O Primeiro Mandamento - Capítulo 06
Tu não terás outros deuses além de mim.
Não terás outros deuses diante de mim.
“Êxodo 20:1-17”
Lembrando, Alexei sabia que seu pai não era o tipo de pessoa que faria esse tipo de coisa. Nas lembranças superficiais que podem desaparecer com um simples aceno da mão, ele sempre tinha uma expressão pesada. Toda vez que Igor dava uma ordem, seu pai voltava para casa com uma expressão de dor no rosto. Gotas de sangue eram frequentemente vistas nas costas da mão do meu pai enquanto ele tirava os sapatos.
Ele sempre ajudava os vizinhos em apuros, mesmo em seus dias de folga e sua mãe não era diferente. Ele sempre foi gentil com as crianças de sua idade e sempre fazia e levava algo para as famílias que passavam fome como se quisesse desfrutar um pouco da paz que desejava ter.
Talvez houvesse esperança para seus pais. Alexei especulou isso ao recordar o passado. Eles acreditavam que se vivessem arduamente e economizassem dinheiro, se um dia recuperassem a liberdade que trocaram pela nacionalidade, seu filho Alexei poderia viver uma vida normal. Era uma ingenuidade que não combinava com criminosos.
Alexei pensou que ele mesmo não tinha essa ingenuidade. Ele pensava que isso já tinha se desgastado e se misturado com as cinzas de seus pais. Mas não era assim. Imprudente, Alexei também acreditava, assim como seus pais, que se sobrevivesse e aguentasse o suficiente, poderia escapar de Igor.
Idiota.
Ele não conseguia suportar o quanto desprezava a si mesmo. Igor não havia esquecido de nada. Nem a traição dos pais de Alexei, nem o cuidado que ele tinha por Valery, nada. Pensar que Igor havia enterrado isso em um canto distante de sua mente foi um erro. Igor sempre soube que Valery era seu ponto fraco.
O silêncio no carro era tão pesado que não seria estranho se causasse asfixia. Ele nem mesmo conseguia ouvir sua própria respiração. Permaneceram assim todo o caminho desde que saíram da mansão até a pizzaria onde T-Mac estaria. Provavelmente Yuri sentia o mesmo. Mandar matar um policial era o mesmo que condenar Yuri à morte. Talvez no passado não, mas na situação atual, com o novo chefe de polícia trazendo seus próprios homens.
Mesmo que Igor escapasse, Yuri certamente seria pego. E mesmo que conseguisse sair disso, a culpa recairia sobre Igor, que precisaria de um bode expiatório, e então entregaria Yuri. O filho de traidores é, afinal, um traidor. Eles o mantiveram vivo apenas para usá-lo mais tarde.
Embora vagamente imaginasse isso, o confronto com a realidade trouxe uma sensação de autodepreciação. Depois de tudo que passou, ainda pensava de maneira ingênua. Quando viu a placa vermelha ao longe, Alexei estacionou no amplo estacionamento. A placa estava apagada, mas T-Mac deveria estar dentro da loja. Ele desligou o motor e saiu do carro, Yuri parou logo em seguida.
Quando saiu do carro, Yuri ofereceu-lhe um cigarro. Ele aceitou naturalmente e deu uma longa tragada.
—Isso é loucura.
Ao ouvir Alexei, Yuri abaixou o olhar. Depois de um longo silêncio, ele falou.
—Eu vou resolver isso.
—O quê?
—Eu mesmo vou cuidar de Ryan Winter.
Alexei franziu os olhos com o nome inesperado e olhou para Yuri, que encontrou seu olhar.
—Não importa o motivo, você não pode quebrar algo que sempre teve como um princípio. Eu vou fazer o trabalho sujo, e você apenas deve…
Um vento frio passou, arranhando a bochecha pálida de Yuri e deixando-a avermelhada. Seu rosto, que parecia ainda mais branco que o normal, fazia suas sobrancelhas escuras e cabelos pretos se destacarem. Alexei, que estava observando Yuri em silêncio, sussurrou baixinho.
— ‘Ficar observando?’ Fala sério, Yuri Kiselev.
Yuri franziu os olhos quando Alexei falou formalmente, usando seu sobrenome.
—Você não teria sobrevivido sem mim. E agora você vai me proteger? Só porque eu virei um omega, você acha que fiquei fraco? — Alexei caminhou até ele e jogou o cigarro no chão, esmagando a ponta com o salto do sapato. Ele levantou os olhos e deu um sorriso amargo. —Não importa o que aconteça com esses feromônios, você nunca vai me vencer.
Com uma confiança fria, Yuri fechou a boca levemente. Quando Alexei pensou que ele iria recuar, Yuri retrucou.
—E então você vai matar alguém? O cara que não consegue controlar a emoção quando se trata do seu irmão?
Yuri enfrentou Alexei com determinação. Alexei ficou irritado com a sensação de ser pressionado pelos feromônios, embora soubesse melhor do que ninguém que isso era um fenômeno instintivo de um alfa, independente da vontade de Yuri.
—Yuri. Nós não podemos fazer isso.
Yuri ficou em silêncio diante das palavras de Alexei.
—Você não pode matar pessoas. Se fosse capaz, eu não teria mantido você ao meu lado.
—Se não fizermos isso, nós vamos morrer. E seu querido irmão também.
—Se fizermos isso, você morre. Você sabe como as coisas estão.
Yuri exalou, liberando uma nuvem de ar branco. Quando Alexei viu seus lábios ficarem pálidos, ele apontou com o queixo para a loja.
—Vamos entrar e conversar.
Tomando o silêncio de Yuri como resposta, Alexei destrancou a porta e entrou na loja. Ao fechar a porta e digitar o código no teclado de segurança, T-Mac gritou de baixo.
—Quem é o desgraçado?
Era uma atmosfera bastante sombria. Quando se aproximou do balcão, ele deu uma resposta simples a T-Mac.
—Não faça perguntas idiotas.
—Alyosha, seu bastardo, onde esteve até agora para só aparecer agora? —T-Mac gritou de baixo e subiu as escadas de uma vez. Assim que viu Alexei, apontou o dedo para ele. —Porra, eu estava preocupado! Como você pode não dar notícias por cinco dias depois de me pedir uma coisa estranha?
—Eu me perguntei quem disse isso a Alyosha. Claro que foi você.
Yuri, que estava ouvindo, disse baixinho. T-Mac, ao ver Yuri, se calou. Ele tinha uma certa dificuldade com Yuri, que era notoriamente taciturno. Isso se devia ao fato de que, uma vez, ele se atreveu a provocar Yuri e acabou com a boca ensanguentada. Todo mundo passa por uma luta de hierarquia quando entra, e a posição de T-Mac foi decidida assim.
—…Ele também sabe?
T-Mac, olhando de soslaio para Yuri, sussurrou para Alexei. Ele era grande, mas muito medroso, então era um mistério como ele aguentava estar ali.
—Se ele está falando assim, é porque sabe.
Respondendo com um tom de indiferença, Alexei fez T-Mac fazer o sinal da cruz.
—Minha culpa, minha culpa. Eu não devia ter te contado. Se até o Yuri percebeu, daqui a pouco você vai para o inferno…
—Já estou à beira da morte, então cala a boca.
Dizendo isso, Alexei se dirigiu ao porão. Sentindo a seriedade da situação, T-Mac o seguiu.
—O que houve? O que está acontecendo?
—Você não recebeu nenhuma informação?
T-Mac não estava no núcleo, mas estava numa posição intermediária, então provavelmente tinha alguma ideia de como as coisas estavam indo na organização.
—Foi barulhento porque Leto foi capturado..
Descendo para o porão, eles entraram na sala de reuniões que também era usada pelo contador. Alexei jogou o casaco de lado e puxou uma cadeira para sentar. Não havia mais para onde recuar, de qualquer forma, ele estava condenado. Mesmo que conseguisse matar Ryan Winter, era certo que exigiriam algo ainda pior depois.
