O Primeiro Mandamento - Capítulo 13
Já havia passado mais de uma hora desde o horário marcado, mas Yuri ainda estava no local combinado. Alexei estacionou o carro em um beco próximo de um canteiro de obras que parecia mais uma ruína sombria. Esses espaços abandonados não eram incomuns em Saratov, isso porque em muitos lugares a construção foi interrompida por falta de orçamento ou por causa do inverno.
Este se enquadrava na primeira categoria. Houve algumas tentativas de compra, mas o lugar sempre voltava ao mercado, provavelmente por estar em uma área comercialmente desfavorável.
Depois de desligar o motor, Alexei enfiou as mãos frias nos bolsos do casaco. Seus dedos dos pés estavam dormentes, como se estivessem congelados, resultado de ter ficado parado por tanto tempo. Assim que ouviu o som de passos se aproximando, Yuri reagiu imediatamente, seu olhar afiado se fixou em Alexei, e ele relaxou assim que o reconheceu.
O rosto de Yuri, antes tão frio quanto o ar que tocava sua bochecha, suavizou-se. Apesar do atraso, ele não demonstrou nenhum sinal de aborrecimento ao se aproximar de Alexei.
—Alyosha.
O nome foi pronunciado em um tom baixo, que por um momento se sobrepôs à maneira como Valery costumava chamá-lo. Alexei sentiu um leve formigamento nas pontas dos dedos, como se tivesse sido picado, e respirou fundo, como se algo tivesse perfurado seu corpo. Sua mente ficou momentaneamente confusa, a realidade o atingiu de uma só vez.
Durante a viagem de carro, nada parecia real. O infortúnio sempre chegava sem aviso e mudava tudo com uma rapidez cruel. Embora soubesse disso, era difícil acreditar que havia perdido Valery dessa forma, seu coração tentava enganar sua mente, sussurrando que o ressentimento de Valery passaria com o tempo e que ele voltaria, como sempre fazia.
Mas, ao mesmo tempo, em algum lugar no fundo de sua mente, ele sabia que desta vez seria diferente. Ao aprofundar-se mais, percebeu que, na verdade, já esperava por isso. Se Valery descobrir o que aconteceu, não vai terminar bem. A única mentira que temia era sobre um futuro incerto. Ele só se importava com o fato de Valery estar “vivo”, sem se preocupar com mais nada, não tinha tido tempo nem oportunidade para pensar em outras coisas. Apenas pensava que, um dia, teria uma boa vida, sem nunca se permitir imaginar um futuro mais detalhado, até chegar a este ponto.
Foi só quando chegou ao fim que Alexei percebeu o quanto odiava a ideia de se separar de Valery. Era ridículo como ele não tinha percebido a obsessão que estava bem diante dos seus olhos. Hoje, algo que não fazia sentido quando outros diziam foi revelado na frente de Ryan Winter.
—Alyosha?
Quando não recebeu resposta, Yuri se aproximou ainda mais. Alexei finalmente voltou a si ao ver a expressão aparentemente fria, mas com uma preocupação sutil, no rosto de Yuri.
—Ah, desculpa.
Yuri ficou em silêncio por um momento, observando Alexei com atenção.
—Você.
Os olhares se encontraram, e Yuri perguntou com convicção:
—Tem algo acontecendo.
Sua testa branca se franziu, e então ele mencionou Valery.
—Deve ser algo relacionado ao seu irmão.
O tom confiante fez com que Alexei perguntasse de volta:
—Por que você acha isso?
—Porque sempre que ele está envolvido, você aparece com essa expressão.
Yuri tentou manter a calma, mas Alexei pôde sentir o desconforto reverberando em seus feromônios. Alexei riu amargamente, se perguntando se ele sempre demonstrou tão claramente o que estava sentindo.
—É mesmo?
Yuri parecia ter algo a dizer, mas hesitou e permaneceu em silêncio. Alexei tinha uma ideia do que se passava na mente dele; pensando bem, o último encontro entre eles havia terminado de forma estranha. Houve um atrito relacionado a Valery, e isso fez com que as emoções de Yuri transbordassem, criando uma tensão desconfortável. Alexei sugeriu que deixassem a conversa para depois, então, seu ciclo de calor chegou, fazendo-o esquecer de tudo por um breve período de tempo. Foi um período tão curto que pareceu um doce sonho. O tempo que passou com Valery após a injeção do hormônio parecia mais longo do que todos os anos juntos.
Em meio as palavras insignificantes, Valery continuava a se sobrepor na mente de Alexei. Lembrou do rosto que expressou de forma fofa o ciúme de Yuri estar com ele, de como Valery prometeu protegê-lo como se fosse seu irmão mais velho, e de como falou suavemente, pensando no filho… Mesmo depois de um começo terrível, Valery ainda tentou, de algum jeito, perdoar e consertar as coisas. Recordar essas lembranças fez o coração de Alexei doer, como se estivesse sendo arrancado do peito.
Mas está tudo bem.
