O Primeiro Mandamento - Capítulo 14
A delegacia de polícia de Saratov era baixa e larga, típica de uma região extensa e pouco povoada. O edifício, feito de tijolos marrons sem nenhum charme, tinha um interior igualmente sem graça, o espaço era dominado por cores sombrias e monótonas, como se representasse as próprias cores da cidade.
Com as mãos algemadas para trás, Alexei estava sentado na sala de interrogatório. A luz branca da lâmpada preenchia o ambiente, enquanto o silêncio pesava sobre seus ombros. Lembrando-se do que ouvira de T-Mac, que tinha sido preso uma vez quando jovem, o simples ato de entrar ali causava uma certa intimidação. No entanto, se comparado à sala de reuniões de Igor, aquele lugar parecia até acolhedor. Alexei bocejou, olhando para o vidro fosco que cobria uma das paredes da sala de interrogatório, o cansaço começou a dominá-lo, pois já estava há mais de um dia sem dormir.
Talvez fosse uma estratégia comum dos policiais, mas ele estava sendo ignorado por horas desde que fora preso. Após ser brutalmente algemado, lido seus *direitos Miranda, ele foi levado ali. Depois de tirar suas impressões digitais, tirar a foto para o registro policial e fornecer suas informações pessoais, ele foi deixado naquela sala, provavelmente, seu nome havia causado algum problema. Ao ouvi-lo, os policiais sussurraram entre si e se retiraram, não aparecendo mais, antes disso, lhe perguntaram se queria chamar um advogado, mas, obviamente, Alexei não tinha um. Se tivesse dinheiro para isso, teria usado para ajudar a pagar os estudos de Valery.
(N/T: Os Direitos Miranda são um conjunto de direitos que devem ser informados a uma pessoa no momento em que ela é detida pela polícia, principalmente nos Estados Unidos, para garantir que seus direitos constitucionais sejam respeitados. Esses direitos surgiram a partir do caso Miranda v. Arizona (1966), em que a Suprema Corte dos EUA decidiu que, antes de qualquer interrogatório, o suspeito deve ser informado de seus direitos.)
O pulso, marcado pelas algemas, doía, talvez fosse melhor estar sendo interrogado, porque o silêncio o fazia pensar demais e, inevitavelmente, seus pensamentos se voltavam para Valery. Se perguntava o quanto ele havia sofrido enquanto estava preso, a imagem do tornozelo machucado veio à sua mente, e ele se arrependeu de não tê-lo levado ao hospital. Para alguém que tinha o balé como sua vida, qualquer problema físico seria um desastre.
O que você deve estar fazendo agora?
Ele havia jurado que não pensaria em coisas desnecessárias, mas, enquanto estava preso sem noção do tempo, pensamentos inúteis tomaram conta de sua mente. Lembrando-se de que o lugar era liderado por Khaleesi Winter, ele pensou inevitavelmente em Ryan, e isso o levou a pensar em Valery. Talvez ele já tenha partido. Quando se tratava de executar algo, ele era eficiente, uma característica que definitivamente herdou de Alexei, mesmo sem ter laços de sangue. Se perguntava se ele já havia arrumado suas coisas, o que teria levado, e se, de alguma forma, ainda pensava nele.
Provavelmente não.
Nesse momento, enquanto ele sentia um aperto no coração, o silêncio foi finalmente interrompido, a porta se abriu e uma sombra caiu sobre a mesa. Inclinando a cabeça para trás, Alexei virou os olhos para o lado de relance e lá estava a pessoa que ele esperava. Não sabia se deveria considerar isso sorte ou algo previsível, mas, de qualquer forma, era algo bom.
—Alexei Sorokin.
A figura que até então ele só ouvira falar através de boatos e das bocas de outros finalmente apareceu. Khaleesi Winter. Uma mulher ômega que havia rompido o teto de vidro e se tornado elite na Divisão de Narcóticos, conhecida por seu desempenho avassalador. Pelo menos, era o que diziam.
—2 kg de cocaína é uma quantidade muito pequena para um cara como você. Pensei que fosse crack, mas nem isso é. Estou um pouco desapontada.