Ele precisava abandonar a crença de que a situação melhoraria milagrosamente.
Alexei sempre enfrentou tudo sozinho. Carregando Valery nas costas, lutou com todas as forças para sobreviver e chegar até ali. Ele não podia ver seu irmão morrer de maneira tão absurda. Fez todo tipo de coisa desprezível para impedir isso e agora estava nessa situação.
—Quanto você ainda deve?
—Por que essa pergunta de repente?
Quando Alexei lançou-lhe um olhar penetrante, T-Mac respondeu rapidamente.
—Você sabe. Nunca poderei pagar isso em toda a minha vida. Mesmo que me paguem bem pelo que faço, nunca vou conseguir quitar uma dívida de mais de trezentos mil dólares. E eu nem estou na linha de frente como vocês…
Alexei observou T-Mac silenciosamente. Ele confiava em poucas pessoas, o que era compreensível, já que seus pais foram mortos por Igor, mas T-Mac era um sujeito ingênuo e deslocado nesse ambiente. Isso ficou evidente quando ele revelou informações que poderiam botar sua própria vida em risco facilmente para Alexei, estava claro que eles estavam no mesmo barco.
Não se pode confiar nas pessoas, mas pode-se confiar em suas fraquezas. Alexei decidiu envolver T-Mac.
—Você.
Ele chamou com uma voz baixa. O homem olhou para ele, nervoso.
—Você quer sair daqui, não é?
—Claro, obviamente… Mas não há como. Se eu sair, vou morrer. Eles vão me perseguir até o fim.
Todos sabiam que Igor não deixava ninguém escapar como exemplo. Ele sabia que, se um bastardo fugisse, todos tentariam escapar.
—Se você pudesse sair, sairia?
Instintivamente percebendo algo, Yuri se intrometeu.
—Alyosha.
Alexei sorriu.
—Até quando vamos viver assim? Você, eu, todos nós seremos cachorros para sempre. Nós não somos pessoas. Somos os cães que Igor cria. Você sabe como um cão se torna uma pessoa?
T-Mac permaneceu em silêncio. Seus cílios tremiam de forma inquieta. Alexei disse em voz alta algo que ninguém ousava sequer pensar.
—Não há outro jeito senão morder o dono.
Um cão não trai seu dono. Mas um cão que só é espancado acaba por morder seu dono. E não basta morder uma vez. Ele deve morder a garganta e segurar, cavando obstinadamente seus dentes até fazer um grande buraco para que ninguém possa arrancá-lo.
Igor passou dos limites.
Então Alexei também decidiu ultrapassar a linha.
~~~~~~
Depois de horas de súplicas assustadas de T-Mac e das observações afiadas de Yuri, Alexei dirigiu-se para casa. Só a ideia de ir para casa já o fazia sentir-se melhor. Ele tinha muitas coisas para planejar e pensar, então precisava descansar bem naquela noite.
Embora tenha falado com T-Mac e Yuri, Alexei não tinha nenhum plano brilhante naquele momento. Isso exigia cautela. Invadir diretamente seria o mesmo que cometer suicídio.
Arrastando seu corpo cansado, Alexei parou no supermercado. Começou a encher o carrinho com qualquer coisa: toranjas que Valery gostava, nectarinas, salada, vegetais, frango, carne de porco, carne moída de boi, pegou tudo sem discriminação. Ele pegou packs de latas de cerveja e vodka, e encheu o carrinho com alimentos congelados antes de carregar tudo no porta-malas. Quando verificou o horário, eram 4 da tarde. Ele tinha perdido tempo por causa de alguém que não merecia nem um pouco.
Provavelmente ainda estava bloqueado, mas mesmo assim Alexei pegou o telefone, que estava abandonado no carro, para avisar que estava voltando.
E então ele viu uma mensagem inacreditável.
⟨Onde você está?⟩
Valery certamente bloqueou meu número, mas o nome “Lelusha” apareceu na tela. Alexei piscou, atordoado. Era uma mensagem recebida três horas atrás. Embora eu tenha apertado as pálpebras para ver se era um sonho, o conteúdo permaneceu o mesmo. E não parava por aí. Logo chegou outra mensagem.
⟨Porque está demorando tanto dessa vez?⟩
Parecia uma birra. Seria bom se o jeito que ele falasse fosse um pouco mais fofo, mas não, isso é fofo o suficiente. Antes, ele costumava falar rudemente como um soldado infeliz. Alexei arquivou a mensagem na caixa de entrada e respondeu rapidamente.
⟨Estou indo, Lerusha.⟩
A mensagem foi enviada e logo marcada como lida. Era uma situação tão surreal que ele sentiu um calor estranho no peito.
⟨E você está com esse tal Yuri?⟩
Ele parecia se lembrar da conversa da noite anterior. Provavelmente por causa das características naturais do Alfa, mas parecia uma tentativa de controle. Como um pequeno animal mostrando os dentes.
⟨Nós nos encontramos por causa do trabalho e depois nos separamos. Estou indo agora.⟩
Valery não respondeu depois disso, mas ele sabia que o garoto tinha lido. Ele estava ficando ansioso, Alexei rapidamente ligou o carro e foi para casa. Por ter se apressado para voltar, ele ouviu a buzina várias vezes no caminho. Carregando suas sacolas, ele chutou a porta e Valery estava lá, sentado silenciosamente no final do espaço até onde podia se mover por causa das algemas.
Como um cachorro esperando por seu dono.
Valery estava abraçando os joelhos e olhando para frente. Quando a luz entrou, ele levantou a cabeça. Os cantos dos meus olhos estavam um pouco vermelhos por causa do choro da noite passada. Valery olhou para Alexei com uma expressão mista de ansiedade e raiva.
No momento em que viu, foi difícil suportar. Alexei largou as sacolas e correu em direção a Valéry, sem se importar com as frutas. Ele correu em direção a Valery sem tirar os sapatos.
—Lerusha, você esperou?
No passado, ele teria franzido a testa e dito que isso era um absurdo, mas Valery apertou os lábios e encarou Alexei. Ele hesitou em estender a mão, mas depois desistiu. Suas mãos estavam frias por causa da temperatura do lado de fora.
—Demorou mais do que eu esperava. Não era minha intenção te deixar esperando.
—……
Valery que estava sentado olhou para Alexei, e deu uma olhada rápida nas sacolas atrás dele. Após um longo silêncio, Valery disse baixinho:
—Se vai me manter preso assim, não fique fora por muito tempo.
Por um momento, Alexei piscou. Não fique fora por muito tempo se vai me manter preso? Isso significa que ele prefere que eu esteja por perto? Apesar de saber que não poderia ser verdade, uma alegria cautelosa começou a surgir.
Ele estava prestes a responder instintivamente que, claro, ficaria por perto, quando percebeu a realidade. Ele não poderia fazer isso. Especialmente com Igor dizendo aquelas coisas. Alexei começou a organizar em sua mente todas as explicações que deveria dar a Valery, mas decidiu deixar isso de lado por um momento.
—Vamos jantar. Eu vou fazer.
Valery olhou fixamente para Alexei com um rosto mais suave do que antes. No momento em que ele teve a impressão de que o rosto rígido de Valery estava suavizando, ele falou abruptamente.
—Você nem sabe cozinhar. O que vai fazer?
Então ele se levantou lentamente.
—Eu vou fazer.
Alexei olhou para cima, incrédulo. Valery se inclinou para frente. Seus longos braços se estenderam e seguraram a cintura de Alexei. As grandes mãos cobriam metade de sua cintura. Ele o levantou facilmente. Alexei piscou, sem entender direito o que estava acontecendo, e Valery perguntou.
—Você ainda gosta de *Chicken Kiev?