Se para você eu não sou mais o primeiro, então eu…
Alexei interrompeu o pensamento antes de concluir a frase, mesmo em sua mente. Ainda assim, sua decisão estava tomada. Sim… agora não importa mais. Se, apesar de tudo o que aconteceu, Lerusha insistir em se afastar, então é isso. Alexei acreditava que Valery, pelo menos, entenderia uma coisa: que, independentemente do método, nada do que ele fez foi apenas para si mesmo. Mesmo que não demonstrasse, ele esperava que Valery reconhecesse essa sinceridade.
Valéry tinha que acreditar numa coisa, mesmo que negasse todo o resto. Na vida de Alexei, não havia espaço para um ego; sua vontade era inteiramente dedicada a Valery. Tudo o que Alexei Sorokin fazia estava, de alguma forma, ligado a ele, Valery Sorokin deveria ter aceitado essa verdade, mesmo que ele próprio não quisesse admitir. Era o comportamento que se esperava de um ‘irmão mais novo’ que carregava o sobrenome de Sorokin.
Com o coração deliberadamente endurecido, Alexei soltou abruptamente para Yuri:
—Não precisa segurar o que quer dizer.
Ele fez um gesto com o queixo, como se o estivesse desafiando a falar. Ao receber permissão, Yuri, em vez de parecer aliviado, adotou uma expressão de desagrado.
—Então algo realmente aconteceu.
Com um tom que parecia achar tudo aquilo estranho, Alexei respondeu com descaramento:
—Desde quando eu impedi você de dizer o que queria?
—Quando o assunto é Valery Sorokin.
Yuri pronunciou o sobrenome Sorokin, estalando brevemente na língua. Assim como um ser vivo se esforça para garantir sua sobrevivência e aumentar sua população, Alexei talvez desejasse que existissem outras pessoas no mundo com o sobrenome Sorokin, além dele próprio. Talvez fosse uma consequência de sua natureza obsessiva. No entanto, assim como espécies diferentes não podem se tornar a mesma espécie dando-lhes o mesmo nome, Valéry acabou crescendo e encontrando seu próprio caminho. Embora Alexei não soubesse exatamente qual era esse caminho.
Alexei decidiu cortar Valery que não se comportou como um irmão mais novo deveria de sua vida, assim como o Alfa havia feito com ele. Embora o resultado fosse inevitável, ele repetiu para si mesmo como se tivesse tomado a decisão de uma vez por todas.
—Valery Belov.
Corrigiu, em voz baixa, mas com clareza. Yuri piscou, parecendo surpreso.
—Alyosha…?
Ignorando o olhar de descrença, Alexei tomou a iniciativa para evitar que mais palavras desnecessárias fossem ditas.
—Não se preocupe, não vou mais me prender a esse tipo de coisa.
Ele não queria se agarrar de forma patética, chorando ou se arrependendo, mas também não queria falar mais sobre isso. Agora, ele só queria focar no que tinha que fazer. Se, consciente ou inconscientemente, o que ele mais desejava era sobreviver ao lado de Valery, agora que isso se foi, Alexei tinha apenas uma tarefa.
Ele sempre precisou de um objetivo na vida. Agora que não havia mais nada a proteger, era hora de fazer algo para honrar o que foi perdido. A melhor forma de fazer isso era lidar com o passado que ele adiou e evitou por tanto tempo.
—Temos uma tarefa para terminar, não é? O que aconteceu nesses dois dias? Aconteceu algo perigo?
Alexei perguntou enquanto caminhava em direção a um edifício abandonado, interrompido durante sua construção. Yuri o observou com uma expressão complexa e sutilmente desconfortável, mas logo seguiu os passos de Alexei, pisando em sua sombra enquanto ele se afastava. Quando as sombras do edifício os cobriram completamente, Yuri finalmente começou a falar.
—Anteontem, estávamos sendo vigiados. Achei que fossem homens enviados por Igor para checar, mas eram policiais.
Pelo visto, Ryan não estava errado. Sabendo até onde alguém desesperado pode ir, havia considerado a possibilidade de que fosse uma mentira, mas parece que não era.
—E então, hoje, eles apareceram lá em casa com um mandado de busca.
Alexei soltou uma maldição, sem saber se dirigida à polícia ou a Igor. Tanto as circunstâncias quanto às evidências sugeriam claramente que Igor havia espalhado informações falsas. E se ele já tinha infiltrado alguém, era certo que provas fabricadas seriam encontradas na casa de Yuri.
Ryan chamou aqueles que mataram os policiais de “bandidos”, então eu também devo ser um alvo da polícia, mas a ira de Ryan será direcionada a Yuri. Isso é certo. Quando nos encontramos mais cedo, ele tentou mostrar alguma misericórdia com um propósito claro, se ele tivesse me considerado um inimigo da família Winter, ele nem teria mencionado tal oportunidade.
Khaleesi Winter vai querer encontrar primeiro o homem que matou o marido de sua irmã. Afinal, a razão pela qual ela veio aqui, apoiada pela Agência Antidrogas, é vingança, não é? No entanto, isso não significava que a situação de Alexei fosse muito melhor que a de Yuri. Neste exato momento, provavelmente havia policiais cercando seu apartamento também.