Khaleesi fez esse comentário enquanto jogava um arquivo de papéis sobre a mesa com um som seco. Finalmente, Alexei pôde observar seu rosto. Seus cabelos pretos estavam presos no alto da cabeça em um coque, os olhos azuis e o contorno delicado do rosto não causavam uma forte impressão, no entanto, seu olhar era intenso. Os olhos azuis, firmes e determinados, deixavam claro seu temperamento forte e teimoso. Aparentemente, Ryan puxou a mulher, as pessoas da família Winter, de onde ela vinha, tendiam a ter uma aparência e um olhar parecidos.
—Para um réu primário com 2 kg, a negociação da pena pode ser interessante.
Ignorando a resposta de Alexei, Khaleesi se sentou à frente dele. A marca de cansaço em seu rosto mostrava que havia sido chamada no meio da madrugada, momentos antes do amanhecer, a hora mais escura. Havia sinais discretos de exaustão ao redor dos olhos delicados.
—Réu primário, é?
Khaleesi murmurou para si mesma enquanto abria o arquivo. Era espantoso como havia juntado tantos documentos, a pilha parecia ter o mesmo peso da droga que ele carregou.
—Considerando os anos de tráfico de drogas, agressão e assassinato de um policial, acho que você vai pegar uns 100 anos, na melhor das hipóteses.
—Tem provas?
Alexei soltou uma frase clássica, fazendo com que Khaleesi o encarasse sem expressão. Em seguida, ela puxou uma pasta específica do meio dos papéis, ao vê-la, Alexei teve certeza de que era a armadilha forjada por Igor, com as provas manipuladas.
—Provas? Tenho de sobra.
A voz firme de Khaleesi mostrava certeza.
—Curioso, nunca tinha vindo parar em um lugar como este até agora. Nem sequer havia tentado fugir —ele acrescentou.
Khaleesi Winter, sem disposição para se envolver na provocação de Alexei, abriu a pasta. Fotos começaram a aparecer. As fotos impressas mostravam as marcas do tempo, com o céu claro de um dia ensolarado ao fundo. As imagens estavam cheias de sangue, mas Alexei as observou sem demonstrar qualquer emoção. Khaleesi calmamente, espalhou as fotos diante dele, nelas havia um policial uniformizado, morto. Sua postura era humilhante. Ajoelhado, com a cabeça caída, seu pescoço estava parcialmente decapitado, pendendo de maneira grotesca. O local onde o corpo foi deixado era um parque, não muito longe de uma delegacia e a posição da vítima, inclinada na direção do oeste, onde Igor residia, deixava evidente que havia uma intenção por trás daquilo.
Ela não mostrou outras fotos, cada uma com um número de evidência, mas Alexei sabia quem era, mesmo sem explicações. Para ser mais preciso, ele já tinha visto isso vagamente antes. Ele estava presente quando Igor repreendeu Vadim, Bogdan e outros da equipe na época. Alexei quase teve que desempenhar esse papel como parte de seu “batismo” na organização, mas teve sorte. Naquele dia ele entrou no Rut por causa disso foi espancado por Igor, e acabou perdendo um dente no processo, com isso conseguiu evitar aquela missão.
Não lembro o nome…
—Você sabe quem é?”
Quando Alexei apenas olhou para a foto, Khaleesi perguntou friamente. Ele respondeu com silêncio. Khaleesi, então, deu a resposta.
—É Dmitry Maurice. A mãe dele era russa e o pai de Fargo. Ele tinha 30 anos quando morreu, e deixou uma filha recém-nascida. Os colegas policiais cuidaram da mãe e da menina, mas a filha de Maurice, que cresceu sem pai, acabou em uma clínica de reabilitação, graças ao pó que Igor Volkov espalhou por aqui.
Khaleesi olhou diretamente nos olhos de Alexei.
—Lembre-se disso com cuidado, pois é uma história sobre as três pessoas que você arruinou. E só isso? Se eu cavar mais fundo, quantos mais vão aparecer? Isso já não é nojento, é revoltante o suficiente.
Ah, nesse ponto, ele finalmente se lembrou. Dmitry Maurice tinha sangue russo, mas se tornou policial americano, e parceiro de Noah William, o pai de Ryan Winter. Ele foi escolhido para ser executado por isso. Fazia tempo que Alexei não ouvia o nome do pai de Ryan. Sua mãe, Emma Winter, não havia mudado o sobrenome, então Ryan também o herdou, e o nome do pai acabou sendo esquecido.