(N/T: Chicken Kiev é um prato clássico da culinária ucraniana e russa. Consiste em um peito de frango desossado que é recheado com manteiga de ervas, empanado e frito ou assado.)
Ao encontrar os olhos calmos de Valery, Alexei sentiu algo subir pela garganta. Pela primeira vez, ele ficou sem palavras, assentindo como um tolo enquanto respondia.
—Sim.
Eu gosto.
Ainda.
Com um pequeno sussurro, Valery franziu as sobrancelhas.
Alexei parou em frente ao cano onde havia prendido a outra algema de Valery enquanto estava fora. Será que já posso soltá-lo? Ele ficou perdido em pensamentos, olhando fixamente para o aro da algema. Pensar que rancores acumulados por tanto tempo se dissipariam em apenas alguns dias era uma tolice. Ainda é cedo demais para soltar Valery.
No entanto, Valery está claramente agindo de maneira diferente de antes. Ele demonstrou curiosidade sobre mim, me culpou abertamente, esperou por mim e até falou comigo. Tudo isso, mesmo que seja fruto de sua responsabilidade desencadeada pelas minhas mentiras.
“Porque eu tenho que assumir a responsabilidade.”
As palavras ingênuas que continuamente provocavam um sentimento de culpa em Alexei o fizeram engolir um suspiro profundo. Dada a mudança nas circunstâncias, ele sabia que precisava tratar Valery de maneira diferente. As poucas verdades que ele havia revelado já tinham mostrado algum efeito, e talvez Valery mudasse se houvesse mais alterações graduais.
Como seria bom se houvesse alguém para mostrar as escolhas certas. Talvez por ter crescido sem pais ou mentores para guiá-lo, Alexei estava longe de ser alguém que fazia escolhas sábias e racionais. Depois de um longo tempo observando a algema, ele decidiu que seria melhor deixá-la como estava até o fim do dia.
Depois de colocar a algema em seu próprio pulso, ele se dirigiu para a sala de estar. Valery estava examinando as sacolas. Como as algemas eram curtas, ele parecia estar esperando por Alexei para levá-las até a cozinha.
—Deixa que eu levo.
—Eu sou mais forte.
Valery comentou casualmente, olhando para o pulso de Alexei. O que estaria pensando, com aqueles olhos verdes fixos na algema presa ao seu próprio pulso? O Alfa não parecia estar tão irritado assim. Valery desviou o olhar da algema e pegou as sacolas, indo em direção à cozinha. Alexei o seguiu.
—Eu acho que não.
—Alyosha, você não levanta e equilibra pessoas todos os dias.
Alexei ficou atordoado ao ouvir o nome “Alyosha” saindo da boca de Valery de forma tão natural, como se fosse um som imaginário que de repente ficou claro em seus ouvidos. Ele piscou. Não conseguia acreditar que o apelido, que ele só ouvia quando pedia ou insistia, agora saía tão naturalmente daqueles lábios. Quando ele parou, dizendo — hã?— Valery também ficou em silêncio, com uma expressão surpresa.
—…Não chamei porque quis.
Valery acrescentou isso depois de um momento, com uma voz séria que fez Alexei sorrir levemente com os olhos.
—Certo, Lerusha.
—Chamei porque você pediu.
Valery respondeu com uma voz baixa e defensiva, o que Alexei achou extremamente adorável. Quando ele simplesmente se deu conta, Valery o olhou de maneira afiada antes de colocar as sacolas no balcão da cozinha. Fazia mais de cinco anos desde a última vez que ele tinha feito algo como cozinhar ali, parecia estranho, quase como se fosse uma memória de outra pessoa.
—Eu tempero, então só lave os legumes e o frango.
Alexei não queria que Valery cozinhasse, estava preocupado que ele machucasse suas mãos delicadas, mas não podia resistir à tentação. Não queria fazer nada que atrapalhasse Valery, que estava cooperando e conversando amigavelmente.
—Claro.
Depois disso, ficaram um tempo sem falar. Valery misturou manteiga sem sal, salsa picada, alho, sal, pimenta e suco de limão, enquanto Alexei seguia suas instruções. Embora não fosse bom em cozinhar, Alexei tinha habilidade com a faca, então cortou o peito de frango em pedaços pequenos sem precisar de mais instruções. Ao lado da carne habilmente cortada, ele colocou cenouras e limões preparados de forma fácil de se comer.
Valery, tendo terminado outras preparações, se virou para olhar a cena. Alexei, enquanto lavava as mãos, encontrou seu olhar, quando viu Valery olhando para os ingredientes cortados, seu coração disparou, como se estivesse esperando um elogio.
Era quase ridículo.
—Está bom assim?
Alexei até fez uma pergunta boba.
—Sim.
Valery respondeu até mesmo à pergunta idiota. Então, hesitando um pouco, ele abaixou o olhar e disse:
—…Bom trabalho.
Oh droga.
Alexei queria pegar Valery pelo rosto e dar-lhe um beijo. Queria abraçar o cara maior do que ele e esfregar o rosto em suas costas. Ele queria tocá-lo de qualquer maneira possível, mas se conteve. Parecia que não deveria ser tão íntimo e, além disso, seria estranho pular em cima dele agora que o cio tinha acabado.
Além disso, aproveitar-se do irmão mais novo sem desculpas não era normal nem mesmo para os seus padrões anormais.
A propósito, quando será meu próximo ciclo de cio? Pensando no cio, Alexei se lembrou do próprio ciclo. Seu cio costumava ter intervalos longos, aparecendo uma vez a cada seis meses. Mas, com as mudanças em suas características, ele não poderia prever o próximo ciclo de calor com base no antigo padrão.
Quando estava com Valery, ele frequentemente esquecia da realidade, e agora as coisas esquecidas estavam lentamente voltando. Ele precisava visitar Altor para verificar o andamento dos medicamentos. Isso levaria algum tempo, então ele também teria que procurar um supressor. Mas, por enquanto, isso era impossível. Até matar Ryan Winter, ele estaria sob vigilância.
Enquanto ele estava perdido em pensamentos, Valery terminou de cozinhar a refeição habilmente. Ele recheou o peito de frango cortado por Alexei com manteiga, depois o passou na farinha, no pão ralado e o colocou no óleo aquecido. Chicken Kiev era um prato simples, e estava pronto.
Finalmente, uma refeição decente estava servida. Na mesa, que antes só tinha comida pronta, agora havia pão de centeio de boa qualidade e Chicken Kiev. Alexei pegou os talheres e tirou uma lata de cerveja e uma garrafa de vodka, com a intenção de fazer um Yorsh.
—…Você também bebe Yorsh?
Ao vê-lo misturar a cerveja com a vodka, Valery perguntou surpreso.
—Sim.
Valery, que odiava a ideia de seu irmão ser um mafioso, sempre parecia ficar surpreso ao descobrir que Alexei bebia e fumava. Tão ingênuo.
—Você não costuma beber.
Valery, que hoje parecia decidido a se comportar de maneira adorável, também lembrou que Alexei não bebia muito. Alexei inclinou-se para trás na cadeira e deu um sorriso, resistindo ao impulso de acariciá-lo.
—Sim, mas hoje eu preciso beber.
Quase esqueceu ao ver Valery, ainda era um dia horrível. Ele quase disse “tive um dia de merda”, mas engoliu as palavras. Não havia necessidade de falar tão grosseiramente na frente dele.
—Por quê?
O garoto, que costumava ser cruel, agora está perguntando sobre meu trabalho. Enquanto preparava o Yorsh, Alexei pensou. Ele já tinha contado parte da verdade a Valery e, como ele estava envolvido, não poderia esconder as loucuras de Igor por muito mais tempo. Mesmo que não completamente, ele precisava evitar que Valery fizesse algo perigoso por ignorância.
—Já experimentou?
Perguntou enquanto pensava, então Valery balançou a cabeça.