Pensar em casa trouxe à tona imagens de coisas que ainda estavam lá. Talvez os lençóis ainda guardassem algum calor, ou os objetos de Valery que Alexei guardou ao longo do tempo, as poucas fotos que conseguiu salvar da infância… Será que Valery vai ficar chocado ao ver tudo isso espalhado e destruído? Não acho que ele tenha visto a casa em um estado tão devastado antes. Uma pessoa comum certamente ficaria assustada ao ver tal cena.
Não, não. Alexei afastou esses pensamentos bruscamente. Com Ryan Winter, não haverá perigo. Passando a mão pelos cabelos, Alexei observou Yuri, não parecia haver grandes ferimentos ou sinais de luta.
—Você conseguiu escapar?
—Por pouco.
Provavelmente que a casa de Yuri deveria estar completamente destruída. Não poderiam ter deixado o lugar em boas condições. A casa onde Alexei morou na infância foi vendida a preço de banana por Igor há muito tempo, então o único lugar que restava, onde ele ainda tinha algumas lembranças de seus pais, era a casa de Yuri. Sentiu como se a própria existência de um lugar para onde voltar tivesse sido completamente apagada.
—Eu não sei exatamente o que está acontecendo, Alyosha, mas parece que…
Antes que Yuri pudesse terminar de falar, Alexei assentiu com a cabeça.
—Sim. Nós somos os alvos.
Yuri ficou em silêncio diante da declaração indiferente, ele já suspeitava, mas ouvir a confirmação não era nada agradável. Eles estavam sozinhos no mundo, como destroços à deriva em um mar sem fim. Na verdade, apenas Alexei estava sozinho, Yuri ainda tinha Vasily. Embora Alexei tivesse dito a si mesmo que já havia pago sua dívida de vida ao salvar Vasily no passado, de maneira alguma estava disposto a empurrar o filho do homem que o manteve vivo até agora para a morte como forma de saldar essa dívida. Yuri precisava sobreviver.
Deixando de lado por um momento os pensamentos que passaram por sua mente, Alexei decidiu começar compartilhando o que sabia com Yuri.
—Desde quando você sabia? —perguntou Yuri.
Alexei deu de ombros. —Hoje. Fui pegar as armas com Sergey e ele ficou surpreso. Eu estava completamente enganado. Achei que era uma tática de nós descartar no meio dessa guerra, mas, embora isso seja verdade, o objetivo maior é a nossa eliminação. Não sei por quê, mas…
Essa parte ainda o intrigava. Se Igor quisesse se livrar deles, teria tido inúmeras oportunidades. Por que fazer isso justo agora, quando precisava de mais pessoas ao seu lado?
—Eu sei o motivo,— disse Yuri, baixando os olhos. Sob suas sobrancelhas grossas, seus olhos refletiam uma expressão complicada. Alexei esperou que ele continuasse, e após um breve silêncio, Yuri respondeu com um peso nas palavras: —Igor descobriu que estávamos levando as pessoas até a fronteira.
Isso fazia sentido, finalmente, Alexei entendeu. Mesmo sendo uma ação arriscada, eles haviam conseguido manter isso em segredo por bastante tempo. As pessoas que lhe haviam sido confiadas eram geralmente de pouca importância, por isso ele não prestava muita atenção. Mas agora, parecia que Igor havia percebido. Por exemplo, algo assim; quando você percebe que algo que você nem sabia que tinha em seu quarto um dia não está lá, você se pergunta aonde foi parar.
Na maioria das vezes, as pessoas esquecem se não conseguem encontrar o objeto, mas Igor não era do tipo que deixava as coisas passarem.
—Como você descobriu?
—Diferente de você, eu tenho amigos.
Alexei estreitou um olho, desconfiado, enquanto Yuri soltava uma risada discreta. O riso repentino fez Alexei franzir ainda mais o cenho.
—Agora está um pouco melhor.
Yuri disse isso e reduziu a distância em apenas um passo. Só então Alexei percebeu que Yuri havia feito uma piada, algo raro e que ele só fazia quando estava em uma situação estressante.
—Estamos à beira da morte e você ainda consegue fazer piadas em uma situação dessas?
—Eu não vou morrer.
Sim, não vou deixar você morrer. Alexei respondeu mentalmente e ergueu os cantos da boca.
—Você não tem mais ninguém além de mim como amigo.
Era uma frase que ele costumava dizer por hábito, mas, ao pronunciar, tornou-se estranhamente consciente. Ele tinha esquecido por um momento o que aconteceu entre ele e Yuri que quando se lembrou rapidamente. Fazia menos de três dias. A expressão levemente sorridente de Yuri se acalmou gradualmente e o homem olhou diretamente para Alexei. A boca de Alexei estava seca, podia sentir a mudança nos feromônios de Yuri misturados com o vento cortante. Quando percebeu que os olhos azuis de Yuri que eram semelhantes aos dele apenas com uma satisfação diferente estavam focados exclusivamente nele, Alexei desviou o olhar.