Fora o fato de Maurice ser policial, ele morreu porque não agradou a Igor. O motivo? Tentar causar distúrbios no “reino” de Igor e por não se comportar como um verdadeiro russo.
—Não me lembro,— respondeu Alexei.
O desprezo passou pelos olhos de Khaleesi, que até então mantinha-se impassível.
—Foi você quem o matou. Olhe com atenção.
—Você não acha que talvez eu não saiba porque não o matei?
Khaleesi jogou outra foto na direção dele.
—Encontramos a arma do crime enterrada a 1 km do local do assassinato. Um fio de cabelo foi encontrado no plástico que envolvia a arma. O resultado forense ficará claro quando compararmos com a amostra coletada do seu DNA hoje.
Talvez tenha sido feito menos esforço do que Noah William e, embora as provas contra Alexei fossem claras, eram mais fracas do que o esperado.
—Se os resultados forenses ainda não são conclusivos, por que sou o principal suspeito?
Alexei perguntou calmamente. Como Igor controlava a cidade, Alexei era conhecido pela polícia, mas nunca havia sido preso. Ele nunca tinha pisado em uma delegacia, então não havia informações ou histórico genético dele disponíveis, para ligá-lo diretamente às evidências, seriam necessárias outras provas circunstanciais.
—Igor Volkov disse isso a você, por acaso?
Khaleesi ficou em silêncio por um momento.
—Um informante anônimo? Uma carta de confissão? Provas no local? Talvez uma testemunha que esteve escondida por medo? Ou será que finalmente ganhou coragem com o surgimento de novos movimentos da polícia em uma cidade dominada por um ditador?
Khaleesi estreitou os olhos, observando Alexei. Igor não era do tipo que negociava abertamente, então provavelmente se aproximou dela desse jeito. Alexei não sabia tudo sobre ele, mas conhecia bem demais o padrão de comportamento de Igor.
—Na época, eu mal tinha passado da adolescência. Não tinha a ousadia para fazer algo assim.
—Você começou a trabalhar para Igor Volkov com apenas 13 anos. Não parece um argumento muito confiável.
Khaleesi respondeu secamente.
—É uma perda de tempo dar uma chance para um lixo como você, mas vou te dar uma oportunidade de negociar. Se der o máximo de informações sobre Igor Volkov e admitir sua culpa, talvez não pegue prisão perpétua. Podemos transferi-lo para uma prisão em outra região, e, com sorte, você manterá sua vida.
Era uma condição que seria um tanto tentadora para um assassino desleal ouvir. Se fosse um idiota arrogante, ele até poderia aceitar isso.
—Já está com tanta pressa sem nem ter certeza dos resultados?
—Se for a julgamento, de qualquer forma você vai pegar no mínimo prisão perpétua. Essa é sua melhor opção. Não tente nenhum truque barato, vai ser perda de tempo.
Bem…
Alexei endireitou o corpo, que estava inclinado na cadeira, e puxou suas longas pernas, antes esticadas, seus joelhos bateram na parte inferior da mesa da sala de interrogatório. Embora tivesse falado com confiança para Yuri, a situação não era inesperada, foi exatamente isso que ele imaginou. Apenas um dia atrás eu teria adotado uma abordagem diferente, mas agora eu realmente… realmente não me importo mais. Contanto que pudesse atingir seu objetivo, qualquer coisa servia.
—Não estou interessado em negociar a minha pena.
Ele se endireitou completamente, olhando de cima para Khaleesi. O leve sorriso que poderia ter parecido sarcástico desapareceu e com a mudança repentina de atitude, Khaleesi o encarou com uma expressão de cautela.
—Vou te dizer tudo o que quiser saber, contanto que você faça qualquer coisa para acabar com aqueles policiais corruptos e com o Igor, aquele desgraçado.
—O quê?
Khaleesi franziu ligeiramente os olhos, surpresa com o tom calmo, mas decidido.