—…Não, nunca bebi.
Com um rosto tão bonito, deveria ser comum que as pessoas tentassem se aproximar dele. Era inacreditável que alguém da sua idade nunca tivesse bebido, fumado ou feito sexo. Alexei olhou fixamente para o anjo à sua frente sem piscar. Ele sentiu uma casquinha no peito e mais uma vez, resistiu ao desejo de tocá-lo.
—Quer provar? Só um gole.
Ao ver a expressão de hesitação, Alexei tentou convencê-lo suavemente.
—Ai eu te conto por que estou de mau humor. Embora eu ache que você não vai querer ouvir.
Valery hesitou antes de estender a mão.
—Vou beber.
Eu poderia devorá-lo inteiro. Com esse pensamento, Alexei serviu um Yorsh com o mínimo possível de vodka. Valery pegou o copo lentamente e olhou fixamente para ele.
Para ser honesto, Yorsh tem um gosto horrível.
Não é uma Shandy, nem uma cidra, nem uma cerveja; é uma bebida feita para te deixar bêbado rapidamente. No momento em que Alexei ia avisar Valery que a bebida era forte, ele já estava levando o copo aos lábios. Seus lábios vermelhos tomaram um grande gole de uma vez só, esvaziando mais da metade do copo.
—Lerusha, isso…
Logo, Valery começou a tossir. Com o rosto corado, ele olhou para Alexei.
—Isso é horrível.
Que fofo, pensou Alexei, enquanto rapidamente pegava um suco da sacola. Ele entregou o suco de laranja a Valery, que aceitou docilmente. Seus dedos se tocaram ao passar o suco, e um calafrio subiu por sua espinha, fazendo seus ombros tremerem. Valery também hesitou por um momento.
Sentindo a atmosfera estranha, Valery perguntou como se quisesse afastar a sensação. Ele tirou a embalagem do canudo do suco enquanto falava.
—Por que você bebe algo tão ruim?
O tom mais baixo de Valery fez cócegas nos ouvidos de Alexei. Ele tomou outro gole do Yorsh e respondeu lentamente.
—Para ficar bêbado.
—Por que você quer ficar bêbado? —Valery fez a pergunta e logo respondeu a si mesmo. —É por causa do Igor Volkov, não é?
Alexei apoiou o queixo na mão. Enquanto esfregava os dedos na caneca de cerveja, escolheu as palavras com cuidado.
—Ele se lembra de você.
Ele falou com um sorriso fraco. Valery estremeceu visivelmente.
—Mesmo depois de fazer aquilo com você, só para que aquele desgraçado tirasse o foco de você… ele se lembra.
Depois de dizer isso, Alexei esvaziou a caneca de uma vez. Um pouco de cerveja escorreu pelo seu queixo. Quando ele colocou a caneca vazia na mesa, viu Valery olhando para ele com olhos arregalados.
—Igor vai começar a limpeza agora. Qualquer pessoa ligada a Khaleesi Winter estará em perigo. Mesmo que eu não faça nada, ele mandará outra pessoa atrás deles. E isso inclui Ryan Winter. Então…
—Eu sei, você me disse para não chegar perto. Eu entendi. Eu já disse que sei.
Valery fechou a boca. A comida estava esfriando e Alexei também ficou em silêncio. Conversar era difícil. Ele não sabia como agir de maneira não coercitiva. Enquanto tentava encontrar um tópico para quebrar o silêncio, sua mente estava uma confusão. Ele havia decidido matar Igor, mas ainda não tinha um plano, não estava preparado para fazer promessas com confiança.
O silêncio foi quebrado por Valery, com as bochechas coradas, ele terminou de beber o restante do Yorsh na sua frente. O pescoço e os lóbulos das suas orelhas também estavam ficando vermelhos.
—Lerusha, devagar…
Sussurrou Alexei preocupado, e Valery colocou o copo de volta na mesa. Com os longos cílios dourados piscando várias vezes, Valery falou.
—O que eu devo fazer? Não me diga para não fazer nada. Até agora, ficar parado não funcionou. Mesmo depois de tudo você disse que aquele desgraçado se lembra de mim.
Valery falou claramente.
—Me diga o que fazer para não ser um obstáculo.
—Mas, Valery, você me…
Você me odeia. Você está bem com isso?
Alexei tentou perguntar, machucando-se com suas próprias palavras, mas Valery o interrompeu.
—Não se engane. Eu não estou dizendo que as coisas entre nós estão resolvidas ou que perdoei você. Não vou esquecer o que você fez comigo. Mas… —Com os lábios cada vez mais vermelhos pela embriaguez, Valery sussurrou suavemente. — Eu não queria isso, mas, de qualquer forma, eu sou responsável pelo que aconteceu.
Ah.
—Agora você é meu ômega, então eu… vou te proteger.
Era engraçado ouvir isso de alguém que não sabia lutar, mas Alexei não conseguia rir. Não se sentiu do mesmo jeito quando Yuri disse que iria protegê-lo. Mesmo sabendo que era absurdo, ele se sentia amado até a loucura. Alexei sussurrou para Deus.
O que devo fazer, Deus?
Eu simplesmente não consigo abandonar essa mentira.
Para ser franco, não havia nada que Valery pudesse fazer. Isso era tão óbvio quanto o fato de que Alexei não podia ter um filho de Valery. Talvez, se Valery se esforçasse ao máximo, ele poderia ser mais forte que a maioria, mas um corpo bem treinado não garante vitória em uma situação de vida ou morte. Ele não sabia atirar, não sabia lutar, provavelmente nunca bateu em alguém antes. Ver sangue exige uma coragem surpreendente. Em primeiro lugar, ele não tinha intenção de deixar Valery participar de uma situação sangrenta.
Alexei organizou seus planos cuidadosamente. Para matar Igor, a opção mais segura era fazer Valery fugir antecipadamente. Quando pensava sobre isso, Igor teria que morrer eventualmente. Se ele continuava considerando Valery como seu ponto fraco até agora, mesmo que ele saísse com Ryan Winter, provavelmente estaria sendo vigiado. Pelo menos enquanto estivessem nos Estados Unidos.
Imaginar Ryan Winter e Valery saindo amigavelmente de Saratov deixava Alexei inexplicavelmente irritado. A família Winter havia colocado Alexei nessa situação, mas isso era um problema à parte. Por que se sentia assim? Ele ponderou enquanto apoiava o queixo na mão.
Então, ele encontrou os olhos de Valery, que o observava com o rosto corado. Parecia um cachorrinho esperando pacientemente por uma resposta. O coração dele bateu mais rápido. Ali estava o irmãozinho obediente e adorável que até então só existia em suas memórias. Às vezes parecia um sonho, mas não era. Ou será que já estou apenas embriagado? De qualquer forma, ele aproveitou para contemplar o anjo à sua frente.
—Você vai me proteger?
Repetindo as palavras anteriores, Alexei perguntou suavemente. Valery respondeu calmamente.
—…Sim.
Valery respondeu docilmente, mas então, como se tivesse percebido algo, ele piscou.
—Pessoas grávidas não devem beber álcool.
Os olhos verdes se arregalaram. Valery se levantou de repente, fazendo o som das algemas ecoar. Ele pegou o suco que estava bebendo e se aproximou.
—Pare de beber agora. Faz mal para você.
Sua voz estava cheia de preocupação. Surpreso por essa consideração inesperada, Alexei ficou olhando para Valery. Mesmo sendo mais uma mentira, não sei, eu nunca inventei nada assim antes, então nem mesmo havia pensado nisso. É verdade. Se ele estivesse grávido, não deveria beber. Faz mal para o bebê.
—Daqui para frente, não beba mais, okay?