—Até onde Igor sabe? Diga exatamente.
Ele fez questão de romper rapidamente o silêncio. Embora se sentisse mal por Yuri, Alexei nunca considerou seu amigo como outra coisa. Para Alexei, Yuri sempre foi um companheiro e alguém em quem confiar. Além disso, um alfa nunca se conectaria a outro alfa…
Alexei não parou de falar, temendo que a lembrança de Valery pudesse retornar.
—Não, isso não importa. Porque saber não mudará a situação. Yuri, se formos pegos, o mínimo que enfrentaremos é uma sentença de prisão perpétua. Mesmo que aleguemos que as provas foram manipuladas, ninguém acreditará sem evidências para refutar. Talvez devêssemos considerar uma sorte o fato de a pena de morte ter sido abolida. Mesmo se sobrevivermos, Igor nos matará. Portanto, só há um caminho.
Ele já havia resolvido tudo em sua mente. Ryan Winter havia apresentado condições apenas para Alexei. Não estava claro se ainda era uma carta na manga, mas não havia nada a perder.
—Enquanto eu atraio a atenção, você vai até Vasily.
Embora Alexei não tivesse decidido que forma de morte enfrentaria, ele pensou que ser legalmente condenado e ver o fim da vida poderia não ser tão ruim.
—… O que?
Yuri perguntou, surpreso. Com uma expressão imediatamente sombria, ele lançou um olhar severo para Alexei, o clima ficou tenso. Alexei, por sua vez, sorriu ainda mais.
—Mesmo que ambos acabemos presos pelo mesmo crime, minhas chances de sobreviver nas mãos da polícia são maiores do que as suas. Parece que você foi falsamente acusado de matar alguém associado a Khaleesi Winter, então você provavelmente não conseguirá sequer entrar na prisão.
—Explique isso direito.
Yuri encurtou ainda mais a distância, como se estivesse decidido a não permitir nenhuma fuga.
(N/Rize: Aí gente me julguem, mas se eu fosse o Alexei dava muito pro Yuri 😌)
—Hoje eu encontrei Ryan Winter e ele me fez uma proposta. Não sei se era para me entregar ou caso eu fosse capturado, mas ele prometeu reduzir minha pena. Então, eu vou ficar bem.
—Não há nenhuma razão para ele fazer isso. Alyosha, nós… —Yuri, que falou até ali, de repente pareceu perceber algo. —É por causa do Valery?
Bastava que ele confirmasse, mas por um momento, sentiu uma dor no estômago. Com um leve atraso, Alexei assentiu calmamente, mexendo os lábios.
—Sim. Valery vai embora com Ryan. Foi o preço oferecido para ele me ajudar com isso.
Embora não precisasse de ajuda, ele mesmo havia destruído a oportunidade que teve com Valery.
—Você sempre soube que isso não terminaria bem, Yuri. Não me diga que você estava esperando um final feliz, como nos livros que você lê?
Ao contrário de Alexei, que nunca se interessou por contos de fadas ou histórias, Yuri frequentemente lia livros. As histórias dos escritores russos eram, em sua maioria, sombrias, talvez por causa do sangue derramado em suas páginas. No entanto, curiosamente, Yuri só lia Tolstói.
—Morrer ou ir para a prisão. Se for para escolher, prefiro ir para a prisão, já que ainda quero viver. Você sabe disso, eu não quero morrer.
Yuri olhou fixamente nos olhos de Alexei enquanto o ouvia. Era difícil ler seus pensamentos hoje, então Alexei falou como se estivesse chegando a uma conclusão. Ele sabia que podia parecer precipitado, mas não foi uma decisão tomada de repente, ele apenas escolheu um dos muitos caminhos que já havia considerado. Não era o caminho mais feliz, mas desde o início, essa ideia era uma ilusão, e isso parecia razoável.
—E como eu não quero ver você morrer, enquanto eu me entrego, você deve seguir o caminho que costumávamos usar. Se Igor já sabe de tudo como você disse, ele pode descobrir até isso, então é melhor ir hoje mesmo. Não há tempo a perder. Eu vou falar com T-Mac e depois irei encontrar Khaleesi Winter. Você deve se preparar o mais rápido possível e partir de madrugada. Não há mais nada a dizer.
Quando terminou de falar, o vapor de sua respiração se dissipou no ar. O frio que havia esquecido por um momento voltou de repente. Mesmo acostumado ao frio, por estar vestido com roupas leves, suas mãos e pés estavam doendo. O tempo, que havia sido brevemente mais quente, enganou Alexei completamente, suas mãos estavam tão frias que quase não se moviam. Ele forçou-se a mexer as mãos para pegar um cigarro, virando-se deliberadamente pela metade.
—Estou indo.
