamente decidiu que quando Hyewon acordasse, em vez de esperar que ele falasse primeiro, diria tudo o que estava sentindo e seria o mais honesto possível com ele, não importando o quanto doesse.
Então, a mão de Dohan, que estava acariciando a de Hyewon todo esse tempo, foi segurada por Hyewon quase sem que ele percebesse como aconteceu.
—Dohan…
—Kang Hyewon… Como você está se sentindo? Estamos em um hospital agora.
Dohan sentiu alívio e levantou-se de sua cadeira imediatamente depois de vê-lo se mexer, mas Hyewon não soltou sua mão mesmo assim. Ele tinha os olhos fechados e o rosto ainda terrivelmente pálido e nervoso.
—Kang Hyewon?
Os dedos de Hyewon, que seguravam os de Dohan, tremiam tão fortemente que até ele sentiu uma sensação de formigamento na mão.
—Dohan-ah…
Dohan não conseguiu dizer nada diante da voz de Hyewon, que estava úmida e embargada, como se estivesse prestes a chorar de novo. Era como se sua mão fosse um salva-vidas, então ele a apertava e a apertava como o menino prestes a se afogar na praia. Além disso, Hyewon parecia muito mal. Totalmente desesperado.
—Dohan, eu… Eu não ia suportar se você se machucasse ou se metesse em problemas. Eu não quero te ver ferido nem uma única vez. Não importa se você acha que é bobagem. Não quero que você corra nenhum risco. Eu não… eu não seria capaz de resistir se algo acontecesse com você.
Dohan soube imediatamente que isso era uma extensão da conversa que tiveram naquela noite.
—Eu entendo o que está te preocupando. Mas…
—Não, me deixe falar.
—Está bem…
Dohan, que tinha tentado acalmá-lo porque suas mãos não paravam de tremer, olhou para ele com olhos preocupados quando Hyewon disse que precisava falar com ele. Sua respiração estava muito agitada, como antes de desmaiar depois de abraçá-lo na praia, então Dohan, que estava muito ansioso, o segurou, caso ele pudesse desmaiar novamente.
—Ei, ei, acalme-se. Você não precisa fazer isso..
—Eu sempre odiei não ser um Ômega.
—O quê?
—Teria sido bom se eu fosse um Ômega. Eu… Tenho pensado nisso inúmeras vezes, o tempo todo.
—O quê…? Por que você está dizendo isso assim, do nada?
—Eu… Não estava pensando direito. Eu nem sabia o que estava fazendo, só queria ser um Ômega. Então… roubei um frasco de inibidores, mas eles me interpretaram mal e colocaram no meu histórico que eu tive uma overdose por tentativa de suicídio, mas… Eu só estava tentando deixar de ser um Beta.
Dohan ficou sem palavras por um momento diante da declaração tão inesperada de Hyewon. Em seguida, ele observou o rosto do homem, que lentamente se levantava da cama para ficar quase de frente para ele. Mesmo assim, ele segurou a mão de Dohan com tanta força que até a deixou dormente.
Hyewon, agora sentado na maca, ainda parecia pálido e confuso e seus olhos estavam cheios de lágrimas como se estivesse se derretendo em emoções que não tinha notado bem. Quando se preocupou com Dohan no mar escuro, Hyewon se arrependeu de tudo o que aconteceu e decidiu que não queria voltar a sentir aquela terrível sensação nunca mais.
—Não… Não foi um mal-entendido. É o que eu digo a todos, mas… Eu realmente queria morrer. Pensei que se não fosse um Ômega, então não valia mais a pena viver daquele jeito. Eu realmente tentei me matar.
—Por quê…? Não, wow. Espere um minuto, Hyewon. Apenas, espere.
—Foi por isso que te deixei. Estava em tratamento psiquiátrico naquela época, então tive que ser internado. Eu… Eu era um paciente psiquiátrico no hospital do centro e foi lá que conheci Eun-soo.
Dohan não conseguia falar.
Como se tivesse um nó na garganta, Dohan apenas ouviu as palavras arrastadas de Hyewon e, sem perceber, deixou escapar um breve “Ah”. Chegou na parte que Hyewon desapareceu de seu lado e ele não sabia por quê. Mas, agora, o homem, que ansiosamente segurava sua mão e despejava palavras estranhas com um tom próximo ao de choro, o deixou loucamente confuso, ansioso, lamentável e tonto… Ele não sabia nem o que dizer.
—Eu estava com medo de que você ficasse decepcionado se soubesse disso. Se você conhecesse essa parte de mim… eu estava com medo de que você nunca mais quisesse me ver ou falar comigo. Estava com tanto medo.