Com um rosto inocente e carinhoso, Valery pegou o copo de bebida alcoólica e ofereceu um suco no lugar. A ação gentil de colocar o canudo em sua boca deixou Alexei perplexo. Era tão raro ver essa ternura de seu irmão que isso o perturbou. Deveria contar a verdade agora? Não seria melhor apenas dizer isso agora?
‘Lerusha, na verdade, eu inventei aquilo para te impedir de fugir. Eu não sou um ômega de verdade. Seria estranho um alfa se tornar um ômega completo.’
No entanto, Alexei acabou confessando apenas para si mesmo. Ele não tinha coragem de desistir dessa mentira. No momento em que disser essas palavras, sem bem como Lerusha vai reagir. Ele vai ficar zangado porque eu tentei enganá-lo. Então, vai acabar jogado em uma vala coberta de sangue como meus pais…
—Está bem, não vou beber mais.
Alexei aceitou o suco. Ele hesitou antes de colocar os lábios onde os de Valery tinham tocado. O sabor doce e suave se espalhou em sua língua. Sua cabeça, endurecida pela culpa, começou a se clarear lentamente.
Faz apenas alguns dias desde que abusei de Valery. Muita coisa mudou em uma semana, mas leva pelo menos duas semanas para se obter o resultado concreto de gravidez. Nesse momento eu posso simplesmente.
Infelizmente, não foi o caso.
Mas quem vai se lamentar por causa disso? Desde o início, não era o que Valery queria, e tudo isso foi arbitrariamente forçado por mim. A única pessoa que vai aumentar sou eu. Quando Valery ouvir essas palavras, ele voltará a ser como era antes?
—Você quer ir se deitar?
Depois de confirmar que havia terminado de beber o suco, Valery tocou seu corpo com cuidado. A mão grande que segurava sua cintura parecia estranha hoje. Um leve tremor percorreu seu corpo, era estranho. Seus pelos se arrepiaram.
—Não estou com sono.
Apesar de achar isso estranho, Alexei não conseguiu recusar Valery. Ele simplesmente não podia empurrá-lo com suas próprias mãos no momento em que ele apareceu.
—Apenas se deite.
Era impossível para ele recusar a insistência de Valery. Alexei se rendeu obedientemente e ele o ajudou a levantar. Não terminou aí. Ele segurou Alexei nos braços, como quando levantava graciosamente, uma bailarina.
—Le- Lerusha…
Ele ficou verdadeiramente surpreso com a ação inesperada consecutiva. Quando estava se enredando freneticamente, Alexei não percebeu que Valery facilmente o empurrou contra a parede, o garoto parecia bem mais forte do que ele lembrava. Isso finalmente o atingiu.
—Eu não estou nem um pouco bêbado, então você pode me soltar.
Em vez disso, era Valery quem estava bêbado, então ele não seguiu as palavras de Alexei. Com firmeza, Valery o segurou e se dirigiu para o quarto. Não para o quarto dele, mas sim para o de Alexei. Para aquele lugar onde eles já estavam acostumados a ficar juntos.
Embora houvesse uma ligeira diferença de altura, Alexei era mais alto que a maioria dos homens adultos. Com uma constituição robusta, ele nunca tinha tido essa experiência. Em primeiro lugar, ele nunca deixou ninguém tocar nele dessa maneira. Enquanto Alexei estava rígido em uma situação desconhecida, Valery o deitou na cama. Quando os corpos se sobrepuseram, ele também subiu na cama.
—Você cheira a suco, Alyosha.
Valery subiu na cama como um animal gracioso e enterrou o nariz na curva de seu pescoço. A respiração, misturada com um leve cheiro de vodka, indicava claramente que ele estava bêbado. Alexei hesitou antes de puxá-lo para si, como fazia quando acariciava suas costas na infância.
—Não deve ser isso.
A menos que cheirasse a sangue. Enquanto ele engolia suas palavras, Valery pressionou seu nariz proeminente contra a clavícula de Alexei. Era quente e fazia cócegas. O calor de Valery sempre foi assim.
—É isso mesmo. É doce.
—Mais doce do que seus biscoitos de melaço favoritos?
Seus lábios roçaram levemente. Desde que o rut acabou, eles não tinham se tocado assim, então o corpo de Alexei estremeceu. Uma sensação peculiar subiu pela sua espinha. Foi arrepiante.
—Mais doce…
No final, uma língua rosada apareceu além dos lábios. Valery lambeu a clavícula de Alexei como se fosse um doce, repetindo o ato enquanto o segurava por um longo tempo. Como uma besta deixando sua marca, ele continuou até que uma marca de beijo, desajeitada e feroz, fosse deixada na clavícula.
Valery adormeceu sem soltar Alexei. Alexei continuou pensando enquanto olhava fixamente para os cílios dourados bem curvados. Ele esfregou a marca de beijo que seu irmão tinha feito. Levará cerca de dez dias para contar a verdade. Será que durante esse tempo vamos conseguir restaurar o relacionamento sem que Valery se perca?
Ele sentiu que talvez fosse possível.
Talvez fosse uma ilusão trazida por uma esperança desesperada, mas Alexei decidiu acreditar nisso. Sua vida sempre havia sido cheia de desgraças, então ele esperava que desta vez pudesse haver uma exceção.
Com esse pensamento, ele adormeceu.
Ele acordou cedo. Seu corpo percebeu imediatamente a ausência do calor que preenchia o espaço ao lado dele. Assim que abriu os olhos, ele olhou para o lado. Valery não estava lá, então olhou apressadamente para o pulso e viu que as algemas ainda estavam lá. Ele se levantou rapidamente e saiu do quarto, encontrando Valery parado no final da corrente das algemas. O garoto, que estava olhando para a mesa, virou-se ao ouvir o som das algemas.
—Acordou? Eu tentei não te acordar.
A voz era calma, não era mordaz nem afiada. Os olhos, desprovidos de hostilidade, examinaram Alexei calmamente. Então Valery falou.
—Eu queria fazer kasha, mas achei que você acordaria se me movesse mais…
—…Então você ficou parado?
Sua voz estava especialmente rouca pela manhã. Baixa e rouca, mal conseguindo emitir som.
—Sim.
Houve um breve silêncio. Alexei passou a mão pelo cabelo bagunçado. De repente, seu olhar caiu sobre a marca em sua clavícula, em seguida, ele olhou para as algemas. Ele tinha que tomar uma decisão. Havia muitas coisas a fazer a partir de agora, e para que Valery confiasse mais nele, ele precisava parar com aquilo.
—Venha aqui, Lerusha.
Valery franziu as sobrancelhas ao ser chamado com tanta urgência, embora soubesse que não poderia fugir. Alexei não sabia se ele sentia o mesmo. Mas Valery lentamente, se aproximou. Alexei observou os grandes pés que pararam à sua frente. Unhas dos pés que quebravam e cresciam repetidamente, pés cheios de cicatrizes. Observando os sinais do que Valery havia suportado ao longo dos anos, Alexei abriu a boca para falar.
—Vamos tirar essas algemas.
Ele levantou a cabeça e fez contato visual, Valery olhou para baixo e perguntou surpreso.
—Você está falando sério?
Foi uma pergunta carregada de significado. Alexei molhou os lábios secos. Como um caçador prestes a libertar uma fera que poderia fugir. Mas ele não é um caçador de Valery, na verdade ele só queria protegê-lo.
Em vez de responder, ele guiou Valery. Entraram lentamente no quarto e Alexei tirou a chave que carregava no fundo de sua roupa, em seguida, ele estendeu a mão, Valeri olhou para a mão estendida por um longo tempo antes de estender lentamente o pulso.
—Eu realmente te amo.
Alexei sussurrou. Girando a chave na fechadura, com fervor.
—Você é a única família que tenho, Lerusha.
As algemas foram removidas.
—Então, por favor…
Nem ele sabia qual era sua expressão. Quando seus olhares se encontraram, Valery parecia prestes a chorar.