Quanto mais longa a despedida, mais difícil ela se torna. Ele se despediu de forma breve, como se fossem se ver novamente no dia seguinte, depois, conseguiu tirar um cigarro do bolso interno com dificuldade, mas seus dedos mal conseguiam se dobrar. O maço de cigarros caiu no chão com um leve som de batida. Ele queria ir embora rápido, pois prolongar a despedida só criaria arrependimento, mas seu corpo não colaborava. Alexei estalou a língua, inclinando-se para pegar o maço, as pontas de seus dedos, azuladas pelo frio, tocaram o maço de cigarros. Algo gelado podia ser sentido na ponta de seus dedos, e sem que ele percebesse, a neve havia se acumulado no chão, sobre seu casaco, e em seus sapatos.
Estou farto disso.
Esse pensamento passou por sua mente. Estava cansado do frio. Depois de ter crescido a vida inteira em um lugar como aquele, esperava-se que ele tivesse se acostumado, mas Alexei estava cansado do inverno rigoroso que dominava mais da metade do ano. Não era o frio em si que o incomodava, era a monotonia, se não houvesse verão, ele provavelmente não se importaria tanto, mas aquele curto período de menos de dois meses, quando o verão finalmente chegava, era tão radiante. Tão quente, brilhante, com um ar de paz que fazia todos os problemas desaparecerem; ele preferia não ter conhecido essa sensação.
Enquanto tentava pegar o maço de cigarros com um gesto cansado, uma mão coberta por uma luva de couro se sobrepôs à sua.
Alexei ergueu o olhar e viu Yuri, também inclinado, segurando sua mão. O cabelo de Yuri, que estava parcialmente despenteado, caiu sobre o rosto. Seu nariz branco e olhos de um azul brilhante o encaravam intensamente.
—Eu te disse para usar luvas.
A mão de Alexei foi segurada com firmeza. Embora a luva de couro não fosse de lã, e o toque inicial fosse terrivelmente frio, o calor começou a se espalhar pela mão dele. Involuntariamente, ele se levantou, e Yuri o puxou pela mão. Ele mal conseguia lembrar da última vez que tinha segurado a mão de Yuri, provavelmente quando eram crianças, e só agora percebeu que a mão do homem era um pouco maior que a sua, embora parecesse semelhante.
—Vista.
Yuri sussurrou enquanto tirava a outra luva. Seus hálitos se misturavam no ar frio, e o rosto do Alfa, à sua frente, estava olhando para ele com ternura. Era difícil ignorar a quieta gentileza que transparecia na expressão de Yuri, o que deixava claro algo que Alexei estava tentando ignorar. Algo que ele havia atribuído antes à personalidade do seu amigo mais próximo.
—Fume dentro do carro. Está frio aqui fora.
Yuri falou como de costume, enquanto colocava as luvas de couro forradas com lã nas mãos imóveis de Alexei. Alexei observou em silêncio o cuidado familiar que T-Mac frequentemente chamava de exagerado. Aos poucos, o calor se espalhou, e ele começou a recuperar um pouco da sensação nas pontas dos dedos que haviam perdido a sensibilidade.
—Yuri.
Em vez de falar muito, Alexei apenas chamou seu nome, e Yuri respondeu brevemente.
—Eu não vou.
De forma calma, mas firme, Yuri recusou.
—Para onde eu iria sem você, Alyosha?
O calor de seu corpo começou a subir lentamente. Apesar da nevasca violenta que despenteava seu cabelo, Yuri permanecia imóvel. Enquanto encarava os sentimentos de um Yuri, que talvez nunca tivesse conhecido, Alexei refletiu sobre o passado. Quando foi que isso começou? Mas, honestamente, se Yuri não tivesse deixado isso tão óbvio, Alexei provavelmente nunca teria descoberto. E o momento em que isso se tornou claro coincidiu com a transformação de sua própria natureza.
—Eu não sou um ômega que você precisa proteger.
Então, se ele fosse um covarde que muda de ideia, seria até melhor. Alexei preferia que fosse assim.
—Eu sei.
—Eu sempre fui um alfa, e sempre serei. Não estou interessado em pessoas com as mesmas características.
—Isso também eu sei.
Yuri simplesmente confirmou.
—Alyosha, eu…
Ele fez uma pausa enquanto pegava a outra mão de Alexei e colocava a luva nela também. Depois de colocar as luvas nas duas mãos, Yuri as segurou firmemente com suas próprias mãos grandes e sussurrou:
—Eu só penso em você como você pensa em Valery. Tem sido assim desde o início e sempre será. Nunca esperei nada de você, então também não tente fazer nada em relação a mim.
(CARALHO! Eu quero o Yuri pra colocar num potinho 😭)
Com essa explicação simples, tudo foi esclarecido. Embora uma curiosidade súbita sobre quando e em que sentido isso começou tenha surgido, Alexei não perguntou. Porque, mesmo que soubesse, não poderia retribuir esses sentimentos. As mãos de Yuri, que cuidavam dele, eram calmas e reconfortantes, mas não o aqueciam intensamente como as mão de Valery. Elas apenas impediam que ele congelasse ainda mais.