—Espere um minuto, Hyewon. Só… Só se acalme por um segundo. Isso vai te deixar sem fôlego. Você não pode…
—Então… Foi por isso que estava escondido isso todo esse tempo. Mas, se isso fizer você desaparecer de qualquer maneira, então não tem sentido.
Dohan esqueceu o que ia dizer a Hyewon há um momento. Não conseguia pensar em nada vendo o homem tão mal na sua frente. Só estava certo de que ele parecia tão destruído que tinha que fazer algo para acalmá-lo antes que tudo piorasse.
—Desculpe! Eu não consegui parar… Eu não sei o que estava pensando! Eu só queria ser outra pessoa! Me desculpe, desculpe por ser um homem tão repugnante. Perdão, Dohan-ah, por favor, me perdoe.
—O que? O que você está dizendo? Por que está me pedindo perdão, Kang Hyewon?
Diante da pergunta de Dohan, Hyewon olhou para ele com lágrimas nos olhos. Seus lábios tremeram e as mãos que o seguravam ficaram ainda mais frias. Ele estava suando e seu peito não parava de subir e descer descontroladamente. Dohan teve a sensação de que nunca esqueceria esse sentimento em sua mão.
—Eu te amo. Estive apaixonado por você desde que éramos crianças, ainda estou apaixonado por você. Eu… É por isso que eu queria ser um Ômega naquela época. Se fosse um Beta, você nunca ficaria comigo. Eu queria mudar e queria… Queria ser alguém que você pudesse amar porque… Sinto muito! Eu não queria que você se apaixonasse por outra pessoa.
A mão de Dohan, que segurava a mão de Hyewon, se soltou. Um pesado silêncio se instalou por um longo tempo, e foi como se nenhum dos dois estivesse respirando.
—Dohan-ah?
Dohan, que não respondeu à súbita confissão, se virou em silêncio e se afastou.
—Dohan!
Como se estivesse se afogando em um pântano, sua mão estava desesperada para segurá-lo novamente, mas não conseguiu alcançá-lo. Em vez disso, Dohan parou por um momento diante de seu grito e falou baixinho, sem se virar.
—Eu vou… Eu só preciso respirar. Desculpe.
—Dohan… Dohan?
Hyewon sabia que Dohan nunca mais voltaria.
Ao olhar para as costas de Dohan quando ele se virou e saiu do hospital, pensou que talvez essa fosse a sua resposta.
***
Depois de sair da sala de emergência, Dohan se agachou no chão da entrada e apoiou as costas na parede no canto do prédio do hospital. Agora a questão era se seus ouvidos tinham recebido a informação correta ou se ele tinha sido enganado novamente. Ele cobriu o rosto com ambas as mãos, fechou os olhos e sentiu a maneira incrivelmente clara como suas bochechas estavam ardendo.
A confissão que acabou de sair da boca de Hyewon se repetia uma e outra vez em sua cabeça, como uma fita cassete rebobinada.
—Pelo amor de Deus. Hyewon. Pelo amor de Deus! Caramba, seu idiota maluco. Louco. Muito louco.
Ele não teria nem imaginado que o que aquele homem tinha dito fosse verdade se não estivesse observando Kang Hyewon justo no momento em que aconteceu! Dohan, que estava evitando falar com medo de dizer algo que pudesse atordoar ainda mais o homem que acabou de acordar, gritou internamente e começou a morder os lábios com cada um de seus dentes.
No entanto, agora mesmo, um som muito parecido com um grito de felicidade escapou de sua boca coberta por suas grandes palmas, e então Dohan simplesmente pulou. Foi exatamente isso que ele fez. As pessoas que passavam por perto dele de repente se assustaram e gritaram com seus movimentos bruscos, mas então simplesmente olharam para o homem pulando para cá e para lá como um coelhinho, e provavelmente pensaram que ele tinha recebido boas notícias porque não disseram mais nada.
Mas, de repente, parecia que mil eventos, anteriores a esse breve momento de alegria, passaram pela mente de Dohan até que ele franziu a testa. Se eles tinham o mesmo sentimento, então por que diabos foram tão longe sem dizer isso? Quer dizer, se eles tivessem dito apenas “eu gosto de você” como Hyewon fez agora, tudo teria se resolvido rapidamente, então sério, do que tinham tanto medo, se nada tinha acontecido agora? Foi engraçado, mas depois de hiperventilar e pular para todos os lados por causa de quão feliz ele estava, agora não conseguia parar de chorar porque tinha pensado em como teria sido terrível se ele o tivesse perdido, porque não se confessou antes. Mesmo que ele acabasse de receber uma confissão que achou incrivelmente bonita. Na verdade, Dohan pensava que era uma pessoa muito inteligente e madura até se encontrar rindo dessa situação como um idiota. Por que eles agiram de forma tão tola e se machucaram tanto? Foi tão inútil, tão estúpido…
Uma única frase, uma simples frase teria resolvido tudo.