—Não fuja.
Finalmente, o pulso dele estava livre. Alexei prendeu a respiração enquanto o observava. Valery moveu e esfregou o pulso livre, Alexei não conseguiu desviar o olhar, observando cada movimento como se estivesse aquecendo o corpo. Segundos pareceram uma eternidade.
Depois de um longo momento mexendo no pulso, Valery endireitou-se. O olhar que ele lançou para Alexei não mudou. Era o mesmo de antes.
—Leite com quatro colheres de mel.
Com essa única frase, Alexei entendeu o que ele queria dizer.
—Com apenas aveia.
A mão de Alexei apertou a chave com força.
—Vamos comer assim?
Valery estava dizendo que iria fazer kasha. Alexei se lembrou do significado da kasha, que seu pai lhe ensinara quando ele era criança e que ele também havia contado ao garoto.
Desde os tempos antigos, a kasha simbolizava a reconciliação.
Eles tomaram um café da manhã incrivelmente pacífico e estavam sentados na sala de estar ensolarada. Não houve discussões ou confrontos, mas também não havia muito o que dizer. O tempo de separação não podia ser preenchido de uma só vez, e não podiam se sentir tão próximos como antes de uma hora para outra.
Além disso, os tipos de conversa que Alyosha podia ter eram extremamente limitados. Histórias sobre brigas, armas, facas, as façanhas ridículas dos membros da organização em Saratov, e assim por diante. Esse era o tipo de assunto que Alexei conseguia abordar. Fora isso, se falasse sobre pessoas próximas a ele, Yuri inevitavelmente surgiria. E Valery parecia não gostar muito de Yuri. Provavelmente por causa do trabalho dele, se é que isso pode ser chamado de trabalho.
Alexei bateu o dedo indicador no chão, procurando algo para conversar. A situação de estarem sentados separados no sofá só aumentava a sensação de desconforto. Quando Valery o desprezava abertamente, Alexei podia pelo menos agir de forma mais firme, mas agora, sendo cuidadoso, a situação era mais difícil.
Foi Valery quem quebrou o longo silêncio.
—Então.
Alexei virou a cabeça rapidamente assim que ele começou a falar. Valery, que estava olhando para frente, também voltou o olhar. Os olhos elegantes em seu rosto branco o capturaram em silêncio.
—Estamos namorando?”
A voz que fazia a pergunta era a de um adulto, pesada e suave, mas o conteúdo não era. A pergunta, surpreendentemente inocente, deixou Alexei momentaneamente atordoado.
Estamos?
A confusão rapidamente tomou conta dele. Alexei fitou Valery intensamente. Se ele achava que Valeri parecia um dos ômegas com quem ele já havia saído, a resposta era não. A própria ideia de estar em um relacionamento com alguém era ambígua para ele. Todas as coisas que foram ditas sobre como os amantes deveriam sentir borboletas no estômago quando se está apaixonado se misturavam confusamente em sua mente.
Sentia borboletas no estômago ao ver Valery? O garoto era seu amado e adorável irmão, e ele gostava de vê-lo, mas não sabia se isso era o que se chamava de “borboletas no estômago”. Então, queria beijar Valery? A resposta era incerta. Embora fosse eletrizante misturar seus corpos quando estavam fora de si, ele não sentia vontade de colocar a língua na boca do seu irmão agora e desejá-lo. E sexo? Sexo era bom. Embora a ideia de misturar-se fisicamente com seu irmão fosse louca, de qualquer forma, Alexei adorou dominar aquele momento de Valery. E além disso, ele tinha um pau incrivelmente grande. Embora não fosse uma questão relevante para um alfa como ele, o corpo dele gostava muito, demais, do corpo de Valery.
Ainda assim, a conclusão de que ele era seu amante não surgiu. Para Alexei, ele sempre foi, do começo ao fim, sua família. Mesmo com a situação chegando a esse ponto, isso não mudou. Valery era o adorável e bondoso garoto que ele “tinha” que proteger. Era isso que representava para ele.
—Talvez… sim.
Mas Alexei deu uma resposta diferente do que pensava. Desde seu confronto com Yuri, ele sentia que Valery o via como seu ômega. Era compreensível. Embora Alexei nunca tivesse sentido um forte senso de responsabilidade como o garoto demonstrava, ele também havia sentido uma posse momentânea em relação a alguns ômegas com quem dormiu. Vivendo em um mundo mais guiado pelo instinto do que pela razão, Alexei acreditava que um alfa não era muito diferente de um animal.
O fato de Valery colaborar com ele devido à possibilidade de estar grávido significava que, por enquanto, ele precisava concordar com a ideia de estarem namorando. Se ele negasse e isso causasse uma ruptura entre eles, todo o esforço até agora teria sido em vão.
Então, por apenas dez dias, ele teria que fingir ser o amante de Valery. Nesse período, ele encontraria uma maneira de tirar Valeri de lá e ajudá-lo a fugir. Depois disso, o garoto poderia encontrar um verdadeiro amante, alguém que vivesse em um mundo calmo e tranquilo, diferente dele ou de Ryan Winter.
Esse último pensamento fez seu ânimo diminuir. Mesmo sendo um futuro que se aproximava rapidamente, ele não queria pensar mais nisso. Quando estava prestes a ser sobrecarregado por esses sentimentos, a pequena voz do outro penetrou em seus pensamentos.
—Você…
Valery hesitou antes de corrigir seu modo de chamar.
—Alyosha, você já… namorou muito?
Desviando o olhar e corando o pescoço, Valery fechou firmemente seus lábios rubros. Era estranho ele mesmo perguntar isso, e parecia desconfortável. Ver isso fez o coração de Alexei doer um pouco. O sentimento negativo desapareceu rapidamente, parecia ser a mesma sensação que ele tinha quando via Valery com ciúmes de Yuri. Embora soubesse que era a possessividade de um alfa, ele adorava quando o garoto lhe dava atenção, queria segurar seu rosto e beijá-lo naquele momento.
—Não.
Desta vez, Alexei disse a verdade. Ele havia feito muito sexo, mas nunca namorou. Alguém que ganhava a vida com esse tipo de coisa, namorar normalmente seria o mesmo que fazer algo terrível com a outra pessoa. A resposta firme de Alexei foi negada por Valery com um tom desdenhoso.
—Não precisa dizer isso de propósito.
Embora dissesse isso, sua voz revelava que ele estava incomodado. Mesmo que fosse apenas uma impressão, parecia assim.
—Não, realmente nunca tive. Embora tenha feito muito sexo.
Alexei disse casualmente. Valery voltou a olhar para ele, seus olhos verdes, sob grossas sobrancelhas douradas, pareciam confusos.
—…Nunca?
—Sim. Nunca. Eu nunca tive tempo para gostar de alguém, Lerusha.
Isso também era verdade. Alexei jurou responder a cada pequena coisa com sinceridade em troca de algumas grandes mentiras. Valery mordeu os lábios e ficou em silêncio, então passou a mão pelos belos cabelos loiros platinados que caíam sobre a testa e perguntou novamente.
—Então eu sou seu primeiro namorado?
Alexei levantou levemente as sobrancelhas. O jeito infantil de fazer perguntas com uma intenção oculta era encantador. O desejo de confirmar, de dar importância ao primeiro, tudo isso era ingênuo e adorável.
—Sim.
E Alexei também não se importava de ser envolvido por esse sentimento.
—E você, é a primeira vez que namora?
Embora já soubesse disso, ele perguntou de qualquer maneira. Em vez de reagir negativamente, Valery piscou os olhos bonitos e ficou com as orelhas vermelhas. Seus longos e grossos dedos tocaram levemente a bochecha, e após alguns segundos de hesitação, ele assentiu.
—Sim.