Se Alexei fosse apaixonar por esse tipo de gentileza, ele já teria se apaixonado por outro ômega há muito tempo. Porque onde quer que fosse, sempre havia Ômegas encantados por bandidos com histórias infelizes. Mas o que Alexei precisava não era compaixão nem gentileza. O motivo de ele aceitar essa bondade era unicamente porque vinha de Yuri.
Uma sensação de vazio pairou no ar. Depois de olhar para suas mãos presas por um longo tempo, Alexei falou lentamente.
—…Não vou pedir desculpas.
Essa foi a forma de Alexei rejeitar.
—Por que eu esperaria isso?
Yuri aceitou isso como algo natural.
—Para mim, você sempre será um amigo.
Talvez essas palavras tivessem doído um pouco, pois Yuri baixou os cílios. Alexei sentiu a pressão aumentar nas mãos entrelaçadas. Ele permitiu que Yuri as segurasse por mais um momento. Yuri manteve suas mãos firmemente agarradas por um bom tempo, como se quisesse memorizar o toque, enquanto olhava fixamente para elas. Justo quando Alexei começou a sentir uma ponta de culpa, ele lentamente soltou as mãos. Um longo e raso suspiro branco de Yuri ficou suspenso no ar.
—Quem é que abandonaria um amigo?
Yuri quebrou o longo silêncio com essas palavras. Alexei ficou sem resposta, a frase o atingiu em cheio.
—Se eu quisesse fugir para sobreviver, já teria ido há muito tempo, Alyosha. E eu não estaria te ajudando nessa sua idiotice por causa do Valery.
A voz de Yuri soava em um tom baixo e repreensivo, deixando Alexei sem palavras, não parecia haver como convencê-lo naquele momento. Alexei estreitou os olhos e olhou para o homem, percebendo que as orelhas dele estavam mais vermelhas do que as suas por causa do frio. Alexei soltou um suspiro e praguejou baixinho. Então Yuri, acrescentou:
—Sem mim, você já estaria morto há muito tempo.
Yuri era muito gentil para estar em um lugar como aquele. Alexei rapidamente tirou o maço de cigarros das mãos de Yuri e lhe deu um leve empurrão com o braço.
—Vamos para algum lugar, antes que a gente congele e morra sem fazer nada.
Sem olhar para trás, Alexei começou a caminhar em direção ao carro, enquanto uma risada baixa de Yuri ecoava atrás dele. Ao ouvir essa risada, o tumulto que fervilhava dentro dele se acalmou um pouco, um pouquinho.
Em Saratov, havia um senso de alerta sem precedentes. Ao ver várias viaturas de polícia patrulhando as principais ruas do centro da cidade, Alexei mudou de direção. Yuri, sendo um procurado, e ele próprio, muito provavelmente também procurado, não podiam andar por aí com confiança. Só isso já fazia Alexei perceber que aquela cidade não era mais completamente dominada por Igor. Algo estava claramente mudando.
Quando saíram do centro e foram para o norte, onde geralmente operavam, encontraram vários policiais fortemente armados. Eles observaram os policiais, segurando seus fuzis, enquanto caminhavam pela escuridão. Essa cena deveria parecer ameaçadora para eles, que eram criminosos, mas, para ser sincero, não se sentiam tão mal. Ver essa imagem era o suficiente para saber que Igor certamente estava irritado.
—O velho não vai gostar disso.
Alexei disse, apoiando o cotovelo no parapeito da janela. Quem diria que, um dia, eu teria que me esconder da polícia nessa cidade? O céu já estava completamente escuro, e apenas os postes de luz iluminavam a cidade, eles estavam encolhidos no carro há várias horas, sem ter para onde ir. Toda vez que olhava para fora, sentia que não havia nenhum lugar para onde pudessem ir. Sobreviver sozinho era algo que ele sempre soube fazer, mas, ironicamente, pertencer a Igor havia criado algum tipo de sentimento de pertencimento inconsciente. A sensação de que a cerca suja havia desaparecido, deixando-o exposto em campo aberto, era estranha.
—O que você quer fazer, Alyosha?
Yuri, que também estava olhando para fora, perguntou calmamente. Alexei respondeu de forma indiferente:
—Você ficar aqui não vai mudar muito o meu plano.
—Não precisa ser desse jeito.
—Bom, poderíamos fugir juntos, mas…
Alexei olhava para fora com uma expressão inexpressiva. A obsessão e a vontade de viver que sempre o mantiveram vivo pareciam ter sido varridas pela tempestade de neve e nunca mais puderam ser encontradas. Só sentia uma calma indiferente, como se tivesse se tornado um ser inanimado. Sem dizer mais nada, ele continuou a olhar para a paisagem coberta de neve.
Havia poucas pessoas na periferia. Depois que os policiais passaram, Alexei viu um grupo de estudantes chegando e parando na faixa de pedestres. Ele observou sem propósito enquanto eles pressionavam o botão do semáforo e esperavam a luz verde. Por um momento, Alexei projetou Valery no garoto mais alto e loiro do grupo, algo que seu inconsciente fez por conta própria.
Seria bom ver seu rosto mais uma vez.