E Dohan, que de repente chegou a essa conclusão, olhou ao redor novamente como se de repente não soubesse onde estava. Ele estava tão envergonhado por tudo o que acabara de acontecer que até deixou Hyewon sozinho na sala de emergência e fugiu do hospital como costumava fazer quando a situação se tornava muito intensa para lidar. Neste momento, o homem deveria estar preocupado, triste e decepcionado com suas ações. Mas que merda! Ele até imaginou Hyewon fugindo sem ele!
Sem mais tempo a perder, Dohan voltou para a sala de emergência e procurou a enfermeira onde o tinham deixado deitado até algumas horas atrás. Na verdade, teve muita dificuldade em correr as cortinas e descobriu que os tremores em suas mãos só tinham piorado.
Hyewon, que estava sentado como um boneco com os fios quebrados, pensando que Dohan nunca mais apareceria depois do que lhe contou, se assustou com a sombra repentina que atravessou o quarto e, antes de recuar por puro reflexo, arregalou muito os olhos e soltou um grito quase inaudível. Ele tinha tirado os óculos por ter chorado tanto, então tudo à sua frente e atrás dele estava completamente distorcido. No entanto, não houve problema em reconhecer o homem que era dono daquela sombra. Não importava o quão longe estivesse ou o quão cego parecesse, mesmo sendo um Beta, ele tinha aprendido a reconhecer aquele cheiro perfeitamente.
—Ah, Kang Hyewon. Que bom que ainda está aqui!
A voz de Dohan tremeu no momento em que pronunciou aquele nome. Ele não conseguia conter todas as suas emoções, então até soltou uma risada bastante boba. Não tinha como explicar! Era como se tudo no passado agora parecesse uma coisa sem importância. Algo muito vago…
—Hyewon, eu,… eu odeio todas as situações desconfortáveis. Você está certo sobre isso! Não precisava ter ido a aquele restaurante na universidade, nem ter batido naquele cara no hospital e não precisava ter vindo nesta viagem horrível também.
—…
—Entende o que quero dizer? Não foi porque eu queria parecer uma pessoa legal, ou alguém popular, mas porque eu queria parecer bom para você. Queria que olhasse para mim o tempo todo. Eu só queria… Parece legal para você porque todo mundo quer fazer isso na frente da pessoa de quem gosta.
Um sorriso estranho se formou nos lábios de Dohan, mas Hyewon ainda parecia estar chorando. Mesmo que tivesse uma expressão que parecia a mais fria do mundo.
—Eu pensei que…
Dohan caminhou até ele, estendeu os braços e o abraçou com toda a força, assim como quando ele tinha desmaiado.
—Eu simplesmente não sabia o que fazer porque deveria ter me confessado primeiro. Você é um bastardo destruidor de planos.
—… Dohan.
—O que fizemos até agora? Parece tão ridículo quando penso nisso direito.
Ele parecia envergonhado, então começou a rir novamente. Então, Dohan, que finalmente pareceu recuperar um pouco a compostura, acariciou suas costas trêmulas com as duas mãos e subiu para colocá-las em volta do pescoço de Hyewon.
—Sou eu… Sou eu quem precisa te pedir perdão. Eu estive te perseguindo o tempo todo, mas nunca disse em voz alta e só compliquei tudo para nós dois. Eu deveria pedir perdão, não você .
Os ombros de Hyewon tremeram nos braços de Dohan. Ele não sabia se o homem estava chorando ou rindo porque havia escondido a cabeça no arco de seu pescoço, mas sua vaidade e estupidez o fizeram pensar que era melhor imaginar que ele estava sorrindo do que chorando. Então, quando começou a perceber cada pequena coisa que acontecia entre eles e deu pequenos tapinhas na cabeça do outro, a voz de Hyewon finalmente chegou aos seus ouvidos:
—Honestamente, eu nem sei o que está acontecendo, então…
Diante das palavras tão inesperadas de Hyewon, Dohan abriu muito os olhos e começou a rir pela terceira vez. E ao vê-lo sorrir inocentemente, como uma criança faria, foi como se toda a ansiedade que sentiu quando o viu partir não fosse mais importante o suficiente para se lembrar de como se sentia.
—Temos tempo para falar sobre isso depois. Por agora eu… Kang Hyewon.
—Diga…
—Eu também.
—O quê?
—Sempre gostei de você.
—Desde quando?
—Desde que éramos crianças.
Mas mesmo que sempre tivessem estado juntos, havia tantas coisas que não puderam ser ditas e, além disso, muitas coisas a serem resolvidas.
°
°
Continua…