Ao ouvir a resposta, Alexei ficou momentaneamente paralisado. Um sentimento estranho de aperto no peito o surpreendeu. Saber isso apenas com a cabeça era incomparável a ouvir diretamente. Além disso, Alexei sabia que Valery nunca havia namorado ninguém, mas não havia pensado na parte em que ele, Alexei, seria o primeiro.
Sua palma da mão coçava. Sentindo uma sensação difícil de descrever e uma emoção inédita, Alexei permaneceu em silêncio, e Valeri continuou tentando olhar para ele, mas ele desviou o olhar repetidamente. Parecendo desconfortável com o silêncio sutil, Valery mexeu os lábios e perguntou:
—…Então, é a primeira vez que faz algo assim desse jeito.
Talvez surpreso por sua própria pergunta, Valery soltou um “ah”. Achando a reação dele fofo, como se seus verdadeiros sentimentos tivessem sido revelados, Alexei respondeu antes que ele pudesse recuar.
—Desse jeito? Sendo fodido por trás?
A expressão direta de Alexei fez ele arregalar os olhos, e seu pescoço, que já estava corado, agora estava da cor de um leve chá vermelho. A vermelhidão brilhante sobre a pele clara incentivou ainda mais Alexei. As reações de Valery, que ele nunca havia visto, eram viciantes. Ele queria fazer qualquer coisa para vê-las novamente.
—Claro que é a primeira vez. Lerusha, me tornei um ômega por você, então só usei a parte de trás por sua causa. Alfas não podem fazer isso entre si, então como eu poderia ter tido essa experiência?
Sorrindo como se achasse adorável, Alexei disse isso, e Valery arregalou os olhos ainda mais. Parecia que a realidade que havia sido esquecida em meio à confusão estava voltando à tona. Movendo os lábios como se fosse falar, ele olhou para o irmão mais velho com uma expressão indecifrável e, após um momento, falou baixinho.
—A organização de Igor não tem ômegas, então você será descoberto rapidamente.
Valery disse algo que Alexei não esperava. O fato dele se preocupar com ele parecia tão estranho que Alexei o observou por um longo tempo antes de finalmente responder.
—Vou usar um inibidor.
Queria tranquilizá-lo, dizendo que, como ele era um meio-ômega, seu cheiro era quase inexistente, mas isso levaria a revelar informações que Valery não deveria saber, então ele teve que omitir essa parte. Valery inclinou a cabeça ligeiramente, a distância de duas palmas entre eles diminuiu ele se aproximou lentamente, inclinou a cabeça e olhou para Alexei. O cabelo loiro suave roçou o pescoço de Alexei.
—Mas desde ontem, sinto um cheiro doce o tempo todo. Posso senti-lo assim que me aproximo.
Ele continuou a dizer coisas assim. Alexei inclinou levemente o queixo para cheirar seu próprio corpo. Tudo o que ele sentia era o feromônio de Valery. Uma mistura de bergamota e frutas. Um cheiro que ele queria sentir constantemente, antes, ele tinha uma aversão instintiva, mas agora, como ômega, achava o cheiro apenas tentador. Ao mesmo tempo, também sentia uma estranha sensação de estabilidade.
—Se você sair, eles vão perceber.
—Ontem foi tranquilo. Mesmo estando bem ao lado, eles não notaram nada. Eu vou tomar cuidado.
Igor era um astuto cujas intenções eram difíceis de discernir, mas Ivan não era desse tipo. Se ele não tinha feito nenhum movimento suspeito, era porque ainda não tinha percebido nada.
—Então, isso significa que você vai sair logo.
Valery rapidamente entendeu o significado das palavras de Alexei.
—Fica difícil fazer planos só sentado aqui. Também preciso agir de maneira que não levante suspeitas… Mas eu volto rápido.
Com a resposta de Alexei, a cabeça de Valery caiu suavemente sobre seu pescoço. A testa macia e quente dele aqueceu a pele fria de Alexei. Encostando a testa, o garoto sussurrou.
—Volte logo. Se você pretende me manter preso.
Essas palavras pesaram no coração de Alexei. Ele pensou que manter Valery preso por mais tempo poderia parecer estranho aos olhos dos espiões de Igor. Talvez fosse uma desculpa que ele mesmo havia criado, mas não poderiam ficar assim para sempre. Haviam prometido um ao outro, e tinham compartilhado a kasha, então Alexei decidiu confiar em Valery. Após ponderar cuidadosamente, Alexei falou.
—Você pode ir treinar.
Valery levantou a cabeça. Seus cílios piscaram de maneira graciosa, como se perguntassem se ele estava falando sério.
—De qualquer forma, você pode sair. Só não se cruze com Ryan Winter ou qualquer pessoa associada a eles. Lerusha, só estou pedindo isso.
E é só isso que você precisa seguir. Com a instrução de Alexei, Valery acenou com a cabeça. Ele recuou lentamente, olhando fixamente para Alexei, e falou baixinho.
—Obrigado.
Depois dessas palavras, um leve sorriso apareceu em seu rosto. Sentindo-se como se tivesse recebido um presente inesperado, Alexei não conseguiu respirar por um momento. Ele se sentia culpado e feliz ao mesmo tempo. Que ironia. Alexei não tinha feito nada que merecesse gratidão.
Mesmo assim, Valery disse obrigado.
Alexei saiu de casa primeiro. Com tantas chamadas e mensagens de Yuri, ele foi direto para o trabalho. Valery não saiu antes dele. Embora tivesse prometido confiar nele, Alexei se sentiu inquieto a caminho da pizzaria.
Quando chegou, viu o carro de Yuri, desligou o motor e pegou um cigarro. Não podia mais beber nem fumar na frente de Valery, então esses pequenos prazeres só eram possíveis fora de casa, até porque não sabia até quando essa mentira duraria. Quando estava prestes a acender o cigarro, alguém o chamou.
—Alyosha, seu bastardo porque você tem me deixado sozinho aqui ultimamente?
T-mac, com um avental, apareceu com uma expressão cansada. Às vezes era difícil lembrar qual era seu verdadeiro trabalho, pois ele sempre se dedicava intensamente ao que fazia na pizzaria. Alexei não disse nada porque sabia o motivo. T-mac sempre quis ser uma pessoa comum e sentia que podia ser assim enquanto trabalhava no restaurante.
—Você sabe da minha situação.
—Que diferença faz se um bastardo que nem seu irmão morre ou não, por que se dá esse trabalho todo…?
T-mac parou de falar quando viu a expressão de Alexei desaparecer. Os olhos azuis-acinzentados estavam frios e ameaçadores.
—Foi um deslize. Desculpe.
—É bom que seja. Cuide da boca, Timac. É sempre ela que causa problemas.
Alexei desviou o olhar e acendeu o cigarro. Após um momento de tensão, ele falou.
—Yuri está esperando lá dentro, vamos entrar. Acho que é sobre aquilo que você mencionou.
Ele assentiu brevemente, apagou o cigarro com os dedos e entrou. O cheiro de pizza o deixou com fome. Talvez devesse levar algo que Valery gostasse. Ele provavelmente ficaria feliz.
Sabendo que T-mac odiava sujeira, ele jogou a bituca no lixo e desceu para o porão. Assim que desceu, Yuri, que estava sentado, virou a cabeça. Seu rosto parecia cansado mesmo depois de apenas dois dias, os olhos azuis sob o cabelo preto e meio penteado eram penetrantes. Yuri estava com uma expressão incomumente tensa.
—Você esperou muito?
No momento em que Alexei cumprimentou casualmente, Yuri se levantou. Suas sobrancelhas grossas se franziram enquanto ele se aproximava rapidamente. T-mac, que tinha medo de Yuri, recuou, e apenas Alexei permaneceu parado, observando-o se aproximar. Quando Yuri estava bem perto, ele olhou levemente para baixo, embora parecessem ter a mesma altura, os olhos do homem estavam um pouco acima.
—Você.