Ele teve um pensamento sem sentido, então, balançou a cabeça. No momento, Alexei não tinha um lugar para onde queria ir, nem sentia uma necessidade desesperada de fugir. Em vez disso, ele pensava mais em…
—Eu disse que não poderia deixar as coisas continuarem assim. Preciso me vingar.
Ele sentiu o olhar de Yuri sobre ele. O olhar queimou em sua bochecha. Mesmo sem olhar, Alexei podia imaginar o que Yuri estava prestes a dizer.
—Você quer que nós dois enfrentemos todas aquelas pessoas?
Com a expressão de Yuri se tornando séria, Alexei soltou uma risada propositalmente.
—Eu pareço um daqueles caras de Sin City?
Ele sabia muito bem que era apenas um personagem coadjuvante, que não se encaixava nem como herói nem como vilão. Tendo lutado tanto para sobreviver até agora, Alexei não tinha intenção de desperdiçar sua vida inútilmente como uma mariposa voando em direção a uma chama.
—Como eu disse, eu tenho uma carta. Não posso simplesmente desperdiçá-la.
Apesar de estar numa situação quase como um jogo de azar, Alexei não via necessidade de sobrecarregar Yuri com essa preocupação. Ele preferia compartilhar apenas o que era realmente necessário e evitava discutir suposições incertas com seus subordinados, embora Yuri não fosse seu subordinado. Se ele soubesse, provavelmente ficaria furioso, mas Alexei sabia que Yuri não poderia fazer nada contra ele.
—No fim das contas, o verdadeiro inimigo da família Winter e da polícia é Igor Volkov. Naturalmente, vão negociar uma redução de pena, e eu tenho mais chances de conseguir isso do que você.
De certa forma, ele tinha que agradecer ao irmão por isso. Valery iria sobreviver onde quer que estivesse. Aceitando gradualmente essa realidade, Alexei encostou a testa na janela, a cada pensamento que surgia, ele não conseguia parar de pensar em Valery. Ele odiava a ideia de viver uma vida em que sentiria saudades de alguém que nunca mais poderia ver. Embora tivesse dito algo diferente a Yuri, no fundo, Alexei desejava secretamente que esta fosse a última vez. Pensar assim parecia estranho para ele, mas esse impulso não desaparecia facilmente, talvez por isso, ele não sentia medo nem hesitação.
—Não parece uma ideia muito inteligente.
—Você sabe que eu sou estúpido. E também não temos tempo para você usar essa sua cabeça inteligente para bolar um plano brilhante…
Ele deu de ombros.
—Se quiser, te dou um minuto para pensar.
Os olhos azuis de Yuri se estreitaram enquanto ele olhava fixamente para Alexei. Se houvesse uma solução, Yuri já teria falado.
—Um desgraçado esperto como Igor não deixaria de estar preparado. É provável que ele já esteja começando a evacuar instalações importantes caso você ou eu falemos sobre eles. A única opção é agir mais rápido do que eles e atacar com a polícia. Mesmo que não possamos matá-los, temos que ferrar com todo o negócio.
Alexei sentia que precisava ver Igor perdendo todo o dinheiro que tanto amava.
—Mesmo que Khaleesi Winter tenha filtrado os policiais, Igor provavelmente colocou alguém infiltrado. Nem a delegacia é segura. Se formos, devemos ir juntos.
Yuri fez uma observação válida, mas isso também aumentava a possibilidade de que ambos pudessem morrer.
—Ryan Winter prometeu que colocaria alguém do nosso lado para garantir que não morramos nas mãos de Igor.
—Você realmente acredita nisso? É sério?
Yuri não conseguia acreditar que o sempre cético Alexei estava dizendo algo tão ingênuo.
—Eu não confio na pessoa, mas confio nos sentimentos ridículos que ele tem por Valery. Você sabe… No final das contas, Valery não gostaria que eu morresse. Ele é sentimental demais para isso.
Na verdade, Valery provavelmente não se importa mais se eu vivo ou morro.
—Você tem que admitir isso.
Yuri sempre desprezou o lado ingênuo e bondoso de Valery, então não teve escolha a não ser concordar. Ele permaneceu em silêncio, ponderando sobre isso.
—E se você realmente odeia a ideia de eu ir para a prisão, pode encontrar alguém do lado de fora para me ajudar. Existem algumas pessoas, certo? Como T-mac também é próximo de nós, é provável que Igor tente lidar com ele.
Quando Alexei mencionou envolver outras pessoas, Yuri franziu a testa. Com o dedo indicador pressionando firmemente sua testa alta e elegante, ele soltou um longo suspiro.
—Alyosha.
Como o bom amigo que era, Yuri não recuou facilmente. A determinação de Yuri era evidente na forma teimosa como ele chamou Alexei, o que o levou a tentar outra abordagem.
—É muito melhor ter um de nós do lado de fora do que ambos presos, isso nos dá muito mais opções. Além disso, ao salvar T-mac, você também precisa tirar Altor de lá.
—Altor?
O nome estranho fez Yuri estreitar os olhos.
—Ele é o cara que me colocou nessa situação.