—Aquele desgraçado faz todo tipo de coisa, mas no final das contas, é igual a qualquer outro verme. As drogas são a principal fonte de renda dele. Se você destruir as fábricas nas outras regiões, será como cortar mais da metade dos negócios dele. Vou te dizer onde ele lava o dinheiro e onde ficam as fábricas, mas tem que agir hoje, caso contrário, ele pode escapar a qualquer momento.
Khaleesi observou Alexei por um momento, impressionada com a sua disposição em colaborar sem pedir nada em troca. Ela tamborilou o dedo na mesa antes de perguntar:
—Por que veio até aqui por conta própria? Pelo que ouvi do Ryan, você não parece o tipo que faria isso.
—Tenta adivinhar. Você deve ter investigado um pouco.
—É por causa de Valery Belov?
Parecia certo que a informação viera de Khaleesi. Ao ouvir o sobrenome Belov, Alexei o repetiu mentalmente, enquanto Khaleesi continuava a falar.
—Sentiu culpa a essa altura do campeonato?
Logo, uma expressão sarcástica surgiu no rosto dela.
—Não sei se você achou que poderia se redimir agindo assim ou se está tentando seguir o que Ryan disse… mas é difícil de acreditar.
—Existe alguma outra opção além de acreditar? —Alexei riu.—Você não tem como fazer isso sem ajuda. Igor tem muito mais olhos e ouvidos aqui do que qualquer pessoa que esteja aliada a você. Mesmo que tenha algumas cartas na manga, vai ser difícil limpar uma área que ele controla há tanto tempo.
—Concordo. Mas…
Khaleesi olhou novamente para Alexei, como se estivesse tentando discernir a verdade.
—É suspeito que você não mencione o que quer em troca. Gente, como você nunca faz nada sem motivo, e de repente sentir remorso pelos seus crimes? Isso não faz sentido. Criminosos como você, que passaram a vida inteira no crime, não se regeneram.
Diante dessa crítica crua, Alexei fez uma expressão como se tivesse sido ferido.
—Acha que provocações desse tipo vão funcionar? Não deveria me acalmar e ser mais gentil?
—Isso depende da pessoa.
Depois de dizer isso, Khaleesi fechou a boca como se estivesse perdida em pensamentos. O silêncio que se seguiu ao debate na sala de interrogatório parecia mais pesado do que antes. Sem pensar Alexei tentou levantar a mão para esfregar os olhos, mas percebeu que era impossível por causa das algemas. De repente, percebeu que essa seria sua situação de agora em diante, mas, ainda assim, não parecia estranho.
Ele nunca havia experimentado opressão física antes, mas de qualquer forma, Alexei nunca tinha vivido a vida do jeito que queria. Na verdade, nem sabia o que queria. Tudo o que havia era apenas obrigações que beiravam a escravidão. Desde o dia anterior, o vazio dentro dele havia crescido, escurecendo e corroendo sua alma, ele se sentia oco. Enquanto estava ali sentado, sentia como se seu corpo estivesse desmoronando e caindo num abismo sem fim. Pensou que talvez fosse melhor se fosse assim.
—Normalmente, alguém na sua posição não falaria tão facilmente assim, a menos que estivesse em apuros. Mas você não parece ter nada a perder. Valery Belov não é seu parente, e como Ryan está cuidando dele, não há motivo para você colaborar desse jeito…
Alexei piscou os olhos úmidos, fitando o teto cinza da sala de interrogatório, ele finalmente falou.
—Você investigou, né?
—Seja mais claro.
—Você investigou sobre mim. Então, deve saber.
Khaleesi então esboçou um sorriso cínico e, com uma voz seca, começou a ler o texto no arquivo em sua frente.
—Alexei Sorokin, 27 anos, 1,83m de altura, descendente de russos e americano. Ambos os pais trabalharam para Igor Volkov, e você, que cresceu sob o comando dele, começou oficialmente com pequenos trabalhos aos 13 anos. Considerando os crimes acumulados desde então, você é um dos piores entre os traficantes de drogas. Existem vários assassinatos nos quais você é considerado suspeito, e com a acusação de matar um policial somada a isso, ainda resta algo sobre você que eu deva saber? De qualquer ângulo que se olhe, você parece apenas mais um membro fiel da família Volkov.