—O quê?
Yuri mordeu levemente os lábios, com uma expressão incomodada. Observando Alexei atentamente, ele se aproximou ainda mais. Sentindo os feromônios subir por sua pele, Alexei começou a se sentir estranho, uma sensação de prazer ou excitação. Timac exclamou atrás dele — Mais ….?
—Você tomou o supressor?
Yuri perguntou, inclinando a cabeça como um animal, quase tocando o pescoço de Alexei com os lábios. Alexei estreitou os olhos e perguntou:
—Que supressor?
Yuri lançou um olhar fulminante para T-mac.
—Você apresentou o médico, mas não deu nada para ele?
—Eu não sou médico.
T-mac murmurou defensivamente. Mas a irritação de Yuri só aumentou.
—Yuri, do que você está falando?
Alexei interveio, ele estava ficando irritado com a conversa confusa na sua frente. Yuri então olhou para ele. Os olhos azuis do homem pareciam mais escuros do que o normal.
—Você está no meio de um ciclo de calor.
Alexei piscou, sem entender imediatamente. A expressão “ciclo de calor” era completamente estranha para ele. Enquanto processava o que isso significava, finalmente compreendeu, e soltou um suspiro. Então era por isso que Valery continuava dizendo que sentia um cheiro doce vindo do meu corpo.
—Ha, caralho.
O médico havia mencionado que havia efeitos colaterais. Alexei franziu a testa enquanto passava a mão pelo rosto, pressionando o polegar contra as pálpebras e engolindo um suspiro. Como se a situação não pudesse piorar, ficou ainda mais complicada. Embora suas glândulas de feromônio não tivessem sofrido grandes alterações e geralmente não se destacassem, as palavras de Altor sobre seu ciclo de calor ser irregular ecoaram em sua mente. Por que tinha que ser justamente agora?
—Você realmente parece um Ômega, —disse Timac com uma voz incrédula, finalmente encontrando suas palavras. — Eu estava me perguntando que cheiro era esse desde antes, mas, caramba, Alexei, acho que é o seu cheiro. Como Altor conseguiu realmente transformar alguém como você em um Ômega?
Murmurando como se não pudesse acreditar, T-mac se aproximou. Seu corpo reagiu de forma semelhante a quando Yuri se aproximou antes. Embora a reação não fosse tão intensa, um leve arrepio percorreu sua espinha. A sensação fria e arrepiante fez Alexei apertar os olhos sem querer. Seus ombros se encolheram e um gemido baixo escapou. O som, tão desalinhado com a imagem de Alexei, fez T-mac se assustar, abrindo os olhos em surpresa.
—Se afaste.
Antes que Alexei pudesse dizer qualquer coisa, Yuri interveio. Colocando-se entre Alexei e T-mac, ele avisou com uma voz baixa. T-mac, foi empurrado pelo feromônio ameaçador e rapidamente recuou.
—Ah, desculpe.
Embora Alexei não gostasse de Yuri intervir por ele, ele detestava ainda mais seu próprio estado. Se T-mac havia percebido, não havia como Ivan ou os outros não perceberem. Alexei apertou os lábios, passando a mão pelo cabelo. De qualquer forma, ele poderia se ausentar e dizer que seu Rut havia chegado, mas o problema era como superar essa situação.
Ou talvez não fosse um problema? Podia passar esse tempo com Valery.
O corpo de Alexei havia mudado por causa dele. Além disso, Valery acreditava que estavam “namorando”, então provavelmente tentaria assumir a responsabilidade de alguma forma. Esse pensamento o tranquilizou até ele perceber uma grande contradição.
Todo ciclo de calor é para o acasalamento. Uma vez alcançado o objetivo da reprodução, o ciclo de calor se acalma por um tempo. Ou seja, se um Ômega engravidar, o ciclo de calor não voltará até depois do parto. E Valery acreditava piamente que ele estava grávido.
Nada estava funcionando.
Enquanto engolia um xingamento com um rosto sério, Yuri falou:
—Vamos.
—Para onde?
Alexei não tinha ideia de como lidar com as ordens de merda de Igor, e sair logo após se reunir era…
—Vamos pegar um inibidor. Se você ficar deixando o feromônio escapar assim, nem o desodorante vai ajudar.
Os inibidores, que Alexei nunca havia usado mesmo durante a Rut, eram algo muito novo para ele. Os preços dos inibidores variavam muito dependendo do tipo, e os eficazes custavam bastante. O básico começava em torno de 50 dólares por dose, o que só cobria um ciclo.
Alexei havia se abstido de usar um inibidor até agora, mesmo com o dinheiro sendo escasso, pois ele preferia usar o dinheiro para pagar a educação de Valery.
—Você está pensando em entrar na farmácia e tentar comprar lá? Com a vigilância em cima de nós, isso é impossível, Yuri.
Exatamente. Ir até Altor também precisava ser feito com cautela por um tempo, então a maneira de conseguir o remédio era um pouco incerta.
—Eu conheço alguém, então venha comigo.
Depois de Yuri falar assim, foi difícil contestar. O inibidor era necessário. Se Alexei não o conseguisse, ele correria o risco de destruir toda a conexão que havia construído com Valery. Alexei passou a mão pelos cabelos e chutou o chão com a sola do sapato.
—Desculpe, T-mac. Vou sair agora. Terminamos a conversa amanhã e você também descanse.
—Não, você…
Timac olhou para Alexei com um olhar meio constrangido e acrescentou hesitante:
—Consiga o inibidor com segurança. Eu vou tentar entrar em contato com Altor para ver se consigo alguma informação também.
—Obrigado por fazer isso. —T-mac não estava sendo vigiado, então isso era o máximo que ele poderia fazer. Alexei acrescentou: —Depois de mencionar meu nome, pergunte se há alguma chance de conseguir aquele remédio que ele mencionou antes. Ele vai entender.
—Entendi.
—Vou indo.
Sentindo o olhar de Yuri pressionando-o a se apressar, Alexei se despediu de T-mac. Assim que saiu da loja, Yuri o levou para seu carro.
—O que está fazendo?
—Vamos no meu carro. Não se desgaste dirigindo você mesmo.
—Se eu tiver que vir aqui e depois voltar, eu vou acabar congelando. Se você está preocupado comigo por causa do meu estado agora…
Alexei omitiu o que estava pensando. Ao ver o olhar sério de Yuri, ele soltou um suspiro. Com um rosto cansado, Yuri observou Alexei e disse:
—Me siga com cuidado.
Alexei seguiu sem responder e entrou no carro de Yuri.
O homem dirigiu até sua casa. O aviso para seguir com cuidado era desnecessário. Alexei conhecia bem a casa de Yuri, quando era mais novo, ele frequentava a casa de Yuri por causa de Vasily, e depois, à medida que crescia, Yuri se tornou seu único amigo, então era natural que conhecesse bem o caminho. Ao passar por ruas conhecidas, eles chegaram à casa. Era uma casa pequena, entre várias outras casas, com o número 326 na placa na porta da frente.
Depois de estacionarem na rua atrás da casa, eles entraram pela porta dos fundos. Yuri abriu a porta para ele. Ao segui-lo para dentro, Alexei foi recebido por um espaço silencioso e vazio. Desde que Igor matou sua mãe e tentou matar Vasily também, Yuri tinha vivido sozinho. Enquanto Alexei ainda tinha Valery, Yuri tinha estado só todo esse tempo.
Yuri era um amigo de infância. Vasily havia se juntado à organização contra sua vontade, assim como o pai de Alexei e ambos eram inteligentes e habilidosos em combate, e por isso, como eram irmãos de combate, Alexei acabou conhecendo Yuri. Desde que Vasily sumiu, ele sempre esteve com o homem. Para Alexei, deixar Yuri de lado era uma tarefa difícil, diferente de como era com Valery.
°
°
Continua….