O rosto de Yuri ficou visivelmente mais frio.
—Por que deveríamos salvar alguém como ele?
—Calma, eu preciso dele para voltar ao normal.
—Voltar ao normal?
Vendo a confusão de Yuri, Alexei decidiu explicar pessoalmente.
—Você sabe como eu jogo pôquer. Acha que eu faço coisas malucas sem pensar? Quando alterei minha natureza, já tinha pensado em reverter o processo.
A maneira de agir de Alexei não envolvia arriscar tudo sem estar preparado. Embora pudesse parecer assim, ele nunca se jogava em situações perigosas sem ter algo preparado. Após um breve momento de reflexão, Yuri franziu os olhos.
—Você acha que pode mudar sua natureza sempre que quiser? Se isso fosse possível, poderíamos ter nascido com as características que escolhemos, não acha, Alyosha?
O tom de Yuri era de reprovação. Embora Yuri e Valery não tivessem muito em comum, eles compartilhavam uma perspectiva religiosa similar. Essa teimosia de Yuri era algo que Alexei conhecia bem.
—Não brinque com seu corpo.
Era claramente uma bronca. Normalmente, Alexei não deixaria passar, mas desta vez ele decidiu ceder.
—Sim, senhor.
No fim das contas, Yuri pareceu concordar, e Alexei achou que era hora de começar a se preparar. Como o dia estava frio, não queria ser pego enquanto caminhava por muito tempo, não havia muito o que preparar, na verdade. Qualquer coisa que ele levasse seria confiscada após uma busca. No entanto, precisava de algo para dar a impressão de que estava preparado para ser capturado. Ele se virou levemente e pegou uma mochila preta que havia deixado no banco de trás. Dentro da mochila pesada estava algo que Igor gostava muito. Alexei havia trazido do trabalho antes de encontrar Yuri, caso precisasse. Será que o bastardo de Igor já percebeu.
—Você realmente…
Yuri, observando os movimentos de Alexei, suspirou pela enésima vez e perguntou:
—Você realmente vai conseguir voltar ao normal?
—Eu nem sequer mudei completamente. Estou numa situação intermediária. Então, vou conseguir voltar.
Ao ouvir a palavra “voltar”, Yuri olhou diretamente nos olhos de Alexei. Para tranquilizá-lo, Alexei sussurrou gentilmente, o que não era de seu costume:
—Eu vou voltar. Não vou morrer. Tudo vai ficar bem.
—Mas…
—Quer que eu jure por Valery?
Um juramento com algo tão valioso era considerado uma grande promessa neste mundo. Claro, isso só era possível entre pessoas que confiavam uma na outra. Yuri fechou os olhos e os abriu novamente, após hesitar, ele estendeu a mão.
—A chave do carro.
Alexei sorriu, satisfeito, e deixou a chave do carro cair na mão de Yuri. Como ainda estava usando as luvas que Yuri havia colocado nele, Yuri olhou para elas por um momento. Antes que pudessem trocar mais palavras, Alexei abriu a porta. Apesar de estar sendo procurado, seu carro era um Chevrolet prata comum, então Yuri daria um jeito de passar despercebido.
Quando saiu do carro, o frio envolveu todo o seu corpo, Alexei respirou fundo. Então, antes de fechar a porta, ele se despediu de Yuri por entre a fresta.
—Até logo.
Vendo o rosto de Yuri relaxar levemente da tensão, Alexei se desculpou em silêncio. Me desculpe, Yuri. O juramento que fiz usando Valery não terá muito valor.
Porque…
Para Valery, eu já não sou mais nada.
Com medo de que a mentira fosse descoberta, Alexei se virou sem hesitar. Ele jogou a longa mochila sobre o ombro, deixando o zíper aberto mais da metade, para que o interior fosse parcialmente visível. Atravessou a rua deserta, caminhando decididamente em direção ao outro lado.
Os policiais, vestindo uniformes pretos e sem graça, estavam prestes a entrar no carro após terminar a patrulha. Um deles virou a cabeça e viu Alexei se aproximando deles sem parar, o policial deu um toque no colega, e ambos os pares de olhos se fixaram em Alexei, mostrando sinais de alerta. Pisando na neve acumulada sobre as calçadas com seus sapatos pretos, Alexei parou na frente deles. Antes mesmo que pudessem perguntar o que ele queria, ele deixou a mochila cair no chão. Quando a bolsa caiu, os policiais, instintivamente, recuaram e sacaram suas armas, mas Alexei falou primeiro:
—Estou aqui para me entregar.
Então, ele indicou a mochila com um movimento de cabeça.
—Estou no lugar certo?
Seguindo o gesto de Alexei, os policiais olharam para a mochila. Quando a bolsa caiu no chão, ela se abriu, revelando sacos transparentes com um pó branco. Dentro da mochila, havia 2 quilos de cocaína. Enquanto os policiais olhavam para o conteúdo, ele sorriu, exibindo os caninos.
Tendo perdido tudo, agora estava pronto para tirar de Igor a coisa que ele mais amava.
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Continua….