A vida de Alexei, condensada em palavras secas, era só isso. Enquanto ouvia esse resumo impessoal de sua trajetória, ele abaixou os olhos. Quando era mais jovem, antes de aceitar seu destino, ele costumava odiar ouvir esse tipo de coisa, mas pessoas que têm escolhas jamais entenderiam quem não tem. Talvez fosse por isso que Valery nunca o compreendeu.
Foram as pequenas escolhas que se acumularam e o tornaram quem ele era, mas a única escolha realmente importante que ele pôde fazer foi: viver ou morrer. Para salvar mais uma vida, Alexei escolheu viver e se tornar um desgraçado.
No fim, isso também é apenas uma desculpa.
Se ele realmente quisesse viver corretamente, teria morrido no dia em que seus pais foram assassinados. Os policiais, as pessoas, diriam isso.
—A maior parte da população de Dakota do Norte é composta por imigrantes. Entre esses imigrantes, os que vieram da Rússia se estabeleceram principalmente aqui, em Saratov.
—Assim como os membros da gangue de Igor Volkov, como você.
—Não sei se você, um americana, pode entender, mas muitos fugiram para tentar viver, para escapar de outras ideologias. Meus pais eram um deles, e nem todos têm muitas opções. Alguns escolhem o crime porque é mais fácil, ou porque é o único caminho que conhecem…
Alexei ergueu os olhos para Khaleesi.
—Existem pessoas que nem sequer têm esse tipo de escolha.
—Então você se tornou um criminoso porque não teve opção? — Khaleesi zombou.— Que clichê. Essa é uma das desculpas que mais ouço. ‘Eu estava bêbado’, ‘não tive escolha’, ‘não havia outra opção’… Tudo desculpas.
—É isso mesmo, é uma desculpa.
Alexei torceu os lábios num sorriso amargo.
—Se for como você diz, até mesmo pessoas como eu, que nasceram e cresceram nesse tipo de ambiente, deveriam ter escolha. Pobreza também seria uma escolha, certo? Aquelas pessoas de países de terceiro mundo que “os americanos ricos ajudam” também têm a escolha de não cometer crimes e simplesmente morrer de fome, não é?
—Logo você, falando de humanitarismo? Não acho que você seja qualificado para falar sobre isso.
—Você não entende que até ter opções é um privilégio. Você nunca vai entender o que é nascer em um ambiente onde, se não viver como criminoso, a única alternativa é morrer. É isso que significa privilégio. Aqueles heróis incríveis de filmes e noticiários que superam suas circunstâncias difíceis são só uma fantasia, Khaleesi Winter.
—Então por que você simplesmente não morreu?
Khaleesi rebateu, firme e inabalável.
Alexei riu.
—Quem quer morrer?
—Diga isso para as pessoas que você matou.
—Eu nunca matei ninguém, justamente porque conheço a sensação de não querer morrer.
—Duvido muito…
Era verdade, mas Khaleesi não acreditou. De repente, Alexei se cansou da conversa, sentiu-se desgastado e soltou uma risada vazia antes de responder com uma voz exausta.
—Pode fazer o que quiser comigo, me condenar à prisão perpétua ou o que for, eu vou te dar as informações, e você vai deixar de lado seus sentimentos pessoais e fazer o que tem que ser feito. Acabe com aquele desgraçado do Igor Volkov da melhor maneira que puder.
No final, era uma questão de karma. Para ganhar a confiança, você precisa ser confiável. Alexei tinha feito de tudo para tentar ganhar a confiança de Valery, mas no final das contas, foi da maneira errada. Ele decidiu aceitar que era assim mesmo. Nunca quis ser uma boa pessoa, afinal.
—Se quer saber, eu desprezo Igor Volkov muito mais do que você. Não me importo se acredita ou não, porque sei que não vai acreditar. Então, pegue as informações que precisar e depois suma da minha frente.
Desviando o olhar de Khaleesi, que o encarava com um olhar complexo, Alexei apontou com a cabeça para a porta.
—Assim como você está de saco cheio, eu também estou farto de gente como você.
Para Alexei, a maneira como os policiais só viam o que queriam ver e ajustavam as provas para encaixar sua narrativa não era diferente das pessoas que ele sempre encontrou pelo caminho.
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Continua….